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ANÁLISE CRÍTICA DO PAPER “O CORDEL NO ENSINO DE MICROBIOLOGIA: A CULTURA POPULAR COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NO ENSINO SUPERIOR” Os autores iniciaram o artigo com uma discussão que vem sendo muito debatida no meio acadêmico nos últimos anos, que é a colocação do professor como um mediador de conhecimentos. Por meio das literaturas abordadas, é nítido como o ensino tradicional visava uma educação ditatorial, o estudante era passivo em todo esse processo e não desfrutava de um ensino crítico. No âmbito da biologia, a relevância ou a atenção dada aos conteúdos explicados vão de encontro com as práticas pedagógicas utilizadas. As aulas dessa disciplina ainda são, na maioria das vezes, expositivas e com a mínima participação da turma. Esse modo de ensino leva ao distanciamento da relação professor-estudante. Dessa forma, cabe ao professor buscar novas fontes de estímulos e de estratégias pedagógicas que facilite a aquisição de novos conhecimentos. A renovação dos padrões de ensino é defendida por diversos pesquisadores, mas a inclusão desse ideal ainda é pouco significativa. São poucos profissionais da educação que dispõe ou possuem habilidades para buscar novas ferramentas de ensino que permita que o estudante desempenhe o papel central em seu desenvolvimento cognitivo. No ensino de biologia, a microbiologia é uma das áreas em que atividades práticas e diferenciais são essenciais para entender os aspectos de pequenos microrganismos, como as bactérias, fungos e vírus. A utilização de novas tecnologias se faz essencial para despertar a criatividade e a atenção dos estudantes. Esse trabalho trouxe então uma nova forma de linguagem para a apresentação dos conteúdos, a literatura de cordel. Os materiais impressos ainda representam apenas uma pequena amostra dos acervos de materiais didáticos produzidos pelos estudantes. Entretanto, há alguns anos, os cordéis conquistam mais espaço como meio de alfabetização. A literatura em cordel nada mais é do que uma poesia de caráter popular que era originalmente realizada apenas pela fala. Após conquistarem um destaque oralmente entre a camada popular, a poesia é passada para a forma escrita. Esse tipo de literatura é muito eficiente para colocar em prática a interdisciplinaridade e estimular o senso crítico dos estudantes através da observação da realidade social, histórica, política e econômica. Na Região Nordeste, este tipo de literatura se tornou uma das principais formas de manifestação popular. Os autores também trazem uma alusão histórica sobre a origem da literatura de cordel, que remonta ao romanceiro luso-holandês da Idade Contemporânea e do Renascimento. O nome se deve ao modo de comercialização utilizado em Portugal, os folhetos eram pendurados em cordões, lá chamados de cordéis. O nordeste foi um dos ambientes de maior propagação dos cordéis devido à convivência histórica entre o português e o escravo africano. O cordel traz então uma narrativa dos acontecimentos de um dado período e local. Servindo como um documento de registro da memória de um povo e contribuindo para a perpetuação do folclore nacional. Por mais que sejam inúmeras as possíveis contribuições da literatura de cordel no ensino básico, ainda é muito pobre o estudo de sua aplicabilidade no ensino superior. Abrangendo a área de ciências, é apresentado uma coleção de versos de Cordel sobre a vida e obra de Oswaldo Cruz e Albert Sabin. Nesses versos, conceitos como vacinação pública, epidemias e profilaxias são abertamente trabalhados. O cordel é então utilizado neste trabalho como uma estratégia de ensino alternativa para facilitar a compreensão e estimular o senso crítico quanto aos conhecimentos microbiológicos. Seguem umas estrofes de alguns cordéis com sua análise interpretativa: Melô do Dengue: “A dengue é uma virose Que o vetor é um mosquito Aedes aegypti Eita nome esquisito...” “A doença não é transmitida De indivíduo pra indivíduo A criatura só pega Com a picada do mosquito A fêmea é a responsável Pela transmissão do vírus dito...” Nesse trecho apresenta-se a virose, seu agente etiológico e vetor, que são os elos epidemiológicos a serem trabalhados de forma simples e direta. Mais adiante é dito: “Tampe bem a caixa d’água Não deixe água parada Nos vasos botar areia Evitando a mosquitada Acabando com o foco A dengue é eliminada...” As ações de prevenção são repassadas com espontaneidade e linguagem informal, sendo possível abordar as diferentes medidas preventivas, transmitindo à população orientações para o combate ativo da doenças.
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