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1. Diabetes Melito - Introdução → DM representa um grupo de doenças metabólicas com diversas etiologias, caracterizado por hiperglicemia, que resulta de uma secreção deficiente de insulina pelas céls B, resistência periférica à ação da insulina ou ambas em maior ou menor grau. ➔ Duas principais etiologias: DMT2 (90-95% dos casos) e DMT1 (5-10% dos casos). Hiperglicemia crônica do diabetes frequentemente está associada a dano, disfunção e insuficiência de vários órgãos, principalmente olhos, rins, coração e vasos sanguíneos. → A crescente prevalência de Dm em todo o mundo é motivada por uma complexa interação de fatores socioeconômicos, demográficos, ambientais e genéticos. Aumento contínuo se deve em grande parte ao aumento da DMT2 e fatores de risco relacionados que incluem crescente urbanização e mudanças de hábitos de vida (maior ingestão calórica, aumento do consumo de alimentos processados, estilos de vida sedentários, níveis crescentes de obesidade. Prevalência de Dm na área urbana é de 10,8% e nas áreas rurais é de 7,2%, mas a lacuna está se aproximando, com a prevalência rural em ascensão. → 35-50% dos casos de DMT2 são assintomáticos ou oligossintomáticos, assim, em geral, diagnóstico é feito tardiamente, com atraso estimado de pelo menos 4-7 anos. Assim, não raro, complicações macro e microvasculares estão presentes quando há detecção inicial da hiperglicemia. Diabéticos apresentam elevada morbidade (perda de visão, insuficiência renal em estágio terminal, amputação não traumática dos MMII, IAM, AVE etc.), redução na expectativa de vida e mortalidade 2-3x maior. Evolução indesejada poderia ser amenizada ou parcialmente evitada por meio do diagnóstico e tratamento precoces da doença e de suas complicações. - Classificação →Classificação proposta pela American Diabetes Association (ADA) é baseada na etiologia e pode ser dividida em categorias gerais. ➔ DM1: pode ser autoimune ou muito raramente idiopático; destruição das células beta pancreáticas, resultando em deficiência absoluta de insulina. ➔ DM2: resultante de perda progressiva da secreção adequada de insulina pelas céls B, frequentemente precedida de resistência insulínica. ➔ DM gestacional: diagnosticada durante a gravidez, geralmente a partir da 24ª semana. ➔ Tipos específicos de DM devido a outras causas: síndromes monogênicas de diabetes (diabetes melito neonatal e diabetes da maturidade dos jovens), doenças do pâncreas exócrino (pancreatite, fibrose cística, carcinoma, etc.), DM induzida por fármacos (glicocorticoides, antipsicóticos atípicos, estatinas) ou outros produtos químicos. - Diferenciação entre DM1 e DM2 →Relativamente simples e se baseia em dados clínicos e epidemiológicos. →DM1 geralmente surge na infância e adolescência enquanto DM2 predomina em adultos com excesso de peso e idade > 30-40 ano. → Classificação é importante para definir terapia, mas muitos pctes não são claramente definidos como DM1 ou DM2 no momento do diagnóstico. Os sintomas clássicos da DM1 (poliúria, polidipsia e polifagia) estão presentes em praticamente todos os casos. Em contraste, muitos pacientes com DM2 são assintomáticos ou oligossintomáticos, sendo diagnosticados ao acaso em exames de rotina. Entretanto, tanto DM1 quanto DM2 são doenças heterogêneas, nas quais a apresentação clínica e a progressão podem variar consideravelmente. →Quando DM1 tem início da vida adulta, sintomas não se apresenta de forma clássica; ocasionalmente pacientes DM2 podem ter cetoacidose diabética (CAD) como manifestação inicial. →Em casos duvidosos, o diagnóstico se confirma pela dosagem de autoanticorpos contra antígenos da Cel B e do peptídeo C. →Ocorrência de agregação familiar do diabetes é mais comum no DM2, mas estudos recentes descrevem uma prevalência 2x maior de DM1 em família com DM2, sugerindo possível interação genética entre os dois tipos. • Diabetes melito tipo 1 →5-10% dos casos e é causado por deficiência absoluta de insulina, consequente à destruição autoimune ou, bem mais raramente, idiopática das células B