Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ TROMBOEMBOLISMO PULMONAR (TEP) Definição: A trombose venosa profunda (TVP) e o tromboembolismo pulmonar (TEP) fazem parte do espectro da mesma doença, que é o tromboembolismo venoso (TEV). TEP é uma síndrome clínica definida como presença de trombos que impactam a ocluem vasos arteriais pulmonares. A maioria dos trombos são originados da trombose venosa profunda dos membros inferiores, que chegam ao coração através do retorno venoso e de lá se deslocam para os pulmões pela artéria pulmonar. Etiologia e Fisiopatologia: Existem outros tipos de embolia também, como a gordurosa (geralmente causada pelo trauma de ossos longos), gasosa ou tumoral. TEP ocorre devido à presença de algum dos elementos descritos na tríade de Virchow, que inclui lesão endotelial, estase sanguínea e hipercoagulabilidade. Os episódios de TEV podem ser classificados em não provocados ou provocados, quando um fator precipitante é claro. TEP não provocados representam 20% dos casos, e a probabilidade de haver uma trombofilia associada é maior. A maioria dos TEP provocados ocorrem por fatores precipitantes de tempo limitado, como cirurgia ou imobilidade temporária de um membro, ou por fator precipitante persistente, como uma neoplasia maligna. Os pacientes com TEP não provocados têm 15% de chance de recidiva em 1 ano, em comparação com 5% para aqueles com episódio provocado. Com maior carga de coágulos e consequente obstrução, a pressão arterial pulmonar e a resistência vascular pulmonar aumentam, levando a dilatação ventricular direita, redução da pré-carga para o ventrículo esquerdo e lesão miocárdica, causando a liberação de troponina e peptídeo natriurético tipo B. A dilatação ou lesão do ventrículo direito, evidenciada na TC de tórax ou no ecocardiograma, ou sugerida pela elevação da troponina ou do peptídeo natriurético tipo B, indica insuficiência cardíaca direita. Os dois principais mecanismos de morte por TEP são a oclusão abrupta da artéria pulmonar e o efeito isquêmico no sistema de condução de His-Purkinje. Aproximadamente um terço dos sobreviventes de grandes TEP apresentam disfunção cardíaca direita persistente. Anatomicamente, o TEP “em sela” ou “a cavaleiro” indica um trombo alojado na bifurcação da artéria pulmonar, implicando maior incidência de instabilidade hemodinâmica e mortalidade. Se o trombo se alojar em ramos cada vez mais distantes da artéria pulmonar, o TEP será classificado como lobar, segmentar ou subsegmentar, de acordo com a localização anatômica. Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ Obs: Existe a chamada “espiral da morte na fisiopatologia do TEP. Que consiste no aumento da pós carga do VD> Obstrução do VD> Insuficiência da válvula tricúspide> Inflamação do miocárdio> Aumento da demanda de o2 pro VD> Shunting arteriovenoso (ou seja, não ocorre troca gasosa no pulmão e o sangue arterial volta pobre em O2)> Isquemia do VD> Diminuição da contratilidade de VD> Pós carga reduzida de VD> Pré carga do VE diminuída> Diminui pós carga e consequentemente PAS> Diminui perfusão de VD> Choque obstrutivo> Morte. Fatores de Risco: Antecedente de trombose venosa IAM até 3 meses Imobilidade: Cirurgia de quadril ou joelho, Fratura em MMII, Lesão medular, Politrauma Internação recente por insuficiência cardíaca ou fibrilação atrial (FA é uma das principais causas na gênese de trombos) Obesidade: IMC>35 Idade>50 anos Neoplasias malignas Tabagismo Gestação Anticoncepcionais orais com estrogênio Clínica: A tríade clássica do TEP (dispneia, dor torácica pleurítica e hemoptise) ocorre na minoria dos casos. A dispneia é o sintoma mais frequentemente descrito. O segundo sintoma mais comum é a dor torácica, embora até metade dos pacientes diagnosticados com TEP não apresentem essa queixa, que usualmente tem caráter pleurítico ou subesternal. O infarto pulmonar nos segmentos basais do pulmão pode se manifestar como dor referida no ombro ou dor que pode ser similar a cólica ureteral. Como cerca de 20% das pessoas têm forame oval patente, o TEP que aumenta as pressões do coração direito pode levar ao fluxo de material trombótico