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- -1 BIOMECÂNICA E CINESIOLOGIA CAPÍTULO 1 - CONCEITOS DE CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA Wellington Ribeiro - -2 Introdução Nesta unidade iremos abordar os principais conceitos da Cinesiologia e da Biomecânica necessários para a compreensão e a análise do movimento humano. A princípio torna-se mais fácil a compreensão do estudo da Cinesiologia e da Biomecânica se compreendermos a própria origem das palavras. “Cinesiologia” tem origem a partir do prefixo grego (movimento) + (estudo), assim a“kinesis” “logos” cinesiologia, por definição, seria . Já a palavra "biomecânica" tem origem a partir do“o estudo do movimento” prefixo “ (vida) + (estudo da ação das forças), assim, a Biomecânica, por definição, seria o estudobio” “mecânica” das ações de forças exercidas sob um corpo vivo. Essas definições introduzem os conceitos iniciais, porém não resumem o campo, nem o objeto de estudo da Cinesiologia e da Biomecânica. Necessário se faz entender que ambos os termos, apesar de isolados, devem ser entendidos em conjunto, uma vez que atuam dentro da ciência do movimento e estão ligados intrinsecamente. Assim, enquanto a Cinesiologia aborda a Anatomia, a Fisiologia, a Física e a Geometria, correlacionando-as com o movimento humano, a Biomecânica se ocupa de utilizar ferramentas de análise das forças que atuam, interna e externamente, sobre os sistemas anatômicos e fisiológicos. Você já se perguntou quais os motivos que levam um atleta de futebol a executar um chute perfeito? Ou ainda, como um nadador consegue atingir uma determinada velocidade numa competição? Você já parou para pensar como é que você consegue ficar na ponta dos pés, utilizando um pequeno músculo da “panturrilha” para suspender todo o seu corpo? Pois bem, ao final desta unidade você será capaz de entender as respostas para essas perguntas e ainda analisar o movimento humano sob a perspectiva da aplicação de conceitos da física nesses movimentos. Vamos estudar os objetivos da Biomecânica, suas áreas de atuação e como podemos utilizá-la para a análise do movimento humano. Estudaremos também os métodos de investigação utilizados nessas análises de movimento. Por fim, trataremos da Biomecânica articular através da análise dos tipos de forças e suas atuações em um sistema de alavancas no corpo humano. 1.1 Objetivos da Biomecânica A Biomecânica se preocupa com a ação de forças que atuam no organismo vivo, sejam internas ou externas. Para tanto, utiliza-se do conhecimento do ramo da Física responsável pela análise da ação dessas forças, a Mecânica. Essa, por sua vez, está dividida em dois ramos, a Estática e a Dinâmica. A Estática compreende a análise de sistemas em repouso, ou se movendo em velocidade constante, ou seja, sem aceleração. Já a dinâmica cuida da análise de sistemas que se movem com a presença da aceleração. Podemos entender aceleração como a variação da velocidade, sempre que uma velocidade alterar para mais, ou para menos, concluímos que houve aceleração ou desaceleração. - -3 Figura 1 - Movimentos de atletas: chute no futebol, largada na natação e flexão plantar na musculação Fonte: Eugene Onischenki; Blackday; Lubo Ivanko, Shutterstock, 2020. Além desses conceitos mecânicos, a Biomecânica utiliza-se de outros conceitos físicos como a cinemática, que descreve o movimento considerando a relação espaço e tempo e, ainda, a cinética, que cuida do estudo da ação das forças num determinado corpo ou sistema. A partir desses conhecimentos, a Biomecânica apresenta como principais objetivos o aumento da eficiência técnica do movimento humano, seja na área desportiva ou reabilitativa, estudando e comparando desempenhos e aplicando os ajustes para uma melhor eficiência; a análise de técnicas de movimento utilizando os princípios da Mecânica; e a diminuição da probabilidade de lesões originadas por movimentos ineficazes ou mal executados. 