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AULA PRÁTICA: CULTIVO CELULAR APLICADO A PRÁTICAS VIROLÓGICAS Profs. Ana Maria V. Pinto Elisabeth Martins da S. da Rocha Marcelo de Lima 1.OBJETIVOS : a).Abordar a importância do cultivo celular no diagnóstico virológico, quantificação viral e pesquisas relacionadas a antivirais, produção de vacinas etc. Vantagens e desvantagens do método. b). Demonstrar os procedimentos para passagem celular enfatizando os diferentes tipos de culturas de células, as funções dos reagentes utilizados como os tampões, nutrientes ,antibióticos, soro fetal e tripsina. c). Discutir métodos para visualização de crescimento viral (efeitos citopáticos) e identificação viral (microscopia eletrônica, imunofluorescência, soroneutralização entre outros) d). Discutir e demonstrar testes quantitativos de vírus: Diluição Limitante (cada grupo de alunos efetuará esse teste) e Ensaio de placa (placas demonstrativas serão preparadas). 2.INTRODUÇÃO: Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios e requerem células vivas (sistemas hospedeiros) para sua replicação. Os sistemas celulares para isolamento de vírus são: as culturas de células in vitro, os ovos embrionados de galinha e os animais de laboratório. A técnica do isolamento viral é muito sensível e detecta a presença de vírus infecciosos no material suspeito. É considerada o método ”padrão ouro” no diagnóstico viral. Pela praticidade e por questões de bioética o mais utilizado modelo biológico é a cultura de células in vitro. O cultivo celular possui as seguintes aplicações: 1. Isolamento e identificação viral para fins diagnósticos 2. Obtenção de estoques virais para caracterização biológica e molecular 3. Uso em testes sorológicos 4. Produção de estoques virais para estudos de patogenicidade, antivirais etc 5. Produção de antígenos para imunização 6. Produção de vacinas. As vacinas produzidas a partir de vírus multiplicados em culturas celulares se mostram mais seguras quando comparadas as produzidas em ovos embrionados e em passagens em animais pois é possível obter uma pureza maior da massa viral (ausência de substâncias altamente alergênicas como a ovoalbumina, resíduos teciduais, etc) com redução dos riscos de ocorrência de efeitos adversos graves. Quanto ao isolamento viral, a simples detecção do agente viral em uma amostra clínica deve ser considerada com cautela, pois sua presença pode não ser um indicativo seguro da etiologia da doença assim como resultados negativos não afastam a possibilidade de infecção viral. Além disso, é um método que não é aplicável a alguns vírus e a demora (em até semanas) na obtenção dos resultados restringe sua aplicação. Mesmo uma cultura de células supostamente inócua, ainda não inoculada com nenhum tipo de vírus deve ser manipulada com cautela, pois pode conter vírus adventícios. A escolha do tipo de célula adequada ao vírus que se pretende isolar é crucial. Exemplos: para isolamento de poliovírus as células mais indicadas são as culturas primárias ou células de linhagens diplóides de rim de macaco verde (GMK) ou rim de Macaca mulata (LLC-MK). Para isolamento de adenovírus células de carcinoma epitelial humano (HEP-2_HEK293 (rim de embrião humano), para isolamento de sarampo e Herpesvírus a linhagem celular mais indicada é VERO (rim de macaco). É importante ressaltar a necessidade de cuidados especiais na coleta e transporte das amostras no sentido da manutenção da viabilidade viral. As amostras devem ser obtidas na fase aguda da infecção e a escolha da amostra deve ser apropriada: Exs: Fezes para vírus entéricos, aspirado nasal para vírus respiratórios, sangue para vírus de transmissão sanguínea, etc. As amostras coletadas em swabs devem ser ressuspensas em salina tamponada ou meio de cultivo, transportadas para o laboratório em ambiente refrigerado e assim mantidas até o processamento da amostra. Uma vez inoculados em culturas adequadas, alguns vírus causam no tapete celular efeitos específicos (efeito citopático - ECP). Estas alterações morfológicas podem ser observadas ao microscópio óptico e ocorrem quando as células em cultura são infectadas por vírus. O ECP, de certo modo, são característicos para grupos ou famílias de vírus. Portanto, NÃO permitem a identificação final, mas fornecem uma base para a identificação viral. Técnicas adicionais devem ser utilizadas no visando a identificação final do vírus isolado. Podemos citar como EFEITOS CITOPÁTICOS : 1) Picnose nuclear (células