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História da Igreja no Brasil

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Prévia do material em texto

2016
História da igreja no 
Brasil
Prof. Eduardo Luís de Medeiros
Copyright © UNIASSELVI 2016
Elaboração:
Prof. Eduardo Luís de Medeiros
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
271.79
M488i
 Medeiros; Eduardo Luís
 História da igreja no Brasil/ Eduardo Luís de Medeiros: 
UNIASSELVI, 2016.
 172 p. : il.
 
 ISBN 978-85-515-0005-7
 
 1.Igreja - história. 
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
III
ApresentAção
Caro acadêmico! Estamos iniciando os estudos de História da Igreja 
no Brasil. A primeira pergunta que pode vir em sua mente, neste momento, 
é: “Por que estudar a história do catolicismo num curso de Bacharelado 
em Teologia?” A resposta para esta questão está no âmago da estrutura da 
disciplina. Precisamos conhecer como o sistema religioso cristão se estabeleceu 
no Brasil para assim entendermos o catolicismo e as diversas denominações 
evangélicas em nosso país. Isto é realmente válido, pois vivemos num país 
cristão em que a maioria absoluta da população se diz católica ou protestante. 
Existem outras religiões em vigência no Brasil, mas nossa intenção é que você 
entenda e visualize a evolução do cristianismo em nosso país.
 
Para estudarmos a História da Igreja no Brasil precisamos entender 
a História geral do Brasil, pois até bem pouco tempo Igreja e Política se 
confundiam. Neste sentido, os principais acontecimentos na política brasileira 
terão um reflexo imediato na Igreja.
 
O Caderno de Estudos da disciplina de História da Igreja no Brasil 
foi construído com a intenção de facilitar a visão da amálgama entre Igreja e 
Estado brasileiro. 
Na Unidade 1, intitulada Igreja no período Colonial, abordamos 
o contexto político e religioso na Europa de 1500, o estabelecimento dos 
jesuítas na colônia portuguesa, a evangelização dos indígenas, o sistema de 
ensino jesuítico, os conflitos entre os jesuítas e os bandeirantes pelos índios e 
a chegada dos primeiros protestantes no Brasil. 
Na Unidade 2, que está intitulada como A expansão territorial e 
econômica da Igreja, analisaremos os diversos ciclos econômicos e como a 
igreja se adaptou a cada um deles, seja no ciclo do ouro, na região das Minas 
Gerais, seja na região amazônica, ou no sertão nordestino. Outro ponto 
importante analisado nessa unidade é quando verificamos que a presença 
da Igreja não foi efetiva em todas as regiões da Colônia, e neste sentido, a 
existência de um catolicismo sincrético, com práticas indígenas e africanas foi 
inevitável. Por fim, analisaremos brevemente a Igreja Secular no Brasil, bem 
como dois movimentos do catolicismo contemporâneo, que são tentativas de 
barrar o crescimento evangélico em nosso território. 
Na Unidade 3, o Protestantismo Brasileiro, como o próprio nome 
sugere, estudaremos a chegada efetiva dos protestantes no Brasil, dividindo 
cronologicamente em protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais, 
com sua presença no final do século XIX e ao longo do século XX.
 
Um abraço e mãos à obra!
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL .................................................................... 1
TÓPICO 1 – A EUROPA DOS DESCOBRIMENTOS: O CONTEXTO POLÍTICO .................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 PORTUGAL E ESPANHA ................................................................................................................... 3
3 A RECONQUISTA CRISTÃ DA PENÍNSULA IBÉRICA ............................................................. 4
4 O MERCANTILISMO .......................................................................................................................... 6
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 9
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 10
TÓPICO 2 – A EUROPA DOS DESCOBRIMENTOS: O CONTEXTO RELIGIOSO ................. 11
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 11
2 OS FATORES PARA A ECLOSÃO DA REFORMA ....................................................................... 11
3 LUTERO E A REFORMA..................................................................................................................... 12
4 A REFORMA CATÓLICA OU CONTRARREFORMA ................................................................. 13
5 O CONCÍLIO DE TRENTO ................................................................................................................ 14
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 16
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17
TÓPICO 3 – A COMPANHIA DE JESUS ............................................................................................ 19
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19
2 INÁCIO DE LOYOLA E A COMPANHIA DE JESUS ................................................................... 19
3 A CHEGADA AO BRASIL E A PRÁTICA DO PADROADO ..................................................... 22
4 A EDUCAÇÃO JESUÍTA ..................................................................................................................... 24
5 OS JESUÍTAS E OS BANDEIRANTES ............................................................................................ 27
6 A EXPULSÃO DOS JESUÍTAS .......................................................................................................... 30
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 32
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 33
TÓPICO 4 – OS PRIMEIROS PROTESTANTESNO BRASIL ....................................................... 35
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35
2 OS FRANCESES NA GUANABARA ............................................................................................... 36
3 OS HOLANDESES EM PERNAMBUCO ......................................................................................... 40
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 44
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 45
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 46
UNIDADE 2 – A EXPANSÃO TERRITORIAL E ECONÔMICA E A IGREJA ............................ 47
TÓPICO 1 – A REGIÃO DAS MINAS GERAIS E AS CONFRARIAS LEIGAS: 
 O CICLO MINEIRO ......................................................................................................... 49
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 49
2 A SOCIEDADE DAS MINAS ............................................................................................................ 49
3 A ESCRAVIDÃO E A IGREJA ............................................................................................................ 51
sumário
VIII
4 AS IRMANDADES LEIGAS E AS CONFRARIAS MINEIRAS............................................... 54
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 60
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 61
TÓPICO 2 – A IGREJA NA AMAZÔNIA: O CICLO AMAZÔNICO ....................................... 63
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 63
2 A OCUPAÇÃO DOS TERRITÓRIOS, UMA QUESTÃO DE GEOGRAFIA ......................... 64
3 AS DROGAS DO SERTÃO E O CATOLICISMO ....................................................................... 67
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 69
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 70
TÓPICO 3 – OS MOVIMENTOS MESSIÂNICOS NO INTERIOR DO BRASIL 
 E O CICLO SERTANEJO .............................................................................................. 73
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 73
2 A RELIGIOSIDADE POPULAR NO INTERIOR DO BRASIL ................................................ 74
3 A GUERRA DE CANUDOS ............................................................................................................. 75
4 A GUERRA DO CONTESTADO .................................................................................................... 78
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 80
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 81
TÓPICO 4 – A IGREJA SECULAR NO BRASIL E O CATOLICISMO 
 CONTEMPORÂNEO ..................................................................................................... 83
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 83
2 A IGREJA SECULAR NO BRASIL ................................................................................................. 83
3 QUATRO SÉCULOS DE HISTÓRIA ............................................................................................. 85
4 A SEPARAÇÃO ENTRE O ESTADO E A IGREJA ...................................................................... 88
5 O CATOLICISMO CONTEMPORÂNEO ..................................................................................... 90
5.1 A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA (RCC) ........................................................... 96
5.2 A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO .............................................................................................. 98
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 102
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 104
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 105
UNIDADE 3 – O PROTESTANTISMO BRASILEIRO .................................................................. 107
TÓPICO 1 – A IMIGRAÇÃO EUROPEIA E O CONTEXTO EXTERNO ................................... 109
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 109
2 A IMIGRAÇÃO E A CHEGADA DOS PRIMEIROS MISSIONÁRIOS ................................ 110
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 115
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 116
TÓPICO 2 – AS DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS ...................................................................... 117
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 117
2 A FASE PRECURSORA (1855-1863) ............................................................................................... 118
3 OS MISSIONÁRIOS PRESBITERIANOS E O PADRE CONCEIÇÃO .................................. 119
4 AS MISSÕES ESTRANGEIRAS E SUA VISÃO DO BRASIL .................................................. 123
5 AS CRISES INTERNAS DO PROTESTANTISMO E A PRIMEIRA DIVISÃO ................... 124
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 129
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 130
IX
TÓPICO 3 – O ADVENTO DO PENTECOSTALISMO BRASILEIRO ...................................... 131
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 131
2 O MARCO ZERO: O AVIVAMENTO DA RUA AZUZA........................................................... 132
3 AS IGREJAS PENTECOSTAIS HISTÓRICAS: AS ASSEMBLEIAS DE DEUS 
 E A CONGREGAÇÃO CRISTÃ DO BRASIL .............................................................................. 135
3.1 AS ASSEMBLEIAS DE DEUS ...................................................................................................... 135
3.2 A CONGREGAÇÃO CRISTÃ DO BRASIL ............................................................................... 139
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 141
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 142
TÓPICO 4 – OS PENTECOSTAIS DA SEGUNDA GERAÇÃO..................................................143
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 143
2 A IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR .................................................................... 143
3 IGREJA O BRASIL PARA CRISTO ............................................................................................... 146
4 IGREJA EVANGÉLICA PENTECOSTAL DEUS É AMOR ........................................................ 148
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 149
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 150
TÓPICO 5 – IGREJAS NEOPENTECOSTAIS, AS COMUNIDADES CRISTÃS 
 E O AVIVAMENTO DAS IGREJAS TRADICIONAIS .......................................... 151
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 151
2 A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS – IURD ........................................................... 152
3 A IGREJA INTERNACIONAL DA GRAÇA DE DEUS ............................................................. 154
4 IGREJA RENASCER EM CRISTO ................................................................................................. 155
5 A IGREJA MUNDIAL DO PODER DE DEUS ............................................................................. 156
6 A “TEOLOGIA” DA PROSPERIDADE ......................................................................................... 157
7 O CRESCIMENTO DO MOVIMENTO CELULAR .................................................................... 160
8 AS COMUNIDADES CRISTÃS E O AVIVAMENTO DAS IGREJAS TRADICIONAIS ... 164
9 PALAVRAS FINAIS .......................................................................................................................... 166
RESUMO DO TÓPICO 5..................................................................................................................... 168
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 169
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 171
X
1
UNIDADE 1
A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• entender que a chegada dos portugueses às terras do Brasil tem razões 
religiosas, econômicas e políticas;
• analisar o vínculo bastante estreito entre Estado e Igreja Católica nos 
primeiros quatro séculos da história do Brasil;
• compreender que o braço da Igreja Católica no Novo Mundo foram os 
jesuítas;
• verificar que a religião católica foi o principal instrumento de aculturação 
indígena e africana no Brasil;
• entender que a Igreja Católica tem um papel importante na formação da 
sociedade brasileira, através da construção de uma memória histórica que 
permanece até os dias de hoje no coletivo brasileiro;
• perceber que existiram algumas tentativas de colonização protestante 
em alguns pontos, e que elas foram rapidamente suprimidas pela Coroa 
portuguesa junto aos habitantes locais.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles você 
encontrará atividades que o ajudarão a refletir e a fixar os conhecimentos 
abordados.
