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O desenho da praça contemporânea (Fabio Robba)

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IX ENCONTRO NACIONAL DE ARBORIZAÇÃO URBANA 
(Brasília, DF, 22 a 27/out. 2001)
 
O DESENHO DA PRAÇA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA 
Fabio Robba 
 1. CONTEXTO
     O final do século XX caracteriza-se por uma extrema velocidade da comunicação humana e troca de informação, abrangendo todas as formas do cotidiano e superando as possibilidades até então efetivadas. A intensa comunicação veloz e voraz que permeia o mundo urbano, interconectando e aproximando metrópoles, fomenta o surgimento de inúmeros movimentos artísticos inovadores nos mais diversos pontos do planeta e, conseqüentemente, colabora também na divulgação e difusão dessas vanguardas, gerando a pluralidade que estrutura a produção paisagística contemporânea. Na medida em que os grandes centros do país estão conectados às redes mundiais de informação, fica extremamente acessível aos projetistas da paisagem no Brasil o conhecimento imediato das tendências de vanguarda paisagística em andamento, seja nos EUA, na Europa, ou nas mais distantes nações.
     Os projetos internacionais em voga caracterizam-se por uma extrema pluralidade formal e conceitual. Uma verdadeira liberdade espacial que faz surgir projetos com as mais diversas configurações, possibilitando uma liberdade de expressão ainda não alcançada no paisagismo. Estabelecem-se situações de confronto e de complementaridade constantes entre posturas diversas, desde o desvario formal pós-modernista que prega o uso irrestrito de formas iconoclastas como frontões, colunas gregas, pórticos e topiárias, até as linhas conservadoras de projeto dos restauradores pragmáticos que buscam recriar fielmente imagens do passado reconstruindo velhos jardins segundo sua concepção original. O rebatimento desse arcabouço conjuntural nos espaços livres públicos das cidades, reflexo direto da sociedade que os constrói, se expressa em formas de projeto que englobam inúmeras posturas e tendências. Trata-se de quase um neo-ecletismo, denominado Contemporâneo.
     As características dos projetos contemporâneos podem ser elencadas de maneira parcialmente conclusiva, pois, ao final do século, ainda estão se configurando novas posturas e modos de projetar que irão complementar essa forma de construção urbana. Liberdade e profusão de formas e linguagens são suas principais características e, paradoxalmente, constituem sua mais forte forma de coesão.
     O projeto da nova praça contemporânea típica dos anos 90, ainda uma exceção, uma vanguarda em meio à onipresente tradição modernista, absorve os programas de uso, as formas e partidos modernos, e vai muito mais além. Basicamente, evolui-se do conceito moderno de liberdade, abrindo possibilidades formais antes impensáveis. A base morfológica dos projetos é a mesma da lógica espacial moderna com estares, esplanadas e patamares que se fundem e se entrelaçam criando ambientes e sub-espaços. A liberdade de programas, formas, desenhos, cores e materiais permite a criação de projetos com variadas linguagens e elementos.
     A ruptura com as regras e dogmas anteriores leva a uma vigorosa e fértil produção de espaços livres urbanos. Mudanças profundas, porém, não se processam em curto espaço de tempo, o que torna a linguagem contemporânea dos espaços livres públicos brasileiros, nesta década ainda, extremamente difusa.
     Os novos projetos têm como fonte de inspiração duas matrizes: a literatura especializada e as experiências isoladas de cada projetista. A difusão de conceitos e da produção paisagística de alguns países como França, Espanha, Estados Unidos e Japão, por meio da publicação de livros, revistas e material editorial, aproximou dos profissionais brasileiros a forma de concepção e construção do espaço livre urbano contemporâneo internacional, sendo que a expressividade de algumas propostas influenciou a produção nacional, o que pode ser percebido em projetos por todo o país. Formalmente, a pluralidade do fim do século é expressa em projetos que transitam entre os mais rígidos e formais traçados e a leveza de desenhos simples, passando por diversas soluções que exploram possibilidades cênicas, simbólicas e escultóricas de elementos construídos e da vegetação. A liberdade obtida a partir da revisão dos conceitos modernistas e a recuperação e re-interpretação de ícones do passado permitem a inclusão de partidos e linguagens irreverentes, simbólicas, cenográficas e espetacularizadas. 