1.2 Introdução aos métodos de investigação O estudo da Biomecânica aborda aspectos qualitativos e quantitativos. A abordagem qualitativa refere-se à mensuração através de números, já a abordagem qualitativa diz respeito à qualidade do que se está sendo observado. Um jogador de futebol chuta uma bola em direção ao gol adversário e em relação ao movimento da bola podemos descrevê-lo qualitativa ou quantitativamente. Vejamos! Podemos registrar que a bola percorreu uma distância de 30 metros a uma velocidade de 90 km/h, logo, essa descrição é quantitativa. Já sob o aspecto qualitativo, podemos avaliar que a trajetória da bola foi retilínea, o que é ideal para atingir o gol adversário e alcançar o objetivo do chute. Então, a partir desses dados qualitativos e quantitativos, podemos aumentar a eficiência do chute para que a bola desenvolva sempre a melhor trajetória para atingir seu objetivo. Análise semelhante poderia ser feita a partir da análise do jogador que chutou a bola, a medição da distância VOCÊ QUER LER? O conhecimento da Biomecânica proporciona ao profissional que atua com a atividade física a capacidade de otimizar o desempenho das atividades, detectar soluções para promover a qualidade de vida e controlar lesões. O vasto campo de pesquisa pode ser explorado na Biomecânica. Quer saber mais sobre pesquisa científica em Biomecânica e as perspectivas de aplicação desse conhecimento? Acesse: .http://www.scielo.br/pdf/rbefe/v25nspe/03.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbefe/v25nspe/03.pdf - -4 Análise semelhante poderia ser feita a partir da análise do jogador que chutou a bola, a medição da distância entre seu pé de apoio e a bola, a força aplicada no momento do chute, a ativação da musculatura da perna, a inclinação do corpo para chutar a bola, enfim, as possibilidade de análise utilizando-se da Biomecânica seriam inúmeras. Porém, para se coletar os dados da análise, seja qualitativa ou quantitativa, faz-se primordial a utilização de métodos de investigação, os quais, em Biomecânica, compreendem a Cinemetria, a Dinamometria, a Eletromiografia e a Antropometria. 1.2.1 Cinemetria A Cinemetria é o método que se utiliza de imagens para a análise do movimento através da mensuração de parâmetros cinemáticos presentes nessas imagens. Essencialmente, a Cinemetria permite a análise de dados qualitativos observados nas imagens a seguir, no entanto, a análise quantitativa pode ser obtida através de medidas previamente conhecidas e que possibilitem a mensuração de deslocamento, como relacioná-lo ao tempo, por exemplo, e assim quantificarmos grandezas cinemáticas de forma indireta a partir desse método. Figura 2 - Diversos momentos de uma corrida Fonte: Maridav, Shutterstock, 2020. 1.2.2 Dinamometria Força pode ser definida como o agente da dinâmica responsável por alterar o estado de repouso ou movimento de um corpo, ou seja, se um corpo sofre ação de uma força, ele pode desenvolver uma aceleração, ou se deformar. Dinamometria, portanto, é o método de mensuração do módulo (quantidade) de uma força. VOCÊ QUER VER? O filme “Planetas dos Macacos: A Origem” utilizou a tecnologia da Cinemetria ( )Motion Capture para capturar os movimentos humanos e transformá-los em personagem animado. Até mesmo os movimentos dos músculos faciais foram capturados e analisados pelos softwares de análise do movimento. Quer saber mais sobre esse processo? Assista em: https://www.youtube.com ./watch?v=w_Z7YUyCEGE https://www.youtube.com/watch?v=w_Z7YUyCEGE https://www.youtube.com/watch?v=w_Z7YUyCEGE - -5 Dinamometria, portanto, é o método de mensuração do módulo (quantidade) de uma força. Figura 3 - Mensuração do módulo de uma força Fonte: Microgen, Shutterstock, 2020. Esse método é um dos principais utilizados na Biomecânica, seja para mensurar a quantidade de força que é aplicada a determinado objeto, seja para analisar a quantidade de força que determinado objeto aplica em um corpo. Ainda é possível utilizá-lo para mensurar a pressão exercida em um determinado corpo ou segmento, uma vez que a pressão é resultado da força exercida em uma determinada área. A seguir, veremos sobre Eletromiografia. 