TÓPICO 1 – A EUROPA DOS DESCOBRIMENTOS: O CONTEXTO 
POLÍTICO
TÓPICO 2 – A EUROPA DOS DESCOBRIMENTOS: O CONTEXTO 
RELIGIOSO
TÓPICO 3 – A COMPANHIA DE JESUS
TÓPICO 4 – OS PRIMEIROS PROTESTANTES DO BRASIL
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A EUROPA DOS DESCOBRIMENTOS: O CONTEXTO 
POLÍTICO
1 INTRODUÇÃO
A relação entre Igreja e a Coroa portuguesa no Brasil foi bastante estreita. Era 
Portugal que financiava os navios que traziam os clérigos, investiam na construção 
das igrejas e pagavam os salários dos padres e monges na Colônia portuguesa.
Neste sentido é importante conhecermos um pouco do contexto 
político que envolveu a Europa e especialmente Espanha e Portugal no período 
imediatamente anterior à chegada de Cabral à terra de Pindorama.
UNI
Pindorama vem do tupi-guarani pindó-rama ou pindo-rétama, que significa 
terra das palmeiras. Era um dos nomes a quem os indígenas se referiam quando falavam 
das terras do Brasil antes da chegada dos portugueses.
2 PORTUGAL E ESPANHA
A expansão europeia, que culminará com a chegada dos portugueses ao 
Brasil em 1500, tem seu início nos séculos XII e XIII, um período tratado por alguns 
autores, entre eles Brenda Bolton, como Reforma da Idade Média. Este período foi 
marcado por uma expansão comercial gerada por um aumento na produção 
de alimentos, um retorno da circulação de moedas. O exemplo máximo deste 
processo foram as Ligas de cidades comerciais como a Hanseática e a Lombarda. 
Os medievalistas chamam este processo de Contexto Favorável. O comércio com o 
Oriente é estabelecido como consequência das Cruzadas ao Oriente, em que as 
cidades italianas de Veneza e Gênova têm um papel fundamental neste comércio.
UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
4
Este crescimento é interrompido durante o século XIV através de diversas 
epidemias, entre elas a peste negra. As consequências destas epidemias foram 
basicamente demográficas: cerca de 1/3 da população europeia morreu por esta 
razão. O contexto externo, como, por exemplo, a queda do Império Mongol na 
China, dificultando o comércio entre árabes e europeus, também foi responsável 
por uma retração econômica que se estenderia até meados do século XV, quando 
a moeda volta a circular e faltar nos mercados europeus.
A falta de ouro e prata levou as nações europeias a buscar os metais em 
outros locais, em especial na África, onde os exploravam no Sudão. Para tanto, 
iniciaram um processo de modernização do sistema de navegação para além do 
Mediterrâneo. Esta crise monetária só foi resolvida com o início das explorações 
das minas da América Espanhola.
A experiência de navegação pela costa africana levou à elaboração de 
mapas cada vez mais complexos, que continham rotas e correntes marinhas. Os 
conhecimentos náuticos começaram a aprimorar a navegação. 
Portugal e Espanha estavam numa posição geográfica privilegiada na 
Península Ibérica e suas experiências pregressas habilitaram os navios portugueses 
e espanhóis a se aventurarem cada vez mais em direção a alto-mar. Em Portugal, 
por determinação do Infante D. Henrique, uma escola para desenvolvimento de 
questões náuticas foi fundada na cidade de Sagres, onde diversos estudiosos, 
como cartógrafos, astrônomos e navegadores aprimoravam suas técnicas.
O maior objetivo para as expedições ibéricas rumo à América era o de 
encontrar uma nova rota até o Oriente devido à queda de Constantinopla pelos 
turcos otomanos em 1453. Sem o caminho tradicional pelo Mediterrâneo, eles 
buscavam caminhos alternativos. 
3 A RECONQUISTA CRISTÃ DA PENÍNSULA IBÉRICA
A Península Ibérica ficou sob domínio dos muçulmanos a partir do século 
VIII. Desde então, os remanescentes cristãos buscaram retomar estes territórios 
das mãos dos invasores. Os cristãos ficaram restritos à região montanhosa das 
Astúrias, onde organizaram a resistência cristã. A importância da Reconquista 
com a estrutura política futura em Portugal é a divisão entre o Norte, centro da 
administração e da nobreza, e o Sul, região que foi aos poucos retomada pelos 
cristãos. À medida que estes territórios eram reconquistados, eles eram doados 
para a nobreza ou permaneciam nas mãos da Coroa. Ocorreu também uma 
migração das regiões do Norte para o Sul, havendo uma miscigenação entre 
cristãos europeus, muçulmanos remanescentes e judeus. Esta unidade progressiva 
e heterogênea ofereceu a Portugal um modelo de administração centralizada 
precoce no contexto desta Europa em gestação.
TÓPICO1 | A EUROPA DOS DESCOBRIMENTOS: O CONTEXTO POLÍTICO
5
FIGURA 1 - CRONOLOGIA DA RECONQUISTA CRISTÃ DA PENÍNSULA IBÉRICA (1054-1450)
FONTE: Disponível em: <https://trampantojos.wordpress.com/category/2o-de-bachillerato-ha-
espana/>. Acesso em: 20 jun. 2016.
É importante ressaltar que durante este movimento de reconquista, 
muitos cristãos, em especial as ordens mendicantes (franciscanos e dominicanos) 
tentaram levar o Evangelho aos muçulmanos. Porém, o clima era beligerante 
tanto para muçulmanos quanto para cristãos.
UNI
UNI
Beli... o quê? Beligerante quer dizer um estado de guerra constante, com o 
desenvolvimento de armamento para efetuar estas conquistas. Se na Península Ibérica 
os muçulmanos tiveram perdas territoriais importantes, no Oriente continuaram obtendo 
conquistas na região do Oriente Médio e na Europa Oriental. O ápice desta conquista foi a 
tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453.
Observando apenas pelo prisma das guerras, você pode ficar com uma visão 
insuficiente a respeito desta interação entre cristãos e muçulmanos na Península Ibérica. 
Parece que tem mais alguma coisa nessa história. Estou certo, professor Eduardo?
UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
6
Com toda certeza, esperto e sagaz amigo. Qualquer interação entre povos 
apresenta muito mais elementos do que a simples disputa na guerra por conquista 
e territórios. A troca cultural é muito intensa entre conquistados e conquistadores 
que passam a conviver em um mesmo território. Esta troca acontece no campo 
religioso com o chamado sincretismo, na arquitetura, na língua, na alimentação, 
enfim, em todas as esferas de convívio. Esta hegemonia muçulmana na Península 
Ibérica trouxe muitos elementos desta cultura para os povos cristãos que foram 
assimilados através deste contato.
FIGURA 2 - CRISTÃO E MUÇULMANO JOGANDO XADREZ
FONTE: Artista desconhecido. Disponível em: <http://oridesmjr.blogspot.com.br/2012/05/
contrastes-entre-o-mundo-muculmano-e.html>. Acesso em: 20 jun. 2016.
4 O MERCANTILISMO
É necessário, em último lugar, buscar os fatores que nortearam o processo 
expansionista português. Estes elementos foram de três ordens principais: 
econômicos, políticos e religiosos. A falta de metais preciosos resultou na 
valorização do ouro e da prata, tornando sua extração bastante lucrativa. O 
aumento da população originou a busca por novas terras cultiváveis, que teve 
início com a tomada da cidade de Ceuta pelos portugueses em 1415. A ocupação 
das ilhas da Madeira e dos Açores se deu em seguida à tomada de Ceuta e foi 
TÓPICO 1 | A EUROPA DOS DESCOBRIMENTOS: O CONTEXTO POLÍTICO
7
crucial para o início da produção de açúcar, importante especiaria no mercado 
europeu. Nessas ilhas ocorreu o início da distribuição das terras em capitanias 
hereditárias, sistema a ser adotado também no Brasil.