pancreáticas. → Tipicamente pcts com DM1 têm IMC normal, mas presença de sobrepeso e obesidade não exclui diagnóstico devido a prevalência crescente dessas condições em todas as faixas etárias. Característica marcante de pctes com DM1 é a tendência à CAD e a invariável necessidade de insulinoterapia como tratamento. CAD pode ser manifestação inicial da doença em até 1/3 doas adultos e até 2/3 das crianças. Quanto menor a idade, maior o risco de CAD. →Predomina em crianças e adolescentes (pico entre 10- 14 anos), mas pode surgir em qualquer idade, inclusive em octogenários. - Patogênese da DM1 →DM1A: destruição autoimune indolente das céls B. Acredita-se que o processo seja desencadeado pela agressão das células Beta por fator ambiental (sobretudo infecções virais) em indivíduos geneticamente suscetíveis. →Polimorfismos no complexo antígeno leucocitário humano (HLA), localizado no cromossomo 6, são responsáveis pela maior suscetibilidade genética para o DM1, seguidos de polimorfismo do gene da insulina e no gene de uma fosfatase específica dos linfócitos (PTPN22). Somente 5% dos indivíduos com alelos de alto risco desenvolvem DM1, ressaltando a importância de outros fatores genéticos e não genéticos. →Agressão inicial das céls B ocorre indiretamente; anticorpos produzidos contra antígenos virais acabam lesionando as céls B devido ao mimetismo molecular entre antígenos virais e antígenos dessas células. Velocidade de destruição é muito variável, sendo mais rápido em crianças e mais lenta em adultos. Hiperglicemia permanente se manifesta quando 90% das ilhotas são destruídas. →Alguns anticorpos são identificados como marcadores de destruição das céls B, os principais: ➔ Anticorpo anti-ilhotas (ICA); ➔ Anticorpo anti-insulina (IAA); ➔ Antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti- GAD); ➔ Antitirosinofosfatases (IA-2 e IA-2B)); ➔ Antitransportador de zinco 8 (anti Znt8); →Em crianças com menos de 10 anos, IAA podem preceder os demais anticorpos. Anti-Znt8 eventualmente pode ser o único anticorpo positivo. Adultos que desenvolvem DM1, anti-GAD tem maior sensibilidade. →Estudos indicam que medição de ICA em familiares de pessoas com DM1 pode identificar indivíduos em risco de desenvolver a doença. Na predição do desenvolvimento da doença me jovens, nº de anticorpos positivos parece ser mais importante que os títulos. *Estudo com 585 crianças com dois anticorpos positivos, quase 70% desenvolveu DM1 em 10 anos e 84% em 15 anos. →Fatores ambientais: infecções virais (rubéola congênita, enterovírus, parotidite e sarampo), deficiência de vitamina D e exposição precoce ao leite bovino e ao trigo. Apenas papel da rubéola e enterovírus está confirmado. →10-15% das crianças diagnosticadas têm história familiar em parentes de 1º grau. Risco é maior quando o pai é afetado, em comparação com a mãe. Concordância média entre gêmeos homozigotos é cerca de 59%, o que reforça a importância de fatores não genéticos →DM1 idiopático (DM1B) representa 4-7% dos pctes com DM1 recém diagnosticados e inclui casos de deficiência absoluta de insulina que não são imunomediados. É fortemente herdada e não é relacionada ao HLA. Esses indivíduos cursam com cetoacidose episódica e apresentam diferentes graus de deficiência de insulina entre os episódios. Maioria dos pacientes tem descendência africana ou asiática. Patogênese da deficiência de insulina não é conhecida, já foi relatado que mutações no gene da insulina podem ser, ocasionalmente, encontradas em crianças e jovens com DM1B. - Etiologia → Pode ter herança monogênica ou, + frequente, poligênica. Monogênica pode se apresentar isoladamente ou associada a duas condições:síndrome poliglandular autoimune do tipo I (SPA-1) e a síndrome IPEX (desregulação imune, poliendocrinopatia, enteropatia ligadas ao X). →SPA-1: ou APECED, é rara, transmissão autossômica recessiva, associada a mutações no gene AIRE (regulador autoimune), resultando em proteína defeituosa que é essencial para de mecanismos de imunotolerância. Proporção Homens/Mulheres varia de 0,8-2,4. Diagnóstico: 2 de 3 critérios; 1) candidíase