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1 Compreender a fisiopatologia da febre reumática (sintomas e causas); Relacionar a febre reumática com as alterações cardíacas e com sistema imune; Entender como se dá o diagnóstico da febre reumática e sua relação com os critérios de Jones. A febre reumática é uma doença inflamatória aguda, imunomediada e multissistêmica; ocorre após infecção por estreptococos do grupo A, durante um episódio de faringite. Além disso, essa doença pode evoluir para uma infecção na pele ou uma manifestação cardíaca da febre reumática, se associando a inflamações do coração, progredindo para cardiopatia reumática crônica. Os sintomas se iniciam de 2 a 3 semanas após a infecção por estreptococos, causando febre e poliartrite migratória das grandes articulações (uma articulação torna-se inchada e dolorida e, depois, regridem espontaneamente sem sequelas residuais). A febre reumática tem como manifestações clínicas: Poliartrite migratória Pancardite Nódulos subcutâneos Eritema marginado da pele Coreia de Sydenham (distúrbio neurológico caracterizado por movimentos rápidos, descontrolados e involuntários dos membros e da face, além de distúrbios na fala e conduta) O processo inflamatório cardíaco está associado a uma reação cruzada entre a proteína M do Streptococcus pyogenes e as proteínas miosina, queratina e outras proteínas do tecido cardíaco. A reação inflamatória desencadeada em reação ao patógeno induz uma inflamação no miocárdio e no endotélio da valva cardíaca que é facilitada a infiltração de células T. Além disso, tem-se uma lesão articular, que surge devido à semelhança do ácido hialurônico do estreptococo com o ácido dos tecidos humanos, na qual ocorre a formação de anticorpos que atuam contra a cartilagem das articulações. Da mesma forma, é observado a reação cruzada entre os anticorpos e a membrana do patógeno, atuando contra o citoplasma de neurônios (localizados nos núcleos subtalâmico do cérebro), o que vai resultar na coreia de Sydenham. No início da febre reumática ocorrem algumas lesões, como a fragmentação das fibras colágenas, edema da substância intercelular, infiltração celular e degeneração fibrinoide. Os nódulos subcutâneos estão associados à cardite grave, sendo caracterizados como redondo e firmes, indolores e móveis, recobertos por pele normal, sem características inflamatórias. Esses nódulos estão localizados em proeminências ósseas e sobre os tendões principalmente nas superfícies extensoras das mãos e dos pés. Algumas culturas para estreptococos feitas com material da faringe normalmente são negativas na época em que se inicia a doença, porém os anticorpos para as enzimas dos estreptococos, como a Objetivos Fisiopatologia Febre Reumática 2 estreptolisina O e DNAse B, estão presentes e podem ser detectados no soro dos pacientes com FR. A doença reumática cardíaca é a manifestação cardíaca da febre reumática, sendo caracterizada pela inflamação do coração (miocárdio e endotélio da valva cardíaca) e está associada a reação cruzada entre a proteína M do Streptococcus pyogenes e as proteínas miosina, queratina e outras proteínas cardíacas. As lesões surgem nas valvas cardíacas em forma de verrugas ao longo da linha de fechamento, tornando as valvas espessas e deformadas. Além disso, pode ser observado nessa doença, a degeneração difusa e necrose das células musculares cardíacas, com lesões inflamatórias perivasculares, formando os nódulos de Aschoff (formados por área central fibrinoide circundada por linfócitos, plasmócitos e grandes células basofílicas). A febre reumática pode causar a estenose e a regurgitação valvares. Na estenose mitral, o átrio esquerdo dilata-se de forma progressiva devido à sobrecarga de pressão, ocasionando uma precipitação na fibrilação atrial. Por causa disso, pode-se gerar uma trombose. Consequentemente, a congestão venosa passiva gera alterações no parênquima e nos vasos pulmonares, ocasionando uma hipertrofia e falência do ventrículo direito. Presença de células de Anitschkow (macrófagos volumosos ativados). Causa pancardite, podendo apresentar no pericárdio um exsudato fibrinoso, no miocárdio apresenta corpos de Aschoff e necrose fibrinoide e deposição de fibrina (verrugas) nas valvas. 2. Febre reumática crônica: Presença de cicatrizes fibrosas. As válvulas ficam espessas e retraídas. A valva mitral apresenta espessamento das válvulas, fusão e encurtamento das comissuras e das cordas tendíneas. Alterações cardíacas Morfologia 1. Febre reumática aguda: Focos inflamatórios em diferentes tecidos. Lesões no miocárdio, chamados de corpos de Aschoff, apresentam acúmulos de linfócitos, plasmócitos e macrófagos. Podem ser encontrados no pericárdio, miocárdio ou endocárdio. (A) Valvite reumática aguda da valva atrioventricular esquerda superposta à doença reumática cardíaca crônica. Pequenas vegetações (verrugas) são visíveis ao longo da linha de fechamento das válvulas da valva atrioventricular esquerda (setas). Episódios prévios de valvite reumática causaram espessamento fibroso e fusão das cordas tendíneas. (B) Aspecto microscópico de um corpo de Aschoff na cardite reumática aguda; existe uma área de necrose central associada a uma coleção circunscrita de células inflamatórias mononucleares que incluem alguns macrófagos ativados com nucléolos proeminentes e cromatina central ondulada (cromatina em lagarta) (setas). 