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CASO 5: DOR PÉLVICA AGUDA OBJETIVOS: 1. Identificar as principais manifestações que cursam com dor pélvica aguda. 2. Compreender os métodos diagnósticos para a dor pélvica aguda. 3. Implementar o uso clínico dos analgésicos para dor aguda. Fontes: Tratado de Ginecologia BEREK e NOVAK; Protocolo de saúde das mulheres DOR PÉLVICA, Unifesp/UNASUS (1,2) Farmacologia Ilustrada, 6 ed;Flores MP et al. Anestésicos tópicos, Revista Brasileira de Anestesiologia; 2012 DOR PÉLVICA AGUDA| VISÃO GERAL • A dor aguda é intensa e caracterizada por: • Início súbito, aumento abrupto e curta duração; • A dor aguda está relacionada com sinais de inflamação ou infecção, como febre e leucocitose, ausentes em estados de dor crônica. • A fisiopatologia da dor pélvica aguda conta com a participação de mediadores de inflamação, presentes em alta concentração por causas como infecção, isquemia e irritação química. DOR AGUDA- DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • O início rápido da dor é compatível com perfuração ou ruptura de alguma víscera oca ou isquemia pós torção de um pedículo vascular • A dor do tipo cólica ou espasmódica pode estar associada à contração muscular ou à obstrução de alguma víscera oca como intestino, ureter e útero. • Dor em todo o abdome sugere reação generalizada a um líquido irritante na cavidade peritoneal como SANGUE, líquido purulento ou conteúdo de cisto ovariano. • A primeira percepção de dor visceral é uma sensação vaga, profunda e mal localizada- associada às respostas reflexas autônomas. • Dor na região da parede abdominal é denominada referida; é bem localizada e mais superficial • A parte superior da vagina, o colo do útero, o útero e os anexos compartilham a inervação visceral com o intestino grosso, o reto, a bexiga a parte inferior do ureter e ado intestino delgado. • Assim, a dor oriunda dos órgãos reprodutivos e dos sistemas genitourinário e gastrointestinal são referidas nos mesmos dérmatomos. AVALIAÇÃO DA DOR PÉLVICA AGUDA • Diagnóstico precoce é fundamental, atraso aumenta morbidade e mortalidade • Anamnese: data e característica dos últimos períodos menstruais, história sexual e contraceptiva. Anamnese da dor: início e circunstâncias, presença de sinais de infecção, sintomas relacionados à gravidez (amenorreia, sangramento irregular, náuseas, mamas doloridas); gastrointestinais (anorexia, náuseas, vômito, constipação intestinal, não evacuação, ausência de flatos, hematoquezia), urinário (disúria, urgência, polaciúria, hesitação, hematúria), atribuíveis ao peritônio (hipotensão ortostática, distensão abdominal, dor no QSD ou ombro) • Exames laboratoriais- essenciais- hemograma completo com leucograma, exame de urina de amostra do jato médio, teste de gravidez, pesquisa de gonorreia ou clamídia, e US transvaginal; • Podem ser incluídos- TC, exames bioquímicos, presença de anticorpos irregulares; CAUSAS ASSOCIADAS AO SISTEMA REPRODUTIVO • Gravidez ectópica- é definida como a implantação do feto em local fora da cavidade uterina; *Sintomas: causa dor quando há dilatação aguda da tuba- período de amenorreia, seguido por sangramento irregular, e início agudo de dor. * Sinais: hipotensão ortostática (pa sistólica diminui 20 mmhg, diastólica diminui 10 mmgh ao passar da posição ortostática para em pé) *Exame abdominal- dor à palpação e defesa abdominal em um ou nos dois quadrantes inferiores; lembrar que pode haver hemoperitôneo * Exame pélvico- mostra leve dor à manobra de mobilização do colo; palpação dos anexos causa dor (+ intensa do lado da gravidez) e palpa-se uma massa • Extravasamento ou ruptura de um cisto ovariano – os cistos funcionais são os cistos ovarianos mais comuns e estão mais propensos à ruptura que as neoplasias benignas ou malignas. A dor associado à ruptura do folículo ovariano no momento da ovulação é chamada mittelschmerz. *A pequena quantidade de sangue que extravasa para a cavidade peritoneal e alta concentração de prostaglandinas no líquido folicular poderiam contribuir para essa dor pélvica no meio do ciclo BCE| 4P 2021.2| UNIFTC| TUTORIAL * Em geral, a dor varia de leve a moderada; é autolimitada; hemoperitônio é improvável se o sistema de