mucocutânea crônica (CMC), 2) Hipoparatireoidismo (HPT) e 3) Insuficiência adrenal primária (IAP). →Síndrome IPEX: muito rara; resulta de mutações do gene FoxP3 que controla desenvolvimento de células T regulatórias. Na ausência dessas células, que desligam as células T patogênicas, aproximadamente 80% das crianças com a síndrome desenvolvem DM1 e pode se manifestar já ao nascimento, mas é comum que se manifesta no período neonatal. Maioria das crianças morre precocemente. Pode ser revertida com transplante de medula óssea. →No diagnóstico diferencial do DM1, é preciso lembrar que 50% das crianças com DMN (neonatal) permanente têm uma mutação da molécula Kir6.2 do receptor das sulfonilureias. É condição não autoimune que se diferencia do DM associado à IPEX por não cursar com autoanticorpos contra a cél B e por responder ao tratamento oral com sulfonilureias. →Forma poligênica do DM1A tem fortes associações com genes ligados ao HLA. Nesse contexto, DM1 é um dos principais componentes da SPA-2 e SPA-3. • DM autoimune latente em adultos →LADA é forma de DM autoimune em que a velocidade de destruição das céls B é mais lenta que na DM1. Em geral, diagnóstico ocorre entre 30-50 anos, independentemente do uso de insulina, e apresenta características mais semelhantes ao DM2. É, assim, forma híbrida de DM com características do DM1 (marcadores de autoimunidade) e DM2 (excesso de peso e resistência à insulina). 3-12% dos casos de Dm em adultos, é mais frequente na Europa. →Sociedade de Imunologia do Diabetes (IDS) define LADA pelo início de diabetes na idade adulta (>30 anos), independência de insulina por pelo menos 6 meses após o diagnóstico e presença de pelo menos um autoanticorpo contra céls B, independente da especificidade do título, número ou epítopo. Entretanto, definição exata ainda está em debate. →Grupo definido como LADA é extremamente heterogêneo genética, fenotípica e imunologicamente quanto às características, com ampla variabilidade na taxa de destruição das céls B, resistência à insulina e autoimunidade devido a fatores genéticos e imunológicos. Assim, LADA continua sendo despercebida no contexto clínico, com alta taxa de erro diagnóstico (5-10%), sendo diagnosticado como DM2. →Estudos genéticos sugerem que LADA apresenta características tanto do DM1 quanto DM2, apoiando o conceito de que pode ser considerada mistura dos dois tipos, mas ainda carece de mais estudos. →Anti-GAD é marcador mais sensível no LADA, (90% dos casos). Anti-IAA, anti-IA-2 e anti-Znt8A, frequentes no DM1 recente, são menos prevalentes. • Diabetes Melito tipo 2 →Surge após 40 anos; 80% dos pcts são obesos. Nos últimos anos tem sido observada com frequência nos mais jovens. Em alguns países (EUA, Canadá, Japão) tem ocorrido aumento quase exponencial da incidência em crianças e adolescentes obesos, sendo de quase 10x na última década. 70-90% dos pctes com DM2 têm também síndrome metabólica, caracterizada por aglomerado de fatores que implicam risco cardiovascular elevado (dislipidemia, obesidade abdominal, resistência insulínica, tolerância alterada à glicose ou diabetes e hipertensão). →Síndrome hiperosmolar hiperglicêmica (SHH) é a complicação aguda clássica do DM2 e implica elevada mortalidade. Em alguns países, 1/3 dos casos de CAD ocorrem em pctes com DM2. CAD é tipicamente a manifestação inicial do DM2 com tendência à cetose. - Patogênese →Principais mecanismos que levam à hiperglicemia noi DM2: ➔ Resistência periférica à ação insulínica nos adipócitos e, principalmente, no músculo esquelético. ➔ Secreção deficiente de insulina pelo pâncreas. ➔ Aumento da produção hepática de glicose, resultante da resistência insulínica no fígado. →Outros componentes desempenham papel importante: o adipócito (lipólise acelerada), o TGI (deficiência/resistência incretínica), céls alfa pancreáticas (hiperglucagonemia), o rim (reabsorção aumentada de glicose pelos túbulos renais) e o cérebro (resistência à insulina). Coletivamente, esses componentes foram chamados por octeto ominosos de DeFronzo. Alterações da microbiota intestinal também contribuem