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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA / PUC-Rio Microeconomia II Profs. Marcos Antonio C. da Silveira e Eduardo P.S. Fiuza Bibliogra a � Varian, capítulo 12 � Literatura avançada: Mas-Collel, A.et al, "Microeconomic Theory", capítulo 6. Nota de Aula 1: Teoria da Escolha com Incerteza 1 Teoria da Escolha � Teoria da Escolha Convencional (Micro I): preferências sobre um conjunto de alternativas C Exemplo 1 Cestas de bens C = � (c1; c2) tq c1 = qte. alimento; c2 = qte. vestuário (4; 5) � (5; 4) � Teoria da Escolha com Incerteza: preferências sobre loterias com resultados em C Exemplo 2 Loterias cujos resultados são cestas de bens Loteria 1 = ( (4; 5) c / prob. 1/3 (5; 4) c / prob. 2/3 Loteria 2 = ( (4; 5) c / prob. 2/3 (5; 4) c / prob. 1/3 João : Loteria 1 � Loteria 2 Lucas : Loteria 2 � Loteria 1 1 Exemplo 3 Carteiras de investimentos (Riqueza inicial W0=$500; Riqueza futura W1) Ações : W1 = ( $1000 c / prob. 1/2 0 c / prob. 1/2 Câmbio : W1 = ( $400 c / prob. 2/3 $800 c / prob. 1/3 Poupança : W1 = � 600 c / prob. 1 João: Câmbio � Ações � Poupança Lucas: Ações � Câmbio � Poupança Exemplo 4 Seguro contra acidentes (Riqueza inicial W0=$1000; Riqueza futura W1) Sem seguro : W1 = ( $1000 c / prob. 98% (sem acidente) $100 c / prob. 2% (com acidente) Com seguro : W1 = ( $800 c / prob. 98% (sem acidente) $800 c / prob. 2% (com acidente) João: Com seguro � Sem seguro Lucas: Sem seguro � Com seguro 2 2 Loterias � Loterias são os objetos de escolha da Teoria da Escolha com Incerteza De nição 1 Loterias simples � Seja um conjunto de alternativas C (ex.: cestas de bens, dinheiro, etc) � Uma loteria L é um vetor L = (c1; c2; :::; cs; :::; cN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N) tal que �s é a probabilidade de ocorrer o resultado cs 2 C (s = 1; 2; :::N), onde 1 � �s � 0XN s=1 �s = 1 � Uma loteria é uma distribuição de probabilidade sobre as alternativas em C � Representação grá ca da loteria através de uma árvore Exemplo 5 Considere as loterias L, M e N com resultados no conjunto de cestas C = � (c1; c2) tq c1 = qte. laranjas; c2 = qte. bananas L = � (1; 2) ; (2; 1) ; (0; 1) ; 1 3 ; 1 3 ; 1 3 � M = � (4; 2) ; (2; 5) ; 1 4 ; 3 4 � N = ((1; 2) ; 1) Exemplo 6 (Loterias monetárias) Considere as loterias P, Q e R, cujos resultados são valores monetários em C � R (por exemplo: riqueza futura de um indivíduo, renda do trabalho, valor de uma carteira de investimentos) P = � $1000;�$500; $0; $2000; 1 2 ; 0; 1 4 ; 1 4 � Q = � �$1000; $500; $0; $4000; 1 3 ; 1 3 ; 0; 1 3 � R = ($2000; 1) � Nos exemplos acima, as loterias N e R são "loterias degeneradas", ou seja, elas são equivalentes ao próprio resultado que ocorre com probabilidade 1 3 1 2 L’ LOTERIA COMPOSTA (L4, L5; a4, a5) e C = {1,2,3} 1 2 Loteria reduzida = ( 1 2 , 1 4 , 1 4 ) L4 = ( 1 2 , 1 2 ,0) L5 = ( 1 2 ,0, 1 2 ) 1 3 1 3 L1 = (1,0,0) L2 = ( 1 4 , 3 8 , 3 8 ) L3 = ( 1 4 , 3 8 , 3 8 ) L LOTERIA COMPOSTA (L1, L2, L3; a1, a2, a3) e C = {1,2,3} 1 3 Loteria reduzida = ( 1 2 , 1 4 , 1 4 ) De nição 2 Loterias compostas � Seja um conjunto de K loterias Lk = � pk1; :::; p k N � ; k = 1; :::K e probabilidades �k � 0 comX �k = 1 � A loteria composta (L1; :::; LK ; �1; :::; �K) é a alternativa de risco que resulta na loteria simples Lk com probabilidade �k para k = 1; :::K: � Para qualquer loteria composta (L1; :::; LK ; �1; :::; �K), podemos cal- cular uma loteria reduzida correspondente como a loteria simples L = (p1; :::; pN) que gera a mesma distribuição sobre os resultados. O valor de cada pné obtido multiplicando-se a probabilidade de que cada loteria Lk aconteça, �k, pela prob- abilidade pkn que o resultado n apareça na loteria Lk, e depois somando tudo sobre k. Assim, a probabilidade do resultado n na loteria reduzida é: � pn = �1 � p1n + :::�K � pKn 3 Utilidade Esperada � Seja $ o conj. de todas as loterias cujos resultados são alternativas do conj. C � Seja % uma relação de preferência sobre $ que satisfaz os axiomas da completeza, transitividade e reexividade Completeza: L;M 2 $ =) L %M e/ou M % L Transitividade: L;M;N 2 $ tal que L %M e M % N =) L % N Reexividade: L = M =) L %M e M % L () L �M � Como demonstrado em Micro I, esta relação % pode ser representada por uma função utilidade U : $! R com a seguinte propriedade: dados L;M 2 $, segue que M % L, U(M) � U(L) � Cabe lembrar que M � L, U(M) > U(L) M � L, U(M) = U(L) 4 1 3 L’ LOTERIA COMPOSTA (L4, L5; α5, α6) e C = {1,2,3} 1 3 Loteria reduzida = ( 1 2 , 1 4 , 1 4 ) L4 = ( 1 2 , 1 2 ,0) L5 = ( 1 2 ,0, 1 2 ) 1 3 1 3 L1 = (1,0,0) L2 = ( 1 4 , 3 8 , 3 8 ) L3 = ( 1 4 , 3 8 , 3 8 ) L LOTERIA COMPOSTA (L1, L2, L3; α1, α2, α3) e C = {1,2,3} 1 3 Loteria reduzida = ( 1 2 , 1 4 , 1 4 ) � Relembrando Micro I, qualquer transformação monotônica estritamente crescente da função U : $ �! R também representa a relação % sobre $;ou seja, se a função F : R �! R é estritamente crescente, então a função composta V = F [U(L)] também representa a relação % sobre $ Consequência: existe um número in nito de funções utilidade representando a relação % sobre $. � Algumas funções utilidade U : $ �! R têm a forma da utilidade esperada, quando então são denominadas funções utilidade von Neumann-Morgenstern (v.N-M) � Mas o que signi ca "forma da utilidade esperada"? 5 De nição 3 Forma da Utilidade Esperada � Seja $ o conj. de todas as loterias cujos resultados são alternativas do conj. C � Seja % uma relação de preferência sobre $ representada pela função util. U : $! R � A funcão U : $ ! R tem a forma da utlidade esperada (utilidade v.N-M) quando existe uma função u : C ! R; denominada utilidade de Bernoulli, tal que para toda loteria L = (c1; c2; :::; cs; :::; cN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N) pode-se a rmar que U(L) = �1u(c1) + �2u(c2) + :::+ �su(cs) + :::+ �Nu(cN) = E[u(c)]z }| { NX s=1 �su (cs) (1) � Pelo resultado (1), a utilidade de uma loteria L é a utilidade (de Bernoulli) es- perada de seus possíveis resultados O que é a utilidade de Bernoulli? � Qual a utilidade de v.N-M da loteria degenerada (c1; 1) cujo resultado "c1" ocorre com certeza (prob. 1)? U((c1; 1)) = u (c1) � Conclusão: a utilidade de Bernoulli u : C ! R representa a relação de preferência sobre as alternativas em C. Por quê? c � c0 () (c; 1) � (c0; 1)() U((c; 1)) � U((c0; 1))() u (c) > u (c0) Isto explica por que a utilidade de Bernoulli é uma "função utilidade" 6 Exemplo 7 Sejam as loterias monetárias L = � $100; $50; $80; 1 2 ; 1 2 ; 0 � M = � $20; $100; $60; 1 4 ; 1 2 ; 1 4 � : Seja a relação de preferência % sobre o conjunto de todas as loterias monetárias Suponha