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Giovanna Paola de Rezende Pivoto– 4º Período FMIT – Faculdade de Medicina de Itajubá Sistemas Orgânicos Integrados IV – SOI IV, N1. Complicações Agudas da DM Definição Há três complicações agudas do diabetes (CAD), sendo o estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH), hipoglicemia e cetoacidose. Todas essas complicações são potencialmente fatais e são responsáveis por uma porcentagem significativa das internações hospitalares e do consumo de recursos com assistência à saúde. Cetoacidose Diabética • Ocorre mais comumente em pacientes com diabetes tipo 1, nos quais a falta de insulina resulta na mobilização dos ácidos graxos dos tecidos adiposos porque a atividade desimpedida da lipase destas células decompõe os triglicérides em ácidos graxos a glicerol. → O aumento dos níveis dos ácidos graxos causa produção de cetonas no fígado. • O estresse aumenta a secreção dos hormônios gliconeogênicos e predispõe o paciente à cetoacidose. Em geral, a CAD é precedida por um estresse físico ou emocional, inclusive infecção, gestação ou ansiedade extrema. • Na prática clínica, a cetoacidose também ocorre quando o uso de insulina é interrompido ou inadequado. Exemplo disso é um adolescente com diabetes tipo 1 que decide interromper o uso de insulina. Etiologia e patogênese: • Os três distúrbios metabólicos principais da CAD são hiperglicemia, cetose e acidose metabólica. O diagnóstico definitivo da CAD está baseado na demonstração de: ✓ Hiperglicemia (glicose sanguínea > 250 mg/dℓ [13,8 mmol/ℓ]); ✓ Bicarbonato sérico baixo (< 15 mEq/ℓ [15 mmol/ℓ]); ✓ pH baixo (< 7,3) com cetonemia (positiva com diluição de 1:2) e cetonúria moderada. • A hiperglicemia causa diurese osmótica, desidratação e perda grave de eletrólitos. • A hiperosmolalidade dos líquidos extracelulares em consequência da hiperglicemia acarreta transferência de água e potássio do meio intracelular para o compartimento extracelular. • A concentração extracelular de sódio geralmente está normal ou baixa, apesar das perdas intestinais de água, em consequência da transferência de líquidos do compartimento intracelular para o extracelular. Esse efeito dilucional é conhecido como pseudo hiponatremia. • Os níveis séricos do potássio podem estar normais ou altos, apesar do déficit global de potássio resultante da poliúria e dos vômitos persistentes. • A acidose metabólica é causada pelo excesso de cetoácidos, que precisam ser tamponados pelos íons bicarbonato. Isso causa redução profunda dos níveis séricos do bicarbonato. A gravidade da CAD é classificada com base no grau de acidose metabólica. • Além da cetose, ocorre a hiperglicemia que leva à diurese osmótica, à desidratação e à perda crítica de eletrólitos e a acidose metabólica que é causada pelo excesso de cetoácidos. Manifestações Clínicas: • Antes de desenvolver a cetoacidose, o paciente geralmente passa 1 dia ou mais com poliúria, polidipsia, náuseas, vômitos, fadiga extrema e, por fim, torpor que pode progredir ao coma. Dor e hipersensibilidade abdominais podem ser referidas sem que haja alguma anormalidade abdominal. • O hálito tem odor típico de frutas, em razão de cetoácidos voláteis. • Os pacientes podem ter taquicardia e hipotensão em consequência do volume sanguíneo reduzido. Alguns sinais e sintomas da CAD estão relacionados com mecanismos compensatórios. • A frequência cardíaca aumenta à medida que o organismo compensa a redução do volume sanguíneo e a frequência; além disso, a profundidade das respirações aumenta (respiração de Kussmaul) à medida que o corpo tenta evitar reduções adicionais do pH. Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar • Caracteriza-se por hiperglicemia (glicose sanguínea > 600 mg/dℓ [33,3 mmol/ℓ]), hiperosmolaridade (osmolaridade plasmática > 320 mOsm/ℓ) e desidratação, inexistência de cetoacidose e depressão do nível de consciência. • O estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH) pode ocorrer em várias situações, inclusive diabetes tipo 2, pancreatite aguda, infecção grave, infarto do miocárdio e tratamento com soluções de nutrição oral ou parenteral. Essa condição é mais comum nos pacientes com diabetes tipo 2. Etiologia e patogênese: • A deficiência relativa ou parcial de insulina pode desencadear a síndrome por redução da utilização de glicose e, ao mesmo tempo, causar hiperglucagonemia e aumentar a produção hepática de glicose. • Com a glicosúria profusa, há perda inevitável de água. Em geral, a desidratação é mais grave que a que ocorre com a