Portugal teve suas fronteiras continentais definidas no ano de 1297, com o 
Tratado de Alcanizes, e já neste século XIII apresentava um adiantado princípio 
de pertencimento de sua população. A estruturação do reino de Portugal.
A Tomada da ilha de Ceuta é muito emblemática, pois marca o início do 
processo de navegação para fora do ambiente mediterrâneo. 
Em 2015 os portugueses festejaram 600 anos da tomada de Ceuta, com 
diversas comemorações cuja data adotada pela historiografia é 21 de agosto de 1415.
UNI
A cidade de Ceuta ficava próxima ao Estreito de Gibraltar e deu início à 
colonização de territórios pelos portugueses.
FIGURA 3 - TOMADA DE CEUTA
FONTE: Disponível em: <http://www.eb23-cmdt-conceicao-silva.rcts.pt/sev/hgp/9.2.htm>. 
Acesso em: 20 jun. 2016.
UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
8
Finalmente, o imaginário português tinha uma percepção dupla: havia um 
lado missionário em sua sociedade, virtude adquirida durante a Reconquista cristã, 
quando a Igreja buscava retomar a hegemonia sobre os territórios muçulmanos, e 
uma vertente militar, na medida em que todos os empreendimentos portugueses 
eram vistos como uma Cruzada. Esta visão surge também da experiência da 
Reconquista.
Este contexto ibérico, bastante peculiar com relação ao restante do mundo 
mediterrâneo, foi o que permitiu que Portugal e Espanha saíssem na frente no 
que diz respeito às navegações ultramarinas.
É importante também perceber que esta relação entre Coroa e Igreja, 
estabelecida neste cenário de conquista armada e trabalho missionário, será 
predominante para identificarmos práticas no Brasil, como o Padroado, por exemplo, 
que era o financiamento por parte do Rei de Portugal da instalação e manutenção das 
igrejas no Brasil, como veremos mais adiante em nosso caderno de estudos.
UNI
Este assunto é por demais extenso! Para que você se ambiente com o contexto 
dos eventos, sugiro que “desenterre” seu livro de História do Ensino Médio para ler sobre estes 
assuntos e assimilar os conceitos como Mercantilismo, Absolutismo, Reconquista, enfim, 
entender o contexto da Europa para compreender melhor o que aconteceu no Brasil.
9
Neste tópico você aprendeu que:
• A chegada dos portugueses ao Brasil em 1500 é o resultado de um complexo 
conjunto de fatores que precisa ser buscado desde o século XIII. Estes fatores 
envolvem fatos políticos, econômicos e religiosos.
• A delimitação das fronteiras entre Portugal e Espanha se deu durante o processo 
da Reconquista Cristã, quando os territórios muçulmanos na Península Ibérica 
foram retomados pelos europeus cristãos.
• O contexto favorável do século XV, com aumento da população após as 
epidemias e doenças que eclodiram no século anterior, levou Portugal a partir 
em busca de novas terras cultiváveis. Esta política expansionista teve início 
com a tomada de Ceuta em 1415.
• O caráter missionário da Igreja no início da colonização do Brasil tem sua origem 
no processo de Reconquista, na medida em que, após a conquista militar, a 
Igreja começava com o estabelecimento da sua estrutura para garantir a posse 
da terra para a Coroa, convertendo os habitantes à fé católica.
RESUMO DO TÓPICO 1
10
Com base no texto, procure responder a estas questões que visam 
reforçar seu aprendizado até aqui.
1 O que contribuiu para o pioneirismo de Portugal na expansão marítima 
europeia?
2 Quais fatores influenciaram a ida destes homens para além do Mar 
Mediterrâneo?
3 Como se deu o processo de Reconquista Cristã?
4 De que maneira a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453 bloqueou 
os negócios com o Oriente?
5 O que aconteceu durante o século XIV no âmbito europeu que bloqueou o 
crescimento econômico e social que ocorria no século anterior?
AUTOATIVIDADE
11
TÓPICO 2
A EUROPA DOS DESCOBRIMENTOS: 
O CONTEXTO RELIGIOSO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
É importante iniciar este tópico deixando claro que o fenômeno conhecido 
como Reforma Protestante, alcançada por Lutero, não foi exclusividade sua. Seu 
êxito está intimamente ligado ao contexto religioso, social e moral da Europa 
Ocidental, palco da Reforma. Além deste fato, existiram diversas tentativas internas 
de gerar mudanças e um retorno a um cristianismo mais “puro”, na medida em 
que a estrutura da Igreja Cristã ia se tornando mais complexa e alcançando uma 
amplitude cada vez maior ao longo do período medieval. Mosteiros opulentos, 
catedrais suntuosas em detrimento a uma população carente ao seu entorno 
geravam críticas internas e externas ao clero secular e regular. Não por acaso os 
séculos XII e XIII foram descritos por alguns autores que estudam aquela época 
como o período da Reforma da Idade Média.
2 OS FATORES PARA A ECLOSÃO DA REFORMA
Os séculos que precederam o XVI apresentaram, durante a Idade Média, 
muitas inquietações religiosas vislumbradas através de inúmeras heresias, como, 
por exemplo, os cátaros, os valdenses, os albigenses e os montanistas, entre outras, 
que não aceitavam a opulência das ordens monásticas como a Ordem de Cluny, por 
exemplo, e o enriquecimento da Igreja.
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A palavra heresia vem do grego hairesis, hairen, que significa escolher, 
representavapara os escritores eclesiásticos uma doutrina contrária aos princípios da fé 
oficialmente declarada.
UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
12
Dentro da própria Igreja, pensadores cristãos se levantaram para 
denunciar abusos doutrinários, como Bernardo de Claraval, mais conhecido 
como São Bernardo. Os séculos XIV e XV foram marcados por guerras, fomes 
e doenças como a famigerada Peste Negra, trazendo ao homem um contexto 
interior propício à mudança que não existia até então. 
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Você já deve ter ouvido falar de Peste Negra. Vinda pela China no início do 
século XIV, infectava os ratos e as pulgas que do sangue se alimentassem. Em suas viagens, 
os mercadores italianos em busca das especiarias orientais levavam em seus barcos, além 
das mercadorias, os ratos e suas pulgas. A peste devastou as regiões portuárias, chegando 
a matar cerca de 25 milhões de pessoas, segundo alguns historiadores. Atingiu seu ápice 
entre 1347 e 1352. Hoje é conhecida como peste bubônica.
A invenção da imprensa foi outro fator determinante de disseminação e 
tradução da Bíblia para as línguas vulgares. A tradução de Lutero, para se ter uma 
ideia, foi a décima sétima versão da Bíblia em alemão. Este conjunto de eventos, 
de ordem interna e externa à Igreja, fez da Reforma um movimento ao qual a 
Igreja Romana não pôde resistir.
3 LUTERO E A REFORMA
Lutero é fruto de seu tempo e sua formação foi humanista anticlerical. 
Sua incerteza com relação à salvação pelas obras o levou aos estudos, e assim foi 
monge, padre, doutor em Teologia e professor da Universidade de Wittenberg. 
Aprofundou seus estudos em busca de uma resposta para a salvação do homem 
e encontrou suas respostas nos escritos de Santo Agostinho, Lefebrve d’Etaples e, 
principalmente, na Bíblia.
FIGURA 4 - LUTERO
FONTE: Disponível em: <http://www.luteranos.com.br/lutero.html>. Acesso em: 19 maio 2008.
TÓPICO 2 | A EUROPA DOS DESCOBRIMENTOS: 
13
Um resumo da doutrina luterana pode ser tratado da seguinte maneira: o 
homem, decaído em razão do pecado original, só poderia ser salvo pelos méritos 
únicos de Jesus Cristo, consequentemente, as obras são inúteis à salvação e o 
homem é livre diante da lei. 
Dois fatores foram determinantes para o sucesso de Lutero, na Alemanha. 
O primeiro foi um discurso alinhado ao contexto de progresso econômico e 
intelectual que trouxe às elites humanistas uma identidade muito ligada à 
formação de um sentimento nacional independente de Roma e do Sacro Império 
Romano Germânico. O segundo foi o apoio dos príncipes alemães do norte que 
buscavam esta identidade e o desligamento do império.
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Na Unidade 3 iremos estudar outros reformadores que foram responsáveis pela 
fundação de denominações protestantes que perduram até hoje.
A Contrarreforma pode ser definida como a defesa das leis e doutrinas 
católicas em dois campos: na discussão intelectual ou apologética e nas perseguições 
religiosas, como o fortalecimento da Inquisição.
4 A REFORMA CATÓLICA OU CONTRARREFORMA
A resposta do mundo católico ao movimento reformatório protestante 
aconteceu em três frentes distintas: a Contrarreforma, a reforma disciplinar e 
doutrinal e a renascença católica com o despertar da fé e do aspecto missionário. 
É este último elemento que nos interessa de maneira mais preponderante, pois os 
jesuítas virão ao Brasil segundo esta ideologia de pregar o evangelho e catequizar 
os indígenas. As consequências dessa evangelização serão vistas mais adiante.