direita-esquerda nos átrios, e embolização para circulação cerebral, produzindo sintomas semelhantes ao AVC. No exame físico, achados de trombose venosa profunda como edema assimétrico de membros inferiores devem ser pesquisados. Achados sugestivos de hipertensão pulmonar como B2 hiperfonética e sopro em foco tricúspide também podem estar presentes. Infelizmente o TEP não altera os sinais vitais de forma previsível. A maioria dos pacientes com TEP têm pulmões limpos na ausculta. A presença de instabilidade hemodinâmica define o subgrupo de maior mortalidade. Diagnóstico: Oximetria de pulso Gasometria arterial Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ D-dímero (Que é gerado a partir dos restos da fibrina, degradada pela plasmina. ECG (inversão de onda T em V1 em 38% dos casos e alterações no segmento ST em V1 a V4. Podem ainda estar presentes bloqueio incompleto do ramo direito e o achado clássico, mas incomum, de S1-Q3-T3, em 10 a 15% dos pacientes. Deve-se ressaltar que esses achados significam elevação de pressões em câmaras direitas. Em alguns casos, essas alterações podem ser crônicas e não ter relação com o quadro agudo do paciente.) Rx de tórax (cardiomegalia, atelectasia basal, infiltrado ou derrame) Angiotomografia de tórax (padrão ouro! Identifica um coágulo como um defeito de enchimento das artérias pulmonares com contraste. A cintilografia é uma alternativa para grávidas) Ecocardiograma (sinais de sobrecarga de VD, mais utilizado na estratificação) Arteriografia pulmonar (usado para guiar embolectomia) US Doppler de MMII (usado em pacientes com contraindicação de angiotomo) Troponina e BNP (caso suspeita moderada/alta segundo PESI) OBS: O d-dímero é o principal exame para excluir o TEP, mas caso seu valor esteja normal, não exclui o diagnóstico de TEP. O D-dímero pode aumentar em outras situações com formação de fibrina no espaço vascular ou com reabsorção de produtos de degradação do espaço extravascular (hematomas, feridas cirúrgicas, necrose, queimaduras, neoplasias, insuficiência renal ou hepática, eclampsia, isquemia coronariana). O algoritmo YEARS, publicado no The Lancet 2017, permite excluir TEP com D-dimero menor do que 1.000 μg/mL em pacientes sem nenhum dos seguintes achados: 1. Sinais clínicos de TVP. 2. Hemoptise. 3. TEP não é a principal hipótese diagnóstica Manejo: Em pacientes que são avaliados para possível TEP, o diagnóstico é confirmado em apenas 10% dos casos. Para determinar probabilidade de TEP usamos a escala de Wells: Figura 1- Escore de Wells. Fonte: Google imagens 2021. Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ Em pacientes de baixo risco, pode-se aplicar o escore PERC para descartar a suspeita de tromboembolismo pulmonar e encerrar a investigação. O desempenho do escore PERC foi determinado em pacientes que não tinham tromboembolismo pulmonar e naqueles em que a própria investigação traz mais danos que o conhecimento do diagnóstico. Figura 2- Escore PERC. Fonte: Google imagens 2021. Na suspeita de tromboembolismo pulmonar em pacientes com probabilidade pré-teste alta, a primeira dose de anticoagulação deve ser realizada antes da confirmação diagnóstica. Se TEP não puder ser excluído com a regra PERC, deve-se realizar um D-dímero de metodologia ELISA, que é capaz de excluir TEP em pacientes com probabilidade pré-teste baixa ou moderada. O TEP é classificado em três categorias com base na gravidade: TEP maciço, TEP submaciço e TEP de menor gravidade: TEP maciço: pressão arterial sistólica < 90 mmHg por mais de 15 minutos, pressão arterial sistólica < 100mmHg com história de hipertensão ou redução > 40% na pressão arterial sistólicabasal. TEP submaciço: pressão arterial normal, mas com outras evidências de estresse cardiopulmonar. TEP de menor gravidade: Todos os outros casos. Em pacientes com TEP confirmado é importante classificar e estratificar o paciente de acordo com a gravidade do quadro (risco de mortalidade) calculando o escore PESI. Os pacientes PESI classe I e II são considerados de baixo risco e podem ser elegíveis para tratamento domiciliar ou alta precoce, que é definida por alta antes de 5 dias de internação hospitalar, tempo usualmente recomendado de internação para TEP. Uma análise mostrou que em pacientes com escore PESI < 66 pontos a internação hospitalar não é custo-efetiva e deveria ser evitada. Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ Figura 3- Escore PESI. Fonte: Google imagens 2021. Se todas as respostas forem negativas e o paciente for classificado como PESI I ou II, ele é um candidato adequado para tratamento ambulatorial. Nesses pacientes não é necessária dosagem de troponina e BNP. Para os pacientes classificados como classe III e IV, devemos realizar: Dosagem de troponina e BNP. Aferição de disfunção de VD (ecocardiograma ou tomografia computadoriza com contraste). Caso apenas um dos dois acima venha alterado, o paciente é classificado como de risco intermediário baixo. Tratamento: A primeira medida em pacientes com suspeita de TEP é assegurar o suporte hemodinâmico e respiratório. Suporte hemodinâmico: Cristaloide, em bolus de até 500 mL em pacientes hipotensos, pode melhorar hipotensão e índice cardíaco, e pode ser testado antes da introdução de drogas vasoativas. Com a ressalva de que sobrecarga volêmica pode piorar a disfunção de VD. Reposição volêmica agressiva pode ser prejudicial e piorar o estresse de VD. Drogas vasoativas são frequentemente necessárias para melhorar o inotropismo cardíaco, elevar a pressão arterial e garantir perfusão tecidual adequada. Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ Norepinefrina aumenta a pressão arterial sistêmica e melhora a perfusão coronariana; melhora a função de VD por ação inotrópica positiva direta. O seu uso deve ser limitado a pacientes com choque cardiogênico dose recomendada é de 0,2 a 1,0 mcg/kg/min. Dobutamina deve ser considerada em pacientes com índice cardíaco reduzido, e costuma ser a primeira droga prescrita com o intuito de melhorar o débito de VD. A dose recomendada é de 2-20 mcg/kg/min. Em pacientes sem resposta, considera-se o uso de suporte extracorpóreo (ECMO), lembrando que seu uso por mais de 5 a 10 dias pode levar a complicações como sangramento e infecções. Figura 4- Necessidade de internação de acordo com PESI. Fonte: Google imagens 2021. Suporte respiratório: Para reduzir o risco de hipotensão, se possível, outras técnicas como cânula nasal de alto fluxo ou VNI devem ser tentadas antes da instituição de ventilação mecânica invasiva. No entanto, o paciente deve ficar sob monitorização ventilatória intensiva para não atrasar a indicação de intubação orotraqueal (IOT). Evitar drogas hipotensoras. Anticoagulação parenteral: A anticoagulação não dissolve o trombo, mas evita o crescimento dele. Estudos pequenos mostram algum grau de associação de anticoagulação e recanalização do trombo tardiamente. As duas opções mais comumente utilizadas são a heparina não fracionada e a heparina de baixo peso molecular. A anticoagulação inicial para o TEP também pode ser realizada com rivaroxabana por via oral. O apixaban é outra opção no TEP. A dabigatrana e a edoxabana também podem ser usadas, mas requerem anticoagulação com heparina inicial Em pacientes com probabilidade pré-teste de TEP > 20%, é recomendada a anticoagulação empírica, pois os benefícios excedem os riscos Trombólise (tenecteplase): Pacientes com TEP maciço ou hipotensão se beneficiam da fibrinólise, que está indicada exceto se a hipotensão é apenas transitória e sem sinais de hipoperfusão. Um subgrupo de pacientes com TEP submaciço pode apresentar critérios de gravidade definidos por: Dilatação ou hipocinesia do ventrículo direito, Troponina elevada, Peptídeo natriurético tipo B ou hipoxemia persistente com desconforto respiratório Giuliana Gonzalez UNICEUMA @med_ologia_ Embolectomia: A embolectomia cirúrgica é uma opção em pacientes jovens com TEP grande e proximal acompanhado de hipotensão. Como a embolectomia cirúrgica é muitas vezes realizada tardiamente, a taxa de mortalidade relatada é de cerca de 30%. As diretrizes da European Society of Cardfiology recomendam a embolectomia em pacientes com TEP de alto risco com falha ou contraindicação a trombólise. Figura 5- Manejo do TEP. Fonte: Google imagens 2021.
Compartilhar