1.2.3 EletromiografiaAs células apresentam atividade elétrica e quando estimuladas essa atividade se propaga pela superfície dessas células. As fibras musculares são células que, quando estimuladas, produzem contração muscular. A atividade elétrica das fibras musculares pode ser mensurada através da Eletromiografia, que consiste na captação da atividade elétrica de um conjunto de fibras musculares de um determinado músculo. Dessa forma, é possível medir, ainda que indiretamente, as forças produzidas por grupos musculares. O método de análise através da Eletromiografia requer a colocação de eletrodos de captação dos sinais elétricos, os quais podem ser colocados sobre a pele (eletromiografia de superfície) ou penetrando até o músculo ou nervo VOCÊ SABIA? Um dos métodos mais comuns utilizados na prescrição de palmilhas é a Dinamometria? O Baropodômetro é uma plataforma que indica a “pressão da pisada”, os dados são tratados a partir de que relacionam a força exercida na “sola” do pé com a área em contato comsoftwares o chão (plataforma). A Baropodometria é, hoje, um exame essencial para a prescrição de palmilhas que podem auxiliar na prevenção de “Pé Diabético”, na correção postural e, ainda, na performance de atletas. - -6 podem ser colocados sobre a pele (eletromiografia de superfície) ou penetrando até o músculo ou nervo analisado (eletromiografia invasiva). Figura 4 - Eletromiografia de superfície com eletrodos posicionados na região dos flexores de dedos Fonte: Roman Zaiets, Shutterstock, 2020. 1.2.4 Antropometria A determinação de características e propriedades das dimensões das formas geométricas de segmentos corporais é o objetivo da Antropometria: Figura 5 - Medição do ângulo de flexão do cotovelo com um Goniômetro Fonte: Elnur, Shutterstock, 2020. A partir desses dados, é possível determinar, por exemplo, a distribuição de massa de um determinado corpo ou segmento e, inda, é possível estabelecer braços de alavancas e posições articulares. A Antropometria é capaz de estabelecer modelos antropométricos que podem indicar a origem de determinadas forças que atuam em um corpo ou segmento. Deste modo, as principais aplicações da Antropometria consistem em mensurar segmentos corporais e determinar seu centro de massa. - -7 1.3 Análise cinesiológica dos movimentos Como já abordado nesta unidade, a análise cinesiológica apresenta interações entre os conhecimentos de Anatomia, da Fisiologia, da Física e da Geometria. Já vimos que conceitos da Física, especialmente da Mecânica, são aplicados para determinações quantitativas e qualitativas do movimento e a análise da fisiologia da contração nos fornece dados mensurados através da EMG. No entanto, conceitos de Anatomia devem ser explorados por quem estuda o movimento humano. A seguir, podemos ver um vídeo sobre o estudo dos movimentos de forma mais aprofundada. Acompanhe! https://cdnapisec.kaltura.com/html5/html5lib/v2.81.1/mwEmbedFrame.php/p/1972831/uiconf_id/30443981 / e n t r y _ i d / 1 _ g c 2 m k w 9 l ? wid=_1972831&iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1581710818&entry_id=1_gc2mkw9l Os principais termos descritivos em Anatomia utilizados na análise do movimento humano são: • anterior ou ventral: refere-se à frente do corpo, ou uma posição mais próxima à frente; • posterior ou dorsal: refere-se à parte de trás do corpo, ou uma posição mais próxima ao dorso(costas); • proximal: aquilo que se encontra próximo ao tronco; • distal: aquilo que se encontra distante do troco; • superior, craniano ou cefálico: refere-se à uma parte do corpo cuja localização está acima de outra; • inferior, caudal ou podálico: refere-se à uma parte do corpo cuja localização que está abaixo de outra; • medial: região próxima à linha média do corpo ou segmento corporal; • lateral: região afastada da linha média do corpo ou segmento corporal. Além dos termos referencias, é necessário, também, o conhecimento dos planos e eixos de movimento corporais. Assim, o corpo humano apresenta três planos que se cruzam perpendicularmente: o Plano Sagital, o Plano Frontal e o Plano Transverso. Planos são superfícies imaginárias nas quais ocorrem os movimentos corporais: O Plano Sagital corta o corpo ou segmento em duas partes, uma lateral esquerda e outra lateral direita. O Plano Frontal corta o corpo ou segmento em duas partes, uma anterior e outra posterior. O Plano Transverso corta o corpo ou segmento em duas partes, uma superior e outra inferior. Cada plano de movimento tem um eixo de movimento correspondente. Eixos de movimento são linhas imaginárias que cruzam os Planos de Movimento e indicam o local de rotação das articulações que estão permitindo tal movimento. Assim, os movimentos do corpo humano, ou de segmentos, ocorrem sempre nas articulações. As articulações são junções ósseas que estão divididas em três tipos: Articulação Sinartrose, ou fibrosas – que não permitem movimento; Articulação Anfiartrose, ou cartilaginosa – que permite pouco movimento; Articulação Diartrose, ou sinovial – que permite amplo movimento. Na amplitude de movimento (ADM) de uma articulação ocorre tanto o movimento dos segmentos ósseos que formam a articulação, quanto o movimento entre as superfícies articulares dessa articulação. 