Buscar

Análise de Conteúdo: semelhanças e distinções com a análise de discurso e sua interface com pesquisas na área de educação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Análise de Conteúdo: semelhanças e distinções com a análise de discurso e sua interface com pesquisas na área de educação
No processo de se fazer uma pesquisa, seja qual for a sua abordagem, há várias etapas pelas quais o pesquisador deve percorrer. Muitas vezes, esse percurso é acometido por dificuldades e falhas. Desde a escolha da fundamentação teórica e elaboração de hipóteses até a coleta de dados, é necessário que o pesquisador se debruce exaustivamente na sua pesquisa e esteja preparado para lidar com as adversidades que podem ocorrer. Uma teoria que não se adeque ao objeto de estudo ou uma coleta de dados rasa podem impactar negativamente nos resultados da pesquisa. 
Para além desse primeiro momento do trabalho, o pesquisador precisa definir teórica e metodologicamente por quais meios irá realizar a análise e interpretação de dados. Uma das técnicas mais difundidas desde os anos 70 é a de análise de conteúdo. E há de se perceber que, ao longo dos anos, foram realizadas muitas adaptações e implementações a técnica original, adaptando-a aos diversos tipos e abordagens de pesquisa. 
Gomes (2003) dispõe sobre o panorama histórico da análise de conteúdo salienta que essa ganha força no início do século XX, sob uma perspectiva quantitativa, sendo caracterizada como metodologia de pesquisa que se voltava a realizar uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto de comunicação, com dados de textos codificados em categorias explícitas. A escolha por este método de análise também sofria influência do predomínio behaviorista, abordagem psicológica que estava predominava as pesquisas na época.
Ademais, a análise de conteúdo ganha força durante a Segunda Guerra Mundial, assumindo uma postura metodológica mais rigorosa e científica, em projetos patrocinados pelo Governo Norte-Americano, que visava analisar e avaliar os materiais jornalísticos produzidos pelos seus inimigos (Bedinelli Rossi, Serralvo & Nascimento, 2004). Com o advento da metade do século XX, as primeiras críticas sob o método começam a surgir, criando assim um impasse sobre sua utilização em pesquisas quantitativas e/ou qualitativas. 
Nesse momento, muitos autores e pesquisadores, ao aderirem uma posição nessa disputa, irão propor conceituações diferentes para o método da análise de conteúdo. E é em sua obra intitulada “Análise de Conteúdo” de 1979 que, Laurence Bardin, autora e professora de psicologia, irá sistematizar todo o panorama histórico e conceitual do método, além de defini-lo como "conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens" (Bardin, 1979, p.42).
A partir dessa definição, o método de análise de conteúdo passa a assumir uma perspectiva mais qualitativa, uma vez que tem como enfoque produzir inferências e interpretações a partir da codificação do conteúdo das mensagens analisadas. Dessa maneira, o pesquisador conseguirá obter dados além daqueles coletados, que irão se manifestar através de aspectos subjetivos, que irão se sobressair a análise e descrição do material coletado. 
Torna-se interessante fazer a diferenciação conceitual entre a análise de conteúdo e análise de discurso, já que em algumas pesquisas tais metodologias se confundem. Como supracitado, a análise de conteúdo tem como objetivo buscar inferências e interpretações a partir dos conteúdos decodificados das mensagens dos locutores, variando o material estudado de acordo com os objetivos de pesquisa, seguindo os procedimentos metodológicos de categorização, inferência, descrição e interpretação (Gomes, 2003). 
Em resumo, a fase categorial se refere a operação de classificação de elementos da mensagem ou do material analisado a partir de categorias, que podem ser definidas a priori ou posteriori, uma vez que o desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa acaba por revelar, ao longo de todo o processo, informações valiosas para o pesquisador que podem orientar na sua perspectiva teórica adotada, coleta de dados, entre outras etapas. A descrição se traduz como o retrato fiel daquele material coletado no campo de pesquisa, enquanto o processo de inferência se propõe a ir além deste material, através de um questionamento clássico sobre “quem diz o que, a quem, como e com qual efeito? ” (Bardin, 2011).
Como última etapa da análise de conteúdo, o tratamento e interpretação dos dados consiste em sintetizar todos os passos da pesquisa percorridos pelo pesquisador, a saber: questões da pesquisa, resultados obtidos, materiais coletados, inferências realizadas e fundamentação teórica sólida (Gomes, 2003). A interpretação consiste em buscar atribuir um grau de significância que vá além do que já foi analisado, contemplando esses dados em toda totalidade.
Já a análise de discurso não se configura como uma metodologia, mas sim o resultado de uma intersecção de epistemologias distintas – linguística, psicanalítica e materialismo histórico – que deram origem a uma disciplina interpretativa (Caregnato & Mutti, 2006) e que tem como objetivo investir e analisar os sentidos que são estabelecidos mediante as diversas formas de produção, podendo elas serem verbais ou não, contanto que produzam sentidos a serem interpretados. 
A junção das três epistemologias supracitadas revela aspectos a serem analisados do discurso. Da linguística, destaca-se a noção de fala dentro do discurso, quanto da psicanálise herdou-se a noção do inconsciente – uma vez que no discurso pode se trabalhar a subjetividade do sujeito – e, por fim, a teoria da ideologia advinda do materialismo histórico (Caregnato & Mutti, 2006). A técnica de análise do discurso possui variados estilos e escolas teóricas, assim como o método de análise de conteúdo. Seguindo nas contribuições em pesquisa da Escola Francesa, como já mencionada através da metodologia de Bardin, será descrita a análise de discurso a partir da perspectiva de Michel Pêcheux, que articula a linguagem com o sujeito e sua história ou com a teoria ideológica.
