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1 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Coma O coma representa uma manifestação clínica grave, indicando falência dos mecanismos de manutenção da vigília e consciência. o Dois componentes fisiológicos importantes governam o comportamento consciente: 1. O grau de alerta comportamental ou nível de consciência A estrutura responsável pelo grau de alerta comportamental é o sistema ativador reticular ascendente (SARA), um grupamento de neurônios localizado no tronco cerebral, que recebe colaterais de vias ascendentes e descendentes, de forma a integrar grande quantidade de informações neurais. Esses núcleos dão origem a importantes vias ascendentes para ativar o tálamo e o córtex. O tálamo age como uma estrutura intermediária entre o córtex e o SARA. As lesões do SARA e de suas projeções levam à diminuição do nível de consciência. Portanto, para que ocorra a diminuição do nível de consciência, são necessárias lesões extensas (difusas) do córtex cerebral ou lesão da própria SARA. 2. O conteúdo da consciência que representa a soma de funções cognitivas e afetivas É dependente da integridade do córtex cerebral. Qualquer lesão que interfira na função cognitiva diminui o conteúdo da consciência. Por exemplo, um indivíduo afásico pode estar alerta, mas a sua incapacidade de compreender a linguagem diminui a percepção de si mesmo e do ambiente. Causas de coma: Lesão do compartimento supratentorial (hemisférios cerebrais e diencéfalo) e do compartimento infratentorial (estruturas abaixo da tenda do cerebelo – tronco encefálico e cerebelo), além das causas difusas (tóxico-metabólicas, infecciosas, etc). 65% dos casos são derivados de etiologias difusas. Condutas imediatas: Estabilização das funções fisiológicas vitais, um exame neurológico sucinto, exames diagnósticos dirigidos e, quando necessário, instituição de medidas terapêuticas específicas, visto que a recuperação só acontecerá com tratamento da causa de base. Atenção especial aos pacientes desnutridos, com história de etilismo e antecedente de cirurgia bariátrica, pois podem ser portadores de deficiência de tiamina (vitamina B1). Esses pacientes, quando apresentam hipoglicemia, devem receber tiamina endovenosa previamente à reposição glicêmica. Do contrário, a reposição de glicose sem a devida reposição de tiamina pode desencadear um quadro grave e potencialmente fatal de confusão mental, ataxia, oftalmoparesia e nistagmo, conhecido como encefalopatia de Wernicke-Korsakoff. 2 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Avaliação neurológica: Após a avaliação inicial e estabilização do paciente, uma anamnese detalhada das circunstâncias do coma, antecedentes patológicos, uso de medicações e/ou drogas, história de TCE, além de exame clínico geral cuidadoso, são essenciais para elucidação da causa do coma. 1. Nível de consciência: escalas de coma 2. Pupilas e fundo de olho 3. Movimentação ocular extrínseca 4. Resposta motora 5. Reflexos 6. Sinais meníngeos 7. Ritmo respiratório Escala de Coma de Glasgow (GCS): essa escala consiste na avaliação de 3 parâmetros: abertura ocular (AO), melhor resposta verbal (MRV) e melhor resposta motora (MRM). Escala de Coma de Jouvet: analisa 2 parâmetros: perceptividade (função cortical) e reatividade (função do SARA). Dentro do parâmetro reatividade, são consideradas as reatividades inespecífica, específica e autonômica. É uma escala mais complexa, portanto de aplicabilidade mais difícil, o que limita o seu uso. Escala FOUR: Full Outline of UnResponsiveness: avalia resposta ocular, resposta motora, reflexos de tronco encefálico e respiração. Pupilas e fundo de olho: A inervação pupilar é controlada pelos sistemas simpático e parassimpático. O nervo oculomotor é responsável pela inervação parassimpática das pupilas, promovendo sua constrição (miose). O núcleo do nervo oculomotor situa-se no mesencéfalo e é composto de um núcleo motor principal, na substância cinzenta periaquedutal e de núcleos viscerais. Já o sistema simpático tem sua origem no hipotálamo, enviando fibras que descem pelo tronco até a medula (entre T1 e L2), de onde partem fibras eferentes que fazem sinapse nos gânglios paravertebrais. No caso da inervação pupilar, o 3º neurônio da via está no gânglio simpático cervical superior, de onde 3 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 partem fibras que passam junto ao ápice pulmonar, se enrolam na artéria carótida interna e penetram