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RESENHA Sistema de Processo Penal Acusatório - Sérgio Taquini

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1 
 
ANÁLISE PRELIMINAR DO SISTEMA ACUSATÓRIO 
 
Autor: Sérgio Taquini 
Faculdade Espírito Santense de Ciências Jurídicas - Faculdade PIO XII - Curso de 
Direito. 
 sergio.taquini.ifes@gmail.com 
 
 
COUTINHO, J. N. M. Sistema acusatório. Cada parte no lugar constitucionalmente 
demarcado. Brasília/DF: Revista de Informação Legislativa, a.46 n.183. set.2009. p.103 
a 115. 
 
 
O autor inicia a construção do seu texto científico afirmando que os sistemas 
processuais penais mundo a fora são mistos, ou seja, acumulam características dos 
sistemas inquisitório e acusatório concomitantemente. Apresenta, para corroborar a 
afirmação anterior, que não que ser possível sistemas “puros” e que a própria 
concepção de sistema necessita de entendimento. 
Partindo das hipóteses a serem analisadas, o autor traz a origem histórica do 
sistema inquisitório, ainda na Idade Antiga (1215) no Concílio de Latrão, evento de 
origem da Igreja Católica. Há nessa etapa incipiente do discurso do autor a busca pela 
contextualização do sistema processual inquisitório, muito afim do pensamento cristão 
à época, na qual o julgador e acusador se confundem na mesma pessoa, e decidem 
sobre o que levantar quanto aos elementos probatórios do processo, visto que, 
possivelmente, já conheciam da sentença antes mesmo de findo o processo. 
No entanto, a sociedade europeia na passagem da Idade Antiga para a Idade 
Moderna, encontrando ainda resistência da Idade Média, vivenciava o processo de 
urbanização e, consequentemente, de mudança do pensamento e do conhecimento. 
Quanto ao Direito, o sistema processual penal, antes caracterizado pela religiosidade e 
concordância inquestionável na aplicação das penas, pois estas se faziam representar 
nos juízos de Deus, sistema processual vigente. A confissão pessoal era obrigatória e 
a tortura era justificada para arrancar do réu(pecador) a verdade. O foco do processo 
penal migra do crime(fato) e passa a ser o inquirido. Assim a prova maior para o 
esclarecimento do fato devia dirigir-se a esse, justificando os métodos de violência no 
corpo da parte que se imputa um crime. 
Nesse sistema, inquisitório, o sucesso do processo penal era o de “vencer” a 
resistência do réu, independente do modo utilizado para extrair a verdade. Por outro 
lado, nas vezes em que o réu resistia a inquisição, poderia ser absolvido. Em ambos os 
casos, a absolvição não consistia em conseguir a liberdade ou o perdão pelo crime, 
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necessariamente, e a pena imputada poderia ser a morte pela fogueira “antecipando” 
seu encontro com Deus. 
O sistema inquisitório encontra lugar de descanso no pensamento da sociedade 
ocidental, de bases greco-romanas, atribuindo o peso da relação causa efeito e deste 
atribuindo a generalização, típica da dedução. Caso as premissas sejam verdadeiras 
em um caso, os casos semelhantes poderiam neste encontrar respostas antecipadas, 
nesse caso, a solução de crimes. 
É compreensível que o sistema inquisitório perdure até os dias atuais, ainda que 
modificados parcialmente, pois o domínio das premissas resulta em poder. Vejamos, 
manipular o processo para conseguir a confissão de um suposto crime em heresia, tem 
resultado semelhante nos governos totalitários e ditatoriais, quando estes manipulam 
as ações supostamente delituosas em ofensas contra a Nação, contra o Estado e até 
contra Deus. As premissas se tornam instrumentos de coação e dominação. 
O sistema acusatório, de origem inglesa, trouxe nova ordem no processo penal, 
no qual o queixoso, poderia dirigir-se ao rei, através de cartas enviadas ao Lord 
chanceler, que recebiam e decidiam. Em seguida o rei enviava ordens aos 
representantes reais locais para que se justificassem quanto à insatisfação sobre a 
decisão da justiça local. Logo, a jurisdição real ficou abarrotada de petições. 
Na busca de solucionar tal problema, em uma das ordens reais, determinou, o 
Rei Henrique II que se formasse um júri, formado por ele, pelo acusado, 23 cidadãos de 
bem. Se admitida a acusação, um júri menor, formado por 12 membros. O Juri menor 
apresentava o direito material atacado, ao Rei incumbia-se de determinar o rito 
processual, o representante real mantinha a ordem no tribunal e o debate, dialético, era 
a essência do processo penal. A prova do delito ou da ausência deste era extraída 
conforme se desenvolvia a discussão e dependia da qualidade dos argumentos entre 
acusado e acusador. As provas que reconstituíam os fatos pretéritos fariam sentido mais 
adiante, lá pelo século XV e XVI, para resolver casos em que os fatos já não eram mais 
de conhecimento do órgão julgador. 
Os julgamentos eram públicos e as decisões baseavam-se nas inclinações do 
povo que assistiam às decisões dos julgadores. Assim, o Rei eximia-se da 
responsabilidade, inclusive pelo erro, pois a condenação ou absolvição foi deferida pela 
população. 
Por fim, percebe-se que os sistemas processuais penais, inquisitório e 
acusatório são de origem política, o primeiro no contexto da afirmação da Igreja Católica 
do fim da Idade Antiga até Idade Média, como centro do poder eclesiástico e o segundo 
para consolidar a Monarquia Inglesa enquanto guardião da Lei e da Ordem e do acesso 
ao direito à recém promovida burguesia. 
3 
 