Uma das principais diferenças em ambas as maneiras de se realizar a análise de dados em pesquisa qualitativa está no fato de que a análise de discurso, diferentemente da análise de conteúdo, tem como foco o sentido do texto e não o conteúdo em si, partindo da ideia de que este sentido é produzido ao longo do trabalho. Segundo Caregnato e Mutti (2006), a premissa básica da análise de discurso se dá através da síntese entre ideologia – que se refere ao posicionamento do sujeito no momento do discurso, caracterizando a representação deste por meio de um sistema de ideias –, história, ou seja, o contexto sócio histórico do locutor, e por fim, a linguagem, que é toda a materialidade do texto e fornece subsídios para se analisar o sentido pretendido pelo sujeito.
Dentro desse tipo de análise, a linguagem pode ser entendida como o que os autores chamam de interdiscurso, aonde um discurso pode ser construído a partir de uma memória coletiva e perpetuar ao longo de várias gerações, perpassando por diferentes grupos sociais e atribuindo significados variados (Caregnato & Mutti, 2006). Na compreensão de Pêcheux (2002), a fala irá se materializar através da língua escolhida para se fazer alguma comunicação, e, portanto, deve-se sempre levar em conta qual o contexto presente neste momento e como influenciará na interpretação do enunciado. Ademais, o autor ainda pontua que todo discurso será marcado ideologicamente, ou seja, essa fala não se refere apenas ao sujeito que a enuncia, mas sim a todo um coletivo. 
Por fim, a interpretação desse discurso será marcada pela intersecção entre o interdiscurso – que se refere a memória coletiva que é propagada ao longo dos anos – com o intradiscurso, que é a fala materializada. Esse processo ocorre em um nível simbólico, marcado por um lugar da história e sociedade, e que terá vestígios de aspectos subjetivos do pesquisador.A partir do exposto acima, são observadas algumas distinções entre os meios para análise de dados qualitativos aqui em questão. Em primeiro lugar, ambas se diferem quanto ao modo que acessam o objeto de estudo, além do fato da análise de discurso se restringir apenas às pesquisas qualitativas, enquanto a análise de conteúdo – apesar da forte tendência de utilizá-la como metodologia de pesquisa qualitativa – ainda pode ser empregada em pesquisas quantitativas. Além disso, na análise de discurso há uma preocupação em compreender os sentidos que o sujeito irá manifestar através do seu discurso; enquanto na análise de conteúdo, o pesquisador procurar compreender o pensamento do sujeito através da descrição, análise e inferência do conteúdo expresso na mensagem. 
Fazendo uma associação com pesquisa na linha de desenvolvimento humano e processos socioeducativos, a análise de conteúdo é capaz de apresentar diferentes formas para o pesquisador conduzir o processo. Um destas possibilidades - que se faz imprescindível no campo do desenvolvimento e educação devido a subjetividade e inter-relações entre sujeitos e microssistemas - permite com que o investigador seja capaz de optar pelo tipo de conteúdo a ser analisado, bem como, realizar essa análise em sua totalidade, abrangendo tanto conteúdos manifestos como os conteúdos latentes (Moraes, 1999).
Na área de educação, segundo Oliveira, Ens, Andrade e Mussis (2003), essa metodologia de análise de conteúdo se apresenta como um procedimento com importância significativa para a condução da pesquisa. São comumente utilizados nessa área instrumentos qualitativos a fim de se investigar os aspectos objetivos e subjetivos da temática estudada. Os dados dessas amostras geralmente são coletados a partir de entrevistas (semiestruturadas e/ou abertas), questionários abertos, discursos ou documentos oficiais, textos literários, artigos de jornais, emissões de rádio e de televisão. Tais informações podem revelar para o pesquisador o conteúdo manifesto ou latente presente nas mensagens, auxiliando assim, na interpretação dos dados.
Desse modo, a partir do processo de inferência e interpretação dos dados coletados, torna-se possível que o pesquisador consiga propor ações que auxiliem em avanços na área da educação e do desenvolvimento, a partir da elaboração de intervenções, programas, capacitações, entre outras ferramentas que venham a contribuir com o progresso na área da pesquisa realizada, além de se propagar como fundamentação teórica para futuros estudos. 
REFERÊNCIAS 
Bardin, L. (1979). Análise de conteúdo. Lisboa: Ed. 70.
BARDIN, Laurence. (2011). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70.
Caregnato, Rita Catalina Aquino e Mutti, Regina. (2006). Pesquisa qualitativa: análise de discurso versus análise de conteúdo. Texto & Contexto - Enfermagem [online]. v. 15, n. 4 [acessado 24 agosto 2021], pp. 679-684. 
Gomes, R. (2007). Análise e interpretação de dados de pesquisa qualitativa. Pesquisa social: teoria, método e criatividade, 26, 79-108.
MORAES, Roque. (1999). Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37, p. 7 32.
OLIVEIRA, E. de; ENS, R. T.; FREIRE, A. D.; MUSSIS, C. R. de. (2003). Análise de conteúdo e pesquisa na área da educação. Revista Diálogo Educacional, vol. 4, núm. 9, maio-agosto, pp. 1-17.
Pêcheux M. (2003) O Discurso: estrutura ou acontecimento. 3a ed. Campinas (SP): Pontes.

Outros materiais