na órbita para inervar o músculo dilatador da pupila. No caso das lesões do componente parassimpático, a lesão do núcleo do nervo oculomotor ou de seu trajeto intraparenquimatoso, ou sua compressão extra-parenquimatosa por um aneurisma de comunicante posterior, ou ainda uma herniação uncal, causaria midríase, pois na pupila agiria apenas a inervação simpática. Na lesão dos componentes da via simpática, o paciente teria uma miose em função da inervação parassimpática restar prevalecendo sobre a pupila. Síndrome de Horner: é observada em lesões da via simpática, principalmente no ápice pulmonar devido neoplasias de pulmão, e também no seu trajeto ao redor da artérias carótida interna nas dissecções carotídeas. Reflexo fotomotor consiste em uma via aferente (nervo óptico) e eferente (nervo oculomotor). A resposta consensual decorre do fato de a via aferente cruzar parcialmente no quiasma óptico e de haver interconexão dos centros reflexos direito e esquerdo no mesencéfalo (núcleo de Edinger- Westphal). Lesões do nervo óptico de um lado: o estímulo luminoso só desencadeará contração pupilar bilateral, mas apenas quando o olho saudável for estimulado. O estímulo do olho acometido não causará contração pupilar. Lesão no nervo oculomotor: não importa o lado que seja estimulado, apenas o olho saudável terá sua pupila contraída. O exame de fundo de olho pode mostrar a presença de hemorragias, papiledema (sinal de hipertensão intracraniana) e retinopatias. Ritmo respiratório: 1. Respiração de Cheyne-Stokes: períodos de apneia alternam-se com períodos de hiperventilação de amplitude crescente-decrescente, ocorre na disfunção diencefálica ou em encefalopatias metabólicas graves. 2. Hiperventilação neurogênica central: hiperventilação mantida, rápida, regular e profunda ocorre em encefalopatia metabólica ou raramente em lesões mesencefálicas. 3. Respiração apnêusica: pausa respiratória em inspiração profunda; ocorre em lesões da ponte bilateral. 4. Respiração atáxica (Biot): ritmo respiratório irregular; indica lesão na transição pontobulbar. 5. Apneia: indica falência dos mecanismos de respiração situados no bulbo, lesão estrutural grave do bulbo, ou intoxicação por drogas sedativas. Movimentação ocular extrínseca: Depende da ação da musculatura extrínseca ocular, coordenada pelos nervos cranianos III (oculomotor), IV (troclear) e VI (abducente). A manobra dos olhos de boneca, movimentos bruscos realizados de um lado para o outro, permite a observação da integridade desses movimentos conjugados do olhar. Prova calórica: injetam-se 50-100 ml de água gelada em cada conduto auditivo externo com a cabeceira do paciente elevada a 30º. Se as vias estiverem intactas, há desvio ocular para o lado estimulado. Ao se injetar água gelada em ambos os ouvidos simultaneamente, os olhos desviam-se para baixo. Resposta desconjugada (só um olho se move) pode indicar lesão de III ou VI nervo. Nenhum tipo de resposta indica lesão extensa do tronco encefálico. 1. Desvio conjugado do olhar para um lado e hemiparesia contralateral: lesão do córtex frontal ipsilateral ao desvio ocular (Foville superior) 2. Desvio conjugado e hemiparesia ipsilateral: lesão pontina (Foville inferior) 3. Desvio conjugado dos olhos para baixo: hemorragia talâmica, hemorragiasubaracnoidea difusa, encefalopatia anóxica ou metabólica 4. Bobbing ocular: desvio periódico dos olhos para baixo com retorno à posição normal, lesão pontina 5. Movimentos desconjugados do olhar: lesão de tronco encefálico 6. Ausência de movimentos oculares: lesões extensas do tronco encefálico ou lesões tóxicas (drogas 4 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 hipnótico-sedativas, anestesia geral, bloqueadores neuromusculares). Padrão de resposta motora: Em relação ao controle da motricidade voluntária, temos um sistema de controle suprassegmentar, com origem em neurônios do córtex e tronco cerebral, que atuam sobre os neurônios motores inferiores e nervos cranianos, modulando-os. Os componentes do sistema de controle suprasegmentar são: 1. Trato corticoespinhal e corticonuclear: origem no giro pré-central, com influências nos neurônios do corno anterior da medula espinhal ou nos dos núcleos motores dos nervos cranianos, respectivamente. 2. Tratto rubroespinhal: controla a motricidade dos músculos distais dos membros e favorece a resposta flexora. Esse trato inicia-se no núcleo rubro e cruza a linha média, passando pelo tronco encefálico e juntando-se ao trato corticoespinhal lateral no funículo lateral da medula. 