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mulher casada, que tenha família, for proibida de trabalhar em qualquer fábrica.”67 A degradação moral decorrente da exploração capitalista do tra- balho de mulheres e crianças foi exposta tão exaustivamente por F. Engels em Situação da Classe Trabalhadora da Inglaterra e por outros autores que apenas a registro aqui. Mas a devastação intelectual, ar- tificialmente produzida pela transformação de pessoas imaturas em meras máquinas de produção de mais-valia — que deve ser bem dis- tinguida daquela ignorância natural que deixa o espírito ocioso sem estragar sua capacidade de desenvolvimento, sua própria fecundidade natural —, obrigou, finalmente, até mesmo o Parlamento inglês a fazer do ensino primário a condição legal para o uso “produtivo” de crianças com menos de 14 anos em todas as indústrias sujeitas às leis fabris. O espírito da produção capitalista resplandeceu com brilho na redação indecente das assim chamadas cláusulas educacionais da legislação fabril, na falta de maquinaria administrativa, que torna esse ensino compulsório novamente em grande parte ilusório, na oposição dos fa- bricantes até mesmo contra essa lei do ensino e em artimanhas práticas e trapaças para deixarem de cumpri-la. “Apenas o Legislativo é para ser culpado por ter passado uma lei ilusória (delusive law) que, sob a aparência de provi- denciar educação para as crianças, não contém nenhum dis- positivo pelo qual esse pretenso objetivo possa ser assegurado. Nada determina, exceto que as crianças devam ser encerradas por determinado número de horas” (3 horas) “por dia dentro das quatro paredes de um local, chamado de escola, e que o usuário da criança deva receber semanalmente um certificado a respeito de uma pessoa que lhe apõe o nome como professor ou professora.”68 Antes da promulgação da Lei Fabril69 emendada de 1844, não eram raros certificados de freqüência escolar assinados com uma cruz por professor ou professora, já que estes não sabiam escrever. “Ao visitar uma dessas escolas expedidoras de certificados fi- quei tão chocado com a ignorância do mestre-escola que lhe disse: MARX 33 67 Reports of Insp. of Fact. for 31st Oct. 1862. p. 59. Esse inspetor de fábrica tinha sido anteriormente médico. 68 HORNER, Leonard. In: Reports of Insp. of Fact, for 30th April 1857. p. 17. 69 Neste capítulo, seguidamente aparece a expressão “lei fabril” ou “legislação fabril”, tradução de Fabrikakt e Fabrikgesetzgebung, referindo-se à expressão inglesa Factory Act, também muito empregada por Marx. A tradução feita decorre de uma tradição já institucionalizada, ainda que seu pleno significado seja encontrado na expressão “lei trabalhista” e “legislação trabalhista”. (N. dos T.)
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