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1 MASLOW E A MOTIVAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS: O CASO DE UMA EMPRESA DE VEÍCULOS AUTOMOTORES DE ARACAJU/SE Julia Maria de Santana1 Antonio Eduardo Carvalho Lima2 Mariela Silveira Lima3 RESUMO Este artigo expõe uma pesquisa sobre satisfação laboral e motivação dos colaboradores de uma Empresa de vendas de veículos automotores de Aracaju. Sabe-se que a manutenção e produtividade dos colaboradores estão diretamente relacionadas à motivação, apesar de não exclusivamente a esta, e é a partir dos resultados levantados por Maslow que se constitui o fundamento da grande parte dos estudos acerca da motivação no trabalho. Disto isto, justifica-se a escolha das contribuições teóricas deste estudioso como referencial dessa pesquisa. Assim, o primeiro passo nessa empreitada foi um diagnóstico do nível de satisfação dos colaboradores, com vistas a, num segundo momento, orientar/reorientar políticas e estratégias empresariais intrinsecamente ligadas ao desenvolvimento de Recursos Humanos. Metodologicamente, a pesquisa pautou-se numa análise quantitativa dos dados de satisfação laboral, coletados através da aplicação de questionários. Os dados coletados foram submetidos a tratamento estatístico para identificação do grau de satisfação dos colaboradores. Os resultados da pesquisa apontaram para uma propensão dos funcionários a manifestarem comportamentos positivos. No entanto, o grau de satisfação dos colaboradores está distante da satisfação plena, principalmente no que se refere às necessidades de estima. O mais elevado grau de satisfação é o referente à auto-realização, seguido pela social, constatações que demonstram, de certa forma, a discrepância entre os resultados desse estudo e as proposições formuladas por Maslow na sua Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas. 1 Licenciada e Bacharel em Geografia/UFS, Pós-graduada em Administração Estratégica e Empreendedorismo/UNIT, Técnico Operacional/ECT. juliams@correios.com.br 2 Graduado em Gestão de Serviços Financeiros/UNIT, Pós-graduado em Administração Estratégica e Empreendedorismo/UNIT; Operador de CPD/SAMAM DIESEL 3 Graduado em Gestão de Serviços Financeiros/UNIT, Pós-graduado em Administração Estratégica e Empreendedorismo/UNIT; Assistente Administrativo e Financeiro/CEAPE-SE. 2 PALAVRAS-CHAVE Maslow, motivação, recursos humanos. ABSTRACT This paper shows a research about satisfaction in the job and collaborators' motivation of a car sales company in Aracaju City, Sergipe State, Brazil. The collaborators' productivity are related to the motivation, although this is not the only factor. Like this, Maslow's theory about human needs represents a very important fundament in researches about motivation in the job. For this reason, the present research is based in this theory. The first step of the study was to make a diagnostic of the collaborators' satisfaction level, looking for to orient managerial strategies that are related to the development of Human Resources. The methodology of the research follows a quantitative analysis of the data about satisfaction in the job, collected through questionnaires. The data was processed with statistic techniques to identify collaborators' satisfaction degrees. The results of the research they shows a propensity of the workers to manifest positive behaviors. However, collaborators' satisfaction degree is far of the complete satisfaction, mainly about esteem need. The greatest satisfaction degree is related to self-realization, followed by the social needs. It demonstrates the discrepancy among the results of this research and the propositions formulated by Maslow in his Theory of the Hierarchy of Human Needs. KEY-WORDS Human resources, Maslow, motivation. INTRODUÇÃO O mundo empresarial vive o que Bueno (2002) denomina de Gerenciamento de Processos, onde conceitos como gerenciamento esclarecido, sinergia, criatividade, hierarquia das necessidades inatas e motivação estão conquistando uma nova e receptiva audiência. Na atualidade, as organizações empresariais necessitam entender que já não podem considerar seus colaboradores como meros recursos de que a organização pode dispor a seu bel-prazer. Precisam tratá-los como pessoas que impulsionam a organização, como parceiros que nela investem seu capital humano e que têm a legítima expectativa de retorno de seu investimento (GIL, 2001). 