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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA / PUC-Rio Microeconomia II Profs. Marcos Antonio C. da Silveira e Eduardo Fiuza Bibliogra a � Varian, capítulo 12 � Avançada: Mas-Collel, A. et al, Microeconomic Theory, cap. 6 Nota de Aula 2: Teoria da Escolha com Incerteza 1 Revisão � Seja C � R um conjunto de valores monetários, onde w 2 C � Seja $ um conjunto de loterias monetárias L = (w1; w2; :::; ws; :::; wN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N) onde �s > 0 é a probabilidade do resultado ws 2 C e XN s=1 �s = 1 � Suponha que a relação de preferência % sobre o conjunto de loterias $ satisfaz os axiomas da continuidade e independência, além dos axiomas tradicionais da completeza, transitividade e reexividade � Então, pelo Teorema da Utilidade Esperada, a relação % pode ser representada por uma função v.N-M U : $ �! R (forma da utilidade esperada), ou seja, existe uma função utilidade de Bernoulli u : C �! R tal que, para toda loteria L = (w1; w2; :::; ws; :::; wN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N) 2 $ segue que U(L) = �1u(w1) + �2u(w2) + :::+ �su(ws) + :::+ �Nu(wN) = E[u(w)]z }| { NX s=1 �su (ws) (1) � Caso particular: loteria (w1; 1) que paga resultado c com certeza (prob.1) U((w1; 1)) = u(w1) � Hipótese de não saciedade (geral na literatura): u(w) é estritamente crescente, ou seja, u0(w) > 0 1 Exemplo 1 Qual a utilidade v.N-M das loterias L1 = � 100; 20; 80; 1 4 ; 1 4 ; 1 2 � L2 = (100; 1) L3 = � 200; 50; 2 3 ; 1 3 � supondo utilidade de Bernoulli u (w) = ln (w)? Segue da de nição (1): U (L1) = 1 4 ln (100) + 1 4 ln (20) + 1 2 ln (80) = 4; 09 U (L2) = ln(100) = 4; 61 U (L3) = 2 3 ln (200) + 1 3 ln (50) = 4; 84 Logo, pode-se a rmar que: L3 � L2 � L1 2 2 Aversão ao Risco � Segue uma de nição rigorosa das diferentes atitudes em relação ao risco: De nição 1 Atitudes em Relação ao Risco � Seja uma loteria monetária qualquer L = (w1; w2; :::; ws; :::; wN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N) � Seja E[w] o valor esperado dos resultados da loteria L, ou seja, E[w] = �1w1 + �2w2 + :::+ �NwN = NX s=1 �sws � Seja a loteria que paga E[w] com probabilidade 1, ou seja, (E[w]; 1) � Então, diz-se que: o agente é avesso ao risco quando L � (E[w]; 1) () U(L)z }| { NX s=1 �su (ws) < U((E[w];1))z }| { u (E (w)) o agente é propenso ao risco quando L � (E[w]; 1) () U(L)z }| { NX s=1 �su (ws) > U((E[w];1))z }| { u (E (w)) o agente é indiferente (neutro) ao risco quando L � (E[w]; 1) () U(L)z }| { NX s=1 �su (ws) = U((E[w];1))z }| { u (E (w)) 3 Exemplo 2 Seja a loteria que paga $100 com prob. 1 2 e $50 com prob. 1 2 ; ou seja, L = (100; 50; 1 2 ; 1 2 ) � Valor esperado E [w] da loteria L: E [w] = 1 2 100 + 1 2 50 = 75 � Utilidade da loteria L: U(L) = 1 2 u(100) + 1 2 u(50) � Utilidade da loteria (75; 1) que paga E [w] = 75 com certeza: U((75; 1)) = u (75) � Caso 1: utilidade de Bernoulli u(w) = ln (w) ; u00(w) < 0 implica aversão ao risco: 4; 26 = U(L)z }| { 1 2 ln(100) + 1 2 ln(50) < U((75;1))z }| { ln (75) = 4; 32() L � (75; 1) � Caso 2: utilidade de Bernoulli u(w) = exp (w) ; u00(w) > 0 implica propensão ao