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Direito Constitucional III | Maria Eduarda Q. Andrade 13. Princípio da inafastabilidade da jurisdição Disposto no art. 5º, XXXV: A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Tal art. é a garantia do princípio da legalidade, sempre que houver violação do direito, mediante lesão ou ameaça. ® O Poder Judiciário será chamado a intervir, no exercício da jurisdição, deverá aplicar o direito ao caso concreto. ® Desde que haja plausibilidade da ameaça ao direito, é obrigado a efetivar o pedido de prestação judicial requerido pela parte. ® Trata-se do Direito de Ação. Não é necessário esgotar a via administrativa para ingressar no judiciário, fala-se na jurisdição condicionada ou instância administrativa de curso forçado. Exceção: Justiça Desportiva (art. 217, §1º da CF). A própria CF, exige, de forma excepcional, o prévio acesso às instancias da justiça desportiva, nos casos de ações relativas à disciplina e às competições desportivas. Ou seja, como dispõe o §1º o Poder judiciário somente analisará o mérito depois de esgotas as instâncias da própria justiça desportiva. ® Acesso à justiça ¨ Duplo grau de jurisdição A CF consagra como regra a importância de os julgamentos ocorrerem, ordinariamente, em duas instancias. A 1º instância: decisão monocrática = juiz. A 2º instância: decisão colegiada. ® Vem de forma implícita na CF (art. 92 e seguintes). Logo, o duplo grau de jurisdição é um direito da pessoa pelo menos ter UM recurso. Mas não é obrigatório. 14. Direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada Está disposto no art. 5º, inciso XXXVI: A lei não prejudicará o direito adquirido, ato jurídico perfeito, e a coisa julgada. 15. Princípio do Juiz Natural A CF prevê em dois incisos do art. 5º: XXXVII: não haverá juízo ou tribunal de exceção; LIII: Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. O princípio do Juiz Natural é vetor constitucional consagrador da independência e imparcialidade do órgão julgador. Direitos e deveres Individuais e Coletivos Direito Constitucional III | Maria Eduarda Q. Andrade Importante: o que é tribunal de exceção? É aquele criado sem regra nenhuma, de forma excepcional. Sendo criados em um momento posterior ao fato que será julgado. Exemplo: Tribunal de Nuremberg. ® Juiz natural é aquele somente integrado no Poder Judiciário. O juiz natural é o juiz devido. É o juiz competente de acordo com as regras gerais e abstratas previamente estabelecidas. Só é juiz o órgão investido de jurisdição. Juiz natural = imparcialidade e independência ® A proibição de existência de tribunais de exceção não abrange a justiça especializada. ® Justiças especializadas são devidamente constituídas e organizadas pela própria CF. ® Tribunais de ética: não são considerados tribunais de exceção. Tribunais de ética instituídos em determinadas ordens profissionais, como a OAB, constituem organismos disciplinares cuja decisões estão sujeitas no País. 16. Tribunal do Júri Disposto no art. 5º XXXVIII: é reconhecida a instituição do Júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: 1. Plenitude de defesa; Que se encontra no princípio da ampla defesa (art. 5º, LV). ® São jurados tirados de todas as classes sociais. 2. Sigilo das votações; 3. Soberania dos veredictos; A possibilidade de recurso de apelação, prevista no CPP, quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos, não afeta a soberania dos veredictos, uma vez que a nova decisão também será dada pelo Tribunal do Júri. STF: a soberania do veredcto do júri não exclui a recorribilidade de suas decisões. 4. Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra vida, seja tentado ou consumado. O art. XXXVIII, não é absoluto. Há hipóteses em que crimes dolosos contra a vida NÃO serão julgados pelo Tribunal do Júri. ® Referem-se às competências especiais por prerrogativa de função. ® Fala-se em foro privilegiado. Art. 105, I, a: serão processados e julgados pelo STJ. Art. 29, X: Será julgado pelo TJ, no caso de crime doloso contra a vida praticado pelo Prefeito. em face da dignidade de certos cargos e da relevância destes para o Estado, a competência de Tribunais, conforme determinam os arts. 29, inciso X, 96, inciso III, 108, inciso I, alínea a, 105, inciso I, alínea a e 102, inciso I, alíneas b e c. Direito Constitucional III | Maria Eduarda Q. Andrade Constituições Estaduais: com base no exercício do poder constituinte derivado decorrente de auto organização (art. 18 da CF). ® poderão atribuir aos seus agentes políticos as mesmas prerrogativas de função de natureza processual penal. Competência do TJ de seu respectivo Estado: aos processos de todos os crimes, inclusive os dolosos contra a vida praticados pelos membros do Poder Legislativo (deputados estaduais) e Secretários de Estado. Importante: as Constituição Estaduais não poderão suprimir a competência constitucional do Tribunal do júri ® Logo, se não estiver expressamente na CE a prerrogativa de foro a seus agentes públicos, deverá ser julgado pelo Júri. ® Súmula vinculante 45/ STF O júri é um tribunal popular, de essência e obrigatoriedade constitucional. Regulamentação: legislação ordinária. Composição: um juiz togado, seu presidente e por 25 jurados que serão sorteados. ® Sendo 7 jurados que constituirão o Conselho de Sentença em casa sessão de julgamento. 17. Extradição Art. 5º, LI e LII da CF. Mas, o que é extradição? É o ato pelo qual um Estado entrega um indivíduo, acusado de um delito ou já condenado como criminoso, à justiça do outro, que reclama, e que é competente para julga-lo e puni-lo. Quanto à extradição, a Constituição Federal prevê tratamento diferenciado aos brasileiros natos, naturalizados e aos estrangeiros: LI: Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado ANTES da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; LII: Não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.” ® Somente nas hipóteses constitucionais é possível a concessão da extradição; ® Porem, a legislação federal infraconstitucional pode determinar outros requisitos, vide art. 22, XV. Há duas espécies de Extradição: 1º ATIVA: é requerida pelo Brasil a outros Estados soberanos; 2º PASSIVA: é a que se pede ao Brasil, por parte dos Estados soberanos. ® As restrições constitucionais incidem mais sobre a extradição passiva. Direito Constitucional III | Maria Eduarda Q. Andrade ¨ Hipóteses para a extradição (constitucionais): 1. O brasileiro nato NUNCA será extraditado; regra absoluta 2. O brasileiro naturalizado somente será extraditado em dois casos: a) por crime comum, praticado ANTES da naturalização. b) Participação comprovada em tráfico de ilícito de entorpecentes e drogas afins. Independente do momento do fato = não importa se foi antes ou depois da naturalização. 3. Português equiparado: tem todos os direitos de brasileiro naturalizado, assim, poderá ser extraditado nas hipóteses do item 2. 4. Estrangeiro: poderá, em regra, ser extraditado. Exceção: se for crimes políticos ou de opinião. ¨ Requisitos infraconstitucionais O Estado estrangeiro que pretender obter a extradição deverá fundar seu pedido nas hipóteses constitucionais e nos requisitos formais legais: ® Hipóteses materiais: incisos LI e LII da CF. ® Requisitos formais: Estatuto do Estrangeiro, Lei Federal nº 6.964 e Regimento interno do STF (art. 204 a 214). ¨ Pedido e decisão O pedido deverá ser feito pelo governo do Estado estrangeiro soberanopor via diplomática. ® Endereçado ao Presidente, autoridade autorizada para manter relações em Estados estrangeiros, vide art. 84, VII. ® Feito o pedido, será encaminhado para STF ® Prisão preventiva p/ extradição, não podendo exceder ao prazo de 90 dias. Portanto, fica assim: 1º: pedido de extradição do país estrangeiro, por vida democrática. 