A Reforma católica acontece em dois momentos principais, em que o 
primeiro movimento busca restaurar a unidade da Igreja, e o segundo, quando 
as esperanças de unidade já não existiam, e ela passa a se organizar diante dessa 
nova realidade.
UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
14
Em primeiro lugar, a Igreja Católica reestruturou o ensino, que deveria 
refletir na formação de padres e em um renovado vigor no âmbito do evangelismo 
e nas obras de caridade. No momento seguinte, a própria Igreja buscou uma 
reforma interna, em que muitas das atitudes de abuso, criticadas pelos protestantes, 
foram denunciadas também pelo clero católico. Por fim, o Papa Paulo III renovou 
a Santa Inquisição romana, confirmando a relação de livros proibidos pela Igreja 
no Concílio de Latrão.
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Esta relação tinha o nome de INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM ou Índice dos 
livros proibidos. E sua primeira edição consta de 1557.
O meio para difundir as ideias reformistas foram as novas ordens 
monásticas, como os capuchinhos, os teatinos e aqueles que serão nossos 
companheiros de viagem ao Brasil colonial, os jesuítas.
5 O CONCÍLIO DE TRENTO
A Contrarreforma precisava de um documento que a legitimasse 
legalmente. Este documento foi o resultado do Concílio de Trento, que aconteceu 
entre 1545 e 1552, na cidade de Trento. O conteúdo deste documento tenta 
resolver dois problemas: definir os dogmas e restaurar a disciplina no clero e no 
povo. O Concílio regulamentou a instalação das ordens regulares, entre elas os 
jesuítas. Algumas já existiam antes do Concílio, porém este caráter missionário 
direcionado por Roma é fruto das discussões em Trento.
Com a chegada da segunda metade do século XVI, a divisão entre católicos 
e protestantes é bastante visível na Europa Ocidental. No norte do continente 
prevaleceu o protestantismo, sejam eles luteranos ou calvinistas; na região 
mediterrânea os católicos prevaleceram, e na região central do continente, composta 
por França, Áustria, Países Baixos, Suíça, entre outros, surgiu uma zona de litígio 
onde ocorreram as guerras religiosas, sendo que algumas permanecem sem solução 
até os dias de hoje. Existem diversas hipóteses antropológicas e sociológicas para 
esta divisão geopolítica, mas não cabem no contexto de nosso estudo.
Talvez você tenha percebido também que não colocamos muitas datas ou 
citamos muitos nomes neste tópico. A razão para buscarmos um panorama mais 
amplo é mostrar a você apenas o contexto. Você irá estudar mais a fundo o início 
do protestantismo na disciplina de História da Igreja.
TÓPICO 2 | A EUROPA DOS DESCOBRIMENTOS: 
15
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Para que você possa visualizar tudo aquilo que tratamos neste tópico e 
sedimente seu conhecimento, pode assistir ao filme Lutero, de 2003 e dirigido por 
Eric Till. O site oficial do filme, <http://www.luteroofilme.com.br/>, apresenta diversos 
recursos e textos importantes para entender a época e a trajetória de Lutero. Importante! 
Não esqueça a pipoca e do aconchego da família para que eles possam se inteirar daquilo 
que você está aprendendo!
Para que você possa entender a dimensão dos debates teológicos entre 
protestantes e católicos, entre nos sites onde estão as 95 teses de Lutero e o Concílio 
de Trento, só não cometa anacronismo. <http://www.culturabrasil.org/zip/95teses.pdf> e 
<http://www.monergismo.com/textos/credos/lutero_teses.htm>.
FIGURA 5 - LUTERO. DIREÇÃO ERIC TILL. ALEMANHA/EUA: UIP/PANDORA FILMES, 2003, 
DVD (112 MIN)
FONTE: Disponível em: <http://www.luteroofilme.com.br>. Acesso em: 20 jun. 2016.
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A Reforma Protestante teve causas políticas e sociais.
• O sucesso de Lutero esteve ligado ao contexto de seu tempo, como, por 
exemplo, o apoio dos príncipes alemães, a invenção da imprensa que facilitou 
a impressão da Bíblia e sua tradução para línguas vernáculas.
• A Contrarreforma foi uma reestruturação interna e externa da Igreja Católica, 
visando se atualizar frente ao avanço dos protestantes.
• Foi neste movimento que surgem os jesuítas, legitimados no Concílio de Trento, 
que serão fundamentais para a instalação da Igreja Católica no Brasil.
• O catolicismo permaneceu predominante na região do Mar Mediterrâneo como 
Portugal, Espanha e Itália, motivo pelo qual a colonização da América do Sul 
foi essencialmente católica.
17
Como autoatividade deste tópico, leia estes dois pequenos trechos, o 
primeiro, duas das 95 teses de Lutero, e o segundo, uma cláusula do Concílio 
deTrento. Faça uma análise dos dois textos e compare com o que discutimos 
neste tópico.
Tese 42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a 
compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras 
de misericórdia. 
Tese 43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando 
ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.
FONTE: 95 teses de Lutero. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br>. 
Acesso em: 14 maio 2008.
Cláusula 989. Tendo recebido de Cristo o poder de conferir Indulgências, já 
nos tempos antiquíssimos usou a Igreja deste poder, que divinamente lhe fora 
doado (cfr. Mt 16:19; 18:18). Por isso ensina e ordena o sacro Concílio que se 
deve manter na Igreja o uso das Indulgências, aliás muito salutar para o povo 
cristão, e aprovado pela autoridade dos sacros Concílios, condenando como 
excomungados os que afirmem serem as indulgências inúteis, bem como os 
que negarem à Igreja o poder de concedê-las...
Fonte: Concílio Ecumênico de Trento. Disponível na íntegra em <www.montfort.org.br/
index.php?secao=documentos&subsecao=concilios&artigo=trento&lang=bra>. 
Acesso em: 14 maio 2008.
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 3
A COMPANHIA DE JESUS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Os clérigos estiveram no Brasil desde a chegada de Cabral, porém, até o 
ano de 1549 sua atuação era esporádica, não estavam organizados e, muitas vezes, 
buscavam seus interesses particulares. Com o estabelecimento do Governo Geral do 
Brasil, em 1549, com ele vieram sete jesuítas representando a Igreja, com o objetivo 
de estabelecer o catolicismo nos territórios da América Portuguesa. Basicamente 
existiam duas divisões da Igreja: o clero secular composto por padres, bispos, 
freis, e o clero regular constituído por monges e frades, sendo estes últimos os que 
tiveram maior influência no primeiro século de ocupação portuguesa.
Diversas ordens se estabeleceram no Brasil durante o século XVI: 
franciscanos, carmelitas, beneditinos e jesuítas, entre outros. Vamos, neste tópico, 
analisar os movimentos desta ordem por ser ela, sem dúvida, a mais representativa 
dos projetos da Igreja para o Brasil no início da colonização.
2 INÁCIO DE LOYOLA E A COMPANHIA DE JESUS
A Companhia de Jesus surgiu em 1540, quando foi oficializada pelo papa 
em Roma. Seu fundador foi o espanhol Inácio de Loyola, que viveu entre 1496 
e 1551. É importante conhecermos um pouco, embora de maneira breve, a vida 
deste homem, para que então possamos entender a própria Companhia de Jesus.
Abrimos aqui um parêntese na literatura a respeito da biografia dos santos da 
Igreja Católica, mais conhecida como hagiografia. A vida dos santos normalmente 
é retratada pelos biógrafos como algo semelhante aos heróis da mitologia grega. 
Os santos são figuras míticas e é difícil confiar historicamente em todos os feitos e 
façanhas destes homens. É preciso pesquisar de maneira consistente para chegar a 
uma posição de equilíbrio entre a vida e devoção a estes homens.
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UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
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A palavra hagiografia vem do grego, hagios (santo), grafia (escrita), sendo 
designada como a vida dos santos.
FIGURA 6 - SANTO INÁCIO DE LOYOLA
FONTE: Disponível em: <educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u646.jhtm>. 
Acesso em: 20 jun. 2016.
Seu verdadeiro nome era Íñigo de Loyola e era um cavaleiro da nobreza 
espanhola. Levou uma vida secular até os 30 anos, quando, em 1521, teve um 
grave ferimento em suas pernas, oriundo de uma bala de canhão durante a 
resistência espanhola contra os franceses em Castela.
Entre a vida e a morte em Pamplona, onde passa por um doloroso 
processo de cura, Inácio começa a ler a vida de Cristo e a vida dos Santos e deseja 
realizar uma peregrinação para Jerusalém, seguindo os passos de São Francisco 
e São Domingos. Passa um ano servindo e ajudando os pobres e enfermos na 
cidade espanhola de Manresa, onde tem um “iluminamento espiritual”, onde, 
segundo ele mesmo em sua autobiografia, teve uma revelação e entendimento de 
muitas coisas, inclusive de seu propósito de vida. É neste momento, em 1522, que 
a Companhia de Jesus nasce em sua mente. Neste tempo em Manresa, também, 
Inácio escreve seus exercícios espirituais, uma lista com regras práticas para 
alcançar a maturidade espiritual e escapar dos pecados deste mundo. Este será 
o manual dos jesuítas em suas viagens missionárias pela África, Ásia e América.