risco: U(L)z }| { 1 2 exp(100) + 1 2 exp(50) > U((75;1))z }| { ln (75) () L � (75; 1) � Caso 3: utilidade de Bernoulli u(w) = a+ b (w) ; b > 0; u00(w) = 0 implica indiferença ao risco: U(L)z }| { 1 2 [a+ b (100)] + 1 2 [a+ b (50)] = U((75;1))z }| { [a+ b (75)]() L � (75; 1) 4 � No exemplo anterior, a atitude em relação ao risco está relacionada ao sinal da derivada segunda da utilidade de Bernoulli Este resultado pode ser generalizado? � As três proposições abaixo estabelecem a relação entre... a atitude do agente em relação ao risco o sinal da derivada segunda da utilidade de bernoulli u(w) Proposição 1 As duas a rmações abaixo são equivalentes: 1. o agente é avesso ao risco, conforme a de nição (1) 2. a utilidade de Bernoulli u(w) é estritamente côncava, ou seja, para todo w u00(w) < 0 Prova. Ver gura 1 Proposição 2 As duas a rmações abaixo são equivalentes: 1. o agente é propenso ao risco, conforme a de nição (1) 2. a função u(w) é estritamente convexa, ou seja, para todo w u00(w) > 0 Prova. Ver gura 2 Proposição 3 As duas a rmações abaixo são equivalentes: 1. o agente é neutro ao risco, conforme a de nição (1) 2. a função u(w) é linear, ou seja, para todo w u00(w) = 0 Prova. Ver gura 3 5 100 50 E[w]=75 u(100) u(50) u(E[w])=u(75) E[u(w)]= ( ) ( ) 1 1 50 100 2 2 u u+ u(w) w ECL FIGURA 1 AVERSÃO AO RISCO Prêmio de Risco 100 50 E[w]=75 u(100) u(50) u(E[w])=u(75) E[u(w)]= ( ) ( ) 1 1 50 100 2 2 u u+ u(w) w ECL FIGURA 2 PROPENSÃO AO RISCO Prêmio de Risco (negativo) 100 50 E[w]=75 = ECL u(100) u(50) E[u(w)])= ( ) ( ) 1 1 50 100 2 2 u u+ =u(75) u(w) w FIGURA 3 NEUTRALIDADE AO RISCO 3 Equivalente-Certeza e Aversão ao Risco De nição 2 Equivalente-Certeza e Prêmio de Risco � Seja L uma loteria monetária qualquer L = (w1; w2; :::; ws; :::; wN ; �1; �2; :::; �s; :::; �N) � O equivalente-certeza da loteria L é o valor monetário EC tal que L � (EC; 1) () U(L)z }| { NX s=1 �su (ws) = U((EC;1))z }| { u (EC) (2) ou seja, o agente é indiferente entre... a loteria L e... a loteria (EC; 1) que oferece o valor monetário EC com certeza (probabili- dade 1) � O prêmio de risco S da loteria L é de nido como S = E[w]� EC onde E[w] é o valor esperado dos resultados da loteria L, ou seja, E[w] = NX s=1 �sws 6 Exemplo 3 Vamos calcular o equivalente-certeza EC e o prêmio de risco S da loteria L = (100; 50; 1 2 ; 1 2 ) que paga $100 com prob. 1 2 e $50 com prob. 1 2 : Considere as três diferentes atitudes em relação ao risco: 1. Aversão ao risco com utilidade de Bernoulli u(w) = ln (w) Equivalente-certeza: U(L)z }| { 1 2 u(100) + 1 2 u(50) = U((EC;1))z }| { u (EC) : =) 1 2 ln(100) + 1 2 ln(50) = ln (EC) =) 4; 26 = ln (EC) =) exp(4; 26) = 70; 81 = EC Prêmio de risco: E [w] = 1 2 100 + 1 2 50 = 75 S = E[w]� EC = 75� 70; 81 = 4; 19 Qual a intuição deste resultado? O agente é indiferente entre.... � loteria "com risco" L com resultado esperado E [w] = $75 � loteria "sem risco" que paga EC = $70; 81 com certeza (prob. 1) � Conclusão: agente precisa ser pago no mínimo $4; 19 "em termos de ganho esperado" para suportar risco da loteria L � Pergunta: pq é preciso pagar o agente para ele suportar risco? � Resposta: sinal positivo do prêmio