que % seja representada por uma função utilidade v.N-M U(L) com utilidade de Bernoulli u (c) = ln (c) Qual a loteria escolhida? U (L) = 1 2 ln (100) + 1 2 ln (50) + 0 ln (80) = 4; 2586 U (M) = 1 4 ln (20) + 1 2 ln (100) + 1 4 ln (60) = 4; 0751 Sabe -se que L �M () U (L) > U (M) Logo, o indivíduo escolhe a loteria L 7 Multiplicidade de Representações � Seja U : $ ! R uma utilidade v.N-M representando a relação de preferência % sobre $ � Segue da teoria de Micro I que qualquer transformação monotônica estritamente crescente de U também representa a relação de preferência % � Por exemplo: as funções de utilidade V (L) = lnU (L) (2) W (L) = a+ bU (L) (3) b > 0 também representam a relação de preferência % sobre $: � Pergunta: as funções V (L) e W (L) também são funções utilidade v.N-M? As proposições abaixo respondem a esta pergunta 8 � Quando uma transformação monotônica estritamente crescente de U têm a forma da utilidade esperada? Proposição 1 Transformação A m da Função Utilidade v.N-M � Seja U : $ ! R uma utilidade v.N-M que representa % sobre $; ou seja, existe uma utilidade de Bernoulli u : C ! R tq p/ toda loteria L = (c1; c2; :::; cs; :::; cN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N); U(L) = NX s=1 �su(cs) (4) � Seja a função V : $! R de nida como V (L) = �+ �U (L) (5) onde � e � são números reais quaisquer e � > 0 � Então, pode-se provar que V : $ ! R tb é uma utilidade v.N-M que representa % sobre $, ou seja, existe uma utilidade de Bernoulli v : C ! R tq p/ toda loteria L = (c1; c2; :::; cs; :::; cN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N); V (L) = NX s=1 �sv (cs) Além disso, é possível provar que v(c) = �+ �u (c) Prova. A utilidade V : $ ! R representa % sobre $ pois é uma transformação estritamente crescente de U : $! R: Resta provar que é uma utilidade v.N-M Para tanto, seja uma loteria qq L = (c1; c2; :::; cs; :::; cN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N) Substituindo (4) em (5): V (L) = �+ �U (L) = �+ � NX s=1 �su (cs) = � NX s=1 �s + � NX s=1 �su (cs) = NX s=1 �s�+ �s�u (cs) = NX s=1 �s [�+ �u (cs)] (6) De nindo v(c) = �+ �u (c), segue de (6) que V (L) = NX s=1 �sv (cs) (7) Logo, V : $! R é uma utilidade v.N-M com utilidade de Bernoulli v : C ! R 9 � A recíproca da proposição anterior tb é verdadeira, conforme proposição adiante: Proposição 2 Transformação A m da Função Utilidade v-N.M � Sejam U : $ ! R e V : $ ! R duas utilidades v.N-M que representam % sobre $, ou seja, existem utilidades de Bernoulli u : C ! R e v : C ! R tais que p/ toda loteria L = (c1; c2; :::; cs; :::; cN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N); U(L) = NX s=1 �su (cs) V (L) = NX s=1 �sv (cs) � Então, existem números reais � e � > 0 tais que V (L) = �+ �U (L) para toda loteria L 2 $ � Além disso, segue deste resultado que v(c) = �+ �u (c) para todo resultado c 2 C � Pela proposição acima, W (L) em (3) é uma utilidade v.N-M, enquanto V (L) em (2) não é utilidade v.N-M 10 4 Teorema da Utilidade Esperada: Axioma da Independência � Seja % uma relação de preferência sobre $: � Quais as condições necessárias e su cientes para que esta relação seja representada por uma função utilidade U : $ �! R com a forma da utilidade esperada (função utilidade v.N-M) 4.1 Axioma da Independência � Axiomas comportamentais de