TÓPICO 3 | A COMPANHIA DE JESUS
21
Em 1523 ele vai até Jerusalém, quando retorna a Barcelona, e se propõe a 
estudar para buscar o título de sacerdote. Com problemas com a Inquisição, que 
não aceitava que leigos pregassem ou realizassem as obras que Inácio realizava, foi 
preso por duas vezes para investigação, e decidiu partir para Paris para concluir 
seus estudos. Na França conhece os companheiros com os quais irá estabelecer 
a Companhia de Jesus anos mais tarde. Recebem a autorização papal em 1540 
e estabelecem a ordem religiosa oficialmente. Missionários são enviados para a 
Ásia, África e América. E a Companhia fundada por Inácio de Loyola adotará as 
características de organização militar e fervor religioso de seu fundador. 
FIGURA 7 - SANTO INÁCIO DE LOYOLA
FONTE: Disponível em: <educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u646.jhtm>. 
Acesso em: 20 jun. 2016.
A vida de Inácio apresenta muitos pontos, os quais foram suprimidos em 
virtude do caráter deste trabalho. A biografia de Loyola deve mostrar de que 
maneira surge a Companhia de Jesus e como ela se difere das demais ordens 
religiosas, como franciscanos e dominicanos, por exemplo.
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UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
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Para ilustrar este item, leia o trecho da Regra da Companhia de Jesus, 
elaborada por Inácio e seus colegas.
(Tomada da Bula de Confirmação do Instituto por Júlio III – 1551)
Todo aquele que pretender combater por Deus sob a bandeira da Cruz, na nossa 
Companhia, que desejamos se assinale com o nome de Jesus, e servir somente ao Senhor 
e à sua Esposa, a Igreja, sob a direção do Romano Pontífice, Vigário de Cristo na Terra, 
depois dos votos solenes de perpétua castidade, pobreza e obediência, persuada-se que 
é membro da Companhia, instituída principalmente para a defesa e propagação da Fé e o 
aperfeiçoamento das almas.
Este movimento tem o nome de Teocracia Papal e foi o responsável por 
vários embates entre o papa e os reis desde o início da Idade Média.
3 A CHEGADA AO BRASIL E A PRÁTICA DO PADROADO
Vimos, nos dois primeiros tópicos de nossa apostila, que a Igreja estava 
atrelada ao Reino Português durante o Absolutismo e que a Igreja Católica reagiu 
à difusão protestante na Europa. Os jesuítas exemplificam a personificação destas 
duas vertentes.
Os primeiros jesuítas chegam ao Brasil oficialmente em 1549, com Manuel 
da Nóbrega como líder e com a missão de estabelecer o sistemático “alargamento 
da fé católica”.
O Concílio de Trento previa o endurecimento da postura católica como 
meio de barrar o avanço protestante. Como sua hegemonia diminuía na Europa, 
a Igreja buscou explorar a América do Sul de maneira a salvar a fé católica nestas 
terras. Era uma oportunidade de a Igreja, com a ajuda de Portugal e Espanha, 
estabelecer um império temporal tendo o papa como líder.
Era preciso catequizar os indígenas, estabelecer o modo de vida europeu 
com seus métodos de trabalho e sistema econômico. Dessa forma surgiram as 
reduções jesuíticas.
TÓPICO 3 | A COMPANHIA DE JESUS
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Reduções eram comunidades indígenas criadas pelos jesuítas visando “reduzir” 
os índios à vida civilizada europeia, ou seja, a cultura própria dos nativos foi ignorada pelos 
europeus, que impuseram sua cultura aos índios. Chamamos este fenômeno de etnocentrismo, 
ou olhar para o outro sob seu ponto de vista.
Muita gente acredita que os índios sempre foram assim chamados. Porém eles 
receberam este nome dos portugueses, na medida em que acharam (se bem que a ideia 
do descobrimento é bastante discutível), por um momento,terem desembarcado na Índia.
FIGURA 8 - JESUÍTAS CATEQUIZANDO ÍNDIOS
FONTE: Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/iconograficos/
Jesuitas_catequizando_indios.html>. Acesso em: 16 maio 2008.
Outro papel fundamental dos jesuítas (lembre-se de que eles foram o 
braço de Roma na Contrarreforma) foi o de combater os franceses, holandeses e 
cristãos novos no Brasil, quando estes buscavam se estabelecer no litoral e, por 
consequência, praticar o culto protestante ou judaico. Muitos moradores das vilas 
por onde eles buscavam se estabelecer, como os holandeses em Pernambuco, 
simpatizavam com o culto protestante. Uma vez expulsos do Brasil, os jesuítas 
investiam na catequese destes grupos para que retornassem à fé católica, o que 
acontecia pela intimidação e medo das consequências por parte destes grupos.
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UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
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Os portugueses chamavam de cristãos novos os judeus que se convertiam ao 
cristianismo. Essa “conversão” era muitas vezes forçada pelas autoridades portuguesas, 
sob pena de serem expulsos da península caso desobedecessem. Secretamente, porém, 
muitos continuavam praticando o culto judaico. Por esta razão, foram muito perseguidos 
pela Santa Inquisição, acusados de bruxaria. Os judeus, desde a Idade Média, sofriam com 
a discriminação dos cristãos que os acusavam da morte de Jesus Cristo.
Outro erro comum que cometemos quando analisamos a História é sermos 
anacrônicos. Você sabe o que significa isso? Anacronismo ocorre quando analisamos 
o jesuíta, o bandeirante ou o indígena de 1600 através de nosso olhar e consciência 
do século XXI. Para conseguirmos uma visão clara de como pensavam estas pessoas, 
precisamos mergulhar fundo no estudo da sociedade da época.
Percebemos neste contexto duas “divisões” da Companhia de Jesus: o 
grupo das reduções, que se estabeleceram principalmente na região pertencente 
hoje ao sul do Brasil, ao Paraguai, Uruguai e ao Norte da Argentina, além dos 
que se aventuraram pela Amazônia e pelo interior, atravessando a fronteira entre 
a América espanhola e a portuguesa, estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, 
mas que na prática nunca foi muito respeitado, pois ninguém sabia ao certo onde 
começava e onde terminava esta fronteira traçada em um mapa na Europa. Nas 
terras, essa percepção praticamente não existia, pois não havia instrumentos para 
localização e posicionamento geográfico preciso, e o que pautava as incursões 
dos homens que por aqui estiveram eram fundamentalmente os interesses 
econômicos. O outro grupo pode ser considerado preponderantemente urbano, 
permaneciam junto às vilas, fundando colégios, buscando doutrinar também o 
“homem branco” que, segundo relatos dos próprios jesuítas, era muitas vezes tão 
ou mais “bárbaro” que os indígenas. 
4 A EDUCAÇÃO JESUÍTA
O estabelecimento oficial dos jesuítas, chefiados por Manoel da Nóbrega 
em 1549, deu início a um programa educacional bastante eficaz na Colônia. Tinha 
um objetivo duplo: nas tribos indígenas a catequese buscava inserir os índios ao 
modo de vida europeu, enquanto nas vilas - São Vicente, por exemplo -, buscavam, 
TÓPICO 3 | A COMPANHIA DE JESUS
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O Padroado poderia ser associado a um “apadrinhamento” das ordens 
religiosas pela Coroa portuguesa. Era o rei de Portugal que era responsável por nomear os 
líderes religiosos que viriam para o Brasil em troca de financiar a Ordem, como os jesuítas. 
Esta prática era benéfica para ambos os lados, na medida em que os missionários teriam 
os recursos necessários para seu trabalho missionário e a Coroa teria certeza de que os 
jesuítas estariam alinhados com as políticas portuguesas para o Brasil.
além de ensinar a ler e escrever, formar quadros para novos missionários jesuítas. 
Precisamos conhecer como esta “máquina” jesuíta funcionava e seus interesses 
para que possamos entender seu sucesso.
O primeiro elemento está relacionado à prática do Padroado, uma 
associação muito estreita entre a Coroa portuguesa e as ordens religiosas.
O segundo elemento está relacionado ao financiamento das obras 
missionárias, tendo em vista que Santo Inácio não permitiu de maneira nenhuma 
o enriquecimento de membros da Companhia de Jesus. A questão financeira foi 
resolvida através da prática da redizima, oriunda de Portugal.
FIGURA 9 - ALDEIA MISSIONÁRIA NO SÉCULO XVII
FONTE: Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/iconograficos/Aldeia_
Missionaria.html>. Acesso em: 20 jun. 2016.
ESQUEMA DE UMA MISSÃO JESUÍTICA
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UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
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A redizima foi instituída em 1564 por Dom Sebastião, eram recursos retirados 
dos impostos que o Brasil devia enviar a Portugal, que eram intitulados como “esmolas” 
para o sustento dos colégios e missões.
Veremos este evento no próximo tópico desta unidade.
O financiamento da Ordem pelo Rei de Portugal mostra que, além da 
evangelização dos indígenas, a ação jesuíta tinha também um caráter de conquista 
do território, na medida em que, além dos portugueses e espanhóis, outros europeus 
começaram a desembarcar em terras brasileiras, como os franceses e holandeses.
Você poderia se perguntar: O que é que os jesuítas ensinavam aos índios ou 
aos mestiços de 1560? Para responder a esta questão, recorremos ao autor Sérgio 
Buarque de Holanda, que organizou a História Geral da Civilização Brasileira. 