1.3.1 Osteocinetmática Os movimentos osteocinemáticos, conhecidos também como movimentos clássicos ou fisiológicos, ocorrem através do controle voluntário através de contrações musculares que aproximam ou afastam segmentos corporais ou, ainda, podem aumentar ou diminuir a distância angular entre tais segmentos. São considerados movimentos osteocinemáticos: • : movimento de aproximação de segmentos corporais, geralmente, realizado na direção anterior flexão do corpo. Ex.: Flexão do Cotovelo; • : movimento de afastamento de segmentos corporais, geralmente, realizado na direção extensão • • • • • • • • • • https://cdnapisec.kaltura.com/html5/html5lib/v2.81.1/mwEmbedFrame.php/p/1972831/uiconf_id/30443981/entry_id/1_gc2mkw9l?wid=_1972831&iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1581710818&entry_id=1_gc2mkw9l https://cdnapisec.kaltura.com/html5/html5lib/v2.81.1/mwEmbedFrame.php/p/1972831/uiconf_id/30443981/entry_id/1_gc2mkw9l?wid=_1972831&iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1581710818&entry_id=1_gc2mkw9l https://cdnapisec.kaltura.com/html5/html5lib/v2.81.1/mwEmbedFrame.php/p/1972831/uiconf_id/30443981/entry_id/1_gc2mkw9l?wid=_1972831&iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1581710818&entry_id=1_gc2mkw9l - -8 • : movimento de afastamento de segmentos corporais, geralmente, realizado na direção extensão posterior do corpo. Ex.: Extensão do Cotovelo; • : movimento de aproximação de segmentos corporais, realizado em direção à linha média do adução corpo. Ex.: Adução do Braço (Ombro); • : movimento de afastamento de segmentos corporais, realizado em direção contrária à linha abdução média do corpo. Ex.: Abdução do Braço (Ombro); • : movimento em que a linha média anterior do segmento corporal se rotação interna (medial) aproxima da linha média do corpo. Ex.: Rotação Interna do Quadril; • : movimento em que a linha média anterior do segmento corporal se afasta da rotação externa (lateral) linha média do corpo. Ex.: Rotação Externa do Quadril; • : movimento que ocorre no antebraço e consiste em girar a palma da mão para baixo com o pronação cotovelo em Flexão de 90°; • : movimento que ocorre no antebraço e consiste em girar a palma da mão para cima com o supinação cotovelo em Flexão de 90°; • : movimento que ocorre quando se aproxima o dorso do pé com a perna.dorsiflexão • : movimento que ocorre quando se afasta o dorso do pé da perna.flexão plantar Figura 6 - Movimentos osteocinemáticos Fonte: Auttapon Wongtakeaw, Shutterstock, 2020. 1.3.2 Artrocinemática Os Movimentos Artrocinemáticos, conhecidos também como Movimentos Acessórios ou Micromovimentos, ocorrem pela relação de movimento entre as superfícies articulares envolvidas no movimento osteocinemático. Enquanto o movimento osteocinemático é produzido pelos segmentos envolvidos na articulação atravésde atos voluntários, o movimento artrocinemático ocorre dentro da articulação, através das faces articulares, sendo um movimento involuntário, passivo. Assim, são considerados movimentos artrocinemáticos: • Rolamento Movimento articular em que cada ponto de uma face articular se encontram com pontos diferentes da • • • • • • • • • • - -9 Movimento articular em que cada ponto de uma face articular se encontram com pontos diferentes da outra face articular. Imagine uma bola descendo uma rampa rolando, cada ponto da bola toca em diferentes pontos da rampa. • Deslizamento Movimento articular em que um mesmo ponto de uma face articular se encontram com diferentes pontos da outra face articular. Imagine agora uma caixa descendo uma rampa, um ponto da caixa vai tocar em vários pontos da rampa. • Rotação Movimento articular em