3 Nesse sentido, Cordero (s/d: 36) destaca que La dirección de una organización en busca de un trabajador motivado, que sienta orgullo, entusiasmo y diversión en su labor, así como el utilizar métodos y técnicas gerenciales acordes a las características de la misma, contribuye al éxito de ésta. Percebe-se que o contexto atual é marcado por um cenário empresarial cujos principais obstáculos para o administrador gravitam em relação a uma transposição da insatisfação laboral, visando a motivação do colaborador e a melhoria de seu desempenho no trabalho. É reconhecido que a manutenção e produtividade dos colaboradores estão diretamente relacionadas à motivação, apesar de não exclusivamente a esta, e é a partir dos resultados levantados por Maslow que se constitui o fundamento da grande parte dos estudos acerca da motivação no trabalho. Dito isto, justifica-se a escolha das contribuições teóricas deste estudioso como referencial dessa pesquisa. Destarte, o primeiro passo nessa empreitada apontou a necessidade de um diagnóstico do nível de satisfação dos colaboradores, com vistas a, num segundo momento, orientar/reorientar políticas e estratégias empresariais intrinsecamente ligadas ao desenvolvimento de Recursos Humanos. Metodologia O presente estudo pautou-se numa análise quantitativa dos dados de satisfação laboral dos colaboradores de uma Empresa de venda de veículos automotores de Aracaju. A coleta de dados foi realizada a partir da aplicação de questionário, adaptado do Cuestionário de Satisfacción Laboral S4/82, desenvolvido por Meliá e Peiró (1998). Esse questionário constou de 56 questões de múltipla escolha, com cinco opções de resposta quanto à satisfação laboral, graduadas em cinco níveis, conforme o Quadro 1. Os dados coletados foram tabulados e posteriormente submetidos a tratamento estatístico. Em seguida foram reordenados e agrupados de acordo com cada tipo de necessidade humana básica, como prega a teoria de Maslow. Por fim, apuraram-se os graus de satisfação de cada tipo de necessidade humana, a partir de média ponderada. Devido à inserção do grau “indiferente”, para uma melhor análise dos dados, resolveu-se atribuir índices que variam de 0,2 a 1, ao grau de satisfação no trabalho. De acordo com o referido índice, quanto mais próximo de 1 estiver o nível de satisfação, mais satisfeito estará o colaborador. 4 Grau Significado Índice atribuído 1 Muito Satisfeito 1 2 Satisfeito 0,8 3 Indiferente 0,6 4 Insatisfeito 0,4 5 Muito Insatisfeito 0,2 Quadro 1 - Níveis de Satisfação Laboral MOTIVAÇÃO: ASPECTOS CONCEITUAIS No estudo do comportamento humano, poucos conceitos têm suscitado tanto interesse e despertado tantas expectativas como os vinculados aos processos motivacionais. No entanto, os psicólogos não se mostram unânimes a respeito do papel que a motivação desempenha na análise explicativa da conduta humana. Palmeri (s/d) salienta que: Durante la etapa precientífica, la Motivación se reducía a la actividad voluntaria, mientras que, en la etapa científica, hablar de Motivación implica referirse a instintos, tendencias e impulsos, que proporcionan la energía necesaria; pero, además, hay también claras referencias a las actividades cognitivas, que dirigen la conducta hacia determinadas metas. Por tanto, el concepto de Motivación en la actualidad debe considerar la coordinación del sujeto para activar y dirigir sus conductas hacia metas Este autor ainda considera que, de forma geral, o termomotivação é um conceito utilizado para designar as forças que atuam sobre, ou dentro de, um organismo, para iniciar e dirigir as condutas destinadas a modificar ou manter o curso de vida deste, mediante a obtenção de objetivos que incrementam a probabilidade de sobrevivência, tanto no plano biológico, quanto no plano social. Também buscando uma definição pertinente para o termo motivação, Heredia (1999) afirma que: Las definiciones más compartidas de lo que es la motivación implican al conjunto de procesos que se interesan por las causas de que se hagan o se dejen de hacer determinadas cosas, o de qué se hagan de una forma y no de otra. Trata-se, portanto, de um conceito teórico não somente básico para a Psicologia, mas também, “ambicioso en cuanto al alcance, atractivo por las metas planteadas y tremendamente complejo por la diversidad de componentes que conlleva” (FERNÁNDEZ-ABASCAL, 1997 apud HEREDIA, 1999). 