2º Ministério da Justiça; 3º Vai para a análise do STF, e já é expedida a prisão preventiva. Seguindo, analisará as hipóteses constitucionais (art. 5º, LI e LII) + requisitos legais (arts. 91 ss, Lei nº 6815/80); sendo a resposta do STF: SIM = deferimento, o que nos leva ao 5º passo: 5º: Análise do Presidente da República, por ato discricionário, escolhe extraditar ou não. NÃO= indeferimento, o que nos leva a finalizar esse processo de extradição. ¨ Princípio da especialidade Aplica-se na extradição o princípio da especialidade, ou seja, o extraditado somente poderá ser processado e julgado Direito Constitucional III | Maria Eduarda Q. Andrade pelo país estrangeiro pelo delito objeto do pedido de extradição. ® O STF, porém, permite o chamado “pedido de extensão” = extradição supletiva. Consiste na permissão, solicitada pelo país estrangeiro, de processar pessoa já extraditada por qualquer delito praticado antes da extradição e diverso daquele que motivou o pedido extradicional. ® Deverá ser estrito o controle jurisdicional da legalidade. ¨ Extradição ≠ Expulsão A extradição é o modo de entregar o estrangeiro, ou excepcionalmente, o brasileiro naturalizado ao outro Estado por delito nele praticado. ® É pedido formulado por Estado estrangeiro; A expulsão é uma medida tomada pelo Estado, que consiste em retirar forçadamente de seu território um estrangeiro que nele entrou ou permanece irregularmente. ® Sendo expulso, não poderá reingressar no Brasil. ® Decorre de atentado à segurança nacional, ordem política ou social ou nocividade aos interesses nacionais. ® Caberá exclusivamente ao Presidente da República resolver sobre a conveniência e a oportunidade da expulsão ou de sua revogação (art. 66 da Lei no 6.815/80). ¨ Extradição ≠ deportação Deportação consiste em DEVOLVER o estrangeiro ao exterior, ou seja, é a saída compulsória do estrangeiro. ® Fundamentado no fato de que o estrangeiro entrar ou permanecer irregularmente no território nacional. ® Art. 5º, XV. ¨ Extradição e entrega O instituto da entrega (surrender) é definido como “a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal). ® Art. 102 do Estatuto de Roma. ¨ Banimento É o envio compulsório de brasileiro para o exterior. É pena excepcional, proibida constitucionalmente. ® Art. 5º XLVII, d. 18. Devido processo legal Está no art. 5º, inciso LIV: Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Configura a dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito material de proteção ao direito de liberdade, quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condições com o Estado- persecutor. ® Fala na plenitude de defesa: direito a defesa técnica, à publicidade do processo, à citação, de produção ampla de provas, de ser processado e julgado pelo juiz competente, aos recursos, à decisão imutável, à revisão criminal. Direito Constitucional III | Maria Eduarda Q. Andrade Trata-se do princípio da ampla defesa e ao contraditório, que deverão ser assegurados aos litigantes em processo judicial ou administrativo (art. 5º, LV). ® Os processos devem garantir todos os direitos às partes. ® Há a necessidade desburocratização de seus procedimentos; ® Qualidade e máxima eficácia de suas decisões. Falamos então da CELERIDADE. O sistema processual judiciário necessita de alterações infraconstitucionais, que privilegiem a solução dos conflitos, a distribuição de Justiça e maior segurança jurídica, afastando-se tecnicismos exagerados. ¨ Inquérito policial O contraditório não se aplica aos inquéritos policiais. ® A fase investigatória é preparatória da acusação, inexistindo, ainda, acusado, constituindo, pois, mero procedimento administrativo ® Caráter investigatório ® Destinado a subsidiar a atuação do titular da ação penal, o MP. ¨ Celeridade processual e informatização do processo judicial Lei nº 11.419/06 regulamenta a informatização do processo judicial (autos virtuais), estabelecendo a possibilidade de utilização do meio eletrônico na tramitação dos processos judiciais. ® Meio eletrônico: qualquer forma de armazenamento/ tráfego de documentos e arquivos digitais. ® Transmissão eletrônica: forma de comunicação a distância pela rede de comunicação. ® Utiliza-se a tecnologia no acesso e distribuição da justiça. 