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Maria Anttonia Os “pacotes de sepse” têm sido a espinha dorsal do Surviving Sepsis Campaing (SSC) desde a publicação das suas primeiras diretrizes em 2004. Um pacote é um conjunto selecionado de elementos de cuidado que, quando implementados como um grupo, afetam os desfechos clínicos, simplificando os processos complexos de atendimento de pacientes com sepse. Os elementos foram projetados para serem atualizados conforme indicado por novas evidências. Acaba de acontecer um update e traremos os principais pontos para vocês. Um princípio orientador é que estes pacientes complexos precisam de uma avaliação inicial detalhada e re-avaliação, em seguida, em curso de sua resposta ao tratamento. Consistente com interações anteriores dos pacotes sepse SSC, “tempo zero” ou “tempo de apresentação” é definido como o tempo de triagem no departamento de emergência ou, se referido de outro local de cuidados, desde as primeiras anotações consistentes com todos os elementos de sepse (anteriormente sepse grave) ou choque séptico verificado através de uma análise de gráfico. O QUE MUDA? A mudança mais importante na revisão é que os pacotes de 3h e 6h foram combinados em um único de “1 hora” com a intenção clara de iniciar as etapas da abordagem o mais rápido possível. Isso reflete a realidade clínica à beira do leito dos pacientes mais graves, em que os médicos iniciam o tratamento imediatamente, especialmente em pacientes com hipotensão, em vez de esperar ou prolongar as medidas de ressuscitação por um período mais longo. Pode ser necessário mais de 1h para que a reanimação seja concluída, mas o início da reanimação e tratamento, como a obtenção de sangue para medir lactato e hemoculturas, administração de fluidos e antibióticos e, no caso de hipotensão com risco de vida, início de droga vasopressora, devem ser iniciados imediatamente. Os elementos incluídos no pacote revisto são retirados das diretrizes do SSC. COMO ERA… Surviving Sepsis 2018 PACOTES DE SEPSE - ATUALIZAÇÃO https://pebmed.com.br/como-diagnosticar-e-tratar-a-sepse-em-2017/ Maria Anttonia • Medir o nível de lactato Aumentos no nível sérico de lactato podem refletir a hipóxia tecidual, aceleração da glicólise aeróbica causada pelo excesso de estimulação beta- adrenérgica ou outras causas associadas a piores desfechos. Se o lactato inicial estiver elevado (> 2 mmol/L), ele deve ser medido novamente dentro de 2 a 4 horas para guiar a ressuscitação para normalizar o lactato em pacientes com níveis elevados de lactato como um marcador de hipoperfusão tecidual. • Obter hemoculturas antes dos antibióticos A coleta de hemoculturas é um passo chave na abordagem da sepse. Deve ser feita antes da administração dos antibióticos, tendo em vista que a esterilização de culturas pode ocorrer em poucos minutos da primeira dose de um antimicrobiano apropriado. Devem ser colhidos pelo menos dois conjuntos (aeróbico e anaeróbico). É importante ressaltar que a administração de antibioticoterapia adequada não deve ser retardada para obter hemoculturas. • Administrar antibióticos de amplo espectro Deve-se iniciar terapia empírica de amplo espectro com um ou mais antimicrobianos intravenosos para cobrir todos os patógenos prováveis deve ser iniciada imediatamente. Após a identificação da sensibilidade dos patógenos, os antibióticos podem ser descalonados (por isso, a hemocultura é passo chave). • Administrar fluido intravenoso A ressuscitação volêmica precoce e eficaz é crucial para a estabilização da hipoperfusão tecidual induzida pela sepse ou choque séptico. Deve-se começar imediatamente após o reconhecimento de um paciente com sepse e/ou hipotensão e lactato elevado, e completado dentro de 3 horas de reconhecimento. A terapia de escolha a princípio é com solução cristaloide, tendo em vista ausência de qualquer benefício claro após a administração de coloide comparado com soluções cristaloides nos subgrupos combinados de sepse (sem contar que albumina é muito cara). • Aplique vasopressores Se a pressão arterial não for restabelecida após a ressuscitação fluídica inicial, os vasopressores devem ser iniciados dentro da primeira hora para atingir a pressão arterial média (PAM) de ≥ 65 mmHg. Esta é uma das principais mudanças nos pacotes, pois anteriormente os vasopressores entravam apenas no pacote de 6h. Porém, a restauração urgente de uma pressão de perfusão adequada para os órgãos vitais é uma parte fundamental da ressuscitação. Isso não deve ser atrasado. Os pacotes mudaram, mas a essência do Surviving Sepsis é a mesma: rapidez na resposta para melhorar o desfecho. A literatura apoia o uso de pacotes em pacientes com sepse e choque séptico, porém há críticos argumentando contra as atualizações. É importante que permaneça sempre a análise clínica individual do paciente à beira leito. Aguardamos discussões sobre o assunto e o posicionamento dos hospitais sobre a atualização dos protocolos. AUTORA: Dayanna de Oliveira Quintanilha Maria Anttonia SEPSIS 3 ILAS A sepse deve ser definida como uma disfunção orgânica potencialmente fatal, causada por uma resposta do hospedeiro desregulada à infecção. Para a operacionalização clínica, a disfunção orgânica pode ser representada por um aumento da pontuação de 2 pontos ou mais na Avaliação Sequencial de Insuficiência