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Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica DPOC (conjunto de doenças) Progressiva obstrução ao fluxo de ar, em grande parte irreversível, normalmente com aparecimento clínico em pessoas de meia-idade ou idosos com um histórico de consumo de cigarros. Todos os pacientes com diagnóstico clínico de DPOC têm a destruição do espaço aéreo (ou seja, enfisema) e alterações patológicas das vias aéreas de condução consistentes com bronquite crônica. Definição de DPOC Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é a limitação do fluxo de ar provocada por resposta inflamatória a toxinas inalatórias, frequentemente fumaça de cigarro. A DPOC é o estreitamento (bloqueio ou obstrução) persistente das vias aéreas, que ocorre com enfisema, bronquite obstrutiva crônica ou ambos os distúrbios. A DPOC envolve: • Bronquite obstrutiva crônica (determinada clinicamente) • Enfisema pulmonar (determinado patológica ou radiologicamente) Bronquite obstrutiva crônica: é a bronquite crônica com obstrução das vias respiratórias. A bronquite crônica é definida como tosse produtiva na maioria dos dias da semana, com duração total de pelo menos 3 meses em 2 anos consecutivos. A bronquite crônica torna-se bronquite obstrutiva crônica se houver o desenvolvimento de evidências, no exame de espirometria, de obstrução das vias respiratórias. Enfisema pulmonar: é a destruição do parênquima pulmonar (tecido que constitui o pulmão, formado por alvéolos), acarretando a perda da retração elástica dos septos alveolares e da tração radial das vias respiratórias, o que aumenta a tendência ao colapso destas. É sucedido por hiperinsuflação pulmonar, limitação do fluxo aéreo e aprisionamento de ar. Os espaços aéreos dilatam-se e com o tempo desenvolvem vesículas ou bolhas. Considera-se a obliteração das pequenas vias aéreas a lesão que precede o desenvolvimento do enfisema. A DPOC está aumentando no mundo todo em decorrência do aumento do tabagismo e afeta 64 milhões de pessoas no mundo. Causou mais de 3,2 milhões de mortes em todo o mundo em 2015. Etiologia da DPOC As causas da DPOC são as exposições inalatórios (como tabagismo) e Fatores genéticos. Exposição inalatória: Tabagismo é o principal fator de risco na maioria dos países. A fumaça proveniente de cozimento ou aquecimento (como a madeira) em ambientes internos é um importante fator causador em países em desenvolvimento. Também contribuem para o risco de DPOC o baixo peso corporal, doenças respiratórias infantis, exposição passiva à fumaça do cigarro, poluição aérea e exposição ocupacional a pós (como pó de mineral ou de algodão) ou a substâncias químicas inalatórias (como cádmio). Fatores genéticos: A principal doença genética causadora é a deficiência de alfa-1 antitripsina, que causa enfisema em não tabagistas e aumenta acentuadamente a suscetibilidade à doença em fumantes. Fisiopatologia da DPOC Vários fatores causam a limitação do fluxo aéreo e outras complicações da DPOC: Inflamação: exposições inalatórias deflagram uma resposta inflamatória nas vias respiratórias e nos alvéolos, que desencadeia a doença. Em pacientes com DPOC, a ativação de neutrófilos e de outras células inflamatórias libera proteases como parte do processo inflamatório, a atividade da protease supera a atividade da antiprotease, resultando em destruição tecidual e hipersecreção de muco. A inibição das antiproteases causam broncoconstrição, edema de mucosa e hipersecreção. Infecção respiratória: pode amplificar a progressão da destruição do pulmão. As bactérias colonizam as vias respiratórias inferiores em cerca de 30% dos pacientes com DPOC. O tabagismo e a obstrução das vias respiratórias acarretam o comprometimento da depuração (limpeza) do muco das vias respiratórias, o que predispõe à infecção. Limitação do fluxo de ar: provocada por estreitamento e/ou obstrução das vias respiratórias, perda de retração elástica ou ambas. Estreitamento e obstrução são causados por inflamação mediada pela hipersecreção de muco, tamponamento de muco, espasmo brônquico, fibrose peribrônquica e remodelação das pequenas vias respiratórias ou uma combinação desses mecanismos. Os septos alveolares são destruídos, reduzindo as inserções do parênquima nas vias respiratórias, facilitando assim o fechamento delas durante a