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Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ SEPSE Definição: Sepse pode ser definida como a resposta sistêmica a uma doença infecciosa (provável ou confirmada), seja ela causada por bactérias, vírus, fungos ou protozoários (definição antiga) ou uma resposta desregulada a infecção levando a disfunção orgânica (definição atual). OBS: Lembrando que SEPSE é uma das causas de SIRS (síndrome da resposta inflamatória sistêmica). Outras causas são: trauma, grandes queimaduras, pancreatite aguda, etc. Fisiopatologia: Normalmente a infecção inicia no sistema respiratório, mas também pode ocorrer no trato urinário ou digestório. O grande problema da sepse não é a infecção, mas a resposta inflamatória exagerada e sistêmica que ela acarreta. Diversas citocinas são liberadas, mas as mais expressivas são o TNF-alfa e a IL-1. Além destas temos também: prostaciclinas, tromboxanos, leucotrienos, óxido nítrico, fator de ativação plaquetária (PAF), entre outros. Durante o processo temos comprometimento vascular devido vasodilatação periférica, o que ocasiona o extravasamento de líquido para terceiro espaço e por fim, hipotensão (um dos sinais de sepse). Tudo isso prejudica a perfusão tecidual, causando morte celular (que ativa a cascata inflamatória) e choque. Dessa forma, em uma primeira fase da doença, conhecida como “fase quente”, o coração tenta compensar o quadro aumentando seu débito cardíaco (DC), mas na maioria das vezes isso é insuficiente. Com toda essa sobrecarga, então, a doença costuma evoluir para a “fase fria”, na qual o corpo não consegue mais manter o DC aumentado e nem uma saturação periférica adequada. Além disso, o endotélio vascular é ativado diretamente pelo lipopolissacáride da membrana bacteriana (endotoxina) ou pelas citocinas, estas células adquirem uma função pró-coagulante e protrombótica, pela liberação de tromboplastina, inibidor do ativador do plasminogênio e do fator ativador plaquetário, além da diminuição da sua produção de trombomodulina, provocando a coagulação intravascular disseminada (CIVD). O pulmão é um dos órgãos mais acometidos durante um quadro de Sepse. A reação inflamatória nos capilares alveolares levarem a uma lesão endotelial e consequente acúmulo de líquido nos espaços alveolares. (Esse é um dos motivos pelo qual devemos sempre auscultar o tórax após hidratar o paciente). Algumas teorias tentam explicar como uma infecção local se torna sistêmica, existem 4 hipóteses: 1) Certos microorganismos, chamados “superantígenos” são capazes de estimular mais a imunidade inata que outros. 2) Carga muito grande de antígenos causando superprodução de citocinas. 3) Alguns indivíduos são geneticamente propensos a superprodução de citocinas. 4) Super produção de citocinas anti-inflamatórias (elas também são produzidas durante a cascata inflamatória) que deixaria o organismo mais vulnerável a inflamação. Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ Já os possíveis mecanismos da disfunção orgânica seriam: 1) Hipóxia celular: as alterações circulatórias dificultam aporte de O2 2) Efeito citopático direto das citocinas pró-inflamatórias e/ou antígenos invasores 3) Disfunção das mitocôndrias (envenenamento mitocondrial): com isso, mesmo que chegue O2 ao tecido, este não consegue ser aproveitado pela célula. 