completeza, transitividade e reexividade são su - cientes para garantir a existência de uma função utilidade U : $ �! R que repre- senta a relação de preferência % sobre $ (mais precisamente, um número in nito de funções utilidade!!!!) � Pergunta: são estes axiomas também su cientes para garantir a representação através de uma função v.N-M)? Não � Então, que outros axiomas a relação % sobre $ precisa satisfazer para que possa ser representada por uma função utilidade v.N-M? Axiomas da continuidade (apresentado em Micro I) Axioma da independência � Infomalmente, o Axioma da Independência estabelece que o "rank" entre duas loterias não é alterado quando uma terceira loteria é "misturada" com cada uma destas loterias na mesma proporção � O axioma da independência é o mais importante conceito na teoria da escolha com incerteza. � Este axioma só tem sentido econômico no caso da teoria da escolha com incerteza. � Este axioma é motivado pelo fato de que os resultados possíveis das loterias são mutuamente exclusivos 11 Exemplo 8 Axioma da independência � Teoria da escolha sem incerteza (Micro 1): Seja (x1; x2; x3) uma cesta de consumo qualquer onde x1, x2 e x3 são litros de chá, café e leite respectivamente João tem a seguinte relação de preferência: 1l cház }| { (1; 0; 0) � 1l caféz }| { (0; 1; 0) 1l chá+1l leitez }| { (1; 0; 1) � 1l cafe+1l leitez }| { (0; 1; 1) � Teoria da escolha com incerteza: Sejam as loterias L = 1l chá c/certezaz }| { (1l ch�a; 1l caf�e; 1l leite; 1; 0; 0) M = 1l café c/certezaz }| { (1l ch�a; 1l caf�e; 1l leite; 0; 1; 0) N = 1l leite c/certezaz }| { (1l ch�a; 1l caf�e; 1l leite; 0; 0; 1) Como João prefere chá a café, segue que L �M: Agora, considere as "misturas" das loterias L e M com a loteria N: P = 1 2 L+ 1 2 N = � 1l ch�a; 1l caf�e; 1l leite; 1 2 ; 0; 1 2 � Q = 1 2 M + 1 2 N = � 1l ch�a; 1l caf�e; 1l leite;0; 1 2 ; 1 2 � Como beber chá e leite são eventos mutuamente exclusivos na loteria P e beber café e leite são eventos mutuamente exclusivos na loteria Q, é razoável a rmar que: P � Q Intuição: o rank entre L e M não foi alterado quando a loteria N foi misturada com cada uma desta loterias na mesma prorporção 12 4.2 Teorema da Utilidade Esperada � Chegamos então ao mais importante teorema da teoria da escolha sob incerteza: Proposição 3 Teorema da Utilidade Esperada � Seja % uma relação de preferência sobre $ completa, transitiva e reexiva. � Esta relação pode ser representada por uma função utilidade com a forma da utilidade esperada (utilidade v.N-M) se e somente se satisfaz os axiomas da con- tinuidade e da independência � Qual a intuição da proposição acima? Seja uma loteria qualquer L = (c1; c2; :::; cs; :::; cN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N) A utilidade v.N-M da loteria L é dada por U(L) = �1u(c1) + �2u(c2) + :::+ �su(cs) + :::+ �Nu(cN) Qual a taxa marginal de substituição entre dois resultados quaisquer, digamos c1 e c2? TMgS = @U(L) @c1 @U(L) @c2 = �1 @u(c1) @c1 �2 @u(c2) @c2 Resultado interessante: TMgS entre c1 e c2 depende apenas de c1 e c2 e das probabilidades �1 e �2 Axioma da independência =) c1 e c2 eventos mutualmente exclusivos =) TMgS entre c1 e c2 deve depender apenas de c1 e c2 Representação na forma da utilidade esperada satisfaz esta condição 13
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