para surgimento de resistência insulínica e DM2. -Fatores de risco →Obesidade é o mais importante (sobretudo aquela com distribuição predominantemente abdominal de gordura. Em geral, quanto maior a circunferência abdominal e o IMC, maior o risco para DM2 cuja incidência é 5x maior em pctes com Sd metabólica em comparação a grupo de pctes sem a sd. →Sedentearismo, história familiar de DM2 (principalmente de 1º grau, predisposição maior que DM1)), idade > 40 anos, SOP e DMG prévio também são fatores. Tabagismo implica risco aumentado para DM2, o inverso acontecendo em relação a DM1 e LADA. Há evidência que o consumo crônico de café diminua o risco para DM2. Entre os indivíduos mais suscetíveis, risco para DM2 pode ser diminuído coma adoção de estilo de vida mais saudável (dieta /exercício). →Crianças PIG têm risco aumentado de desenvolver, na idade adulta, Sd metabólica e DM2. Desnutrição intrauterina causa alterações metabólicas que alteram os mecanismos reguladores da tolerância a carboidratos, aumentando a disponibilidade de nutrientes com benefício a curto prazo, mas essas adaptações poupadoras de glicose ficariam permanentes, levando a aumento da resistência insulínica. Essa hipótese é chamada de fenótipo econômico. →Crianças de gestantes com DMG também tem risco aumentado para DM2. -DM2 com tendência à cetose (DM2TC) →Nos EUA têm sido descritos pctes na maioria negros ou hispânicos e obesos que apresentam CAD como manifestação inicial do DM, sem aparente fator precipitante, com evolução atípica e com interrupção de insulinoterapia em poucos meses e o tratamento pode ser feito com hipoglicemiante oral e, eventualmente, só dieta. Têm pesquisa de autoanticorpo negativa, porém com antígenos HLA classe II DRB1*03 ou DRB1*04 frequentemente presentes. →Essa variante de DM já foi chamada de DM atípico, Flatbush, tipo 1,5 e mais recentemente DM com tendência à cetose, não está incorporada na classificação da ADA da OMS. É considerada subgrupo do DM2TC que engloba grupo heterogêneo de pctes, classificados pelo sistema Abeta conforme presença ou não de anticorpos (A), especialmente anti-GAD65 e anti-IA2 (A+ ou A-, respectivamente) e a reserva funcional das céls B, avaliada pela dosagem de peptídeo C em jejum e após estímulo com 1mg de glucagon (Beta+ ou Beta- ). Essa avaliação deve ser feita 1-3 semanas após resolução da CAD. → Portadores de DM2TC pertencem ao subgrupo A- Beta+, caracterizado por ausência de anticorpos e presença da função de céls Beta (peptídeo C em jejum >ou= 1ng/mL ou pico após estímulo com glucagon >ou= 1,5ng/mL). Antígeno HLA Classe II DRB1803 e/ou DRN1*04 estão frequentemente presentes. Esses pctes geralmente são obesos, com idade média de 4 anos (33-53) sendo maioria negros ou hispânicos. É mais comum no sexo masculino (2:1-8:1) Fisiopatologia não está bem esclarecida; é provável que haja participação importante da glicotoxicidade; papel da lipotoxicidade permanece controverso. • Defeitos genéticos da função da cél B Se enquadram os DM monogênicios, sobretudo DM do adulto no jovem (MODY – maturity onset diabetes of the young) e DMN.1) MODY →Critérios clássicos incluem idade de início < 25 anos em pelo menos um mebro da família presença de diabetes em duas gerações consecutivas, ausência de anticorpos da cél B, ausência de sinal de resistência à insulina e secreção endógena de insulina sustentada evidenciada por peptídeo C detectável (>0,6 ng/dL) após 5 anos do diagnóstico de DM. - Etiologia →Mutações nos genes envolvidos no desenvolvimento e função das céls B. Herança mais frequente é autossômica dominante. É geneticamente heterogêneo, bastante subdiagnosticado. →Identificadas mutações inativadoras em pelo menos 14 genes, resultando em 14 subtipos de MODY que diferem na apresentação clínica (idade de início e padrão hiperglicêmico), manifestações extrapancreáticas, risco de complicações microvasculares e forma de tratamento. →MODY 3, mutação no gene do fator hepatocítico nuclear 1alfa (HNF-1alfa), MODY 2, mutação no gene da glicoquinase (GCK), e MODY 1, mutação no gene do fator hepatocítico nuclear 