3. Trato vestibuloespinhal: age na manutenção do equilíbrio, influencia a musculatura axial e favorece a resposta extensora. Seus impulsos partem da região vestibular do ouvido interno e do cerebelo e são transmitidos ao neurônio motor por fibras que descem pelo funículo ventral medial da medula. 4. Trato reticuloespinhal: influencia os músculos axiais e proximais dos membros, ajustando a postura. a) O trato reticuloespinhal pontino surge dos núcleos reticulares da ponte e desce ipsilateralmente para todos os níveis da medula pelo funículo ventral medial, e sua ação é aumentar os reflexos antigravitacionais da medula, pois facilita os extensores dos membros inferiores, auxiliando na manutenção da postura ereta. b) O trato retículoespinhal bulbar surge a partir do núcleo gigantocelular, no bulbo, e desce bilateralmente na medula pelas colunas brancas laterais. Esse trato se opõe aos reflexos gravitacionais. 5. Trato tectoespinhal: envolvido em reflexos nos quais a movimentação da cabeça decorre de estímulos visuais. Surge no colículo superior, presente no mesencéfalo, o qual recebe fibras da retina e do córtex visual. Postura de decorticação: lesão acima do núcleo rubro, no mesencéfalo, pois este núcleo permanece com suas influências íntegras. Postura de descerebração: lesão pontina, abaixo do núcleo rubro (que fica no mesencéfalo inferior), devido perda da influência motora deste núcleo sobre os neurônios espinhais, restando apenas as influências dos tratos responsáveis pela extensão. 1. Hemiparesia com comprometimento facial: lesão hemisférica contralateral. 2. Decorticação: resposta flexora em membros superiores e extensora em membros inferiores (lesão supratentorial, acima do núcleo rubro, no mesencéfalo). 3. Descerebração: resposta extensora dos quatro membros (lesão mesencéfalo inferior ou ponte alta). 4. Ausência de resposta: lesão pontina baixa ou bulbar (ou ainda lesão do sistema nervoso periférico). Diagnóstico diferencial: Distúrbio psiquiátrico: os transtornos conversivos apresentam-se caracteristicamente, com posturas bizarras, resistência à abertura palpebral, flutter palpebral, tônus e reflexos normais. Síndrome do Locked-in: o SARA está íntegro, lesão de porção ventral da ponte. Quadro de tetraparesia ou tetraplegia e déficit dos movimentos horizontais do olhar. Pode preservar o piscamento e os movimentos oculares verticais. Pacientes estão completamente conscientes e podem se comunicar com “código Morse” através do piscamento. Mutismo acinético: normalmente, ocorre em alguns tipos de lesões frontais, hidrocefalia subaguda. Observa-se ausência de movimento espontâneo, mas com presença de sinais de vigília (abertura ocular, piscamento). Evolução e prognóstico dos comas: Variáveis como a causa do coma, sinais clínicos presentes, características do eletroencefalograma (EEG), exames de neuroimagem e dados bioquímicos são utilizados para caracterizar o prognóstico dos pacientes em coma. Aparentemente, causas metabólicas de coma têm melhor prognóstico, quando comparadas a outras causas. O coma associado ao trauma tem melhor prognóstico do que aquele associado à lesão anóxica. Os sinais clínicos associados ao pior prognóstico do coma são: resposta motora da Escala de Coma de 5 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Glasgow, o tempo de persistência do coma e sinais de lesão de tronco cerebral. Pacientes que são capazes de localizar estímulo doloroso após 48-72h da retirada dos sedativos após uma PCR já são considerados portadores de bom prognóstico. Entretanto, se após este período, os pacientes apresentarem descerebração ou ausência de resposta motora, o prognóstico é ruim em 80% dos casos. A ausência de reflexo fotomotor e/ou corneopalpebral no primeiro dia e a ausência de resposta motora no terceiro dia após a lesão anóxica são preditivas de mau prognóstico (estado vegetativo persistente ou morte). 