19. Provas Ilícitas Disposto no art. 5º, LVI: são inadmissíveis no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. Importante: não se confundem com as provas ilegais ou ilegítimas. PROVAS ILÍCITAS: são obtidas com infringência do DIREITO MATERIAL. Exemplo, por meio de tortura, psíquica, quebra de sigilos fiscal, bancário e telefônico sem ordem judicial devidamente fundamentada. ® Provas ilegais seriam o gênero do qual as espécies são as provas ilícitas e as ilegítimas. A doutrina constitucional passou a atenuar a vedação das provas ilícitas. ® Baseando no princípio da proporcionalidade há hipóteses em que as provas ilícitas, em caráter excepcional e casos extremamente graves sejam utilizadas. ® Lembrando: nenhuma liberdade é absoluta. Direito Constitucional III | Maria Eduarda Q. Andrade Importante: Na jurisprudência pátria, somente se aplica o princípio da proporcionalidade pro reo, entendendo-se que a ilicitude é eliminada por causas excludentes de ilicitude, em prol do princípio da inocência. ¨ Provas derivadas de provas ilícitas Ministro Moreira Alves, a previsão constitucional não afirma serem nulos os processos em que haja prova obtida por meios ilícitos. Não havendo nulidade processual, devemos delimitar a consequência da inadmissibilidade de uma prova ilícita, definindo se haverá contaminação de todas as demais provas dela resultantes ou somente desqualificação desta para o julgamento da causa. O STF em duas decisões havia decidido pela inaplicabilidade da doutrina do fruits of the poisonous tree (fruto da árvore envenenada). ® Prevalecendo a incomunicabilidade da ilicitude das provas, mesmo quando reconduzidas aos autos de forma indireta. ® Não tendo o condão de anular o processo, podendo permanecer as demais provas lícitas e autônomas não decorrentes da prova ilícita. ¨ Convalidação de provas ilícitas É valido as provas obtidas por meio ilícito, desde que a finalidade de defesa das liberdades públicas fundamentais, isto é, desde que em legítima defesa. Exemplo: Hipótese de utilização de uma gravação de vídeo realizada pelo filho, de forma clandestina e sem conhecimento de seu pai, agressor, para comprovação de maus-tratos e sevícias. Não se poderia argumentar que houve desrespeito à inviolabilidade, à intimidade e à imagem do pai-agressor, pois sua conduta inicial desrespeitou a incolumidade física e a dignidade de seu filho, que, em legítima defesa, acabou por produzir a referida prova. Importante: não se trata de acolhimento de provas ilícitas em desfavor do acusado, a fim de provar que ele cometeu tal ato. Ocorre a ausência de ilicitude da prova, pois aqueles que a produziram agiram em legítima defesa de seus direitos humanos fundamentais. Logo, não incide o inciso LVI, do art. 5º. 21. Princípio da presunção da inocência A CF estabelece em seu art. 5º, inciso LVII: ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. ® Consagra-se a presunção da inocência. ® Há a necessidade de o Estado comprovara culpabilidade do indivíduo, caso contrário, ele ainda é inocente. ® PRESUME-SE inocente. Direito Constitucional III | Maria Eduarda Q. Andrade Importante: não afasta a constitucionalidade das espécies de prisões provisórias. Permanece válida as prisões temporárias, em flagrante, preventivas, por pronúncia, e por sentença condenatória sem trânsito em julgado. 22. Ação penal privada subsidiária Disposto no art. 5º, LIX da CF: Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal. Como dispõe art. 129 da CF, o processo criminal somente pode ser deflagrado por denúncia ou por queixa, sendo a ação penal pública privativa do MP. ® O princípio é absoluto. STF: é admissível a ação penal privada subsidiária da pública, quando o MP foi inerte em adotar, no prazo legal, as providencias de: 1. Oferecer denúncia; 2. Requerer o arquivamento do inquérito policial; 3. Requisitar diligências. Importante: o art. 5º, LIX não constitui exceção do art. 129, I da CF. Trata-se de um mecanismo de feios e contrapesos constitucional ao exercício, por parte do MP. 23. Prisão Civil A CF prevê no art. 5º, inciso LXVII. Em regra, não se admite a prisão civil, entretanto há exceções: 1. Inadimplemento voluntário; 2. Inescusável de obrigação alimentícia; 3. Depositário infiel. ® São hipóteses taxativas. No caso do devedor de alimentos, o STJ decidiu que: ® Não se exige o trânsito em julgado da decisão, tendo em vista do caráter coercitivo da prisão. Prisão civil é de caráter coercitivo ≠ Prisão penal é de caráter punitivo. Depositário infiel: Súmula vinculante nº 25 Atualmente é considerada ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
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