expiração. O aumento da resistência das vias respiratórias aumenta o trabalho de respiração. Hiperinsuflação pulmonar, embora diminua a resistência das vias respiratórias, também aumenta o esforço respiratório. O aumento do trabalho respiratório pode levar à hipoventilação alveolar com hipóxia e hipercapnia, embora hipóxia e hipercarbia também possam ser causadas pelo desequilíbrio entre ventilação e perfusão (V/Q) → shunt (bronquite). Complicações: Além da limitação do fluxo aéreo e da insuficiência respiratória, as complicações às vezes incluem Hipertensão pulmonar, Infecção respiratória, Perda ponderal e outras comorbidades. Manifestações clínicas da DPOC A DPOC leva anos para se desenvolver e progredir, mas os sintomas progridem rapidamente em pacientes que continuam a fumar. A tosse produtiva é o sintoma inicial, e a dispneia é caracterizada por ser progressiva, persistente e com surgimento em idosos. Os sinais de DPOC incluem sibilos, fase expiratória prolongada, hiperinsuflação pulmonar e aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em barril). Pacientes com enfisema avançado perdem peso e desenvolvem perda muscular (pela imobilidade) e hipóxia. Sinais da doença avançada envolvem respiração com lábios cerrados, uso de músculos respiratórios acessórios, movimento paradoxal da caixa torácica durante a inspiração, onde a caixa e o abdome se movem para lados opostos (sinal de Hoover), cianose e cefaleia matinal (sinaliza hipercapnia ou hipoxemia noturnas). Pink Puffers: Sopradores róseos. É o estereótipo do enfisematoso. Na inspeção, nota-se a pletora facial (vermelhidão) e o tórax em tonel, magro, dispneia expiratória, sem sinais de ''cor pumonale'' (insuficiência cardíaca direita por congestão pulmonar) e hipoxemia significativa. Na ausculta, há diminuição dos murmúrios vesiculares, sem ruídos adventícios. Blue Bloaters: Inchados azuis. É o estereótipo do bronquítico grave. Paciente obeso, com síndrome da apneia do sono, distúrbio grave de trocas gasosas, hipoxemia e cianose. Há sinais de ''cor pumonale'' e manifestações de insuficiência ventricular direita e congestão sistêmica. Na ausculta pulmonar encontram-se ruídos adventícios. Enfisema: aumento anormal dos espaços aéreos, devido à destruição e deformação das paredes alveolares. A gravidade do enfisema pode variar muito em pacientes com DPOC com graus semelhantes de obstrução ao fluxo aéreo. Fisiopatologia do Enfisema pulmonar Doença caracterizada por dilatação permanente dos espaços aéreos distais ao bronquíolo terminal acompanhada por um processo destrutivo do estroma septal, sem fibrose evidente. Ácino pulmonar: porção de parênquima distal e um bronquíolo terminal, constituído por bronquíolo respiratório, ducto, saco alveolar e alvéolos. O conjunto de 3 a 5 bronquíolos terminais junto aos ácinos, constituem o lóbulo pulmonar. O enfisema é classificado de acordo com a distribuição anatômica das lesões, como: • Centroacinar (tabagismo): A porção central do ácino pulmonar, junto ao bronquíolo respiratório está acometida, poupando os alvéolos mais distais. Há presença de pigmento antracótico. Na fase avançada, há acometimento de todo o ácino, com dificuldade de distinção com o panacinar. • Panacinar (deficiência de α1-AT): Alargamento de todo o ácino, relacionado à deficiência de alfa 1 antitripsina. Há difícil distinção entre alvéolo e ducto alveolar. Perde elasticidade. • Parasseptal/acinardistal (fibrose, atelectasia→colapso):Porção distal do ácino é acometida, ao longo dos septos interlobulares e nas regiões adjacentes à pleura. Surge em áreas adjacentes de fibrose ou atelectasia. É a causa frequente de pneumotórax espontâneo em jovens. • Irregular (cicatrizes): Paracicatricial e assintomático. Envolve o ácino de forma irregular e está associado à cicatrizes de processo inflamatório antigo. Neutrófilos e macrófagos alveolares são as principais fontes de enzimas proteolíticas e estão presentes em maior número em pulmões de fumantes (pois se acumulam nos alvéolos). O mecanismo de lesão do enfisema ocorre através da atividade de células inflamatórias e da ação lesiva de agentes oxidantes. Há uma associação de células endoteliais e neutrófilos na lesão, levando ao recrutamento de células da circulação para o local da inflamação, com aderência de neutrófilos ao endotélio. O fumo contém abundante