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Ainda durante a maior parte do século XVIII, até a época da
grande indústria, o capital, na Inglaterra, não havia conseguido, me-
diante pagamento do valor semanal da força de trabalho, apossar-se
de toda a semana do trabalhador, constituindo exceção, entretanto, os
trabalhadores agrícolas. A circunstância de que eles podiam viver uma
semana toda com o salário de 4 dias não parecia aos trabalhadores
razão suficiente para trabalhar também os outros 2 dias para o capi-
talista. Parte dos economistas ingleses, a serviço do capital, denunciou
furiosamente essa obstinação, outra parte defendia os trabalhadores.
Ouçamos, por exemplo, a polêmica entre Postlethwayt, cujo dicionário
do comércio gozava então da mesma fama que hoje em dia gozam os
escritos semelhantes de MacCulloch e MacGregor, e o já anteriormente
citado autor do Essay on Trade and Commerce.470
Postlethwayt diz entre outras coisas:
“Não posso encerrar essas breves observações sem registrar o
comentário trivial na boca de muitos, que quando o trabalhador
(industrious poor) pode conseguir o suficiente em 5 dias para
viver, ele não deseja trabalhar os 6 dias completos. Daí concluem
pela necessidade de encarecer, por meio de impostos ou de qual-
quer outra medida, mesmo os meios de subsistência necessários
a fim de forçar o artesão e o trabalhador da manufatura a tra-
balhar ininterruptamente 6 dias por semana. Tenho de pedir
permissão para discordar desses grandes políticos que se batem
pela perpétua escravização da população trabalhadora deste reino
MARX
387
dinariamente benévolos” amis du commerce no século XVII contam com exultation como
uma criança de 4 anos fora empregada num asilo para pobres na Holanda e que esse
exemplo da “vertu mise en pratique”* transita em todos os escritos humanitários à la Ma-
caulay, até a época de Adam Smith. É certo que com a chegada da manufatura, em con-
traposição aos ofícios, mostram-se traços da exploitation** de crianças, que até certo grau
já existia entre os camponeses, e tanto mais desenvolvido quanto mais duro o jugo que
recai sobre o homem do campo. A tendência do capital é inequívoca, mas os fatos mesmos
apresentam-se ainda tão isolados, como o aparecimento de crianças de duas cabeças. Por
isso, foram assinalados com “exultação” por clarividentes amis du commerce como dignos
de atenção e admiração, sendo recomendados a seus contemporâneos e à posteridade que
os imitassem. O mesmo sicofanta e beletrista escocês Macaulay diz: “Ouve-se hoje apenas
de retrocesso e vê-se somente progresso”. Que olhos e sobretudo que ouvidos!
* Virtude colocada em prática. (N. dos T.)
** Exploração. (N. dos T.)
470 Entre os acusadores dos trabalhadores, o mais furioso é o autor anônimo mencionado no
texto, de An Essay on Trade and Commerce: Containing Observation on Taxation etc.
Londres, 1770. Anteriormente já, em seu escrito Consideration on Taxes. Londres, 1765.
Também Polonius Arthur Young, o inefável tagarela estatístico, segue na mesma linha.
Entre os defensores dos trabalhadores destacam-se: Jacob Vanderlint em Money Answers
all Things, Londres, 1734, Rev. Nathaniel Forster, D.D. em An Enquiry into the Causes
of the Present [High] Price of Provisions, Londres, 1767, dr. Price e sobretudo também
Postlethwayt, tanto num suplemento ao seu Universal Dictionary of Trade and Commerce
quanto em Great Britain’s Commercial Interest Explained and Improved, 2ª ed., Londres,
1759. Os fatos mesmos encontram-se constatados por muitos outros autores contemporâneos,
entre outros, por Josiah Tucker.

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