5 A motivação humana também tem sido um dos maiores desafios na gestão organizacional para muitos psicólogos, gerentes e executivos. Inúmeras pesquisas têm sido elaboradas e diversas teorias têm tentado explicar o funcionamento desta força ainda desconhecida, que leva as pessoas a agirem em direção do alcance de um objetivo determinado. No entanto, quando uma pessoa se direciona a um objetivo, ela não está necessariamente motivada a atingir uma meta. Para Cordero (s/d) existem dois tipos de motivação as intrínsecas e as extrínsecas. Las primeras vienen de adentro de uno mismo y las recompensas son propias del individuo, que ama la actividad que realiza. En el segundo caso, se deben a factores externos, los que son dados por otros. Las personas realizan su trabajo para ganar una recompensa o evitar um castigo externo. Nessa mesma perspectiva, Bueno (2002) afirma que as pessoas podem agir levadas por um impulso interno (fator intrínseco), por uma necessidade interior. Neste caso, existe vontade própria para alcançar o objetivo, existe motivação. Já quando os fatores são externos, há apenas movimento que configura uma situação passageira, uma necessidade momentânea que somente dura enquanto persistirem os estímulos que o geraram. Desta forma, pode-se inferir que a motivação é interior a cada indivíduo e leva-o a agir de modo espontâneo para alcançar determinado objetivo. Não se pode motivar uma pessoa, mas sim criar um ambiente compatível com seus objetivos, no qual a pessoa se sinta motivada. Comungando dessa linha teórica da motivação intrínseca, Maslow, em sua Teoria da Hierarquia das Necessidades, considera a motivação como uma força gerada por necessidades insatisfeitas e manifestada como uma busca de satisfação destas necessidades. Assim, estar motivado significa estar propenso a agir para satisfazer necessidades. Além disso, entende-se, em conformidade com esta linha teórica, que a motivação aumenta ou diminui de intensidade na proporção inversa do aumento ou diminuição da intensidade da satisfação relativa às necessidades (grifos dos autores) (GOMES e QUELHAS, 2003: 6). Por este raciocínio, levando-se em consideração o ambiente empresarial, pode- se afirmar que o importante para uma organização não é a motivação dos seus colaboradores, mas a satisfação destes em relação às suas necessidades pessoais, posto 6 que, por meio desta é que será possível obter comportamentos positivos, traduzidos em esforço, dedicação e bom desempenho no trabalho. MASLOW E A MOTIVAÇÃO DE PESSOAS Amplamente estudado em administração, o conceito de motivação é pesquisado sob diferentes enfoques. Ricco (2004), citando Lèvy-Leboyer (1994), distingue duas categorias de agrupamento das teorias motivacionais: uma que se prende à descrição do conteúdo e uma que procura analisar o processo motivacional (Quadro 1). DATA AUTOR TEORIA CONTEÚDO PROCESSO 1937 Clark Hull Princípio de estímulo resposta X 1938 Murray Teoria das Necessidades X 1939 Lewin Teoria de Campo X 1948 Skinner Princípio do Reforço X 1954 Maslow Hierarquia das Necessidades X 1959 Herzberg Teoria da Motivação-higiene X 1959 Vroom Teoria da Expectância X 1960 Mcgregor Teoria “X” e “Y” X 1961 McClelland Fatores “n” motivadores X 1965 Adams Teoria da Equidade X 1970 Locke Teoria dos Objetivos e Intenções X 1971 House Teoria do Caminho-reta X 1972 Alderfer Teoria ERC X Quadro 2 - Classificação das Principais Teorias da Motivação Fonte: Oliveira (2000) apud Ricco (2004). As teorias de processo analisam os mecanismos motivacionais apoiando-se na existência de três premissas: objetivos pessoais, finalidades para esses objetivos e resultado esperado. Já as teorias que apresentam o conteúdo como foco, fundamentam- se na noção de necessidade, partindo da observação dos comportamentos mais simples para daí enfocar as variáveis propriamente ditas. Nesse último grupo de teorias encontra-se a Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas, de Abraham Maslow. Na formulação dessa teoria, Maslow se baseia em sua