que um único ponto de uma superfície articular entra em contato com apenas um único ponto da outra superfície articular. Imagine o brinquedo Pião rotando no chão em um único ponto. Sempre que ocorrer um movimento osteocinemático, obrigatoriamente, ocorrerá um movimento artrocinemático, pois esse permite aquele. A maioria das articulações apresenta uma extremidade óssea côncava e outra convexa e reconhecer essa propriedade é fundamental para o entendimento do movimento artrocinemático. Na videoaula a seguir, vamos descobrir mais sobre os movimentos dos membros superiores antes de darmos sequência aos nossos estudos. Vejamos. https://cdnapisec.kaltura.com/html5/html5lib/v2.81.1/mwEmbedFrame.php/p/1972831/uiconf_id/30443981 / e n t r y _ i d / 1 _ b t t s u 4 z o ? wid=_1972831&iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1581712617&entry_id=1_bttsu4zo Essa diferença no formato das extremidades dos ossos que compõem a articulação é responsável pelo movimento artrocinemático específico quando da realização do movimento osteocinemático, para descrever esse movimento intra-articular utilizamos a , a qual pode ser definida da seguinte“regra do convexo-côncavo” forma: • quando uma face articular convexa move-se sobre uma face articular côncava fixa, o movimento artrocinemático ocorre na direção oposta ao movimento osteocinemático. Ex.: A articulação gleno-umeral (Ombro) possui a extremidade umeral convexa e a extremidade glenoidal côncava (ver figura a seguir), no movimento de abdução do ombro em cadeia cinética aberta (ver figura anterior “Movimentos Osteocinemáticos de Flexão e Extensão de Ombro...”), o segmento desloca-se superiormente, logo, pela regra do convexo-côncavo o movimento artrocinemático ocorre na direção inferior: • • • https://cdnapisec.kaltura.com/html5/html5lib/v2.81.1/mwEmbedFrame.php/p/1972831/uiconf_id/30443981/entry_id/1_bttsu4zo?wid=_1972831&iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1581712617&entry_id=1_bttsu4zo https://cdnapisec.kaltura.com/html5/html5lib/v2.81.1/mwEmbedFrame.php/p/1972831/uiconf_id/30443981/entry_id/1_bttsu4zo?wid=_1972831&iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1581712617&entry_id=1_bttsu4zo https://cdnapisec.kaltura.com/html5/html5lib/v2.81.1/mwEmbedFrame.php/p/1972831/uiconf_id/30443981/entry_id/1_bttsu4zo?wid=_1972831&iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1581712617&entry_id=1_bttsu4zo - -10 Figura 7 - Articulação do ombro, em azul as faces articulares, a face umeral convexa, a face glenoidal côncava Fonte: Alila Medical Media, Shutterstock, 2020. • quando uma face articular côncava move-se sobre uma face articular convexa fixa, o movimento artrocinemático ocorre na mesma direção ao movimento osteocinemático. Ex.: A articulação Úmero-ulnar (Cotovelo) possui a extremidade umeral convexa e a extremidade ulnar côncava (ver figura a seguir), no movimento de flexão do cotovelo em cadeia cinética aberta (ver figura anterior “Movimentos Osteocinemáticos de Flexão e Extensão de Ombro...”), o segmento desloca-se anteriormente, logo, pela regra do convexo-côncavo o movimento artrocinemático ocorre também na direção anterior: Figura 8 - Articulação do cotovelo, em azul as faces articulares, a face umeral convexa, a face ulnar côncava • - -11 Figura 8 - Articulação do cotovelo, em azul as faces articulares, a face umeral convexa, a face ulnar côncava Fonte: Alila Medical Media, Shutterstock, 2020. 1.3.3 Cadeias cinéticas Uma cadeia cinética pode ser definida como um conjunto de estruturas conectadas entre si que permitem determinado movimento, elas são classificadas em abertas ou fechadas. Na Cinesiologia e Biomecânica esse termo deve ser entendido sob duas perspectivas distintas: Cadeias Cinéticas de Posição e Cadeias Cinéticas de Movimento. As cadeias cinéticas de posição fazem referência ao ponto em que as estruturas articulares (ligamentos e cápsula articular) estão comprimidas ou relaxadas. Por exemplo, no final da amplitude de movimento de uma articulação, qualquer das faces articulares apresentam máximo contato entre si, estando, assim, fortemente comprimidas, difíceis de separar, estáveis, e dizemos que essa seria a posição em cadeia cinética fechada. Por outro lado, quando uma articulação