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do trabalho na máquina e pela maior docilidade e maleabilidade do elemento feminino e infantil.78 Como vimos, a produtividade da maquinaria é inversamente pro- porcional à grandeza da parcela de valor por ela transferida para o produto. Quanto mais longo o período em que funciona, tanto maior a massa dos produtos sobre a qual se reparte o valor por ela adicionado, e tanto menor a parte do valor que ela adiciona à mercadoria individual. Mas o período de vida ativa da maquinaria é claramente determinado pela duração da jornada de trabalho ou pela duração do processo de trabalho diário multiplicado pelo número de dias em que ele se repete. A depreciação das máquinas não corresponde, de modo algum, com exatidão matemática a seu tempo de utilização. E, mesmo que isso seja pressuposto, uma máquina que funciona 16 horas por dia durante 7 1/2 anos cobre um período tão grande de produção e não adiciona ao produto global mais valor do que a mesma máquina que, durante 15 anos, funciona apenas 8 horas por dia. No primeiro caso, no entanto, a reprodução do valor da máquina seria duas vezes mais rápida do que no segundo e o capitalista teria embolsado mediante a mesma, em 7 1/2 anos, tanta mais-valia quanto no segundo caso, em 15. O desgaste material da máquina é duplo. Um desgaste decorre de seu uso, como moedas se desgastam pela circulação; o outro, de sua não-utilização, como uma espada inativa enferruja na bainha. Esse é seu desgaste pelos elementos. O desgaste da primeira espécie está em relação mais ou menos direta de seu uso; o segundo, até certo ponto, na razão inversa do uso.79 Mas, além do desgaste material, a máquina sofre um desgaste, por assim dizer, moral. Ela perde valor de troca à medida que se podem reproduzir de modo mais barato máquinas de igual construção ou à medida que surjam máquinas melhores concorrendo com ela.80 MARX 37 78 Os ingleses, que gostam de considerar a primeira forma empírica com que uma coisa aparece como seu motivo, apontam freqüentemente o grande roubo de crianças que como Herodes, o capital, nos primórdios do sistema fabril, levou a cabo em asilos e orfanatos — e por meio do qual incorporou material humano totalmente desprovido de vontade — como motivo da longa jornada de trabalho nas fábricas. Assim, por exemplo, Fielden, ele mesmo fabricante inglês: “É claro que as longas jornadas de trabalho foram estabelecidas pela circunstância de ter-se recebido um número tão grande de crianças indigentes de diferentes partes do país que os fabricantes se tornaram independentes dos trabalhadores e, uma vez tendo, com o auxílio do mísero material humano dessa forma mobilizado, tornado a longa jornada de trabalho costumeira, puderam impô-la com maior facilidade também a seus vizinhos”. (FIELDEN, J. The Course of the Factory System. Londres. 1836. p. 11.) Quanto ao trabalho de mulheres, diz o inspetor de fábricas Saunders no relatório fabril de 1844: “Entre as operárias, há mulheres que são ocupadas por muitas semanas sucessivas, com exceção de apenas poucos dias, das 6 horas da manhã até a meia-noite, com menos de 2 horas para refeições, de modo que, em 5 dias da semana, das 24 horas do dia só lhe sobram 6 para ir e voltar de suas casas e descansar na cama”. 79 "A ocasião (...) para o estrago das delicadas partes móveis do mecanismo metálico pode estar na imobilidade." (URE. Op. cit., p. 281.) 80 O já anteriormente mencionado “Manchester Spinner” (Times, 26 de novembro de 1862) enumera entre os custos da maquinaria: “Ela” (ou seja, a dedução pela depreciação da
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