experiência clínica e parte da premissa de que as necessidades humanas possuem origem biológica, estando organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia que traz subjacente a idéia do homem enquanto ser capaz de obter o autodesenvolvimento e o crescimento pessoal. Essa hierarquia das necessidades tem como representação semiótica essencial uma pirâmide, em cuja base estão as necessidades primárias - fisiológicas - e no topo as necessidades secundárias - de auto realização (Figura 1): 7 1. Necessidades fisiológicas: representam as necessidades instintivas de sobrevivência: alimentação, sono, repouso, abrigo e/ou desejo sexual; 2. Necessidades de segurança: surgem quando as necessidades fisiológicas estão relativamente satisfeitas. Representam a contrapartida da insegurança natural das pessoas: estabilidade, proteção, moradia, estrutura, privacidade; 3. Necessidades sociais: surgem no comportamento quando as necessidades fisiológicas e de segurança são relativamente satisfeitas. Entre outras, as necessidades sociais estão relacionadas à necessidade de associação, participação, amizade, grupos sociais, afeto e amor; 4. Necessidades de estima: relaciona-se ao sentimento das pessoas de sentirem-se valorizadas pelos que o rodeiam. Envolvem: auto-estima, status, prestígio, confiança perante o mundo; 5. Necessidades de auto-realização: são as que permitem a cada pessoa identificar seu próprio potencial e autodesenvolver-se continuamente. Suas formas e expressões variam de pessoa para pessoa, obedecendo as diferenças individuais entre os seres humanos. Figura 1 - Pirâmide Representativa da Hierarquia das Necessidades Humanas (Teoria de Maslow) Na concepção de Pisandelli (s/d), da teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas pode-se apreender os seguintes aspectos: a) Somente quando um nível inferior de necessidade está satisfeito ou adequadamente atendido é que o nível imediatamente mais elevado surge como determinante no comportamento. De outra forma, quando uma necessidade de nível mais baixo é atendida, ela deixa de ser fator FISIOLÓGICA SEGURANÇA SOCIAL ESTIMA AUTO-REALIZAÇÃO 8 motivador, dando oportunidade para que um nível mais elevado possa se desenvolver; b) Nem todas as pessoas conseguem chegar ao topo da pirâmide de necessidades. Devido as diferenças individuais e sociais algumas pessoas chegam a se preocupar fortemente com necessidades de auto- realização, enquanto outras, ficam preocupadas exclusivamente com necessidade de segurança e fisiológicas, sem conseguir satisfazê-las; c) Quando as necessidades mais baixas estão razoavelmente satisfeitas, as necessidades localizadas nos níveis mais elevados começam a dominar o comportamento. Contudo, quando alguma necessidade de nível mais baixo deixa de ser satisfeita, ela volta a ser fator predominante no comportamento; d) Cada pessoa possui sempre mais de uma motivação. Todos osníveis atuam conjuntamente no organismo, as necessidades mais elevadas exercendo domínio sobre as mais baixas, desde que estas estejam suficientemente satisfeitas ou atendidas. Toda necessidade está intrinsecamente relacionada ao estado de satisfação ou insatisfação de outras necessidades. Seu efeito sobre o organismo é sempre global e nunca isolado; e) Qualquer comportamento motivado é como um canal pelo qual, muitas necessidades fundamentais, podem ser expressas ou satisfeitas conjuntamente; f) Qualquer frustração ou possibilidade de frustração da satisfação de certas necessidades passa a ser considerada ameaça psicológica. Essa ameaça é que produz as reações gerais de emergência no comportamento humano. Essas reações de emergência alteram substancialmente o comportamento, assim como o grau de motivação do indivíduo na realização de tarefas que não estejam relacionadas à eliminação dessa frustração. Apesar de não ter sido cientificamente comprovada, a teoria de Maslow, devido à eficiente estruturação de suas idéias, foi aceita como de grande contribuição para a evolução das técnicas administrativas. No entanto, Bueno (2002) destacar como pontos criticáveis: 9 • A difícil articulação operacional para o gerenciamento das necessidades básicas; • A impossibilidade da padronização do comportamento humano. Citando Hoffman (1992), Santos Júnior, Fischer e