     As praças contemporâneas são representativas de uma conjuntura urbana onde muitas formas de expressão são aceitas. Utilizando-se das novas tecnologias dos materiais construtivos, os projetistas têm ao seu alcance um espectro extremamente diversificado de possibilidades para materializar suas intenções projetuais.
     A reunião das categorias de linguagem utilizadas em praças construídas nas cidades brasileiras nos últimos quinze anos do século permite elencar suas características básicas:
Quanto à forma, os projetos caracterizam-se por:
• tradição modernista;
• colagem decorativa e irreverência;
• formalismo gráfico, um contraponto da praça ajardinada;
• Espaços cenográficos e simbólicos;
• pequenos espaços e arremates urbanos.
     Essas características básicas entrelaçam-se nos exemplos apresentados, ratificando vigorosamente o sentimento libertário, e, às vezes, libertino, que vem se consolidando como unidade projetual contemporânea. A irreverência dos traçados passa por posturas decorativistas, cênicas ou formalistas, e mesmo os projetos mais "modernistas" já trazem elementos simbólicos e cenográficos que revelam a fase transitória em que nos encontramos. 
     O estabelecimento dessas categorias não é hermético, e não está definitivamente concluído. Espera-se, na fase subseqüente de pesquisa, encontrar outras características que demonstrem novas tendências e tipologias de projeto que se apóiam e se baseiam na desvinculação dos arquétipos formais modernos (sem, porém, repudiá-los totalmente), e na pluralidade formal que busca inspirações nas mais diversas fontes.
2. DESENHOS E FORMAS
2.1 - A tradição moderna
     Quando foram detectadas as três linhas de projeto (Ecletismo, Modernismo e Contemporâneo) do paisagismo brasileiro que estruturam o trabalho, também foram estabelecidas algumas obras emblemáticas assumidas como marco referencial de cada movimento. Naturalmente o marco referencial do Ecletismo é a implantação do Passeio Público do Rio de Janeiro no final do século XVIII. O Modernismo também possui um marco inicial que foi a construção do prédio do Ministério da Educação e Saúde, em 1937, na então capital da República. Esse edifício seguia todas as linhas e dogmas do movimento moderno na arquitetura, e seus jardins, idealizados por de Roberto Burle Marx, também representam uma ruptura dos padrões ecléticos de desenho no espaço livre. 
     A linha de projeto contemporânea não possui ainda um único projeto que possa representá-la de maneira global, mesmo porque as inúmeras correntes de trabalho e difusão de propostas dificultam a determinação de um único marco inicial. Alguns projetos são emblemáticos e podem ser considerados como seus representantes: a Praça Itália em Porto Alegre, o Centro Empresarial Itaú Conceição em São Paulo, as reformas dos centros históricos de Salvador e Recife, e, por fim, os trabalhos do projeto Rio Cidade, são alguns desses projetos. Marcos iniciais das linhas de projeto são possíveis de serem elencados, porém não existe o momento de extinção de uma linha de projeto. Durante o surgimento de novas posturas de projeto, os modelos anteriores ainda estão em pleno vigor e sendo largamente utilizados. As rupturas aconteceram no auge de um processo ou no começo de sua decadência e seus questionamentos. Por exemplo, quando Burle Marx elaborou seu projeto para os Jardins do MEC, muitos paisagistas continuavam a estruturar seus trabalhos sob uma ordem eclética. 
 Portanto, profundas transformações não se processam em curto espaço de tempo, e, por isso mesmo, as vanguardas artísticas demandam tempo para que possam se difundir na sociedadee alterar os padrões estéticos profundamente arraigados no inconsciente coletivo. Por exemplo, a unidade e a força dos projetos ecléticos, principalmente os modelos clássicos, de desenho tradicional, foi tão intensa, que até os presentes dias aqueles ainda são admitidos e apreciados como padrão de praça pública. No caso, dentro de uma visão pós-moderna de valorização de símbolos e ícones do passado, a evocação de imagens e morfologias antigas é um das tendências que compõem o estilo contemporâneo e que, todavia, mantém ainda viva a tradição eclética, mesmo que seja de forma anacrônica.