1/4 dos pacientes sobreviventes de parada cardíaca apresentarão crises epilépticas clínicas. Mioclonias eventuais têm muito pouco valor prognóstico, sendo que 9% dos pacientes com bom prognóstico apresentam mioclonias. No entanto, a ocorrência de status mioclonicus (mioclonias generalizadas que persistem por mais de 30 min) está associada a pior prognóstico, sobretudo quando surge no primeiro dia da PCR. Determinados padrões no EEG, como depressão da atividade elétrica cerebral, atividade periódica generalizada ou surto-supressão, estão associados a pior prognóstico. Crises epilépticas no EEG e estado de mal epiléptico ocorrem em 10-40% dos pacientes e se associam a mau prognóstico. Nos pacientes em coma por trauma, a presença de lesões em tronco cerebral, apagamento das cisternas da base ou lesão axonal difusa na tomografia têm sido associados a pior prognóstico neurológico. Lesões da região dorsolateral do tronco cerebral e do corpo caloso identificadas na RNM têm alto valor preditivo em definir a persistência do coma. Morte encefálica: Situação na qual ocorre cessação irreversível de todas as funções do encéfalo, incluindo as do tronco encefálico. A causa da morte encefálica deve ser claramente conhecida e irreversível. Obviamente, não deve haver evidências de intoxicação por drogas, envenenamento, hipotermia ou distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos. Critérios do Conselho Federal de Medicina 2017: 1. Condições necessárias: causa do coma conhecida e irreversível, período de observação hospitalar ≥ 6h (se encefalopatia hipóxico-isquêmica, ≥24h), sinais vitais pré-estabelecidos (T 35,9°C, SaO2 ≥95%, PAS > 100mmHg ou PAM > 65 mmHg para adultos) 2. Procedimentos obrigatórios: 2 exames clínicos com intervalos de pelo menos 1h para indivíduos maiores de 2 anos de idade, teste da apneia e um exame complementar que mostre ausência de atividade encefálica 3. Exame clínico deve evidenciar: coma aperceptivo (GCS 3), ausência de reatividade supraespinhal manifestada pela ausência dos reflexos fotomotor, córneo-palpebral, oculocefálico, vestíbulo-calórico e de tosse. Exames devem ser realizados por 2 médicos diferentes, especificamente capacitados (especialista em uma das seguintes especialidades: medicina intensiva, medicina intensiva pediátrica, neurologia, neurologia pediátrica, neurocirurgia ou medicina de emergência). Na impossibilidade de um destes especialistas, o procedimento poderá ser feito por qualquer outro médico capacitado. 4. Teste da apneia: realizado uma única vez e deverá comprovar ausência de movimentos respiratórios na presença de hipercapnia(PaCO2 superior a 55mmHg). 5. Exame confirmatório: deverá mostrar ausência de perfusão sanguínea encefálica (Doppler transcraniano ou angiografia) ou de atividade metabólica encefálica (SPECT) ou de atividade elétrica encefálica (EEG). 6. Nos casos de morte por causas externas a DECLARAÇÃO DE ÓBITO será de responsabilidade do médico legista, que deverá receber o relatório de encaminhamento médico e uma cópia do TERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA. Estado vegetativo: Situação na qual, após período variável de coma, há retorno das funções vegetativas com respiração espontânea e regulação cardiovascular adequada. O paciente volta a ter olhos abertos e a apresentar ciclos de sono-vígilia, porém sem percepção de si e do ambiente à sua volta. O diagnóstico é clínico. 6 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Chamamos de estado vegetativo persistente ou estado de consciência mínima quando o paciente permanece nesse estado por mais de 30 dias. As possibilidades para retorno à vida funcional nesses casos são praticamente nulas. Tópicos importantes: 1. Herniações cerebrais: As herniações cerebrais podem ocorrer através da tenda do cerebelo (transtentoriais), da foice cerebral (subfalcinas) ou do forame magno. Se devem à descompensação de uma hipertensão intracraniana grave, causada geralmente por lesões com efeito de massa, como tumores e hematomas. A HIC descompensada pode ser acompanhada da tríade de Cushing (bradicardia, hipertensão arterial e alteração do ritmo respiratório), só é vista em pacientes graves, terminais e em coma. 2. Herniação central: Deslocamento do diencéfalo e de partes dos lobos temporais de ambos os hemisférios cerebrais através da tenda do cerebelo (herniação transtentorial descendente). Costuma haver danos graves em ramos da artéria basilar (hemorragia de Duret), com resultado usualmente fatal. Compressão do diencéfalo → mesencéfalo → ponte → compressão de bulbo, levando a pupilas médio-fixas, apneia e ausência de resposta motora. o Estágio diencefálico: resposta motora do tipo decorticação (flexora em membros superiores), pupila pequena (1-3 mm), reativa à luz, conservação dos reflexos oculocefálicos e oculovestibulares, respiração irregular, ritmo de Cheyne-Stokes. o Estágio mesencefálico: resposta motora em extensão (descerebração), pupila intermediária (3- 5 mm), reflexos oculocefálico e oculovestibular de difícil obtenção, ritmo de Cheyne-Stokes ou hiperventilação. o Estágio protuberancial (ponte): resposta motora em extensão dos quatro membros, pupilas médias e não reativas, reflexos oculocefálico e oculovestibular abolidos, respiração apnêusica o Estágio bulbar: ausência de resposta motora, respiração irregular, seguida de apneia, midríase. 