Henrique (s/d), asseveram que as idéias de Maslow estão longe de serem consideradas esclerosadas e ainda figuram como ponta na Psicologia, inclusive na Psicologia norte americana, e nas Ciências Sociais. NÍVEL DE SATISFAÇÃO E MOTIVAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS Conforme a Teoria de Maslow, as necessidades humanas acompanham a ordem a seguir: necessidades fisiológicas - segurança - social - estima - auto-realização. Desta forma, a necessidade de segurança dos colaboradores somente se manifestaria e se tornaria o centro organizador do seu comportamento depois que as necessidades fisiológicas estivessem satisfeitas, o mesmo acontecendo com a necessidade de estima em relação à social, e assim sucessivamente. No entanto, como se observa na Figura 3, o sentimento de insatisfação dos colaboradores da Empresa pesquisada referente às necessidades de segurança, é até ligeiramente superior à insatisfação relativa às necessidades fisiológicas. Tal resultado deixa explícito que, embora estas ainda estejam longe de serem satisfeitas em sua plenitude, aquelas não permanecem latentes, inclusive manifestando-se de modo tão intenso quanto estas. 74,48% 50,54% 69,15% 55,97% 59,89% 19,31% 23,37% 24,88% 27,10% 26,36% 26,09% 16,98% 13,75% 5,97% 6,21%AUTO-REALIZAÇÃO ESTIMA SOCIAL SEGURANÇA FISIOLÓGICA SATISFEITO INDIFERENTE INSATISFEITO Figura 2 - Grau Relativo de Satisfação/Insatisfação dos Colaboradores da Empresa Pesquisada Segundo a Teoria das Necessidades Humanas (Teoria de Maslow) 10 No caso das necessidades de estima em relação às sociais, os resultados da pesquisa mostram uma discrepância ainda maior em relação aos pressupostos da hierarquia das necessidades. As necessidades de estima dos funcionários apresentam-se com um grau relativo de satisfação significativamente menor do que o referente às necessidades sociais, indicando que a intensidade da manifestação daquelas é mais acentuada do que a destas. O grau relativo de satisfação referente à necessidade de auto-realização foi da ordem de 74,48%, o mais elevado entre os colaboradores da Empresa pesquisada, o que também deixa explícito a divergência dos resultados da pesquisa e as prescrições propugnadas por Maslow. O grau médio global de satisfação dos funcionários da empresa pesquisada, em relação às necessidades humanas pregadas por Maslow foi de 0,61, o que indica que os colaboradores estão satisfeitos, mas muito distantes do grau 1, correspondente à satisfação plena (Figura 3). 0,61 0,79 0,66 0,77 0,69 0,72 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 MÉDIA GLOBAL AUTO-REALIZAÇÃO ESTIMA SOCIAL SEGURANÇA FISIOLÓGICAS Figura 3 - Grau de Satisfação dos Colaboradores da Empresa Pesquisada Segundo a Teoria das Necessidades Humanas (Teoria de Maslow) Após a necessidade de auto-realização, as necessidades sociais são as que demonstram o mais elevado grau de satisfação (0,77). Os fatores com maior índice de satisfação dentro dessa necessidade são as relações pessoais com seus superiores e com os clientes. Em pesquisa semelhante sobre a satisfação dos recursos humanos da Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina, Estefano (1996) concluiu que o fato de a maioria dos colaboradores entrevistados lidar freqüentemente com o público/cliente, faz com que esta satisfação decorra da interação entre as colaboradores e os clientes, ocasião em que se processa o feedback, resultando na importância do trabalho realizado. 11 O menor grau de satisfação apresentado pelos colaboradores da Empresa em estudo, está relacionado à necessidade de estima, correspondente a 0,66. Dentre os fatores responsáveis por esse índice destaca-se o sistema de prêmios e incentivos (0,58) e as diárias e gratificações (0,61), indicando que, apesar do grau de satisfação auto- realização está elevado em relação à estima, fatores de ordem financeira ainda pesam consideravelmente na motivação dos colaboradores da Empresa em questão. Apesar de apresentar uma média global de satisfação razoável, a necessidade de alavancar a satisfação no trabalho é um dos pontos a serem considerados no presente estudo, como campo de possíveis atuações gerenciais, com o intuito de aumentar a motivação do colaborador na execução de suas atividades. Esta premissa é enfatizada por