coagulação estiver intacto * No desenvolvimento de um cisto do corpo lúteo hemorrágico na fase lútea do ciclo menstrual, a dor aguda é provocada pela rápida expansão da cápsula ovariana ou no caso de ruptura, pelo sangue na cavidade peritoneal. * Há indicação de exploração cirúrgica se a ruptura do cisto causar- hemoperitônio (corpo lúteo) ou peritonite química consideráveis, que podem comprometer a fertilidade,ou abdome agudo (abcesso) que pode ser fetal *Sintomas- cisto ovariano não costuma causar dor aguda; cisto do corpo lúteo é o que com maior frequência sofre ruptura e causa hemoperitôneo; com sintomas semelhantes ao de gravidez ectópica. Paciente está na fase lútea ou tem atraso da menstruação por causa da atividade persistente do corpo lúteo. Em geral, dor com início súbito, está associada a dor pélvica crescente e depois abdominal generalizada e à tontura, com hemiperitônio considerável. *Sinais: hipotensão ortostática decorrente da hipovolemia em caso de hemoperitônio, febre rara; sinal mais importante é a dor intensa à palpação do abdome, associada à dor à descompressão súbita no quadrante inferior localizada ou generalizada; - Exame pélvico- muitas vezes há massa palpável em caso de ruptura incompleta do cisto *Diagnóstico- exame de sangue e US transvaginal * Tratamento- quando o quadro é mais complicado (hipotensão ortostática, anemia, grande quantidade de líquido peritoneal livre, sugerindo hemoperitônio)- tratamento cirúrgico por laparoscopia ou laparotomia. • Torção dos anexos- torção do pedículo vascular de um ovário, ou de um ovário com cisto, tuba uterina ou mioma uterino pediculado provoca isquemia das estruturas distais do pedículo e início agudo da dor. *Sintomas- dor costuma ser intensa e constante ou pode ser intermitente caso a torção seja parcial e intermitente; INÍCIO da torção e dor estão relacionadas à exercícios físicos e relações sexuais; em geral há respostas reflexas autonômicas- náuseas, vômito, agitação) * Sinais- pequena elevação da temperatura, taquicardia, leucocitose, necrose tecidual -Exame- dor localizada e dor à descompressão súbita nos quadrantes inferiores - Presença de massa pélvica ao exame bimanual * Diagnóstico- drenagem linfática e venosa dos anexos- possibilita palpação ao exame ou observada por US; * Tratamento- cirurgia (pode proceder à cistectomia- laparoscopia ou laparotomia • Salpingo-ooforite aguda e doença inflamatória pélvica *DIP iniciada por gonorreia ou clamídia provoca início agudo de dor pélvica que se intensifica com o movimento, febre, corrimento vaginal purulento *Dip subclínica pode ser observada na salpingo- ooforite por clamídia *Sinais- elevação de temperatura e taquicardia são típicas -Exame abdominal- distensão e diminuição dos ruídos hidroaéreos; dor à palpação direta e a dor à descompressão súbita são acentuadas Sinais mais importantes da SOA são a dor à mobilização cervical e dor bilateral à palpação dos anexos *Diagnóstico- leucocitose e aumento de VHS; sinal inespecífico de inflamação; laparoscopia para diagnóstico diferencial com apendicite e diverticulite; biopsia do endométrio, US pélvica, RM. • Abcesso tubo ovariano- complicação da salpingo- ooforite aguda, geralmente são unilaterais e multiloculares. Sinais e sintomas semelhantes. Diagnóstico- US. Tratamento: internação hospitalar, pode-se tentar tratamento clínico (antibióticos)- caso não haja melhora, drenagem dos abcessos guiada por TC OU US. Primeira escolha: drenagem + antibióticos Ruptura do abcesso causa peritonitedifusa (taquicardia e dor à descompressão dos 4 quadrantes). Laparotomia explorada com ressecação do tecido infectado é obrigatória. • Leiomiomas uterinos- tumores do músculo liso uterino *Em geral, desconforto descrito como pressão ou dor acíclica e com menor frequência, polaciúria, dispareunia ou constipação intestinal. Não há associação entre grau de dor e volume ou número de miomas - A dor pélvica por essa causa é rara, mas pode ser ocorrer em caso de degeneração ou torção do mioma. Sinais- sinais vitais normais, mas pode haver febre baixa e taquicardia em caso de degeneração; exame abdominal ou bimanual e US mostram uma ou mais massas sólidas irregulares que se originam no útero. EM CASO DE