Este autor nos revela que o grupo de disciplinas ensinadas nos colégios jesuítas 
pertencia ao Ratio Studiorum, que fala de cinco classes de disciplinas: uma de 
retórica, outra de humanidades e três de gramática, além do estudo de filosofia. 
A duração dos estudos girava em torno de nove anos. Os materiais utilizados 
eram, em sua maioria clássicos como Cícero, Ovídio e Virgílio.
A estratégia de treinar e educar localmente novos quadros para atender 
à demanda interna, somada aos recursos da Coroa portuguesa, surtiu um efeito 
surpreendente. Cinquenta anos após a chegada oficial dos sete primeiros jesuítas 
havia milhares de clérigos espalhados na Europa, América e Ásia. O caráter destes 
colégios era, segundo o padre Serafim Leite (1965, p. 143), gratuito e público.
A educação jesuíta continua se desenvolvendo até que bruscamente é 
interrompida pela expulsão dos jesuítas em 1759. Com este evento, a educação 
passou a sofrer modificações de modo a se tornar leiga, sem o caráter missionário 
dos jesuítas. A verdade é que, sem os jesuítas, o sistema educacional ruiu e muito 
tempo depois o Estado assumiu a responsabilidade de gerenciar os colégios, num 
complexo processo que culminará com as escolas públicas que temos hoje no Brasil.
 
TÓPICO 3 | A COMPANHIA DE JESUS
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Este dilema entre a colonização católica na América do Sul e protestante onde 
hoje ficam os Estados Unidos e grande parte do Canadá é bastante pertinente e complexa 
e também está relacionada à educação oferecida nas colônias. Um aspecto importante 
que serve como exemplo desta diferenciação é a maneira como cada povo via o dinheiro 
e o cuidado com ele. Para os católicos do século XVI, as riquezas pertencem ao diabo e 
os cristãos devem se despir de suas riquezas terrenas, buscando sua recompensa na vida 
eterna. Para os protestantes da Nova Inglaterra, as riquezas são um sinal visível do favor de 
Deus ante o trabalho de seus filhos. Alguns autores apontam para esta linha doutrinária ser 
uma das razões para explicar a condição econômica muito diferente entre a América Latina 
e os EUA e o Canadá. Se você ficou interessado nesta questão, recomendo o clássico do 
sociólogo alemão Max Weber intitulado A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
A minissérie A Muralha, de 2000, escrita por Maria Adelaide Amaral e João 
Emanuel Carneiro, trata da fundação da vila de São Paulo de Piratininga. A minissérie foi 
elaborada como parte das comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil.
A educação jesuíta foi a grande responsável pelo estabelecimento 
definitivo do catolicismo no Brasil, na medidaem que havia protestantes e judeus 
no início da colonização. As duas frentes de ação dos educadores, os indígenas e 
os habitantes das vilas, foram determinantes para a formação de uma consciência 
católica e uma barreira para as ideias dos reformadores franceses e holandeses na 
sociedade brasileira em formação.
5 OS JESUÍTAS E OS BANDEIRANTES
Antes de falar das guerras entre jesuítas e bandeirantes, é preciso tentar 
definir este homem, a quem a história atribuiu o nome de bandeirante. Tratados 
como bandidos por alguns, heróis por outros, é difícil encontrar uma descrição 
precisa sobre os fundadores de São Paulo. As fontes históricas apontam que eles 
viviam numa sociedade desorganizada e frágil, sem recursos financeiros, ou seja, 
eram muito pobres. Neste contexto de miséria e fome, foram impelidos rumo ao 
sertão, ao interior em busca de riquezas minerais e humanas: escravizar índios 
era a atividade principal dos bandeirantes.
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UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
Os relatos nos contam que os bandeirantes eram cruéis e violentos, porém 
eram bem organizados em suas expedições rumo aos territórios dominados pela 
Espanha. Foram eles os responsáveis pelo estabelecimento das fronteiras e do 
território que temos hoje. Foram os bandeirantes paulistas que deram ao Brasil 
sua forma atual, por efetivamente ocuparem as terras do sertão além da linha do 
famoso Tratado de Tordesilhas. 
Entre os bandeirantes e os índios estavam os jesuítas espanhóis que 
ocupavam o território que hoje pertence ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina, 
Paraná e Mato Grosso do Sul, além do Paraguai e norte da Argentina, nas reduções 
jesuíticas já tratadas anteriormente. A historiografia tradicional desenha o jesuíta 
como um salvador e protetor dos indígenas, e o bandeirante como um famigerado 
paulista que assassinava e destruía aquilo que se colocasse no caminho entre eles 
e os indígenas.
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Historiografia é a história da história, ou seja, é o estudo de como a história 
chegou até nós. Com o passar do tempo, a versão da história vai se adaptando a novas 
realidades que condizem com o momento histórico em que o historiador vive.
No lado espanhol de Tordesilhas, os jesuítas formaram, nas Reduções, 
“repúblicas” praticamente independentes da Espanha, onde os jesuítas e os 
índios conviviam em aparente unidade e harmonia. Eram sociedades que se 
autossustentavam, através do trabalho indígena e supervisão dos clérigos. O 
objetivo principal era o de tomar posse da terra para a Igreja e catequizar os nativos. 
As reduções tornaram-se empreendimentos bastante rentáveis para os jesuítas, 
que começaram a exportar os excedentes da produção agrícola para a Europa, 
mostrando assim que agiam de maneira independente da Coroa portuguesa e 
espanhola, principal razão para sua expulsão do Brasil em 1759 pelo Marquês de 
Pombal. Voltaremos a este assunto em breve.
O ciclo bandeirante surge com o declínio da produção açucareira e da 
extração de pau-brasil, vinculadas com a exploração do litoral brasileiro. Com a 
competição holandesa no açúcar no Caribe, muitos homens rumaram em direção 
ao interior do país em busca de dois elementos: ouro e índios. As reduções eram 
um oásis para os bandeirantes, pois continham grande contingente indígena, às 
vezes milhares deles concentrados e já catequizados. Por esta razão, as reduções 
eram alvos dos paulistas, que destruíram praticamente todas as reduções que 
encontraram. Os jesuítas, da mesma forma, tiveram duas funções durante a 
expansão bandeirante: o grupo ligado a Portugal muitas vezes acompanhava as 
incursões dos bandeirantes e faziam parte das campanhas em direção ao interior. 
TÓPICO 3 | A COMPANHIA DE JESUS
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Para entender melhor este embate entre portugueses e espanhóis/jesuítas e 
bandeirantes, assista ao filme A Missão (The Mission), de 1986, dirigido por Roland Joffé. O 
filme conta a história de um mercador de índios arrependido que se torna jesuíta e ajuda 
na defesa dos Sete Povos das Missões durante as guerras guaraníticas. O filme conta com 
a presença de grandes atores de Hollywood. Em meio a tanto conhecimento, nada como 
um filme para relaxar um pouco, sem deixar de aprender também!
O outro grupo, aqueles que cuidavam e comandavam as reduções, enfrentaram os 
invasores organizando os indígenas e através de armas de fogo. A influência militar 
do fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola, se mostra mais uma vez 
entre seus seguidores. Esta disputa pelos índios foi vencida pelos portugueses que 
mantinham sua base na vila de São Paulo de Piratininga em 1553, com os jesuítas 
migrando com os índios remanescentes para o território do Paraguai.
FIGURA 10 - CAPA DA EDIÇÃO COMEMORATIVA DO FILME
FONTE: Disponível em: <http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=107>. 
Acesso em: 20 jul. 2016.
A vitória bandeirante se deve principalmente à crise vivida pela Espanha 
a partir do século XVII, que não podia enviar exércitos para proteger a região das 
reduções. Os jesuítas foram continuamente derrotados pelas bandeiras paulistas 
até que, em 1639, recebem a autorização do rei e do papa para se armarem. É neste 
período que as famosas reduções dos Sete Povos das Missões se estabelecem no 
Sul naquilo que ficou conhecido como “República Guarani”. A resistência jesuíta 
ganhou força na primeira metade do século XVIII, com o enfraquecimento de São 
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UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
Paulo, enquanto perdiam os territórios de Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, 
devido às minas de ouro encontradas nestes locais. Na busca pelas riquezas, 
eles se esqueceram de sua cidade e enriqueceram os locais por onde passaram, 
enquanto São Paulo permanecia um entreposto sem muita expressão.
O resultado da guerra entre jesuítas e bandeirantes é incerto, alguns 
autores dizem que em cem anos de lutas cerca de 300 mil indígenas teriam sido 
mortos ou escravizados e metade das reduções havia sido destruída. Com o 
avançar do século XVIII, Portugal e Espanha buscaram através de tratados fixar os 
limites das fronteiras. Um deles, o Tratado de Madri de 1750, previa que a região 
dos Sete Povos fosse entregue aos portugueses. Os jesuítas deveriam evacuar 
as reduções e partir com os indígenas rumo ao Paraguai. Eles demoraram, mas 
acataram a decisão de Portugal e Espanha, porém os indígenas se rebelaram e 
lutaram por três anos contra as metrópoles, sendo enfim vencidos e massacrados 
mais uma vez. 