se encontra em repouso, em sua posição anatômica, as faces articulares estão afastadas, os ligamentos e a cápsula articular em repouso, instável, e dizemos que essa seria a posição em cadeia cinética aberta. Já as cadeias cinéticas de movimento, como o próprio termo já sugere, referem-se à forma como as diversas estruturas do sistema musculoesquelético estão conectadas durante o movimento. Figura 9 - Flexão do joelho direito em cadeia cinética aberta e em cadeia cinética fechada Fonte: Everyonephoto Studio, Shutterstock, 2020. Especificamente, se a extremidade distal do segmento envolvido na articulação que está se movimentando estiver livre no espaço, dizemos que ocorre um movimento em cadeia cinética aberta. Por outro lado, se a extremidade distal do segmento envolvido na articulação que está se movimentando estiver fixado, dizemos que ocorre um movimento em cadeia cinética fechada. 1.3.4 Sensação final do movimento normal e anormal A sensação final de movimento é uma percepção subjetiva que ocorre no final da movimentação articular passiva. Pode ser dividida em sensação final de movimento normal e anormal. A sensação final de movimento normal ocorre quando a amplitude de movimento passiva ocorre em toda sua angulação e é interrompida por estruturas anatômicas como o osso, o músculo e a própria cápsula articular. - -12 Já a sensação final de movimento anormal ocorre quando a interrupção do movimento ocorre devido à dor muscular, edema ou anormalidades anatômicas, não havendo assim toda a angulação possível para a amplitude de movimento articular. 1.4 Alavancas Do ponto de vista mecânico, as alavancas são máquinas simples utilizadas para modificar a potência ou duração de uma força. No corpo humano, o sistema musculoesquelético é constituído por sistemas de alavancas que permitem a movimentação de segmentos corporais a partir da aplicação de forças musculares alteradas em sua potência. Isso explica, em parte, como é possível o grupo muscular Tríceps Sural (panturrilha) movimentar todo o peso do nosso corpo quando ficamos na ponta dos pés, um músculo relativamente pequeno em relação a outros grupos musculares, mas que consegue aumentar sua potência muscular para garantir uma Vantagem Mecânica na execução da ação. 1.4.1 Caracterização das Alavancas Uma alavanca pode ser definida como um sistema composto por uma haste rígida, um ponto fixo que permite a alavanca girar (pode ser chamado de ponto fixo, fulcro ou eixo de rotação), uma força aplicada para girar a haste e uma resistência a essa força. Assim, para ser considerado uma alavanca, obrigatoriamente, o sistema deve conter esses componentes: a haste rígida, o ponto fixo, a força e a resistência, como vemos na imagem a seguir. VOCÊ O CONHECE? Andrew Taylor Still foi o criador da Osteopatia. Dr. Still utilizou conhecimento cinesiológico dos movimentos artrocinemáticos associados aos movimentos osteocinemáticos para criar esse método que visa recuperara amplitude de movimento das articulações. A Osteopatia é hoje um dos principais recursos de tratamento do sistema musculoesquelético. - -13 Figura 10 - Componentes e classes de alavancas Fonte: Udaix, Shutterstock, 2020. A distância entre a força e o eixo é chamada de Braço de Força, já a distância entre a resistência e o eixo é chamada de Braço de Resistência. A vantagem mecânica é dada pela relação entre o Braço de Força e o Braço de Resistência. Quanto maior o BF, mais fácil de movimentar a alavanca, logo, apresenta uma maior Vantagem Mecânica e quanto maior o BR, mais difícil de movimentar a alavanca, assim, apresenta uma Vantagem Mecânica menor. As alavancas são classificadas em três tipos ou classes: • Alavanca de Primeira Classe ou Interfixa: o eixo está localizado entre a força e a resistência; • Alavanca de Segunda Classe ou Inter-resistente: a resistência está localizada entre a força e o eixo; • Alavanca de Terceira Classe, ou Interpotente: a força está localizada entre a resistência e o eixo. 1.4.2 Alavancas no corpo humano O sistema esquelético formado por ossos, músculos e articulações é, na verdade, um complexo sistema de alavancas que tem como objetivo promover o movimento humano. Toda alavanca apresenta seus componentes obrigatórios, quais sejam: uma haste