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FAHESP I IESVAP @LUCIANAZDS I MEDICINA Os antibióticos são substâncias que em baixas concentrações inibem o crescimento e podem levar a morte de bactérias. Podem ser naturalmente produzidos por outros microorganismos, como bactérias e fungos, com o objetivo de impedir o crescimento de outras bactérias competidoras, ou podem ser um produto similar produzidos inteiramente ou parcialmente por síntese química. Os alvos dos antibióticos são a fisiologia e a bioquímica das bactérias. E existem cinco alvos principais : a parede celular bacteriana, a membrana celular, a síntese de proteínas, a síntese de DNA e RNA, e o metabolismo do ácido fólico. Só interferir em algum desses processos, o antibiótico está ameaçando a sobrevivência da célula. Esses alvos bacterianos são diferentes ou inexistentes em células eucarióticas, como as de seres humanos, o que significa que os antibióticos são drogas relativamente não toxicas para os seres humanos. Os antibióticos B- lactâmicos, como penicilinas, cefalosporinas e carbapenemas, bloqueiam a síntese da parede celular bacteriana. Essa estrutura está ausente em células animais mas é essencial para a sobrevivência da bactéria. Já o ribossomo bacteriano é alvo da tetraciclina, aminoglicosídeos, macrolídeos e outros antibióticos. Esse ribossomo é suficientemente diferente do ribossomo eucariótico impedindo que a inibição cruzada ocorra. No caso do metabolismo do ácido fólico, ele está presente nas bactérias mas não nos humanos, que adquirem através da alimentação. Assim, o antibiótico, sulfonamida, que age na síntese do ácido fólico na bactéria não tem um alvo nas nossas células. A resistência aos antibióticos é algo preocupante, pois é a capacidade dos microorganismos de resistir aos efeitos de um antibiótico ou antimicrobiano. O uso inadequado de antibióticos, seja pelo uso exacerbado e indiscriminado em humanos, justamente por não afetar os seres humanos diretamente durante o tratamento, ou o uso na dieta animal, promovem pressão seletiva por linhagens resistentes. Mutações e o compartilhamento de material genético seguidos por seleção impulsionam o crescimento e aparecimento de linhagens resistentes a diversos antibióticos. A resistência das bactérias aos antibióticos se manifesta principalmente através de quatro mecanismos : a modificação do alvo, o efluxo, a imunidade e a destruição catalisada por enzimas. A modificação do alvo pode ocorre pela mutação dos próprios alvos como as topoisomerases que atuam ajudando a abrir a fita de DNA na replicação. Eles são alo dos antibióticos de fluoroquinolona. O antibiótico faz com que a enzima passe a cortar o DNA além do necessário. Com a mutação na topoisomerase, ela se torna menos susceptível à ligação com o antibiótico, evitando que ele altere a sua função na replicação do DNA. Também pode ocorrer pela produção de enzimas que modificam os alvos dos antibióticos, como por exemplo, a metiltransferase. O RNS ribossomal 23S da bactéria passa a ser metilado por essa enzima no local ou próximo ao local em que o antibiótico irá se ligar, assim ele não conseguirá se ligar e interferir na síntese de proteínas. ANTIBIÓTICOS FAHESP I IESVAP @LUCIANAZDS I MEDICINA O efluxo ocorre através de uma grande família de bombas de proteínas que expulsam, entre outras moléculas, os antibióticos do interior da célula. Na imunidade, os antibióticos ou os seus alvos são ligados por proteínas diversas que impedem a ligação antibiótico-alvo. Outro mecanismos de resistência aos antibióticos são as enzimas que reconhecem antibióticos e os modificam de forma a eliminar as características funcionais que lhe permitem interagir com seus alvos. As B- lactamases, por exemplo, clivam o anel B- lactâmico que é característicos dos antibióticos e essencial para sua ação. ANTIBIÓTICO VANCOMICINA Age impedindo que as bactérias formem a parede celular se ligando a peptídeos que são necessários para a construção da parede, em particular aqueles que terminam com duas cópias do aminoácido D-alanina (D-ala). Mas algumas bactérias patogênicas, por meio de transferência horizontal de genes, adquiriram de organismos não patogênicos produtores de vancomicina, os mecanismos de resistência à essa molécula. Essa resistência é uma versão modificada do alvo, onde a bactéria resistente tem uma nova maquinaria biossintética que altera a estrutura da parede celular. Elas substituem uma dessas D-ala presentes no peptídeo da sua parede celular por um D-lactado (D-lac), reduzindo a habilidade da vancomicina de se ligar ao seu alvo. Hoje essa resistência se espalhou fazendo com que perigosas infecções causadas por Enterococcus (VRE) e Sthaphylococcus aureus resistentes à vancomicina (VRSA) se tornem mais comuns. Em 2011, sintetizaram uma nova versão da vancomicina que se liga tanto a peptídeos com terminações D-ala / D-ala, quanto aqueles D-ala/ D-lac. Grupos de pesquisa realizaram alterações na estrutura do antibiótico para impedir a construção da parede celular bacteriana e causar a permeabilidade dela, levando à morte da célula. Recentemente, os pesquisadores que criaram a nova versão do antibiótico em 2011 uniram as três modificações em apenas uma vancomicina. O novo antibiótico é pelo menos 25 mil vezes mais potente contra microorganismos como VRE e VRSA. Bactérias resistentes à vancomicina foram testadas com essa nova versão do antibiótico e, mesmo após 50 dias adicionando o antibiótico, elas não foram capazes de gerar resistência, sugerindo que o novo composto pode ser bem mais durável que os antibióticos atuais. Esse novo composto ainda não está pronto para teste em humanos.
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