4alfa (HNF-4alfa) respondem por 85% dos casos -Epidemiologia →Prevalência mínima estimada de 3,5 em pctes com DM e idade < 30 anos. Estimado que cerca de 5% de pctes com DM2 e até 10% com DM1 tenham MODY. NO Brasil, exite descrição de algumas famílias portadoras das formas MODY 2 e 3, sendo 1 o menos comum desses três. - Características clínicas →Há sobreposição de traços do DM1 e 2, principalmente no início. Maioria tem peso normal. MODY 3 e 1 defeito secretório de insulina e a hiperglicemia tende a se agravar com o tempo e muitos pctes requerem hipoglicemiantes orais ou insulina. Glicosúria renal (anterior à hiperglicemia), baixos níveis de proteína C reativa ultrassensível e risco cardiovascular aumentado (a despeito dos níveis aumentados de HDL) são características do MODY3. São comuns doença renal do diabetes e a retinopatia diabética. Pctes com MODY 2 têm hiperglicemia leve, assintomática e estável; complicação microvascular é rara, quase não precisam de tto farmacológico. Pcte com MODY5 pode apresentar anormalidades renais (cistos; aplasia, displasia ou agenesia; rins em ferradura; doença renal crônica) e urogenitais (útero bicorno, atresia dos vasos deferentes; hemiútero etc.), testes anormais da função hepática, hiperuricemia e hipomagnesemia. →Diagnóstico: teste genético por sequenciação direta do gene. Laboratórios de alguns países oferecem testes clínicos (principalmente para mutações nos genes HNF- 4alfa, HNF-1alfa e da glicoquinase). Testes genéticos só devem ser realizados após consentimento informado e aconselhamento genético. 2) Diabetes Melito Neonatal (DMN) →Hiperglicemia mantida com início antes dos 6 meses de idade. Pode ser permanente ou transitório, quando entra em remissão nos primeiros anos da infância, embora haja possibilidade de recorrer tardiamente. Mais de 20 genes já forma relacionados ao DMN. Entre os casos permanentes, 1/3 é causado por mutações no gene KCNJ11 cujos pcts respondem bem a sulfonilureias. • Outros tipos específicos → DM associado à surdez também pode decorrer de mutações em ponto no DNA mitocondrial. Mutação mais comum é no gene da leucina tRNA, levando a transição A-para-G. Lesão idêntica é vista na Sd MELAS (miopatia mitocondrial, encefalopatia, acidose láctica e Sd AVC-símile). DM não faz parte dessa síndrome, o que sugere diferentes expressões fenotípicas da lesão genética. →Anormalidades genéticas que resultem na incapacidade de conversão de proinsulina em insulina ou na produção de moléculas mutantes de insulina são outras raras causas de intolerância à glicose e diabetes. Produção de moléculas mutantes com consequente alteração na ligação do receptor também foi identificada em algumas poucas famílias. Tem herança autossômica e cursa com metabolismo de glicose apenas discretamente alterado ou até mesmo normal. 1) Mutações no receptor insulínico →+ de 70 mutações no receptor já foram descritas; anormalidades metabólicas podem varias de hiperinsulinemia e hiperglicemia leve a diabetes grave. Pode haver acantose nigricans, a exemplo de outras condições que cursam com resistência insulínica grave. Em mulheres pode haver virilização e cistos ovarianos. Leprechaunismo (Sd de Donohue) e a Sd de Rabson-Mendenhall são duas sd pediátricas associadas a mutações nesse gene, com subsequente alteração da função do receptor e resistência insulínica extrema. A primeira cursa com aspectos faciais característicos e costuma ser fatal na infância. A ultima vem acompanhada de anormalidades em dentes e unhas + hiperplasia da pineal. 