rígida, um ponto fixo, ou eixo, uma força e uma resistência. No sistema músculo esquelético, os ossos representam a haste rígida, as articulações representam o eixo de • • • - -14 No sistema músculo esquelético, os ossos representam a haste rígida, as articulações representam o eixo de rotação, o músculo aplica a força muscular no ponto de inserção no osso, e o próprio peso do segmento ósseo representa a resistência. Assim, podemos facilmente identificar e classificar todas as articulações sinoviais do corpo humano em sistemas de alavancas. No corpo humano, a alavanca mais comum é a Interpotente. Por exemplo, no membro superior, temos o sistema de alavanca formado pelo complexo articular do cotovelo, no qual o osso ulna seria a haste rígida, a articulação úmero-ulnar seria o eixo de rotação, a força muscular aplicada pelo músculo bíceps braquial representaria a força, e o peso do segmento do antebraço seria a resistência (ver figura anterior “Componentes e Classes de Alavancas...”). O braço de força seria a distância na qual o músculo bíceps braquial se insere no antebraço (bem próximo ao eixo de rotação) e o braço de resistência seria o ponto médio do segmento do antebraço, onde fica concentrado o centro de massa do segmento, logo, a localização do seu peso que representaria a resistência. As alavancas de terceira classe, ou Interpotente, apesar de serem a de maior ocorrência no corpo humano, apresentam a menor Vantagem Mecânica, uma vez que, o fato do músculo se inserir pais próximo ao eixo de rotação que o ponto de aplicação da resistência, faz com que o braço de Força seja sempre menor que o Braço de Resistência, características de uma baixa eficiência que torna o movimento mais difícil, com maior gasto de energia e consequentemente uma baixa Vantagem Mecânica. As alavancas que apresentam a maior vantagem mecânica são as alavancas de segunda classe, ou Inter- resistentes, uma vez que a resistência estará sempre mais perto do eixo de rotação, em relação à força que estará sempre mais distante. Consequentemente, o Braço de Força será sempre maior que o Braço de Resistência, apresentando, assim, uma melhor Vantagem Mecânica na produção do movimento que será facilitado por essas características ocorrendo com menor gasto energético. No corpo humano, a articulação metatarso-falangeana, quando movimentada pela atuação do tríceps sural, produz um movimento de flexão onde o ponto fixo é a própria articulação, o ponto de aplicação do peso, que representa a resistência, está entre o eixo e a força, caracterizando uma alavanca inter-resistente, ou de terceira classe. Como o Braço de Força é maior que o Braço de resistência nesse tipo de alavanca, a contração do tríceps sural é capaz de movimentar todo peso do corpo durante o movimento, o que demonstra toda a vantagem mecânica desse tipo de alavanca para o corpo humano. CASO Um atleta de vôlei de praia buscou uma equipe de saúde com queixa de “travamento no quadril”, na verdade, uma sensação final de movimento diminuída para adução do quadril esquerdo com movimento em cadeia cinética fechada. O médico da equipe solicitou uma bateria de exames complementares por imagem, no entanto, não detectou nenhum tipo de lesão. O fisioterapeuta da equipe realizou exame físico com diversos testes específicos, mas também não encontrou algo que justificasse o “bloqueio” de que se queixava o atleta. A equipe resolveu realizar a análise de movimento do atleta. Através de câmeras as imagens dos movimentos foram capturadas e então examinadas em laboratório. A análise mostrou que o atleta demorava a iniciar o movimento para o lado esquerdo (Tempo de reação retardado), o que o levava a tentar ajustar o corpo produzindo rotação sobre o quadril após fixar o pé no chão, o mesmo não acontecia para o lado direito, em que o atleta tinha tempo de reação mais curto e conseguia chegar na posição final mais rápido, sem necessitar ajustar o corpo sobre o quadril fixado. Então, a equipe desenhou um treinamento proprioceptivo de tempo de reação que foi desenvolvido com o atleta e a sensação de movimento final tornou-se completa. - -15 Conclusão Concluímos a primeira unidade da disciplina de Biomecânica e Cinesiologia. Aqui, pudemos entender um pouco melhor sobre esses dois conceitos e sua relação com nosso corpo e nossos movimentos. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • entender que a Cinesiologia é estudo do movimento; • entender que Biomecânica é o estudo dos movimentos através de métodos da mecânica que se preocupa com a ação de forças que atuam no organismo vivo, sejam internas ou externas abordando aspectos qualitativos e quantitativos; • compreender que, para se coletar os dados da análise, seja qualitativa ou quantitativa, é primordial a utilização de métodos de investigação, que em Biomecânica compreende a Cinemetria, a Dinamometria, a Eletromiografia e a Antropometria; • entender que a Cinemetria é o método que se utiliza de imagens para a análise do movimento através da mensuração de parâmetros cinemáticos presentes nessas imagens; • entender que a Dinamometria é o método de mensuração do módulo (quantidade) de uma força; • entender que a Dinamometria é o método de mensuração do módulo (quantidade) de uma força; • compreender que a Eletromiografia consiste na captação da atividade elétrica de um conjunto de fibras musculares de um determinado músculo; • compreender que a Antropometria é capaz de estabelecer modelos antropométricos que podem indicar a origem de determinadas forças que atuam em um corpo ou segmento; • entender que a análise cinesiológica apresenta interações entre os conhecimentos de anatomia, fisiologia, física e geometria; • aprender que os movimentos osteocinemáticos ocorrem através do controle voluntário através de contrações musculares que aproximam ou afastam segmentos corporais e que ocorrem pela relação de movimento entre as superfícies articulares envolvidas no Movimento Osteocinemático; • entender que para descrever o movimento intra-articular utilizamos a “regra do convexo-côncavo”; • entender que quando uma face articular convexa move-se sobre uma face articular côncava fixa, o movimento artrocinemático ocorre na direção oposta ao movimento osteocinemático e que quando uma face articular côncava move-se sobre uma face articular convexa fixa, o movimento artrocinemático ocorre na mesma direção ao movimento osteocinemático; • aprender que uma cadeia cinética pode ser definida como um conjunto de estruturas conectadas entre si que permitem determinado movimento e elas são classificadas em abertas ou fechadas; • entender que as cadeias cinéticas de posição fazem referência ao ponto em que as estruturas articulares estão comprimidasou relaxadas e referem-se à forma como as diversas estruturas do sistema musculoesquelético estão conectadas durante o movimento; • compreender que a sensação final de movimento é uma percepção subjetiva que ocorre no final da movimentação articular passiva e que o sistema musculoesquelético é constituído por sistemas de alavancas; • entender que as alavancas são classificadas em três tipos, ou classes: Alavanca de Primeira Classe ou Interfixa, Alavanca de Segunda Classe ou Inter-resistente, Alavanca de Terceira Classe ou Interpotente. • • • • • • • • • • • • • • • • - -16 Bibliografia AMADIO, A. C.; SERRÃO, J. C. A Biomecânica em Educação Física e Esporte. Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v. 25, p. 15-24, dez. 2011. N. esp. HALL, S. J.; TARANTO, G. . 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.Biomecânica básica LIPPERT, L. S. . 5. ed. reimpr. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.Cinesiologia clínica e anatomia NATUREVIDEO. Creating Gollum. , [201-]. Disponível em: Youtube https://www.youtube.com/watch? . Acesso em: 7 fev. 2020.v=w_Z7YUyCEGE NORDIN, M.; FRANKEL, V. . 3. ed. Biomecânica básica do sistema musculoesquelético Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003 https://www.youtube.com/watch?v=w_Z7YUyCEGE https://www.youtube.com/watch?v=w_Z7YUyCEGE Introdução 1.1 Objetivos da Biomecânica 1.2 Introdução aos métodos de investigação 1.2.1 Cinemetria 1.2.2 Dinamometria 1.2.3 Eletromiografia 1.2.4 Antropometria 1.3 Análise cinesiológica dos movimentos 1.3.1 Osteocinetmática 1.3.2 Artrocinemática Rolamento Deslizamento Rotação 1.3.3 Cadeias cinéticas 1.3.4 Sensação final do movimento normal e anormal 1.4 Alavancas 1.4.1 Caracterização das Alavancas 1.4.2 Alavancas no corpo humano Conclusão Bibliografia