Este evento marca o crepúsculo bandeirante e jesuíta no Brasil. Com as 
fronteiras definidas e com a separação entre Igreja e Estado cada vez mais próxima, 
a Companhia de Jesus perde espaço para o clero regular, que se estabelece nas 
cidades que começam a crescer próximas à administração pública da Colônia.
6 A EXPULSÃO DOS JESUÍTAS
O desgaste gerado entre a Companhia de Jesus e os bandeirantes paulistas 
aumentou tanto que os últimos expulsaram os jesuítas de São Paulo várias 
vezes entre 1643 e 1653. O rei de Portugal, que buscava influência em São Paulo, 
negociou o retorno dos jesuítas, pedido este atendido apenas dez anos mais tarde.
Todo o declínio da Companhia tem relação com a mudança de estrutura 
do Brasil do século XVIII, que voltava suas atenções para a região mineradora. 
São Paulo e o Sul passam a fornecer carne para a região das Minas através do 
famoso caminho de Viamão, que ligava a colônia de Sacramento até Sorocaba. 
Os indígenas remanescentes foram para os territórios do Paraguai, Argentina e 
Uruguai, além dos indígenas do Norte, na região amazônica, onde permaneceram 
de certa forma protegidos, muitos intocados até o século XIX, pela falta de 
interesse econômico imediato nestas regiões.
Nas aldeias que permaneceram sob a custódia dos jesuítas, os clérigos 
montaram uma estrutura econômica bastante rentável e negociavam eles 
próprios com os mercadores ingleses, holandeses e franceses que atracavam 
na costa brasileira para carregarem seus navios de produtos. A administração 
portuguesa não via com bons olhosesta autonomia da Companhia de Jesus e 
decretou a separação entre a liderança espiritual e administrativa das aldeias, 
que se tornaram cidades. Aos poucos, líderes leigos enviados pela administração 
central começaram a tomar conta dos negócios das aldeias, até que em 1759 o 
Marquês de Pombal, o representante português do Iluminismo, expulsa os 
jesuítas de Portugal e do Brasil. Esta expulsão se deu na tentativa de Pombal de 
TÓPICO 3 | A COMPANHIA DE JESUS
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modernizar Portugal alinhando as ideias iluministas francesas à gestão do país e 
de sua Colônia americana, separando de vez Estado e Igreja. Esta separação foi 
benéfica para a Igreja secular, que tinha restrições para crescer nas cidades, pois 
deveria atender à demanda da Coroa e seu crescimento era controlado devido à já 
tratada prática do Padroado. As igrejas dependiam do financiamento do Estado 
para manter seus quadros funcionando. Sem esta vinculação, as paróquias 
cresceram rapidamente e seminários foram se estabelecendo para suprir a grande 
demanda deixada pela Companhia de Jesus. Esta nova fase da Igreja Católica no 
Brasil foi praticamente citadina, ou seja, a atenção da liderança eclesiástica estava 
voltada para os novos centros urbanos que despontaram a partir da mineração de 
ouro e pedras preciosas na região Centro-Oeste do Brasil. 
Por outro lado, o único sistema educacional existente no Brasil eram os 
colégios jesuíticos. Com sua saída, um vazio neste setor foi criado na educação, 
que demorou muito para ser substituído por um sistema secular, ou seja, a 
responsabilidade pela educação passou a ser da Coroa portuguesa, embora 
algumas ordens religiosas continuassem a comandar colégios, porém numa 
escala bastante inferior, além de não contarem mais com o patrocínio laico. A 
resultante deste processo é um sistema público defasado e escolas e colégios 
religiosos geralmente particulares para uma classe econômica mais elevada.
FIGURA 11 - SÍMBOLO DA ORDEM JESUÍTA
FONTE: Disponível em: <http://arquidiocesecampinas.com/congregacoes/jesuitas>. 
Acesso em: 20 jun. 2016.
UNI
UFA! Este é o tópico mais “pesado” desta unidade. Descanse um pouco e 
verifique se assimilou o conteúdo no resumo do tópico! Se precisar, dê uma “olhadinha” nas 
páginas anteriores para refrescar a memória.
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você aprendeu que:
• Os jesuítas foram o principal braço da Contrarreforma da Igreja Católica.
• A Companhia de Jesus agiu em duas frentes principais: na catequese dos índios 
e nos colégios jesuítas para os “brancos” e mestiços.
• Os jesuítas estavam no caminho entre os bandeirantes paulistas e os índios. 
Esta foi a principal razão para as guerras entre ambos.
• Com a separação entre a Coroa e Igreja, os jesuítas perderam os benefícios do 
Padroado e perderam espaço para o clero secular.
• A influência do Iluminismo francês, personificado pela figura do Marquês de 
Pombal, procurou secularizar a administração portuguesa e brasileira.
• A autonomia com que os jesuítas atuavam nas aldeias indígenas, com a venda 
da produção excedente aos mercados europeus através dos piratas ingleses, 
franceses e holandeses, ameaçava a hegemonia da Coroa portuguesa, levando 
à expulsão da ordem jesuíta do Brasil e de Portugal em 1759.
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Como parte das comemorações dos 500 anos da chegada dos 
portugueses ao Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) 
elaborou uma encíclica intitulada: Brasil, 500 anos de diálogo e esperança. 
Carta à sociedade brasileira e às nossas comunidades. Leia o trecho da Carta 
e a seguir escreva um texto (15 linhas no mínimo) sobre o papel da Igreja no 
Brasil Colonial. Fale de fatores positivos e negativos desta colonização. Se você 
se interessar pela carta dos bispos, o texto integral encontra-se no site da CNBB: 
Disponível em: <http://www.cnbb.org.br/documento_geral/LIVRO%2065-%20ESPERANCA.pdf>.
II - Recordando o Passado
17. No passado, na era colonial e do Império, teve grande influência a lei do 
Padroado. Ligou trono e altar, cruz e espada. Se a intenção era boa, de 
fato, porém, criou dificuldades para a formação humana e cristã do povo 
brasileiro. 
18. Os povos indígenas, em sua maioria, acabaram sendo escravizados e 
foram aos poucos dizimados pelo trabalho pesado, pelas doenças, pela 
desestruturação cultural, por guerras e massacres. Fracassada a escravidão 
indígena, os colonizadores importaram pessoas da África negra para 
o trabalho escravo nas fazendas e nas minas. Este foi um dos aspectos 
negativos da colonização. Sempre que não se respeita o ser humano, todos 
se prejudicam.
19. Externamos profunda gratidão à providencial ação dos missionários. Ela 
foi sólida e fecunda, de sorte que, parafraseando o Papa João Paulo II, a 
verdade sobre Deus e o homem, pregada por eles, ganhou um tal espaço a 
se constituir uma espécie de tribunal de acusação dos responsáveis daqueles 
abusos (Santo Domingo, Discurso inaugural 4). Eles conseguiram criar uma 
cultura permeada de valores cristãos, dotada de profunda religiosidade, 
acolhedora e aberta à diversidade étnica, marcada por forte sensibilidade 
humana, sobretudo entre os mais humildes da população. Vale a pena 
recordar que aos poucos surgiram Irmandades entre nossos irmãos e irmãs 
de origem africana. Obtiveram notáveis resultados no testemunho da fé, 
virtudes sólidas e manifestações artísticas originais em honra de Nosso 
Senhor Jesus Cristo, de Nossa Senhora e de Santos e Santas.
AUTOATIVIDADE
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20. O período republicano trouxe a separação jurídica entre Igreja e Estado. 
A Igreja deixou de ser reconhecida como religião “oficial”. Em lugar da 
aliança Trono-Altar, surgiu a aliança Igreja-Povo. Esse fato trouxe para 
a Igreja maior liberdade e vida. As Ordens foram restauradas e vieram 
para o Brasil numerosas Congregações religiosas, que deram valiosa 
contribuição no campo da educação e da saúde. Foram também retomadas 
as missões nas mais difíceis e abandonadas regiões, Amazônia e Centro-
Oeste. A Igreja pediu aos católicos maior empenho social e político.
21. Não obstante muitos aspectos positivos do passado, ficaram marcas 
negativas, fruto também de erros dos cristãos. Sem pretender culpar 
nossos antepassados, sentimos a necessidade de pedir perdão daquilo 
que objetivamente foi contra o Evangelho e feriu gravemente a dignidade 
humana e muitos irmãos e irmãs nossos. Aos índios foram tiradas as 
terras, a vida e até mesmo a razão de viver. Aos negros foi violentada a 
liberdade e dificultada a conservação de sua cultura e memória e até hoje 
não lhes foi restituída a condição da plena cidadania. É ainda a situação de 
extrema carência da parte do povo. Ela tem as suas raízes na longa história 
de exclusão da sociedade brasileira. Esta população pobre, juntamente 
com índios e negros, é credora de uma imensa dívida social, acumulada 
durante os séculos da formação de nosso povo. 
22. Diante destas situações dolorosas, que perduram em nossos dias, pedimos 
perdão a Deus e a esses nossos irmãos e irmãs. Este pedido exige, de 
cada um de nós, que somos cidadãos e cidadãs desta pátria – mais ainda 
por sermos cristãos – o sincero arrependimento e o desejo de reparar o 
mal feito, decidindo-nos a viver no espírito do Evangelho e a ser, hoje, 
instrumentos de reconciliação e de edificação de uma sociedade justa, 
fraterna e solidária.