3 Segundo o critério de Jones, algumas manifestações clínicas são: cardite, coreia, nódulos subcutâneos, poliartrite e eritema. Dentre os sinais clínicos da cardite, incluem atrito pericárdico e arritmias; a miocardite pode evoluir para uma dilatação cardíaca, levando a uma insuficiência da valva mitral e aórtica e à ICC. Ademais, a cardite reumática é caracteristicamente uma pancardite envolvendo o pericárdio, o miocárdio e as bordas livres das valvas cúspides. A estenose mitral também é uma complicação da febre reumática. Há a presença de sopros cardíacos, devido a endocardite, resultando em edema e amolecimento do tecido valvar, o que provoca uma regurgitação valvar pela disfunção aguda. Após uma crise, junto com a memória imune, as seguintes infecções estreptocócicas tornam os pacientes mais vulneráveis à reativação da doença. Por causa disso, a cardite evolui em cada recorrência. Além disso, a cardite reumática crônica geralmente não produz manifestações clínicas durante anos após o episódio inicial da febre reumática. A reação de hipersensibilidade atribuída a anticorpos contra as moléculas dos estreptococos do grupo A reagem de forma cruzado com antígenos miocárdicos do paciente. Os anticorpos contra proteínas M de algumas cepas de estreptococos se ligam a proteínas do miocárdio e das valvas cardíaca, causando lesão por meio da ativação do complemento e de células portadoras do receptor para Fc. As células T CD4+ que reconhecem os peptídeos estreptocócicos também podem reagir de forma cruzada com antígenos do hospedeiro e desencadear respostas inflamatórias mediadas por citocinas, que são responsáveis pela progressão e manutenção da lesão valvar crônica. Além disso, a lesão articular surge devido à semelhança do ácido hialurônico do estreptococo com o ácido dos tecidos humanos e ocorre a formação de anticorpos que atuam contra a cartilagem das articulações. Da mesma forma, é observado a reação cruzada entre os anticorpos e a membrana do patógeno, atuando contra o citoplasmade neurônios (localizados nos núcleos subtalâmico do cérebro), causando a coreia de Sydenham. (C e D) Estenose da valva atrioventricular esquerda (mitral) com espessamento fibroso difuso e deformação das válvulas da valva, fusão das comissuras (setas) e espessamento e encurtamento das cordas tendíneas. Existe uma marcada dilatação atrial esquerda como observada acima da válvula (C). (D) Válvula anterior da valva atrioventricular esquerda reumática aberta; observe a neovascularização (seta). Sistema imune 4 Para diagnosticar a febre reumática são utilizados o critério de Jones (cardite, coreia, nódulos subcutâneos, poliartrite e eritema), exame físico, exames laboratoriais e complementares. Os exames laboratoriais são inespecíficos e auxiliam no monitoramento do processo inflamatório. São eles: Velocidade de hemossedimentação (VHS): eleva-se nas primeiras semanas de doença; Proteína C-reativa (PCR): eleva-se no início da fase aguda e diminui no final da 2ª ou 3ª semana; Alfa glicoproteína ácida: apresenta títulos elevados na fase aguda da doença, mantendo-se elevada por tempo mais prolongado. É utilizada para monitorar a atividade da FR. Já os exames complementares utilizados são: Radiografia de tórax: investiga presença de cardiomegalia e de sinais de congestão pulmonar. A caracterização do progressivo aumento da área cardíaca à radiografia evidencia atividade reumática. A presença de congestão pulmonar caracteriza a cardite grave; Eletrocardiograma (ECG): os achados são inespecíficos e, em geral, transitórios. Alterações mais comuns: taquicardia sinusal, distúrbios de condução, alterações de ST-T e baixa voltagem do complexo QRS e da onda T no plano frontal. O intervalo PR aumentado é um critério menor. Pode ser encontrado em crianças normais e em pacientes com FR com ou sem cardite; Ecocardiograma: pode ser encontrado a regurgitação mitral e regurgitação aórtica. Além disso, espessamento valvar é frequente, e têm sido observados nódulos valvares focais que desaparecem durante a evolução. A função ventricular esquerda é normal no episódio inicial. Derrame pericárdico é comum e em geral é pequeno. REFERÊNCIAS: PEIXOTO, Annelyse et al. Febre reumática: revisão sistemática. Rev Soc Bras Clin Med, v. 9, n. 3, p. 234-8, 2011. KUMAR, V. et al. Robbins patologia básica. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. Diagnóstico
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