Bergamini (1997), citando Archer, ao afirmar que o grau de satisfação é diretamente proporcional à propensão do desenvolvimento de um comportamento positivo, assim, quanto maior o grau de satisfação, maior será a tendência do colaborador a um comportamento positivo, e vice-versa. Estas conclusões apontam para uma não confirmação dos pressupostos maslownianos da hierarquia das necessidades, no presente estudo. Este resultado, todavia, não constitui surpresa, pois conforme acentua Duro (s/d): na prática, não há uma linearidade na vida das pessoas, uma seqüência tão lógica e fechada de ordenação dos desejos e das suas satisfações. [...] É comum observar pessoas que priorizam a necessidade de auto- realização e que não têm as demais satisfeitas [...] Por isso, os seguidores de Maslow propuseram a denominada teoria neo- maslowiana que ajustou o modelo clássico de Maslow à realidade dos conflitos das pessoas (Figura 5). Figura 5 - Pirâmide Representativa da Hierarquia das Necessidades Humanas segundo os Teóricos Neo-maslownianos FISIOLÓGICA 12 A nova configuração piramidal deixa claro que há uma necessidade básica de sobrevivência que antecede todas as demais. A partir daí, as demais necessidades não apresentam hierarquia uma sobre as outras, ou seja, variam de indivíduo para indivíduo, podendo alterar-se a depender do momento e da realidade que a pessoa está vivendo. A adoção da escola neo-maslowniana como referência, permite identificar a necessidade mais importante de um colaborador, em um determinado momento, deixando de considerá-lo como parte de uma fórmula quase matemática. Tal vertente leva em conta o pressuposto primordial para o entendimento dos anseios da pessoa humana: o ser humano é único e tem suas prioridades transformadas numa freqüência de anos, dias e até horas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A motivação no trabalho é um tema bastante complexo, visto que, é difícil tratar as diversidades das preferências humanas, as diferenças individuais, os valores pessoais e a relevância que cada colaborador atribui às necessidades expostas por Maslow. Apesar da Teoria de Maslow ter sido refutada em muitos aspectos da pesquisa em questão, pode-se seguramente assinalar que, todas as teoriaselaboradas acerca da motivação do ser humano, sofrerão limitações em razão da complexidade da natureza humana. De acordo com os dados analisados, o nível de satisfação mensurado para os colaboradores da Empresa pesquisada está abaixo do nível de satisfação plena. Considerando que a Teoria de Maslow prega que a propensão para manifestar comportamentos positivos (esforço, dedicação, comprometimento), é fruto da satisfação laboral do colaborador, os resultados da pesquisa realizada levam a concluir que o desempenho dos funcionários se encontra abaixo de um nível considerado ótimo. Diante do exposto, evidencia-se a necessidade de ações que modifiquem a forma de gerir os recursos humanos na Empresa, com vistas à alavancagem da satisfação laboral como forma de motivar os funcionários. Como já explicitado, é na consolidação de uma satisfação laboral que se assenta a motivação, e uma conseqüente otimização do desempenho dos colaboradores e aumento da eficiência e eficácia organizacionais. A partir dessa análise é possível propor, dentre outras, as seguintes intervenções em nível gerencial e de sistema administrativo: a) Adoção de um sistema regular de feedback aos funcionários; 13 b) Implantação de um programa de desenvolvimento de lideranças; c) Solicitação de idéias e envolvimento dos colaboradores em decisões sobre suas áreas de atuação; d) Adoção de uma abrangente política de promoção de funcionários; e) Implementação de programa de participação dos colaboradores nos lucros da Empresa, como forma de dar aos funcionários uma razão financeira para excelência no desempenho de suas atribuições. Esses aspectos, elaborados a partir das necessidades com menor grau de satisfação, influenciam sobremaneira a motivação dos colaboradores, sendo necessário uma atuação gerencial eficiente, de modo a proporcionar condições para que a missão organizacional seja cumprida na sua plenitude. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERGAMINI, Cecília Whitaker. 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