A próxima etapa do texto, o autor busca trazer esclarecimentos sobre a 
existência dos atuais sistemas processuais mistos, explicando que a junção dos 
sistemas não se dá pela somatória dos ritos, inviável do ponto de vista sistêmico, e 
epistemologicamente incompatíveis. 
O processo, seguindo a lógica da base científica ocidental, busca alicerce no 
modelo objeto e método para a busca da verdade. Verdade esta que é a finalidade do 
processo. Essa construção da ideia do processo penal e sua relação sistêmica 
estabelece se insere em um novo paradigma no mundo do conhecimento. O conjunto 
de elementos suplementares e orgânicos atrelados ao princípio unificador norteados 
pela finalidade cria a ideia do sistema enquanto forma de organizar o conhecimento, 
explicar os fenômenos e dar conta de processos. Nesse sentido “o princípio unificador 
será inquisitivo se o sistema for inquisitório; e será dispositivo se o sistema for 
acusatório.” (Coutinho, 2009, p.7). 
Outro ponto importante de análise do autor é o elemento inquisitório que consta 
no Código de Processo Penal de 1941 brasileiro, que de origem no Codice Rocco 
Italiano de 1930 e, antes ainda pelo Código Napoleônico de 1808, mescla a investigação 
preliminar de caráter puramente inquisitorial com a fase processual simbolizada pelo 
julgamento marcado pelos debates, por vezes teatrais, mas que no final das contas, as 
provas coletadas na fase anterior, já haviam definido os rumos da sentença. 
Nesse sentido é oportuno trazer à tona, de forma literal o texto da Lei no 11.690, 
utilizada pelo autor, de 09.06.08 do atual Código de Processo Penal Brasileiro: 
 
“Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, 
facultado ao juiz de ofício: 
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção 
antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando 
a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; 
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a 
realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.” 
 
No entanto, são possíveis mudanças consideráveis no Código de Processo 
Penal Brasileiro caso o Projeto de Lei 156/09-PLS seja aprovado e sancionado, pois 
trará o arcabouço normativo necessário para a mudança epistemológica para o sistema 
acusatório, ainda que elementos do sistema inquisitório insistam em manter-se 
presentes. Essa proposta veda a iniciativa do juiz na fase de investigação e a 
substituição da atuação probatória do órgão de acusação. 
4 
 
A sobreposição de funções entre o órgão jurisdicional e o julgador, será 
substituída pelacriação do Juiz de Garantias, que fará o controle de legalidade na etapa 
investigativa, mas não atuará na fase processual. A figura do juiz de garantias garantirá 
o respeito e o cumprimento do prevê a constituição brasileira quanto a defesa dos 
direitos e garantias fundamentais do acusado. O magistrado que atuará no processo 
não poderá intervir diretamente na instrução de provas no sentido de trazer novos 
elementos fáticos ao processo. 
O projeto de lei 156/09 – PLS reservará o lugar de direito às partes no processo, 
na figura de protagonistas, decidindo pela gestão das provas necessárias ao 
esclarecimento da lide. Reserva ainda, a posição devida ao Ministério Público de 
controle externo das provas a serem produzidas na investigação preliminar. 
Importante ressaltar mais uma atribuição ao MP, quando poderá optar por não 
apresentar denúncia caso faça um acordo com o acusado, que poderá, por exemplo, 
devolver valores desviados indevidamente da Administração Pública e ser dispensado 
da denúncia e do processo judicial. 
Por fim, o autor conclui asseverando que o sistema de processo penal acusatório 
não é sinônimo de impunidade por delegar maior espaço às partes e reduzir a atuação 
do juiz na gestão das provas, mas é o modelo que se apresenta mais eficaz e 
democrático na busca pelo esclarecimento da verdade, sem que para isso precise usar 
o elemento da força, característico do sistema processual penal inquisitório. 
 
REFERÊNCIAS 
 
COUTINHO, J. N. M. Sistema acusatório. Cada parte no lugar constitucionalmente 
demarcado. Brasília/DF: Revista de Informação Legislativa, a.46 n.183. set.2009. p.103 
a 115.

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