espécies de oxigênio reativas (radicais livres) os quais reduzem os mecanismos antioxidantes naturais do pulmão, que geram agressão direta aos componentes da mecânica ventilatória e redução da eficiência do sistema antiprotease por inibição da α-1 AT. Com isso diminui também a concentração de antiproteases nativas, resultando em deficiência funcional de α1-AT. Há uma destruição da parede pulmonar, dilatação de alvéolos, sacos e ductos e perda do componente elástico. Assim, há alterações que limitam o fluxo aéreo e uma redução do fluxo expiratório devido à redução da elasticidade pulmonar e deformidades brônquicas. As manifestações clínicas do enfisema são Dispnéia, Tosse, Chiado, Perda de peso, Expiração forçada/prolongada, Tórax em tonel. As principais complicações são: • Insuficiência respiratória: Redução do fluxo aéreo expiratório leva à dificuldade de chegada do ar inspirado ao alvéolo devido ao ar residual (recolhimento elástico), gerando redução da superfície de troca por destruição da parede alveolar. • Hipertensão pulmonar: Destruição septal com redução do leito capilar, gera vasoconstrição pulmonar decorrente da hipóxia e hipercapnia. As manifestações podem ocorrer de formas diferentes: • Pink puffers: pacientes com predomínio de enfisema panacinar, em geral acima de 50 anos, dispneia acentuada, aumento da frequência respiratória, pCO2 normal. Sopradores rosados não tem cianoses, por causa da boca semicerrada que ajuda na respiração, que utiliza dos musculos acessórios. • Blue bloaters: Paciente com predomínio de bronquite crônica associada a enfisema centroacinar apresentam quadro clínico mais precoce (40 a 45 anos), cianose, tosse, expectoração, infecções bacterianas de repetição, diminuição do volume corrente e aumento do espaço morto, retenção de CO2 (hipercapnia; hipóxia, cianose). Hipercapnia→ broncoconstrição e vasoconstrição (hipertensão pulmonar). Bronquite: definida clinicamente como tosse persistente e produção de expectoração e patologicamente como o alargamento anormal das glândulas mucosas no seio das vias aéreas centrais cartilaginosas. A bronquite crônica era considerada um elemento- chave na patogênese da obstrução crônica ao fluxo aéreo, mas sabe-se agora que o aumento da resistência ao fluxo de ar em pacientes com DPOC pode ser atribuído principalmente a uma variedade de alterações patológicas nas vias aéreas distais do pulmão (“doença das pequenas vias aéreas”). Fisiopatologia da Bronquite crônica A bronquite crônica é um representante da DPOC, caracterizada por obstrução crônica do fluxo aéreo em qualquer nível da árvore respiratória. As manifestações clínicas são tosse persistente com produção excessiva de muco em um período de 3 meses (mais intensa pela manhã e inverno), por pelo menos 2 anos consecutivos. Suas causas são agentes irritantes cronicamente inalados, como o fumo e poluentes atmosféricos, que causam inflamação das vias aéreas e do parênquima pulmonar acarretando em alterações estruturais, clínicas e funcionais. No processo inflamatório estão presentes Linfócitos (linfócitos T CD8 e outros componentes imunológicos levam a maior produção de citocinas e elastases que causam lesão do parênquima pulmonar), Macrófagos, Neutrófilos (contribui para a hipersecreção brônquica) e Células epiteliais. Bronquite crônica simples: os pacientes apresentam tosse produtiva sem sinais de obstrução do fluxo aéreo. Bronquite crônica obstrutiva: cerca de 20% dos fumantes desenvolvem obstrução crônica ao fluxo aéreo, geralmente associado a enfisema. A principal característica é a hipersecreção de muco das grandes vias aéreas associada a hipertrofia das glândulas submucosas. Além de: • Espessamento da parede da árvore brônquica • Acúmulo de secreção esbranquiçada ou de aspecto purulento (as glândulas submucosas são a principal fonte de hipersecreção) • Aumento do número de células caliciformes → liberam mucinas que se transformam em muco. • Hipertrofia das glândulas submucosas • Metaplasia escamosa • Alterações displásicas do epitélio A avaliação da hipertrofia glandular ocorre através do Índice de Reid (normalmente é menor do que 0,4, mas na bronquite é 0,7 ou mais). A complicação dessa doença está relacionada à infecção, por comprometimento do mecanismo de perda de células ciliadas.
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