DEGENERAÇÃO, inflamação pode causar dor à palpação do abdome e dor à descompressão súbita localizada. Diagnóstico e tratamento- leucocitose(degeneração); US distingue se é massa anexial ou uterina- RM pélvica tem maior acurácia (?). Laparoscopia, mas a cirurgia não é obrigatória. • Endometriose- as glândulas e o estroma endometriais implantam-se fora da cavidade uterina; na maioria das vezes no fundo do saco, nos ovários ou peritônio pélvico. Pacientes podem apresentar dismenorreia, dispareunia, disquezia, sangramento irregular ou infertilidade. Dor aguda atribuível à endometriose geralmente é pré menstrual e menstrual, em caso de dor generalizada aguda não menstrual deve-se considerar a possibilidade de ruptura do endometrioma. *Diagnóstico- dor à palpação abdominal, em um ou nos dois quadrantes inferiores; distensão abdominal; dor à descompressão súbita (caso de ruptura); Exames bimanual e retovaginal podem mostrar útero fixo, retrovertido, com nódulos dolorosos na região dos ligamentos uterossacros ou espessamento do fundo do saco; definitivo: laparoscopia ou laparotomia CAUSAS ASSOCIADAS AO SISTEMA GASTRINTESTINAL • APENDICITE- causa intestinal mais comum de dor pélvica aguda em mulheres *Sinais e sintomas de apendicite podem ser semelhantes aos da DIP, mas na apendicite náuseas e vômito ser mais proeminentes na apendicite. *Sintomas- dor abdominal difusa, sobretudo periumbilical, anorexia, náuseas e vômito; dor progride para QID; em seguida pode haver, febre, calafrios, vômito e constipação intestinal * Sinais- Dor à palpação do QID, ponto de McBurney. Defesa muscular intensa, rigidez abdominal, dor à descompressão súbita, massa no lado direito, dor ao exame retal, sinais do psoas (dor à flexão forçada ou extensão passiva do quadril) e do obturador (dor à rotação interna passiva da coxa fletida) positivos; *Diagnóstico- contagem normal de leucócitos, mas pode haver desvio para a esquerda; US pélvica normal mas pode se observar anormalidade do apêndice à US ou TC. Laparoscopia ajuda a excluir outras causas; *Tratamento- administração IV de líquidos; antibióticos, laparoscopia; • Diverticulite aguda- inflamação de um divertículo ou evaginação da parede do cólon sigmoide. Costuma acometer mulheres na menopausa; *Sintomas- dor intensa no QIE pode suceder história de SII (distensão, constipação intestinal e diarreia); maioria das vezes é assintomática; * Sinais- exame abdominal mostra distensão com dor à palpação do QIE, dor localizada à descompressão sunita; *Diagnóstico e tratamento- TC com e sem contraste úteis para auxiliar, mostra edema do intestino e pode excluir abcesso; tratamento inicial é clínico (líquido IV); antibióticos- caso de abcesso e outras complicações requer intervenção cirúrgica • Obstrução intestinal- causas mais comuns são aderências cirúrgicas, encarceiramento de hérnia, doença intestinal inflamatória e carcinoma do intestino ou ovário *Dor abdominal do tipo cólica, distensão abdominal, vômito, constipação e obstrução. *Febre em estágios mais avançados; ruídos intestinais agudos e intensos no início e á medida que a obstrução avança, diminuem- quando ausentes, sugerem isquemia; distensão abdominal é acentuada e frequente. *Diagnóstico e tratamento- Radiografia abdominal em posição ortostática mostra padrão gasoso característico, alças intestinais distendidas e níveis hidroaéreos; exame ajuda a identificar se a obstrução é parcial ou completa. TC pode ser útil; obstrução completa requer cirurgia; parcial pode ser tratada com hidratação IV, restrição de alimentos e uso seletivo de aspiração nasogástrica. CAUSAS ASSOCIADAS AO SISTEMA URINÁRIO • Cólica ureteral por litíase ureteral é provocada pelo súbito aumento da pressão intraluminal e pela inflamação associada; *Infeções urinárias que causam dor aguda são cistite e pielonefrite; * Dor da litíase costuma ser intensa e em cólica, pode irradiar do ângulo costovertebral até a região inguinal. Hematúria é frequente. * A IU abrange a infecção vesical ou renal. Cistite está associada a dor suprapúbica vaga , polaciúria, urgência, disúria e às vezes hematúria. * Pielonefrite- dor no flanco e ACV * Diagnóstico da litíase- exame da urina que mostra hemácias e por demonstração do