     Nas décadas finais do século XX o padrão de concepção moderno já havia sido incorporado por grande parte dos produtores do espaço livre urbano no Brasil e as propostas contemporâneas ainda eram características de um pequeno número de projetos. Atualmente, a maioria dos projetos de praças executados no país obedece ainda a uma lógica moderna de desenho, justamente porque muitos dos elementos modernos de projetos foram ratificados como modelo, não sendo abandonados. 
     A tradição moderna ainda é muito forte entre nós. Nos projetos recentemente implantados, a tradição está expressa em praças que possuem um programa tipicamente moderno - contemplação, esportes, recreação infantil e convivência - e também não trazem qualquer inovação formal. Alguns casos como as praças Adolpho Bloch, em São Paulo, Carmela Dutra e N. Senhora de Lourdes, em Recife, e Carlos Simão Arnt, em Porto Alegre, são representativos. A existência de logradouros recentes ainda inseridos em uma tradição modernista não caracteriza baixa qualidade de projeto ou uma atitude conservadora, e sim que o modernismo permanece presente. Seus preceitos e imagens ainda são adequados à realidade urbana brasileira. A linguagem contemporânea, cada vez mais, parece buscar uma evolução a partir da estrutura moderna, aprimorando e revisando seus conceitos. São comuns, também, os projetos onde se encontra apenas algum indício de "contemporaneidade", como, por exemplo, as praças com desenhos modernos, mas que trazem inovações no programa, como as praças Manoel da Cruz, em Campo Grande, e João Cândido, em Curitiba, ou que já trazem sinais de mudanças em seus elementos e traçados, como veremos a seguir.
2.2 - Colagem decorativa e irreverência
     A introdução de elementos decorativos e componentes morfológicos diversos e inusitados, muitos imbuídos de funções cenográficas, simbólicas ou simplesmente estéticas, caracteriza a linguagem de projeto de superposição de elementos contemporâneos sobre estruturas espaciais convencionais. Tal forma de organização caracteriza projetos que, se analisados a fundo, poderiam ser considerados modernos tanto em relação ao seu programa, como em relação à sua configuração e construção de espaços, mas que têm sobrepostos a essa estrutura os mais diversos elementos arquitetônicos e escultóricos para criar uma "roupagem" contemporânea. Pórticos, colunas, pisos coloridos, equipamentos urbanos de desenho arrojado são dispostos para decorar os projetos em resposta à limpeza e simplicidade de elementos exigida pelos projetistas modernos. Os pórticos e os pisos extremamente coloridos e contrastantes são elementos que aparecem com freqüência nas praças contemporâneas como itens decorativos, e, em muitos casos, sua função, quando existe, não fica explícita. 
     Os pórticos e colunas são encontrados em diversos logradouros espalhados pelo país todo, como nas praças Dom Alberto Ramos, em Belém, da Bandeira, em Fortaleza, Itália, em Porto Alegre, e Antônio da Silva Fernandes, em Mogi das Cruzes. Os desenhos de piso, alegres e coloridos, são símbolos da colagem decorativa nos espaços públicos. As praças Cuiabá e Demóstenes Martins, em Campo Grande, Pinto Damásio, em Recife, e muitos projetos do Rio Cidade são exemplos que utilizam desenhos ondeantes e geométricos, inconcebíveis na representação pictórica modernista. 
     A utilização da chamada "colagem decorativa contemporânea", apesar de não significar alterações da estrutura morfológica no espaço livre, representa uma notável transformação da imagem da praça moderna tradicional, pois se opta por implantar elementos decorativos a-funcionais, e até anacrônicos, explorando apenas suas potencialidades estéticas. Nos projetos do Modernismo poucos elementos, como esculturas e murais, eram comumente utilizados com este intuito em praças públicas.
2.2.1 - Irreverência
     A franca liberdade pós-moderna que permeia a criação e a adoção de partidos contemporâneos gera projetos situados entre o vigor dramático de opções simbólicas e a quase leviandade e descompromisso de desenhos irreverentes e decorativos. A irreverência apresenta-se sob a forma de desenhos e traçados incomuns e inesperados, desacatando a ordem estética e formal vigente, seja por desenhos simplórios, de gosto duvidoso, ou mesmo inquietantes e provocadores. 