4) Aumento da taxa de apoptose: devido todos os fatores acima Etiologia: -Hemocultura positiva em aproximadamente 1/3 dos casos -Gram negativos 62% das culturas positivas (Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella sp) - Gram positivos 47% das culturas positivas (Staphylococcus aureus e Steptococcus pneumoniae) - Principais focos: respiratório, urinário e abdominal. OBS: Inclusive, uma das formas mais efetivas de identificar uma SIRS é pelo aumento da frequência respiratória, o que caracteriza disfunção orgânica. Diagnóstico: Em 2016 publicação do JAMA (SEPSIS 3) sugeriu mudança na definição da sepse. - Suspeita clinica pela história e exame OU ter 2 de 3 critérios do Quick SOFA (FR ≥ 22rpm; alteração mental; PAS ≤ 100mmHg). Obs: No caso temos como alteração mental o Glasgow menor que 15. - Tendo suspeita, aplica-se o SOFA. Sepse será um aumento de pelo menos 2 pontos em relação ao SOFA basal do paciente Figura 1- Qsofa. Fonte: Google imagens 2021. Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ Figura 2- Escore SOFA. Fonte: Google imagens 2021. Obs: As definições anteriores frisavam que para ter um diagnóstico de sepse era necessário fechar o diagnóstico de SIRS. A SIRS é definida pela presença de dois ou mais dos seguintes fatores: 1) Temperatura maior que 38 graus ou menor que 36 graus 2) Frequência cardíaca maior que 90bpm 3) Frequência Respiratória > 20 irpm ou pCO2 < 32 mmHg 4) Leucócitos > 12.000 céls/mm3, < 4.000 céls/mm3 ou > 10% de bastões Obs: Como vimos acima, hipotermia e diminuição de leucócitos, também são sinais que sugerem infecção. Obs: Em pacientes idosos ou diabéticos podemos não ter os sinais claros de infecção ou até mesmo em pacientes hipertensos podemos ter uma hipotensão “mascarada”. Dessa forma, levamos sempre em conta as particularidades de cada paciente. Obs: Em pacientes diabéticos a infecção pode causar hiperglicemia, por isso é necessário saber diferenciar uma crise hiperglicêmica da sepse nesses pacientes (podemos usar o qSOFA). Choque séptico: Choque séptico na nova proposta seria PAM < 65mmHg, com necessidade de drogas vasoativas E lactato sérico > 2 mmol/l (> 18 mg/dl) a despeito de ressuscitação volêmica adequada. Exames Complementares: • Gerais Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ - Hemograma completo - Ureia, Creatinina e Eletrólitos - Glicemia - TP, TTPa. Caso suspeite de CIVD, incluir fibrinogênio e d-dímero - Bilirrubinas, ALT e AST - Gasometria arterial e Lactato - Proteína C reativa - Urina Rotina - Raio X de tórax • Culturas - Colher pelo menos 2 Hemoculturas antes do início de antibioticoterapia (caso a coleta possa atrasar o antibiótico, dar preferência para a medicação) - As hemoculturas devem ser obtidas de dois sítios periféricos distintos (se possível, usando um cateter venoso profundo). Cada amostra deve ser dividida em um frasco para anaeróbios e aeróbios (ou seja, no final teremos 4 frascos). - Outras culturas podem ser colhidas a depender da suspeita clínica (como escarro ou urocultura) Exames que avaliam gravidade, prognóstico e conduta terapêutica: • Lactato: produto do metabolismo anaeróbico. Principal marcador de hipóxia tecidual e avaliação do paciente com choque séptico. • Procalcitonina: marcador confiável de infecção, com uma especificidade maior (71%) do que outros marcadores de fase aguda. Embora o valor inicial possa ser útil na determinação da gravidade da doença, nem sempre vai ser um indicador de prognóstico confiável e, muitas vezes, carrega pouco significado como um valor autônomo por ser influenciada por outras condições e comorbidades preexistentes que influenciam a liberação em quase todos os tecidos, incluindo pulmão, fígado, rim, pâncreas, baço, cólon e tecidos adiposos em cenário concomitante a inflamação. • USG point of care (USPOC) é um grande aliado na orientação da volemia após ressuscitação volêmica inicial. Pois avalia o índice de colabamento da veia cava inferior, assim como detecta pressão do átrio direito. Tratamento: Protocolo guiado por metas: - ScvO2 > 70% - PVC 8-12 mmHg Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ - PAM > 65 mmHg - Débito urinário > 0,5 ml/Kg/h - Lactato dentro da normalidade* Medidas Gerais: -MOV: Monitorização, Oxigênio e acesso Venoso. -Ressuscitação inicial (cristaloide 250-500ml), seguindo o pacote das 3 e 6 horas. Após isso, novo lactato e reavaliação para discutir as próximas medidas. Figura 3- Pacotes de tratamento para sepse. Fonte: Googleimagens 2021. Específicas: - Antibióticoterapia de amplo espectro (< 1 hora a admissão) - A escolha do antibiótico depende do sítio de infecção, do uso prévio de antimicrobianos, comorbidades, patógenos locais. - Deve ser reavaliado diariamente para possível descalonamento. - Se houver suspeita que o acesso venoso seja a fonte de infecção, esse deve ser removido imediatamente. OBS: “Infecção do cateter”: no caso de pacientes internados podemos levantar a suspeita de que a infecção possui como fonte o cateter. Dessa forma devemos colher uma cultura do cateter e uma hemocultura. Caso a cultura do cateter cresça 2 horas antes da hemocultura, é dado o diagnóstico de Infecção do cateter. Nesse caso, retiramos o cateter, tratamos com antibiótico e aguardamos 48 horas antes de recolocar o acesso. - Se houver suspeita de abscesso, drenar o mais breve possível (sugere-se nas próximas 12 horas de internação). Reposição volêmica: Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ - Colóide sintético: não usar, pois aumenta mortalidade!! - Cristalóide: 30mL/kg (objetivar pelo menos esse volume, mas pode usar mais ou menos conforme reavaliação da volemia). Terapia vasopressora • Recomendada quando não se atinge o alvo da PAM, após a reposição volêmica; • Noradrenalina é a droga de escolha; • Adrenalina pode ser associada, quando for necessário um agente adicional para manter PAM. A vasopressina é uma opção. - Noradrenalina: 0,01 a 2mcg/kg/min; - Vasopressina: 0,01 a 0,04U/min; - Adrenalina: 0,005 a 0,1mcg/kg/min. Terapia inotrópica •É recomendada caso haja evidência de disfunção do miocárdio ou sinais de hipoperfusão apesar da PAM e volume intravascular otimizados (podemos usar saturação venosa central, clerance de lactato ou outros parâmetros para avaliar). - Dobutamina: 2,5 a 15 mcg/kg/min. Corticoterapia •Indicado quando choque refratário; - Hidrocortisona: 200mg/d preferencialmente em infusão contínua. Hemoderivados • Concentrado de hemácias: Indicado se Hb < 7,0 g/dl, na ausência de IAM, hipoxemia severa, hemorragia aguda. Objetivo é um Hb entre 7,0 e 9,0. • Transfusão de plaquetas: Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ - < 50.000 – se sangramento ativo, cirurgia ou procedimento invasivo. - < 20.000 – se risco de sangramento. - < 10.000 – profilático. • Plasma: - INR > 1,5 – considerar 10mL/Kg se CIVD e sangramento ou se procedimento invasivo Ventilação Mecânica. Intubação de sequência rápida: Na necessidade de intubar o paciente, devemos dar preferência para Quetamina ou Etomidato, pois estas não possuem risco de agravar a hipotensão. Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ Fluxograma Geral: Infecção definida ou presumida? Hipoperfusão? Disfunção orgânica? q SOFA maior igual a 2? MOV + 1 ou 2 acessos venosos periféricos calibrosos Laboratório: gasometria arterial + lactato+ exames gerais + urina + PCR 2 PARES DE HEMOCULTURA + CULTURA DE SÍTIOS SUSPEITOS Rx + ECG no leito USG POC Ressucitação volêmica agressiva se hipotensão ou lactato alto (Cristalóides: 30ml/kg nas 3 primeiras horas) PAM < 65mmHg mesmo com Volume? Noradrenalina: 5-10mcg/min (Aumentar infusão a cada 3-10min se necessário) Associar Hidrocortisona: em BIC ou em bolus a cada 6 horas Associar Epinefrina ou Vasopressina se choque refratário à Nora Frequentemente aumentando a dose de Nora?
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