de risco S reete aversão ao risco 7 2. Propensão ao risco com utilidade de Bernoulli u(w) = exp (w) Equivalente-certeza: U(L)z }| { 1 2 u(100) + 1 2 u(50) = U((EC;1))z }| { u (EC) : =) 1 2 exp(100) + 1 2 exp(50) = exp (EC) =) EC = ln � 1 2 exp(100) + 1 2 exp(50) � = 99; 31 Prêmio de risco: E [w] = 1 2 100 + 1 2 50 = 75 S = E[w]� EC = 75� 99; 31 = �24; 31 Qual a intuição deste resultado? O agente é indiferente entre.... � loteria "com risco" L com resultado esperado E [w] = $75 � loteria "sem risco" que paga EC = $99; 31 com certeza (prob. 1) � Conclusão: agente disposto a pagar no máximo $24; 31 "em termos de ganho esperado" para suportar risco da loteria L � Pergunta: pq agente está disposto a pagar para suportar risco? � Resposta: sinal negativo do prêmio de risco S reete propensão ao risco 8 3. Indiferença ao risco com utilidade de Bernoulli u(w) = w Equivalente-certeza: U(L)z }| { 1 2 u(100) + 1 2 u(50) = U((EC;1))z }| { u (EC) : =) 1 2 (100) + 1 2 (50) = EC =) 75 = EC Prêmio de risco: E [w] = 1 2 100 + 1 2 50 = 75 S = E[w]� EC = 75� 75 = 0 Qual a intuição deste resultado? O agente é indiferente entre.... � loteria "com risco" L com resultado esperado E [w] = $75 � loteria "sem risco" que paga EC = $75 com certeza (prob. 1) � Conclusão: agente indiferente em relação a duas loterias com mesmo valor esperado, mas com riscos diferentes � Pq? Sinal nulo do prêmio de risco S reete indiferença ao risco 9 � No exemplo anterior, a atitude em relação ao risco está relacionada com o sinal do prêmio de risco.Este resultado pode ser generalizado? � As três proposições abaixo estabelecem a relação entre... a atitude do agente em relação ao risco o sinal da derivada segunda da utilidade de bernoulli u(w) o sinal do prêmio de risco S Proposição 4 As três a rmações abaixo são equivalentes: 1. o agente é avesso ao risco, conforme a de nição (1) 2. a utilidade de Bernoulli u(w) é estritamente côncava, ou seja, para todo w u00(w) < 0 3. para toda loteria não degenerada L, segue que EC < E[w]() S = E[w]� EC > 0 Prova. (1) () (3): Seja uma loteria qualquer L. Como, pela hipótese de não saciedade, u(w) é estritamente crescente, segue que EC < E[w]() u (EC) < u (E[w]) (3) Segue da de nição de equivalente-certeza que u (EC) = U(L)z }| { E[u(w)] (4) Combinando os resultados (3) e (4), segue que EC < E[w]() u (EC) < u (E[w])() U(L)z }| { E[u(w)] < u (E[w]) Exemplo 4 Utilidades de Bernoulli com aversão ao risco: utilidade potência : u(w) = w 1� 1� ; > 0 =) u0(w) = w� > 0 =) u00(w) = � w� �1 < 0 utilidade logarítmica : �! 1 =) u(w) = ln(w) 10 Proposição 5 As três a rmações abaixo são equivalentes: 1. o agente é propenso ao risco, conforme a de nição (1) 2. a função u(w) é estritamente convexa, ou seja, para todo w u00(w) > 0 3. para toda loteria não degenerada L, segue que EC > E[w]() S = E[w]� EC < 0 Prova. Mesmo raciocínio da prova da proposição (4). Veri que como exercício. Exemplo 5 Utilidades de Bernoulli com propensão ao risco: u(w) = exp (� w) ; < 0 =) u0(w) = � exp (� w) > 0 =) u00(w) = 2 exp (� w) > 0 Proposição 6 Seja u(w) a função utilidade de Bernoulli de um indivíduo. As três a rmações abaixo são equivalentes: 1. o