2) Diabetes Lipoatrófico →Resistência insulínica grave e hiperinsulinemia associadas a lipoatrofia, Lipodistrofia, DM e hipertrigliceridemia. →Lipodistrofia generalizada congênita (LGC) ou Sd de Berardinelli-Seip é rara doença autossômica recessiva, afeta igualmente os sexos e estima-se que a cada 4 casos existentes, apenas 1 é relatado. Se caracteriza por hipoleptinemia e ausência total ou quase total de tecido adiposo, incluindo subcutâneo e cavidades abdominal e torácica com desenvolvimento de complicações metabólicas mais tarde, como D, hipertrigliceridemia e esteatose hepática. →Existem 4 tipos distintos com mutação em 4 genes diferentes sendo que cada um codifica proteínas que desempenham importantes funções na homeostase lipídica, regulando síntese de triglicerídeos, formação da gotícula de gordura e diferenciação de adipócitos. Genes AGPAT2 e BSCL (LGC 1 e2) representam 95% de todos os casos. →Indivíduos acometidos apresentam manifestações clínicas das doenças ao nascimento ou logo nos primeiros anos de vida. Escassez de tecido adiposo subcutâneo confere aparência musculosa característica (pseudo-hipertrofia muscular) com proeminência das veias subcutâneas superficiais (flebomegalia). →Outros achados típicos: fácies acromegálica, aumento de extremidades, acantose nigricans, organomegalias (fígado e baço), hérnia umbilical, crescimento linear acelerado, apetite voraz (devido a hipoleptinemia) e avanço de idade óssea. →Hirsutismo, clitoromegalia, pubarca e menarca precoces, irregularidade menstrual e SOP podem estar evidentes no sexo feminino. →Durante a evolução, pcte apresenta hipertrigliceridemia (pode ser grave e levar a vários episódios de pancreatite), resistência à insulina e DM de difícil controle, resultando em morbimortalidade prematura. →A Lipodistrofia parcial familiar (Sd de Dunningan ou de Kobberling-Dunningan) é menos rara que LGC, se manifesta por liproatrofia parcial, com acúmulo de gordura na face e vulva, de herança autossômica dominante e é causada por mutações no gene laamin A/C (ou LMNA). 2. Diagnóstico 2.1 Clínico → Sintomas clássicos da DM (poliúria, polidipsia e polifagia associadas à perda ponderal) são mais característicos do DM1, mas obesidade não descarta esse diagnóstico. →No DM2, 40-50% dos pctes desconhecem o diagnóstico por serem assintomáticos ou oligossintomáticos, apresentando sintomas inespecíficos como tonturas, dificuldade visual, astenia e/ou câimbras. Vulvovaginite de repetição e disfunção erétil podem ser sintomas iniciais. 80% dos pacientes têm excesso de peso. 2.2 Laboratorial →A menos que haja diagnóstico clínico claro (pcte em crise hiperglicêmica ou com sintoma clássico de hiperglicemia e glicose plasmática aleatória > 200mg/dL) o diagnóstico requer dois resultados anormais de GJ, HbA1c ou glicemia de 2 horas o TOTG da mesma amostra ou em duas amostras de teste separadas. Se resultado discordante entre 2 testes, repetir o teste que estiver acima do valor do ponto de corte para diagnóstico. - Glicemia →GJ representa meio mais prático de avaliar o status glicêmico; dois valores superiores ou iguais a 126mg/dl, obtidos em dias diferentes, são suficientespara estabelecer o diagnóstico de DM. Entre 100-125 caracteriza GJ alterada. Nessa situação. Submeter a TOTG. →Hiperglicemia inequívoca (GJ>250-300 mg/dl) com descompensação metabólica aguda ou sintomas óbvios de Dm torna desnecessária a repetição do exame. -Teste oral de tolerância à glicose →Coleta-se amostra de sangue para dosagem da GJ, administra-se 75g de glicose anidra (82,5 g de glicose monoidratada [Dextrosol]), dissolvidos em 250-300 ml de água. Após 2hrs, obtém nova amostra para medir glicemia. →Em crianças, sobrecarga de glicose deve ser de 1,75 g/Kg, até no máximo 75g. TOTG deve ser realizado pela manhã, após 8-14hrs de jejum e pelo menos 3 dias de dieta sem restrição de carboidratos (ingestão superior a 150g/dia). - Interpretação →Níveis de glicemia de 2hrs: 1) < 140mg/dl: tolerância normal à glicose. 2) Entre 140 e 199 mg/dl: tolerância diminuída à glicose. 