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6. A luta pela jornada normal de trabalho.
Limitação por força de lei do tempo de trabalho.
A legislação fabril inglesa de 1833/64
Depois que o capital precisou de séculos para prolongar a jornada
de trabalho até seu limite máximo normal e para ultrapassá-lo até os
limites do dia natural de 12 horas,481 ocorreu então, a partir do nas-
cimento da grande indústria no último terço do século XVIII, um assalto
desmedido e violento como uma avalancha. Toda barreira interposta
pela moral e pela natureza, pela idade ou pelo sexo, pelo dia e pela
noite foi destruída. Os próprios conceitos de dia e noite, rusticamente
simples nos velhos estatutos, confundiram-se tanto que um juiz inglês,
ainda em 1860, teve de empregar argúcia verdadeiramente talmúdica,
para esclarecer “juridicamente” o que seja dia e o que seja noite.482 O
capital celebrava suas orgias.
Logo que a classe trabalhadora, atordoada pelo barulho da pro-
dução, recobrou de algum modo seus sentidos, começou sua resistência,
primeiro na terra natal da grande indústria, na Inglaterra. Contudo,
durante três decênios, as concessões conquistadas por ela permanece-
ram puramente nominais. O Parlamento promulgou, de 1802 até 1833,
5 leis sobre o trabalho, mas foi tão astuto que não voltou um tostão
sequer para sua aplicação compulsória, para os funcionários necessários
etc.483 Essas leis permaneceram letra morta.
“A verdade é que antes da lei de 1833, crianças e adolescentes
tinham de trabalhar (were worked) a noite toda, o dia todo, ou
ambos ad libitum.484, 485
MARX
391
481 "É por certo muito lamentável que qualquer classe de pessoas seja obrigada a se esfalfar
12 horas diariamente. Adicionando-se as horas das refeições e para ir e voltar da fábrica,
elas totalizam, de fato, 14 das 24 horas do dia. (...) Abstraindo a saúde, ninguém hesitará,
espero, em admitir que do ponto de vista moral essa absorção completa do tempo das
classes trabalhadoras, sem interrupções, desde a idade dos 13 anos e desde muito antes,
nos ramos industriais “livres” é extremamente nefasta e um mal terrível. (...) No interesse
da moral pública, para a formação de uma população apta e a fim de proporcionar à grande
massa do povo razoável gozo da vida, é necessário que em todos os ramos de atividade
seja reservada uma parte de cada dia de trabalho para descanso e lazer." (HORNER,
Leonard. In: Rep. of Insp. of Fact. 31st Dec. 1841.)
482 Ver Judgement of Mr. J. H. Otway, Belfast, Hilary Sessions, County Antrim, 1860.
483 É muito característico para o regime de Louis-Philippe, do roi bourgeois,* que a única lei
fabril promulgada em seu reinado, de 22 de março de 1841, não foi jamais aplicada. E
essa lei refere-se apenas ao trabalho infantil. Estabelece 8 horas para crianças entre 8 e
12 anos, 12 horas para crianças entre 12 e 16 etc., com muitas exceções que permitem o
trabalho noturno até para crianças de 8 anos. Vigilância e imposição da lei num país, onde
cada rato é administrado policialmente, foram deixadas à boa vontade dos amis du commerce.
Somente a partir de 1853, existe um único departamento, no departamento du Nord, um
inspetor governamental pago. Não menos característico do desenvolvimento da sociedade
francesa em geral é o fato de a lei de Louis-Philippe permanecer, até a revolução de 1848,
como única em meio à fábrica francesa de leis que tudo envolve!
* Rei burguês. (N. dos T.)
484 À vontade. (N. dos T.)
485 Rep. of Insp. of Fact. 30th April 1860. p. 50.

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