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1111 Em 11 de setembro de 2001, assistimos em tempo real, àquela que foi, talvez, a maior catástrofe recente produzida pelo Homem, veiculada pela mídia. As duas torres do World Trade Center, em Manhattan, atacadas por ação terrorista, despencaram, levando à perda de milhares de vidas. Mais recentemente, já ao final do ano de 2004, nos chocamos com o número de pessoas dizimadas pelos efeitos das Tsunamis na Ásia. Na segunda catástrofe, de ordem natural, foram incontáveis as ações individuais e coletivas no sentido de reunir donativos e trabalho voluntário que pudesse prover ajuda aos sobreviventes do mesmo fenômeno. Os meios de comunicação nos deixam sempre bem informados sobre os fatos ocorridos, suas causas e conseqüências e, ainda, sobre o modo como nos posicionamos frente aos mesmos. Num curto espaço de tempo, as informações exibem ações que denotam conflito, agressão, omissão, solidariedade, labor, e pobreza. Esses significados talvez não nos causassem tanta estranheza, não fosse a sua origem vinda da mesma espécie: o ser humano. O humano, que é sempre defendido como a mais superior das espécies animais (dada a sua capacidade cognitiva), atua de modo polarizado, ora construindo para si mesmo e para o próximo, ora destruindo, seja no ataque a outras pessoas, seja na adoção de comportamentos que não lhes resultam vantagem alguma. O estudo desse comportamento tão complexo é o trabalho da Psicologia, “em pleno desenvolvimento e estruturação”, como defende Fiorelli (2003, p.12). O fato de tratar-se de uma ciência ainda jovem e por ter um foco de pesquisa tão atrativo a todos nós, explica uma popularização de seus conceitos que, muitas vezes, são exibidos fora de contexto e por pessoas não envolvidas no seu estudo. Ainda Fiorelli (op cit) cita Dolto (1981), referindo-se à oferta não rara de “testes”, impressos em 2222 revistas, que prometem aos leitores um conhecimento mais profundo de si mesmos. Esse conhecimento, embora ilusório, pode deixar-nos em situação mais confortável, tamanha a nossa necessidade de previsão e controle das pessoas e, principalmente, de nós mesmos. Acontece, porém, que o controle ambicionado não é uma promessa da Psicologia, enquanto ciência. Por isso, tantos candidatos às psicoterapias desistem ao não ter um prazo de tratamento estimado pelos psicoterapeutas. As respostas, nos tratamentos psicoterápicos, são pessoais e, logo, imprevisíveis. São imprevisíveis, também, as atuações das pessoas inseridas em contexto organizacional. Há variáveis ambientais e no próprio sujeito, servindo, ao mesmo tempo, de estímulo para uns e de fator inibitório para outros. Há os que atuam em sinergia positiva, cooperando para o desenvolvimento organizacional e os que fazem, minimamente, a sua parte como garantia do cargo e de benefícios. Todas essas diferenças de atitude observadas nas organizações constituem um universo tão amplo quanto difícil para a vida do administrador, do profissional de RH e por que não dizer do próprio colaborador organizacional. Sim, porque a interação bem sucedida alicerça e contamina, assim como o seu oposto. Robbins (2002), Spector (2002) e Chiavenato (2000) são consensuais na defesa do estudo do comportamento organizacional como ferramenta que viabiliza o crescimento dos colaboradores e, conseqüentemente, das próprias organizações. Considerando-se, ainda, o fato de estarmos, na maior parte de nosso tempo, inseridos em estruturas organizacionais (a começar pela própria família), a necessidade de compreensão desses sistemas, onde as pessoas constituem engrenagens que as fazem funcionar, não é proveitosa somente para a organização de trabalho, mas, também, para as outras organizações sociais. A Psicologia das Organizações, assim denominada a partir do século XX (SPECTOR, 2002) apresenta bastante afinidade com a Psicologia Social, que nas sábias palavras de Rodrigues, Assmar e Jablonski (2001): “é o estudo científico da influência 3333 recíproca entre as pessoas (interação social) e do processo cognitivo gerado por esta interação (pensamento social)” (p. 21). A nossa atuação e interação satisfatórias, dentro de meios organizacionais, dependem, portanto, de um processo interacional que envolve o atendimento às demandas da organização (objetivos organizacionais) e a nossa própria realização (o que denota alcance de objetivos pessoais). Difícil tarefa estudar as pessoas interagindo e, além disso, apresentar possibilidades para uma interação bem sucedida, envolvendo indivíduos sempre tão diferentes e por que não dizer complicados. Luiz Fernando Veríssimo, citado em Rodrigues et al (op cit), define a pessoa enquanto ser solitário e inserida em grupos. Nas suas palavras: “Uma pessoa é muito complicada. Mais complicado do que uma pessoa, só duas. Três, então, é um caos, quando não é um drama passional. Mas as pessoas só se definem no seu relacionamento com as outras. Ninguém é o que pensa que é, muito menos o que diz que é (...) Ou seja, ninguém é nada sozinho, somos o nosso comportamento com o outro.” Tomando emprestadas as palavras de Veríssimo, convido o leitor a um estudo dessa complicação humana que, apesar de existir, não nos incapacita a construir. Serão exibidos, inicialmente, temas básicos de Psicologia para, numa segunda etapa, estudarmos especificamente a sua aplicabilidade no contexto organizacional. REGATO, Vilma Cardoso. (2008) Psicologia Nas Organizações. RJ. Gen/LTC. 3ª Edição. Texto Introdutório.
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