3) > ou igual 200 mg/dl: Diabetes melito. →Tolerância diminuída à glicose e glicemia de jejum alterada caracteriza pré-diabetes; situação com risco elevado de progressão para diabetes. →Como TOTG tem baixa reprodutibilidade, sua indicação é limitada a situações específicas, sobretudo diagnóstico de DMG e pctes com GJ alterada. Representa melhor opção para diagnóstico do DM pós- transplante. - Hemoglobina glicada →Representa de 4-6% da Hb total. Produto da reação não enzimática entre glicose sanguínea e grupo aminoterminal de um resíduo de valina na cadeia beta da Hb a partir de uma reação não enzimática, irreversível e de intensidade diretamente proporcional à glicemia. Valores refletem amédia das glicemias durante os últimos 2-3 eses, que é o tempo de sobrevida das hemácias. Quanto maior a [glicose] plasmática e maior operíodo de contato, maior a porcentagem de HbA1c. →Embora considerada representativa da média ponderada global das glicemias médias diárias durante últimos 2-3 meses, modelos teóricos e estudos sugerem que pctes com controle estável 50% da HbA1c são formados no mês precedente ao exame; 25% no mês anterior a este e os 25% restantes no 3º ou 4º mês antes do exame. ➔ Acurácia →HbA1c é padrão-ouro na avaliação do controle glicêmico, devendo ser realizada a cada 3-4 meses. ADA recomenda como meta HbA1c < 7% (53nmol/mol); valores acima implicam elevação progressiva no risco para complicações micro e macro vasculares, aumento nas mortalidades cardiovasculares, por DAC e por todas as causas. Cada redução de 1% no valor absoluto da A1C diminui em 35% o risco de complicações microvasculares. →Na avaliação do tto, dosagem deve ser realizada duas vezes por ano em pctes com controle glicêmico estável e dentro dos objetivos do tto. Avaliação mais frequente (a cada 3-4 meses) está indicada quando o controle ideal não tiver sido alcançado. →Recomenda-se que indivíduos com HbA1c > 6,5% já sejam considerados diabéticos, o que se baseia no maior risco de ocorrência de retinopatia diabética a partir desse valor. Pctes com valores entre 5,7 e 6,4% têm elevado risco de progredir para DM e poderiam também ser considerados pré-diabéticos. Para validar o achado é preciso que a dosagem seja feita em laboratório que use método certificado pelo NGSP. ➔ Interpretação →É necessário considerar inúmeros fatores: métodp laboratorial, sendo o padrão ouro o utilizado no DCCT (HPLC – cromatografia líquida de alta eficiência). Ao usar HbA1c para diagnóstico de DM, é importante reconhecer que é uma medida indireta dos níveis médios de glicose no sangue e levar em consideração outros fatores que podem afetar a glicação da hemoglobina independentemente da glicemia. → Situações que encurtam a sobrevida de hemácias (anemia hemolítica e estados hemorrágicos) resultam em valores inapropriadamente baixos, enquanto os que aumentam a sobrevida (anemias por carência de ferro, vitamina B12 ou folato) cursam com aumento inapropriado. → Altas doses de vit C e E levam a resultados falsamente diminuídos, por inibir glicação da hemoglobina, enquanto uremia, hipertrigliceridemia, alcoolismo crônico, uso crônico de salicilatos e opiáceos, por interferência na metodologia, resulta em valores falsamente elevados. →Outros fatores que alteram glicação: tto para HIV, idade, raça, etnia, gravidez (2º e 3º trimestres). → Qualificação da HbA1c não deve ser feita em pctes com hemoglobinopatias, principalmente as formas homozigotas. Nesse caso é mais recomendado avaliar controle glicêmico pela frutosamina. →Há diferenças étnico-raciais que influenciam capacidade de glicação da Hb. Níveis de HbA1c ao diagnóstico eram menores em brancos do que em negros e hispânicos independente de condição socioeconômica. - Frutosamina → Proteína glicada, constituída principalmente por albumina; reflete controle glicêmico nos últimos 7-14 dias (meia vida da albumina: 14-20 dias). Sua determinação não deve ser considerada equivalente à de HbA1c, embora haja correlação entre os parâmetros. →Medida pode ser método alternativo em pctes que tenham condições que alterem os valores da HbA1c pu se quiser avaliar mudanças a curto prazo (como durante a gravidez). Papel como valor preditivo para desenvolvimento de complicações do DM ainda não é determinado. -Glicosúria →Tem baixa sensibilidade diagnóstica, pois costuma surgir apenas com glicemias > 180 mg/dl. →Pode ocorrer na ausência de DM: gravidez (até 50% das gestantes), tubulopatias renais, IRC e glicosúria renal familiar (condição benigna, assintomática e autossômica recessiva, na qual glicose aparece na urina, a despeito da normoglicemia, resulta de mutações no gene SLC5A2, que codifica o cotrasnportador de sódio/glicose-2 [SGLT-2]). -Pesquisa de corpos cetônicos →Pcte com Dm e hiperglicemia, achado de cetonemia e cetonúria é característico de CAD, situação potencialmente grave que requer intervenção imediata. Maioria dos testes usa método nitroprussiato que fornece estimativa semiquantitativa dos níveis de acetoacetato e acetona no sangue e urina, mas não reconhece o Beta-hidroxibutirato (Beta-OHB), principal produto metabólico na CAD (75% do total). Para o diagnóstico de CAD e durante seu tratamento, ideal é dosagem de Beta-OHB no sangue capilar, obtida com glicosímetros mais recentes. Níveis > 3mmol/l indicam CAD. →Corpos cetônicos na urina durante o jejum ocorrem em mais de 30% dos indivíduos normais na 1ª urina da manhã e que resultados falso-positivod podem ocorrer com uso de medicamentos que contenham grupo sulfidrila (captopril). Resultados falso-negativos: se urina ficar exposta ao ao por longo período ou se for muito ácida (após ingestão de muita vit C). - Dosagem do peptídeo C →Analisa capacidade secretória do pâncreas. Peptídeo C é secretado na circulaão porta em concentrações equimolares com a insulin, sendo ambos originados da clivagem da pro-insulina. →Método mais utilizado é dosagem do peptídeo C basal e 6min após injeção intravenosa de 1 mg de glucagon. Pctes com DM1 têm valores médios de 0,35 ng/ml no basal e de 0,5 ng/ml após estímulo. NO DM2, valores ão de 2,1 e de 3,3, respectivamente. →Ponto de corte para classificar pctes: >0,9 ng/ml no basal e > 1,8 ng/ml após estímulo o que confirma DM2. Valores menores confirmam DM1. -Dosagem de anticorpos contra célula beta →Encontrados no DM1 e LADA. Dosagem permite distinção dessas condições com o DM2. Autoanticorpo de maior utilidade é o anti-GAD65, presente em cerca de 80% dos casos de DM1 de instalação recente e detectado em 50% dos pctes após 10 anos do diagnóstico. →Outros autoanticorpos (ICA, IAA, IA-2 e anti-Znt8A) são encontrados em cerca de 70-80% dos pctes com DM1 logo após o diagnóstico, mas tendem a desaparecer após 2-3 anos de duração. Eventualmente anti-Znt8A pode ser o único anticorpo positivo e sua não determinação pode levarao errôneo diagnóstico de DM1 idiopático. 3. Rastreamento →Entre os assintomáticos, DM deve ser pesquisado naqueles com idade > 45 anos ou nos mais jovens caso haja fatores que os tornem suscetíveis à doença (IMC > ou igual a 25kg/m2, HAS, história familiar de DM, dislipidemia, diagnótico prévio de DMG etc.). →Dados recentes destacam DM2 como uma das principais causas da doença hepática gordurosa não alcóolica (esteatose ou esteato-hepatite) encontrada em até 60% ou mais dos diabéticos tipo 2. Assim, na presença de snais na US sugestivos de esteatose hepática é prudente pesquisa de DM2. →Fármacos como glicocorticoides, diuréticos tiazídicos, medicamentos para HIV e antipsicóticos atípicos são conhecidos por aumentar o risco de DM e indivíduos que fazem uso devem ser pesquisados. →Pctes com fibrose cística, recomenda-se triagem anual para diabetes, com TOTG a partir dos 10 anos de idade. HbA1c não é recomendada como teste de triagem nesses casos. Pctes submetidos a transplante de órgãos deve m passar por triagem para DM, com TOTG, quando estiver estável em um regime imunossupressor e na ausência de infecção aguda. →Em crianças, DM2 deve ser pesquisado bianualmente, a partir dos 10 anos ou início da puberdade, quando houver sobrepeso e 2 ou + dos seguintes fatores de risco: 1) História familiar de DM2 em parente de 1º e 2º grau; 2) Determinadas raças ou etnias (índios norte- americanos, negros, latino-americanos); 3) Sinais de resistência insulínica ou condições associadas a resistência insulínica (acantose nigricans, HAS, dislipidemia, SOP ou RN PIG. 4) História materna de DM ou DMG na gestação da criança; →Rins também contribuem para hiperglicemia no DM2: aumento da atividade dos transportadores sódio e glicose 2 (SGLT-2) nos túbulos proximais, que são responsáveis pela reabsorção de 90% da glicose filtrada nos glomérulos. Foi evidenciado aumento dos níveis de mRNA dos SGLT-2 em pctes com DM2.
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