CAD. À medida que o volume plasmático diminui, o paciente entra em insuficiência renal e a limitação resultante das perdas renais de glicose aumenta progressivamente os níveis glicêmicos e acentua a gravidade do estado hiperosmolar. • Nos estados hiperosmolares, a osmolaridade sérica elevada atrai a água para fora das células, inclusive das células cerebrais. A condição pode ser complicada por eventos tromboembólicos causados pela osmolaridade sérica alta. Manifestações Clínicas: • As manifestações clínicas mais marcantes são fraqueza, desidratação, poliúria, sinais e sintomas neurológicos e sede exagerada. • Os sinais neurológicos possíveis incluem hemiparesia, convulsões e coma. • O EHH pode desenvolver-se ao longo de dias ou semanas, mas o início das queixas neurológicas – especialmente nos idosos – pode ser confundido com AVE. Hipoglicemia • A hipoglicemia geralmente é definida por disfunção cognitiva com concentração sanguínea de glicose menor que 60 mg/dℓ. Isso é mais comum nos pacientes tratados com injeções de insulina, mas a hipoglicemia prolongada também pode ser causada por alguns fármacos hipoglicemiantes orais. Etiologia e patogênese • Existem alguns fatores que podem desencadear hipoglicemia nos pacientes com diabetes tipo 1, inclusive erros de dosagem de insulina, impossibilidade de ingerir alimentos, exercícios exagerados, redução da necessidade de insulina depois da regressão da condição de estresse, alterações da prescrição e alteração do local de injeção da insulina. • O álcool reduz a gliconeogênese hepática e pacientes com diabetes devem ser alertados quanto à possibilidade de bebidas alcoólicas causarem hipoglicemia, principalmente quando ingeridas em quantidades excessivas ou com o estômago vazio. Manifestações Clínicas: • A hipoglicemia geralmente começa repentinamente e causa sintomas progressivos. Os sinais e sintomas da hipoglicemia podem ser divididos em dois grupos: a) Causados pela disfunção cerebral; b) Relacionados com a ativação do sistema nervoso autônomo. • Como o encéfalo depende de glicose como fonte de energia principal, a hipoglicemia ativa comportamentos relacionados com a disfunção cerebral. Cefaleia, dificuldade de resolver problemas, comportamento alterado ou anormal, coma e convulsões podem ocorrer. • No início do episódio de hipoglicemia, a ativação do sistema nervoso parassimpático geralmente causa fome. • A reação parassimpática inicial é seguida de ativação do sistema nervoso simpático, que causa ansiedade, taquicardia, sudorese e vasoconstrição da pele (a pele tornase fria e úmida). • Os sinais e sintomas são especialmente variáveis nas crianças e nos idosos. Esse último grupo pode não ter as reações autônomas geralmente associadas à hipoglicemia, mas frequentemente tem sinais de disfunção do sistema nervoso central, inclusive confusão mental. Alguns pacientes perdem a consciência em consequência da hipoglicemia. Tipos de Insulina e sua Administração A insulina, proteína pequena com um peso molecular de aproximadamente 5.800 daltons, é sintetizada pelas célulasbeta dos ilhéus de Langerhans do pâncreas. Estruturalmente, é composta por duas Cadeias - A (com 21 aminoácidos) e B (com 30 aminoácidos) - ligadas entre si por pontes dissulfureto. O precursor da insulina no pâncreas é a proinsulina, polipeptídeo simples que incorpora as Cadeias A e B da insulina e o peptídeo C. Este peptídeo possui 33 aminoácidos estando intercalado entre as Cadeias A e B, ligando-se à Cadeia A na posição 1 e à Cadeia B na posição 30. A insulina resulta então, da ruptura enzimática da proinsulina no interior dos grânulos de secreção e, aquando desta hidrólise, são removidos 4 aminoácidos do peptídeo C. A insulina age através de receptores específicos da membrana celular, tendo o fígado, o músculo e o tecido adiposo como os seus principais tecidos-alvo. Exerce numerosas ações imediatas e a longo prazo, sendo o mais potente agente anabólico fisiológico de que há conhecimento. No fígado promove o armazenamento da glicose em glicogénio, diminuindo a produção de ureia, o catabolismo proteico e o AMPc, e impulsiona a síntese de triglicéridos. No músculo fomenta a síntese proteíca, através do aumento do transporte de aminoácidos e da estimulação da actividade ribossómica e ainda a síntese de glicogénio. No tecido adiposo promove o armazenamento dos triglicéridos nos adipócitos, através de três mecanismos: indução da lipoproteína lipase (hidrolisando os triglicéridos a partir das lipoproteínas circulantes); transporte de glicose para as células formando