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balhador do trabalho, mas seu trabalho de conteúdo. Toda produção
capitalista, à medida que ela não é apenas processo de trabalho, mas
ao mesmo tempo processo de valorização do capital, tem em comum
o fato de que não é o trabalhador quem usa as condições de trabalho,
mas, que, pelo contrário, são as condições de trabalho que usam o
trabalhador: só, porém, com a maquinaria é que essa inversão ganha
realidade tecnicamente palpável. Mediante sua transformação em au-
tômato, o próprio meio de trabalho se confronta, durante o processo
de trabalho, com o trabalhador como capital, como trabalho morto que
domina e suga a força de trabalho viva. A separação entre as potências
espirituais do processo de produção e o trabalho manual, bem como a
transformação das mesmas em poderes do capital sobre o trabalho, se
completa, como já foi indicado antes, na grande indústria erguida sobre
a base da maquinaria. A habilidade pormenorizada do operador de
máquinas individual, esvaziado, desaparece como algo ínfimo e secun-
dário perante a ciência, perante as enormes forças da Natureza e do
trabalho social em massa que estão corporificadas no sistema de má-
quinas e constituem com ele o poder do “patrão” (master). Esse patrão
em cujo cérebro a maquinaria e seu monopólio sobre ela estão indis-
soluvelmente fundidos, proclama aos “braços”, com desprezo, em casos
de conflito:
“Os operários de fábrica deveriam resguardar em sagrada me-
mória o fato de que o trabalho deles é efetivamente uma espécie
muito baixa de trabalho qualificado: que não há nenhum que
seja apropriado mais facilmente e que, em sua qualidade, seja
mais bem pago, que, por meio de rápido treinamento dos menos
experientes, possa ser suprido em tempo tão curto e em tamanha
abundância. A maquinaria do patrão desempenha, de fato, um
papel muito mais importante no negócio da produção do que o
trabalho e a habilidade do operário, que se adestra com um treino
de 6 meses e que qualquer peão do campo pode aprender”.135
A subordinação técnica do operário ao andamento uniforme do
meio de trabalho e a composição peculiar do corpo de trabalho por
indivíduos de ambos os sexos e dos mais diversos níveis etários geram
uma disciplina de caserna, que evolui para um regime fabril completo,
e desenvolve inteiramente o trabalho de supervisão, já antes aventado,
OS ECONOMISTAS
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135 "The factory operatives should keep in wholesome remembrance the fact that their is really
a low species of skilled labour; and that there is none which is more easily acquired or of
its quality more amply remunerated, or which, by a short training of the least expert can
be more quickly as well as abundantly acquired. (...) The masters machinery really plays
a far more important part in the business of production than the labour and the skill of
the operative, which six months’ education can teach, and a common labourer can learn."
(The Master Spinners’ and Manufacturers’ Defence Fund. Report of the Committee. Man-
chester, 1854. p. 17.) Ver-se-á mais tarde que o Master assobia outra melodia quando
ameaçado com a perda de seus autômatos “vivos”.

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