cálculo da US; urografia por TC ou pielografia IV -Há dor à compressão do ACV no caso de litíase e pielonefrite; não há sinais peritoneais. Cistite- pode haver dor à palpação suprapúbica. * Diagnóstico da IU- detecção de bactérias e leucócitos no exame de urina de rotina, com ou sem esterase leucocitária e nitritos na ausência de células epiteliais escamosas. Achados podem ser confirmados por cultura. *Tratamento- hidratação oral ou IV; antibióticos para IU e controle da dor. Tratamento cirúrgico é opção do caso da litíase. ANALGÉSICOS • O tratamento da dor envolve a utilização de analgésicos opioides, analgésicos comuns, AINH’s (anti- inflamatórios não hormonais) e analgésicos adjuvantes. ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO HORMONAIS • Os AINH’s são os agentes tópicos mais utilizados na prática clínica. Seu mecanismo de ação consiste na inibição da enzima ciclo-oxigenase tipo 1 e tipo 2 com consequente redução da síntese de prostaglandinas e da sensibilização de terminações nervosas nos tecidos periféricos, sítio comum de dor e inflamação. Sua utilização sistêmica está associada a importantes efeitos colaterais hepáticos, cardiovasculares, gastrointestinais e renais. • por promover concentrações terapêuticas no tecido alvo, mantendo níveis séricos insuficientes para gerar reações adversas; ANESTÉSICOS LOCAIS • Os anestésicos locais bloqueiam a condução dos impulsos sensoriais e, em concentrações mais altas, os impulsos motores da periferia ao SNC. Os canais de Na+ são bloqueados, prevenindo o aumento transitório na permeabilidade da membrana do nervo ao Na+, o que é necessário para o potencial de ação. • Quando a propagação dos potenciais de ação é bloqueada, a sensação não pode ser transmitida desde a fonte do estímulo até o cérebro. • As técnicas de administração incluem via tópica, infiltração, bloqueio de nervo periférico e bloqueio neuraxial (espinal, epidural ou caudal) • Os anestésicos locais aplicados topicamente podem aliviar a dor de caráter neuropático através da redução das descargas ectópicas de nervos somáticos superficiais em áreas de dor localizada. • Eles se ligam a canais de sódio anormais que estão suprarregulados nos nervos periféricos lesados, suprimindo assim sua atividade anormal e espontânea que pode iniciar ou manter estados de dor neuropática. OPIOIDES • Os opioides são fármacos já consagrados para o tratamento da dor de moderada a forte intensidade. • O potencial para efeitos adversos e o medo da dependência têm limitado o seu uso. • Eles atuam em receptores específicos que, ao serem ativados, interferem na transmissão de impulsos dolorosos. • Exercem efeitos inibitórios tanto no encéfalo, quanto através do aumento do limiar nociceptivo das fibras da substância gelatinosalocalizada no corno posterior da medula espinhal. • Estudos demonstram que os receptores opioides estão presentes também no sistema nervoso periférico. Ao serem sintetizados nos gânglios das raízes dorsais da medula espinhal, são transportados aos terminais periféricos dos neurônios aferentes primários via axonal, que, quando estimulados, diminuem a liberação de substância P, contribuindo no controle da dor • Todos os opioides agem ligando-se a receptores opioides específicos no SNC para produzir efeitos que imitam a ação de neurotransmissores peptídeos endógenos (p. ex., endorfinas, encefalinas e dinorfinas). Embora os opioides apresentem um amplo espectro de efeitos, sua utilização principal é para aliviar a dor intensa, independentemente de ela resultar de cirurgia, lesão ou doença crônica. • Mecanismo de ação: A morfina e outros opioides exercem seus efeitos principais interagindo estereoespecificamente com os receptores opioides nas membranas de certas células no SNC e em outras estruturas anatômicas, como o trato gastrintestinal (TGI) e a bexiga. morfina e outros opioides causam analgesia (alívio da dor sem perda de consciência) e aliviam a dor, aumentando o seu limiar no nível da medula espinal e, de forma mais importante, alterando a percepção da dor no cérebro. Os pacientes tratados com opioides continuam conscientes da presença da dor, mas a sensação não é desagradável.
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