     O melhor exemplo de um desenho absolutamente irreverente é o piso da Praça Demóstenes Martins, em Campo Grande. Seu traçado principal faz referência ao desenho esquemático de um peixe envolto em ondas do mar azul. Implantada na década de 90 do século XX, a praça e seu autor correriam o risco de serem execrados e desconsiderados por seus colegas de profissão se a praça tivesse sido concebida em décadas anteriores. Dentro do contexto liberal contemporâneo, porém, o projeto procede, apesar de chamar muita atenção pelo seu desenho inusitado.
     No Rio de Janeiro, na intervenção do projeto Rio Cidade, em Ipanema, a irreverência vem na forma de provocação e polêmica. A implantação das propostas da equipe do arquiteto Paulo Casé, por serem de desenho arrojado e imprevisível, teve grande repercussão na cidade, desde os postes de iluminação verdes e tortos implantados nas ruas, até a intervenção na Praça Espanha (Bar Vinte), onde foi colocado, no meio da Avenida Visconde de Pirajá, um grande obelisco emoldurado por uma passarela-pórtico, hoje já demolida, que atravessava um piso intensamente colorido, remetendo ao antigo traçado dos bondes que circulavam na área. Uma proposta tão inovadora como esse exemplo carioca não poderia passar despercebida devido à sua expressividade e impacto sobre a paisagem de um bairro já consolidado e famoso, como Ipanema. A intenção de criar um marco referencial contemporâneo no bairro - quiçá para a cidade toda - realizou-se plenamente, apesar de ter tido vida curta. 
     Nos projetos tão irreverentes e decorativos que florescem nesse período contemporâneo está contida uma grande parte do vigor paisagístico pós-moderno que influencia o final do século XX, seja pela provocação e evocação de símbolos do passado pelo projeto Rio-Cidade, em Ipanema, seja pelo simbolismo despojado da Praça Demóstenes Martins, ou ainda pela representação figurativa das esculturas temáticas de bichos do pantanal na Praça das Araras, em Campo Grande. 
2.3 - Formalismo gráfico, o contraponto à praça ajardinada
     O formalismo gráfico caracteriza os projetos nos quais toda a estruturação morfológica obedece a composições bidimensionais de desenho marcadas pelo intensivo formalismo e pela rigidez. Formalismo que se expressa graficamente em desenhos, às vezes virtuosísticos, às vezes simples e rígidos, que se utilizam de linhas mestras, grelhas, retículas, malhas e eixos para estruturar o espaço globalmente, interferindo inclusive na colocação dos equipamentos e da vegetação. 
     Tridimensionalmente caracterizam-se por uma construção excessiva, uma profusão de planos horizontais, verticais e edificações. O rigor formal dos elementos construídos é com certeza uma das características mais expressivas de praças formalistas contemporâneas. Pórticos, colunatas, muros e os mais diversos elementos construídos são elementos básicos desse tipo de concepção tridimensional, e a própria vegetação, quando utilizada, assume um caráter escultural e arquitetônico. As grandes possibilidades morfológicas de estruturação espacial que os maciços vegetais largamente utilizados no Modernismocriavam, e que foram seu principal legado, deram lugar a projetos de plantio que destacam elementos vegetais isolados, concebidos como esculturas vivas, ou que propõem seu plantio de forma rígida, inseridos no contexto formal e gráfico do desenho, plantando-se árvores e arbustos em fileiras e retículas. O nacionalismo que caracterizou o Modernismo, principalmente expresso na utilização da vegetação nativa, sucumbe ao formalismo internacional, e nesses projetos é abandonado o uso intensivo da vegetação, a qual passa a ser utilizada como elemento adicional e não mais estrutural na composição do novo espaço. 
 Existem várias tendências no desenho paisagístico que se baseiam em estruturas formais e gráficas na sua concepção, como por exemplo:
- o desconstrutivismo de Bernard Tschumi, no Parc de La Villete, em Paris, justapondo três sistemas reguladores distintos: as linhas, os planos e os pontos dispostos em forma de retículas. 