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TÓPICO 4
OS PRIMEIROS PROTESTANTES NO BRASIL
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O estudo da História em nossa vida acadêmica pode pecar pela concentração 
do conhecimento levando a generalizações. Com a História da Igreja acontece 
a mesma coisa. Como a hegemonia religiosa sempre foi católica, a presença 
protestante no início da colonização é praticamente ignorada pela historiografia.
Os protestantes estiveram presentes desde o início da colonização, porém, 
devido à Contrarreforma e a perseguição dos jesuítas e da Inquisição, não pôde 
ser disseminada no Brasil como ocorreu nos Estados Unidos. Esta presença foi 
esparsa até o início do século XIX, coma chegada da família real portuguesa num 
primeiro momento, e depois com a abolição da escravidão e a imigração em massa 
de europeus, que trouxeram sua fé e estabeleceram o protestantismo no Brasil.
UNI
A Unidade 3 é destinada a contar a saga destes imigrantes e como a partir deles 
surgiram as primeiras denominações protestastes ou evangélicas no Brasil.
A presença protestante era constante no Brasil devido ao comércio e pirataria 
de franceses, ingleses e holandeses na costa brasileira. Eles procuravam pau-brasil, 
animais silvestres, peles, especiarias e outros artigos. Porém, esta presença não 
trouxe maiores influências no campo dogmático e teológico, na medida em que 
eles não permaneceram no continente.
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UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
Oficialmente existiram três tentativas de ocupação de terras que viriam a 
ser a América Latina: uma nos territórios onde hoje está a Venezuela e duas nas 
terras que se tornaram mais tarde o Brasil. Nos séculos XVI e XVII existiram duas 
tentativas efetivas de criar um núcleo protestante, de cunho calvinista, no Brasil: 
os franceses na “França Antártica” e os holandeses em Pernambuco. Vamos 
observar cada um destes eventos.
2 OS FRANCESES NA GUANABARA
Os reformadores calvinistas eram considerados mais vigorosos e ativos 
que os seguidores de Lutero e eram conhecidos como huguenotes.
UNI
Os calvinistas eram assim chamados por seguirem ao reformador francês João 
Calvino (1509-1564). Já os huguenotes eram os calvinistas franceses. Os calvinistas deram 
origem ao presbiterianismo, que será tratado na Unidade 3 de nosso caderno de estudos.
Como no restante da Europa, na França, os protestantes foram perseguidos 
pela Igreja Católica durante boa parte dos séculos XVI e XVII. O maior exemplo 
desta perseguição foi o chamado massacre da Noite de São Bartolomeu, que 
aconteceu em agosto de 1572 e vitimou milhares de huguenotes franceses.
FIGURA 12 - MASSACRE DE HUGUENOTES DA NOITE DE SÃO BARTOLOMEU
FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Pv08npK8zPg>. 
Acesso em: 20 jun. 2016.
TÓPICO 4 | OS PRIMEIROS PROTESTANTES NO BRASIL
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Como resultado desta perseguição religiosa na Europa, muitos protestantes 
encontraram no Novo Mundo uma oportunidade de praticar a fé reformada sem 
as perseguições. Os ingleses rumaram para a Nova Inglaterra no território onde 
hoje está a costa leste dos Estados Unidos, e outros grupos se espalharam pela 
América. 
Em 1555, Nicolas Durand de Villegaignon iniciou um projeto para 
estabelecer uma Colônia na região onde hoje se encontra a Baía da Guanabara, 
no Rio de Janeiro. Ele teve uma carreira militar brilhante, onde combateu pela 
França em diversas batalhas e foi condecorado com o vice-almirantado da 
esquadra da Bretanha. Como não possuía recursos próprios para financiar esta 
viagem, buscou auxílio entre católicos e protestantes, que reuniram as pessoas 
e os recursos necessários para a empreitada. Villegaignon era católico, porém 
se mostrava simpático ao credo reformado, razão pela qual tinha o apoio do 
próprio Calvino e dos altos representantes do calvinismo. Para os reformados, 
a possibilidade de encontrar refúgio em novas terras onde poderiam participar 
de seus cultos em liberdade era a chama que os motivava a partir de suas terras.
FIGURA 13 - FUNDAÇÃO DA FRANÇA ANTÁRTICA
Villegaignon, de armadura, assiste à missa celebrada por André Thevet no Rio de Janeiro,  
que marcou o início da França Antártica em 1555.  Mural de Carlos Oswaldo, acervo do Palácio 
São Joaquim, no Rio de Janeiro.
FONTE: Disponível em: <www.novomilenio.inf.br/festas/anchie06.htm>. Acesso em: 20 jun. 2016.
As dificuldades foram muitas: além da falta de recursos, dificuldade 
na obtenção de alimentos e construção de suas casas, havia os portugueses que 
estavam próximos, o clima e as doenças tropicais que se abateram sobre os colonos.
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UNIDADE 1 | A IGREJA NO PERÍODO COLONIAL
O líder da expedição, católico, buscou mostrar-se simpático ao credo 
calvinista, visando alcançar o apoio de ambos os grupos. Além das dificuldades 
externas, os problemas internos foram decisivos para o fracasso da França 
Antártica, como ficou conhecida a tentativa de colonização francesa. O duro regime 
de trabalho imposto aos recém-chegados não agradou a muitos e as revoltas 
começaram. Alguns intérpretes normandos que acompanharam a expedição 
desertaram e juntaram-se aos índios, indo morar em suas aldeias e adotando seu 
modo de vida. O apoio dos indígenas era fundamental para os franceses, que 
adotaram uma estratégia diferente dos portugueses, buscando a simpatia dos 
nativos. Estes homens convenceram os índios de que os invasores eram hostis e 
este apoio fundamental das tribos próximas foi perdido. O segundo problema foi 
de ordem teológica. A mistura entre católicos e protestantes deu origem a diversas 
discussões sobre doutrinas de ambos os credos, a ponto de um calvinista partir 
rumo à Europa para ouvir o próprio Calvino sobre suas questões. Enquanto isso, 
na Guanabara, Villegaignon começa a exigir que se respeitem os sacramentos e 
a tradição da Igreja, o que causa a ira dos huguenotes e culmina com a expulsão 
destes da França Antártica. O navio que os levaria de volta para a França apresenta 
problemas e cinco homens retornam à terra. Neste sentido, a nova colônia ruiu 
internamente antes de ser atacada externamente pela Coroa portuguesa.
Eles foram inquiridos pelos homens de Villegaignon e o resultado desta 
exposição apologética foi a escrita da Confissão de Fé da Guanabara. Dos cinco 
homens que retornaram, quatro foram executados e apenas um foi poupado, por 
ser o único alfaiate da colônia. Em 1559, o líder francês retorna à Europa para se 
defender das acusações que recaem sobre ele por parte tanto de católicos como 
de protestantes.
As notícias que chegavam à Europa sobre estes desentendimentos 
barraram o crescimento da França Antártica, na medida em que, em 1558, 
existiam projetos para enviar cerca de 800 colonos e pastores calvinistas para o 
Brasil, para efetivamente ocuparem a terra, o que acabou não acontecendo devido 
à instabilidade da região.
O Governo Geral, instalado na Bahia, permaneceu inerte ante a chegada 
dos franceses, por falta de recursos para enfrentá-los. Somente em 1560 o auxílio 
chega da Metrópole e, juntamente com o auxílio de São Vicente e de indígenas 
que, em 1567, tomam a Guanabara e expulsam os franceses do Brasil, terminando 
desta forma com a tentativa de uma colonização predominantemente protestante 
no Brasil Colonial.
TÓPICO 4 | OS PRIMEIROS PROTESTANTES NO BRASIL
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FIGURA 14 - EXPULSÃO DOS FRANCESES
Em 20/1/1567, tropas portuguesas lideradas por Mem de Sá, com apoio dos índios Temiminós, 
venceram os franceses e os tamoios na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro.
FONTE: Disponível em: <www.novomilenio.inf.br/festas/anchie06.htm>. Acesso em: 20 jun. 2016.
O padre José de Anchieta retratou a batalha entre franceses e portugueses 
em seu escrito “De Gestis Mendi de Saa”, onde retrata a visão portuguesa do 
conflito desde a chegada dos portugueses, a convocação dos índios à força para 
lutarem, as negociações com a capitania de São Vicente e o ataque aos franceses.
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Você pode ler o poema do padre Anchieta com comentários de Ernesto Souza 
Campos, no site <www.novomilenio.inf.br/festas/anchie06.htm>.
Dentro da História do Protestantismo, a importância da França Antártica 
é bastante relativa. Ela marca a primeira experiência missionária protestante na 
história. O primeiro culto protestante fora da Europa foi realizado na França 
Antártica em 1557. As consequências desta ocupação foram rapidamente 
desestruturadas pela ação catequética dos jesuítas, com destaque especial para a 
ação do padre Anchieta, que acompanhou a expedição portuguesa, apaziguou os 
indígenas da região e pregou para que os remanescentes da expedição francesa, 
os “hereges” luteranos, como eram conhecidos todos os protestantes do Brasil na 
época, retornassem à verdadeira fé católica.

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