agente é neutro ao risco, conforme a de nição (1) 2. a função u(w) é linear, ou seja, para todo w u00(w) = 0 3. para toda loteria não degenerada L, segue que EC = E[w]() S = E[w]� EC = 0 Prova. Mesmo raciocínio da prova da proposição (4). Veri que como exercício Exemplo 6 Utilidades de Bernoulli com indiferença ao risco: utilidade linear : u(w) = �+ �w; � > 0 =) u0(w) = � > 0 =) u00(w) = 0 11 4 Medidas de Aversão ao Risco � Suponha dois agentes avessos ao risco. Qual deles é mais avesso ao risco? Para responder esta pergunta, é preciso uma medida matemática do grau de aversão ao risco dos agentes � Pelas proposições (1)-(3), a atitude em relação ao risco é determinada pela curvatura (sinal da derivada segunda) da utilidade de Bernoulli u (w) Logo, o valor de u00(w) é candidato natural à medida do grau de aversão ao risco � No entanto, esta medida é inadequada porque não é invariante a uma trans- formação linear estritamente crescente da utilidade de Bernoulli u(w), ou seja, v(w) = a+ bu(w); b > 0 =) v0(w) = bu0(w) =) v00(w) = bu00(w) � Para contornar este problema, as de nições abaixo sugerem as seguintes me- didas do grau de aversão ao risco: De nição 3 Coe ciente de aversão absoluta ao risco (CAAR) de Arrow-Pratt: rA (w) = �u 00(w) u0(w) (5) De nição 4 Coe ciente de aversão relativa ao risco (CARR) de Arrow-Pratt: rR (w) = �u 00(w)w u0(w) � Suponha hipótese de não saciedade: u0(w) > 0 aversão ao risco: u00(w) < 0 =) rA (w) > 0; rR (w) > 0 propensão ao risco: u00(w) > 0 =) rA (w) < 0; rR (w) < 0 indiferença ao risco: u00(w) = 0 =) rA (w) = 0; rR (w) = 0 12 � Para toda função u(w), segue que: rA (w) = �u 00(w) u0(w) rR (w) = �u 00(w)w u0(w) rR (w) = wrA (w) � Coe cientes de Arrow-Pratt invariantes a uma transformação linear estrita- mente crescente da utilidade de Bernoulli: v(w) = a+ bu(w); b > 0 =) rA (w) = �v 00(w) v0(w) = �bu 00(w) bu0(w) = �u 00(w) u0(w) = rA (w) rR (w) = �v 00(w)w v0(w) = �bu 00(w)w bu0(w) = �u 00(w)w u0(w) = rR (w) � Coe cientes de Arrow-Pratt são medidas locais de aversão ao risco: CAAR rA (w) e CARR rR (w) podem ser constantes, crescentes ou decres- centes com w : @rA (w) @w Q 0; @rR (w) @w Q 0 13 4.1 Coe ciente de Aversão Relativa ao Risco de Arrow Pratt (CARR) � Proposição abaixo estabelece intuição do CARR de Arrow-Pratt: Proposição 7 Suponha um choque multiplicativo na riqueza corrente w de um agente, de forma que sua riqueza futura wf é dada por wf = � w (1 + ") ; com probabilidade 1 2 w (1� ") ; com probabilidade 1 2 ; A esperança e a variância de wf são dadas por E [wf ] = 1 2 w (1 + ") + 1 2 w (1� ") = w V AR [wf ] = 1 2 (w (1 + ")� E [wf ])2 + 1 2 (w (1� ")� E [wf ])2 = w2"2 Então, pode-se provar que S w = w � EC w ' rR (w) "2 (6) � Dados nanceiros p/ economia norte-americana consistentes c/ hipótese de rR (w) constante c/ riqueza, ou seja, @rR (w) @w = 0 Exemplo 7 CARR de Arrow Pratt: utilidade linear : u(w) = �+ �w; � > 0 =) rR(w) = 0 utilidade quadrática : u(w) = �+ �w + w2 =) rR(w) = � 2 w � + 2 w utilidade exponencial : u(w) = � exp (� w) ; > 0 =) rR(w) = w utilidade potência : u(w) = w 1� 1� ; > 0 =) rR(w) = 14
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