- a expressividade quase minimalista do traçado de Helio Piñon e Albert Viaplana, que estrutura a praça e conduz os caminhos dos transeuntes em direção à estação ferroviária na Plaça del Països Catalans, em Barcelona, além dos rígidos desenhos geométricos dos trabalhos de Peter Walker, como o Cambrigde Center Roof Garden, baseado em grelhas, retículas e figuras geometrizadas, e as propostas igualmente formalistas de Martha Schwartz e do SWA Group, com seus projetos para o Rio Shopping Center e a Harlequim Plaza, respectivamente. 
- o formalismo cenográfico e repleto de simbolismos do projeto para o Centro Cívico de Tsukuba, no Japão, em que o autor (Arata Isozaki, 1985) fez uma clara referência à Piazza del Campidoglio, de Michelangelo (Roma, 1536), com seu formato oval e desenho simétrico, envolvida totalmente por um traçado geométrico de três grelhas sobrepostas. 
 Essas posturas de projeto são alguns exemplos das inúmeras tendências contemporâneas que surgiram e surgem pelo mundo afora no final do século XX. São muito expressivas quanto à influência que seus traçados formais e geométricos exercem sobre os desenhos dos espaços livres.
     No Brasil, é emblemático o exemplo de Florianópolis com a Praça Pio XII. Construída em 1996, possui um traçado baseado em composições de elementos geométricos dispostos diagonalmente que visam desestruturar visualmente o caminho longitudinal mais óbvio utilizado pelos pedestres. O eixo longitudinal é entrecortado várias vezes por linhas de força em diagonal, compostas por fileiras e renques de equipamentos, como pérgulas e jardineiras. Reforçando e confirmando o rigor formalista dos pisos, diversos equipamentos, como bancos e luminárias, além de elementos morfológicos, como pequenas edificações (sanitários, acesso ao estacionamento subterrâneo, lanchonete e bancas de revistas), são dispostos também de modo excessivamente geometrizado e totalmente articulado com a malha do piso. Observa-se o uso vigoroso das cores e uma minimização drástica no uso da vegetação, o que origina um espaço densamente construído, uma praça-edifício contemporânea. 
     Outros tantos são exemplos de projetos que se utilizam de linguagens gráficas, como, em Fortaleza, a Praça do Ferreira (reformada em 1992) e, no Rio de Janeiro, a Praça 15 de Novembro (depois da reforma de 1996). No primeiro caso, uma grande esplanada de passagem foi criada visando desobstruir os caminhos e absorver o fluxo de pedestres. Esse grande piso apresenta um desenho em grelhas coloridas que remete aos desenhos formalistas de projetos norte-americanos e japoneses contemporâneos. Na Praça 15 de Novembro, a reforma implantada conferiu-lhe um grande piso de mosaico português com um desenho virtuoso de arcos concêntricos, pleno de bordaduras coloridas. 
     Os projetos possuem características muito semelhantes quanto ao seu programa e desenho. Por estarem localizados em áreas centrais e de grande movimento de pessoas - a Praça do Ferreira é a mais importante e movimentada do centro de Fortaleza e a Praça 15 de Novembro recebe todo o fluxo de passageiros das barcas que fazem a travessia da Baía da Guanabara – os autores desses projetos optaram coerentemente por adotar um programa que privilegiasse a circulação das pessoas, retomando a proposta da praça-seca com grandes áreas de piso e oferecendo opções comerciais, como bancas de jornais e revistas e lanchonetes, além de proporem pequenos recantos contemplativos com bancos e alguma vegetação para repouso e descanso.
     O formalismo gráfico que permeia esses e muitos outros projetos é patente quer sob a forma de estruturação do espaço, quer em grandes desenhos de piso que amalgamam toda a área. A primeira crítica feita a tais propostas refere-se à impossibilidade de percepção desses desenhos tão elaborados por parte dos pedestres, pois são composições bidimensionais que devem ser observadas do alto ou a grande distância. Quem transita pelo espaço não tem a mesma percepção de quem observa o projeto em planta, por cima. Obviamente isso não caracteriza maior ou menor qualidade de projeto, pois o transeunte estará sensorialmente impressionado pelos elementos tridimensionais que compõem o espaço.
     A segunda crítica que tange tais propostas diz respeito à inexistência de coesão entre os arrojados desenhos bidimensionais que estruturam a planta e a expressão volumétrica tridimensional do projeto, isto é, a maioria dos projetos formalistas apresenta uma linguagem contemporânea no seu desenho e na sua planta, sem que, todavia, isso chegue a caracterizar-se no espaço real.