de Órgãos (SOFA), associada a uma mortalidade intra- hospitalar maior que 10%. A pontuação SOFA inicial pode ser considerada zero em pacientes não conhecidos por disfunção orgânica pré-existente. Pacientes com suspeita de infecção com probabilidade de ter uma internação prolongada na UTI ou morrer no hospital podem ser prontamente identificados ao lado da cama com qSOFA, ou seja: - Alteração no estado mental - Pressão arterial sistólica ≤ 100 mmHg - Frequência respiratória ≥22 /min O qSOFA (para SOFA rápido) incorpora alterações mentais, pressão arterial sistólica de 100 mmHg ou menos e frequência respiratória de 22/min ou mais, fornece critérios de cabeceira simples para identificar pacientes adultos com suspeita de infecção. Sugere que os critérios de qSOFA sejam usados para induzir os clínicos a investigarem mais a disfunção de órgãos, a iniciar ou intensificar a terapia, conforme apropriado, e a considerar encaminhamento para cuidados críticos ou aumentar a frequência de monitoramento se tais ações ainda não tiverem sido realizadas. A força tarefa considerou que os critérios positivos de qSOFA devem também levar em consideração a possível infecção em pacientes que não foram previamente reconhecidos como infectados = triagem. A sepse é uma síndrome extremamente prevalente, com elevada morbidade e mortalidade e altos custos. Consiste na presença de disfunção ameaçadora à vida em decorrência da presença de resposta desregulada à infecção. Entretanto, não adotamos os critérios clínicos para definição de disfunção orgânica do Sepsis 3 - variação do escore SOFA - por entender que os mesmos não são aplicáveis em iniciativas de melhoria de qualidade. Manteve-se os critérios utilizados anteriormente, inclusive a hiperlactatemia, por entendermos que a mortalidade em países em desenvolvimento ainda é muito elevada e a identificação precoce destes pacientes é parte fundamental do objetivo deste protocolo. As principais disfunções orgânicas são: - Hipotensão (PAS < 90 mmHg ou PAM < 65 mmHg ou queda de PA > 40 mmHg) - Oligúria (≤0,5mL/Kg/h) ou elevação da creatinina (>2mg/dL) - Relação PaO2/FiO2 < 300 ou necessidade de O2 para manter SpO2 > 90% - Contagem de plaquetas < 100.000/mm³ ou redução de 50% no número de plaquetas em relação ao maior valor registrado nos últimos 3 dias - Lactato acima do valor de referência - Rebaixamento do nível de consciência, agitação, delirium - Aumento significativode bilirrubinas (>2X o valor de referência) Presença de disfunção orgânica na ausência dos critérios de SRIS pode representar diagnóstico de sepse. Assim, na presença de uma dessas disfunções, sem outra explicação plausível e com foco infeccioso presumível, o diagnóstico de sepse deve ser feito, e o pacote de tratamento iniciado, imediatamente após a identificação. O qsofa não deve ser utilizado para triagem de pacientes com suspeita de sepse, mas sim para, após a triagem adequada desses pacientes com base em critérios mais sensíveis, identificar aqueles com maior risco de óbito. Maria Anttonia O choque séptico deve ser definido como um subconjunto de sepse em que anormalidades circulatórias, celulares e metabólicas particularmente profundas estão associadas a um maior risco de mortalidade do que com sepsis isolada. Os pacientes com choque séptico podem ser clinicamente identificados por: - Necessidade de droga vasopressora para manter uma pressão arterial média (PAM) de 65 mm Hg ou superior após reposição volêmica adequada (na ausência de hipovolemia) - Nível de lactato sérico maior do que 2 mmol / L ou > 18 mg/dL Segundo a SSC (ILAS), choque séptico é definido pela presença de hipotensão não responsiva à utilização de fluídos, independente dos valores de lactato. A SSC não adotou o novo conceito de choque, que exige a presença concomitante de lactato acima do valor de referência mesmo após reposição volêmica inicial. Sepse que evoluiu com hipotensão não corrigida com reposição volêmica (PAM ≤65 mmHg), de forma independente de alterações de lactato. Infecção sem disfunção Entende-se como paciente com infecção sem disfunção aquele que, tendo ou não os critérios de SRIS, possui foco infeccioso suspeito ou confirmado (bacteriano, viral, fúngico, etc.) sem apresentar disfunção orgânica. SIRS (Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica) • Dois ou mais de: - Temperatura> 38 ° C ou < 36ºC OU equivalente em termos de temperatura axilar - Frequência cardíaca > 90bpm/min - Taxa respiratória> 20 / min ou PaCo2 <32mmHg - Leucócitos totais > 12.000/mm³; ou < 4.000/mm³ ou presença de > 10% de formas jovens (desvio à esquerda) SIRS (Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica) • Dois ou mais de: - Temperatura> 38 ° C ou < 36ºC OU equivalente em termos de temperatura axilar - Frequência cardíaca > 90bpm/min - Taxa respiratória> 20 / min ou PaCo2 <32mmHg - Leucócitos totais > 12.000/mm³; ou < 4.000/mm³ ou presença de > 10% de formas jovens (desvio à esquerda) A síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SRIS), embora não utilizada para a definição de sepse, continua sendo importante para a triagem de pacientes com suspeita de sepse. Da mesma forma que a SSC, o ILAS não mudou os critérios usados para definir disfunção orgânica, mantendo a hiperlactatemia como um deles.
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