3. Herniação uncal: Ocorre um deslocamento de partes mais mediais do lobo temporal (unco) através do tentório, comprimindo o tronco encefálico, notadamente o mesencéfalo. Nesses casos, há compressão direta do III nervo craniano ipsilateral, com midríase ipsilateral à herniação. Posteriormente, há compressão da artéria cerebral posterior ipsilateral e do pedúnculo cerebral contralateral (com déficit motor do mesmo lado da herniação pelo acometimento do trato piramidal). Há evolução para um coma progressivo e para herniação central, com óbito caso medidas não sejam tomadas. 4. Herniação cerebelar e tonsilar: Aumento da pressão na fossa posterior pode levar a herniação tonsilar ou herniação cerebelar descendente. Há um movimento das tonsilas do cerebelo para baixo através do forame magno. Nessa situação, há compressão do tronco encefálico e medula cervical alta, com comprometimento de centro respiratório e cardiovascular. Mais raramente, pode haver deslocamento da tonsila do cerebelo para cima, com consequente movimentação do tronco encefálico para cima e lesão grave de todas essas estruturas da fossa posterior → herniação cerebelar ascendente. 5. Herniação cingular (ou subfalciana): Um dos tipos mais frequentes de herniação. Nesse caso, ocorre um deslocamento do giro do cíngulo (parte medial do lobo frontal) através da foice cerebral (camada meníngea de dura-máter no topo do cérebro, entre os dois hemisférios cerebrais). Assim, esse tipo de herniação costuma pressionar bem menos o tronco encefálico. Os sintomas são variáveis, e pode ocorrer compressão da artéria cerebral anterior. 7 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Principais intoxicações exógenas: o Drogas de efeito colinérgico (carbamatos, organofosforados, organoclorados) Na intoxicação colinérgica, o paciente apresenta bradicardia, sialorreia, hipersecreção e miofasciculações. Além da lavagem gástrica e do suporte clínico, deve-se infundir atropina 2-4 mg IV (ataque) e 1-2 mg IV 15/15 min (manutenção), acompanhando-se a resposta com avaliação das pupilas e frequência cardíaca, espaçando as doses de atropina para 30/30 min, 1/1 hora. No caso de intoxicação por organofosforados, existe o antídoto: pralidoxima. A atropina não é um antídoto e sim um antagonista colinérgico. o Drogas de efeito sedativo (benzodiazepínicos, opioides, barbitúricos): Benzodiazepínicos: diazepam, lorazepam, flunitrazepam, midazolam etc. Opioides: morfina, meperidina, fentanil, anfentanil. Barbitúricos: fenobarbital, pentobarbital, tionembutal. O paciente apresenta-se comatoso, bradipneico e, às vezes, hipotenso. Os opioides geralmente deprimem muito a ventilação e causam miose fotorreagente. Os barbitúricos podem causar midríase (às vezes paralítica) e até mesmo a perda dos reflexos de tronco. A intoxicação por benzodiazepínicos é de bom prognóstico, revertida facilmente com o flumazenil (antídoto). O antídoto dos opioides é a naloxona. Os barbitúricos não têm antídoto. O tratamento é apenas de suporte, e nos casos graves pode-se indicar a hemodiálise. o Drogas de efeito estimulante (cocaína, anfetamina): Quadro de hipertensão arterial grave, taquicardia, taquiarritmias, hipertermia e convulsões, sendo o coma precedido por agitação psicomotora e delirium (semelhante a um surto psicótico). As pupilas tendem à midríase. O tratamento deve ser a sedação com altas doses de benzodiazepínicos. o Tricíclicos: Crise convulsiva tonicoclônica generalizada, arritmias cardíacas ventriculares, incluindo o torsades de pointes. Terapia de suporte. o Álcoois e salicilato: A intoxicação por etanol deve ser tratada com hidratação venosa, reposição de tiamina 100 mg, seguida pela reposição de glicose hipertônica 4-5% a 50% se houver hipoglicemia, além da terapia de suporte. O salicilato, o metanol e o etilenoglicol causam coma com acidose metabólica com anion gap elevado. No tratamento, deve-se repor bicarbonato de sódio para correção da acidose. Só para lembrar, a intoxicação com salicilatos é comum em crianças e a gasometria mostra distúrbio misto (acidose metabólica com alcalose respiratória).
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