2.4 - Espaços cenográficos e simbólicos
     A evocação de signos anacrônicos e de imagens simbólicas também é uma das características cênicas e inovadoras que caracterizam projetos de espaços livres contemporâneos nacionais. Apropriando-se de partidos temáticos, históricos ou simplesmente simbólicos, os projetos de praças passam a ter elementos e estruturas cênicas incorporados para valorizar o ambiente criado. Eles são influenciados por tendências cênicas de projetos internacionais, como o pós-modernismo simbólico e cenográfico da Piazza d'Italia, em Nova Orleans, onde os autores (Charles Moore e equipe) utilizaram-se de símbolos da cultura italiana dentro da linguagem espetacularizada típica de norte-americanos para elaborar um projeto que homenageasse a colônia italiana da cidade; ou a proposta de evocação das paisagens campestres de várias regiões do Canadá, ponto de partida para a concepção do Village of Yorkville Park, em Toronto. 
     Poucos e marcantes são os exemplos brasileiros de praças que adotaram tal partido. O exemplo mais importante é a Praça Itália em Porto Alegre onde, em uma releitura pós-moderna da cenarização do ecletismo romântico, são explorados os valores cênicos da vegetação e dos elementos construídos. A vegetação cria arcabouços cênicos em dois diferentes setores: o primeiro, que traz as espécies vegetais típicas das paisagens da Toscana, como o cipreste italiano, para ambientar o logradouro em referência à Itália distante, pátria natal dos muitos imigrantes presentes no Rio Grande do Sul; e o segundo, que se caracteriza por uma ambientação cênico-ecológica, procurando relembrar, com uma vegetação típica de alagadiços, plantada no lago semi-orgânico, as barrancas do Rio Guaíba e da Lagoa dos Patos, em uma recomposição da paisagem primitiva da região de Porto Alegre. Ainda como intenção simbólica, a grande esplanada que corta a praça está ornada de colunas de pedra que não possuem função claramente definida, sendo talvez uma referência às ruínas da civilização romana, berço da cultura italiana ou simples marcos referenciais aplicados à paisagem do bairro. 
     Também se apropriando da vegetação como elemento cênico, a Praça do Relógio, construída no campus paulistano da Universidade de São Paulo, conta com um projeto que propõe a criação de inúmeros bosques, cada qual com espécies vegetais representativas da flora pré-existente na região da cidade e no estado de São Paulo - os campos do cerrado, as matas de araucárias, atlântica e semi-decídua,e os campos de altitude. O partido adotado no projeto visa criar uma série de sub-espaços cênicos, onde podem ser observados diversos tipos de espécies vegetais. A proposta cênica e educativa da Praça do Relógio foi concebida para atender às solicitações da Reitoria da Universidade de criar uma praça de caráter estritamente contemplativo. 
     Além dos projetos que se utilizam de elementos como vegetação, colunas ou pórticos para criação cenográfica, existem projetos que têm como característica temática a criação de cenários. Duas praças, Província de Shiga e do Japão, em Porto Alegre e Curitiba, respectivamente, são logradouros onde o estabelecimento de um programa temático - homenagem à colônia japonesa no Brasil - gerou a criação de projetos baseados na tradição do jardim japonês, repleto de simbologias e de espaços cenográficos. Mesmo sendo extremamente diferentes da tradição brasileira de jardim, esses dois projetos são muito valorizados e apreciados em suas cidades.
     Ainda em Curitiba, encontra-se a Praça Gibran Kalhil Gibran, também com o programa temático homenageando a imigração na cidade, onde todos os elementos construídos referem-se à cultura árabe. A praça, praticamente sem vegetação, possui um espelho d'água central de onde emerge uma edificação (uma pequena biblioteca de bairro, chamada em Curitiba de "Farol do Saber"), com uma linguagem bastante evocativa. Nesse projeto, dominou o partido temático e o resultado final é claramente um espaço simbólico e tipicamente cenográfico. 
     Somente em um contexto culturalmente diverso, irreverente e libertário, como o momento em que vivemos atualmente, é possível imaginar a materialização de projetos francamente simbólicos e evocativos como os exemplo citados.
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