glicerofosfato (permitindo a esterificação dos ácidos gordos fornecidos pela hidrólise da lipoproteina) e inibição da lipase intracelular. Tipos de Insulina: A principal característica que distingue os diferentes tipos de insulinas disponíveis no mercado é a sua farmacocinética. Ou seja, variam consoante o seu início de ação, a sua duração de ação e o tempo necessário para atingir a sua concentração máxima. Assim, e de um modo geral as insulinas dividem-se em 4 tipos, de acordo com a sua duração de ação: • Insulinas de ação ultra-curta; • Insulinas de curta duração de ação; • Insulinas de ação intermédia; • Insulinas de longa duração de ação. Insulinas de acção ultra-curta Estas insulinas são análogos da insulina humana, obtidas por tecnologia DNA recombinante. Existem, actualmente 2 insulinas deste tipo comercializadas em Portugal - a insulina lispro e a insulina aspart. A primeira é obtida pela transposição dos aminoácidos prolina e lisina na posição 28 e 29 na Cadeia B. Já a insulina aspart é obtida através da substituição do aminoácido prolina situado na posição 28 da Cadeia B por ácido aspártico. Tais alterações, conduzem a uma menor tendência para formar hexâmeros em solução, traduzindo-se por isso, numa absorção mais rápida do que as insulinas de curta duração de acção, a partir do local da administração subcutânea. Têm um início de acção mais rápido e uma duração de acção menor possibilitando a sua administração imediatamente antes da refeição. Apresentam-se como soluções claras e com um pH neutro, podendo ser administradas por via subcutânea directa, ou em perfusão contínua com recurso a bombas perfusoras. Insulinas de curta duração de ação Estas insulinas também designadas por insulinas solúveis, regulares ou cristalinas, contêm a molécula de insulina não modificada em solução. Apresentam um aspecto cristalino, pois existem sob a forma de solução, caracterizando-se por possuírem uma absorção rápida e uma duração de ação curta. Apresentam a particularidade de poderem ser administradas por via intravenosa em perfusão contínua no tratamento de descompensações diabéticas, nomeadamente na cetoacidose diabética, sendo que a sua administração intravenosa direta não demonstra interesse terapêutico em virtude do seu curto tempo de semi- vida. As insulinas rápidas podem misturar-se com as insulinas de ação retardada, de forma a obter-se uma duração de ação diferente. Insulinas de ação intermédia Este tipo de insulinas podem ser obtidas pela mistura da insulina regular com protamina (formando-se um complexo insulina-protamina pouco solúvel) ou com zinco. Após a administração subcutânea, as enzimas proteolíticas degradam a protamina permitindo a absorção da insulina. Exemplos deste tipo de formulações, são as insulinas isofano ou NPH (Neutral Protamine Hagedorn) e as insulinas zinco. Apresentam-se sob a forma de suspensão e têm um aspecto turvo, podendo formar um depósito, pelo que se recomenda a sua agitação prévia à administração. Devem ser administradas por via subcutânea. Insulinas de longa duração de ação Estas insulinas são obtidas através da adição de um excesso de zinco à insulina solúvel na presença de um tampão acetato, obtendo-se então um complexo insulina-zinco sob a forma de suspensão relativamente insolúvel. É uma insulina utilizada para mimetizar a insulinemia basal e deve ser administrada por via subcutânea. Insulinas pré-misturadas ou bifásicas Estas insulinas resultam da mistura em proporções variáveis, da insulina de curta duração de ação (regular) com insulinas de ação intermédia (NPH ou isofano). Apresentam-se como suspensões, destinadas à administração subcutânea. A opção por determinado tipo de insulina, requer que sejam ponderados diversos fatores, essencialmente no que diz respeito à origem (bovina, porcina ou humana), farmacocinética, capacidade concomitante de administração com outras formulações e finalmente à dose, frequência ou via de administração. Dispositivos de administração • Seringa convencional • Canetas injetoras • Seringas Pré-cheias • Bombas para administração subcutânea continua Locais de Administração A insulina para via subcutânea deve ser, preferencialmente, administrada no abdómen, braços, coxas ou nádegas, locais em que a absorção é mais rápida. Referências: 1. Porth CM, Matfin G. Fisiopatologia. 9a ed. Rio de Janeiro: Guanabara- Koogan, 2015. 2. Kumar V, Aster J, Abbas A. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças. 9 a ed. Rio de Janeiro: Elsevier Bras, 2016.
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