pequenas, arredondadas e soltas do tapete) Ex : Picornavírus 2) Sincícios ( células gigantes multinucleadas) Ex : Paramixovírus, Herpesvírus 3) Células grandes, refringentes, formando aglomerados em cachos de uva Ex.: Adenovírus 4) Corpúsculos de inclusão (acúmulo de proteína viral no local de replicação do vírus - núcleo ou citoplasma). Os corpúsculos de inclusão podem ser acidófilos ou basófilos. Em geral, a localização e a coloração do corpúsculo são características de determinados grupos de vírus. Ex: Corpúsculo de Negri ⇒ Vírus da Raiva . Os corpúsculos podem ser visualizados também em cortes histológicos de tecidos infectados por vírus, provenientes de necrópsias ou biópsias. Alguns vírus não causam efeitos citopáticos e a sua replicação deve ser confirmada pela demonstração da atividade biológica, antígenos ou ácidos nucléicos. A detecção e identificação dos vírus pode ser realizada por diferentes métodos como por exemplo pela microscopia eletrônica que permite a identificação da família do vírus por aspectos morfológicos e estruturais. Outra possibilidade é a detecção de antígenos virais a partir da utilização de anticorpos específicos marcados com fluoresceína (imunofluorescência - IFA) ou conjugados com enzimas (imunoperoxidase- IPX) . 3. MEIOS DE CULTIVO CELULAR A finalidade dos meios de cultivo celular é fornecer à célula os nutrientes indispensáveis para sua sobrevivência e que permitam o seu desenvolvimento. Para a propagação de células in vitro é necessário estabelecer condições osmóticas, de pressão e pH, assim como concentrações adequadas de íons inorgânicos essenciais. Isto é conseguido através do emprego de soluções salinas balanceadas. Portanto, o meio de cultivo celular é constituído de : - glicose como fonte de energia - solução tampão com bicarbonato para manter o pH entre 7.2 e 7.4 - indicador de pH ( vermelho de fenol) - íons como Ca++, Mg++, Na+, Cl-, P_, K+, Zn++ - vitaminas - aminoácidos - antibióticos ( penicilina e estreptomicina) - água, que deve ser destilada e deionizada 4.TIPOS DE CULTIVOS CELULARES: Alguns tipos de células são capazes de sobreviver indefinidamente in vitro, desde que sejam passadas para um novo frasco contendo meio de crescimento. Outras, no entanto, tem um período de vida bastante limitado. Baseadas nestas características as culturas de células podem ser classificadas em três tipos: Cultura de células primária, linhagem diplóide ou linhagem contínua. Tipos de cultura Primária Linhagem diplóide Linhagem contínua Origem Estabelelecidas diretamente a partir do tecido fresco Células de cultura primária que resistiram ao repique. Tumores ou tecido normal (diplóide) transformado in vitro. Morfologia Morfologia do tecido original Fibroblastóide Epitelióide Cariótipo Diplóide Diplóide Aneuplóide (n, 3n, 4n, etc). Vantagens São mais sensíveis que as demais para o cultivo de vírus Podem ser utilizadas na produção de vacinas e isolamento de alguns vírus Podem ser utilizadas tanto para isolamento e propagação de vírus como no preparo de vacinas. Propagam indefinidamente in vitro ⇒ perderam a inbição de contato Muito utilizadas no isolamento de vírus para diagnóstico, pois podem ser mantidas no laboratório através de repiques sucessivos Desvantagens Maior dificuldade na obtenção Baixa resistência a repiques ⇒ morremapós 2 ou 3 passagens São resistentes a aproximadamente 50 cultivos. Infecção por vírus adventício Não podem ser usadas no preparo de vacinas Infecção por vírus adventício Estabelecimento de cultura de células : ⇒ ⇒ ⇒ estufa a 37oC Fragmento de órgão Digerido com Células suspensas Formação do ou tecido Tripsina * em meio de cultivo tapete ou monocamada de células * tripsina : age nas junções intercelulares separando as células Passagem ou Repique células suspensas ⇒ Tripsina ⇒ em meio de ⇒ crescimento passagem 5.QUANTIFICAÇÃO DE VÍRUS O procedimento de quantificação é denominado de titulação, e o valor obtido é o título viral. As técnicas se baseiam-se infecciosidade viral e podemos citar duas técnicas clássicas: Diluição Limitante e o Ensaio em Placa. Diluição Limitante: suspensão viral é submetida à diluição seriada e cada diluição serve como inóculo para um número conhecido de células. Essa técnica é geralmente realizada em placas de 96 orifícios sendo que diluição da amostra viral é plaqueada em réplicas (geralmente oito) para um resultado mais preciso. Após um período de incubação (48-96h), os cultivos são monitorados em relação aos efeitos citopáticos (ou submetidos a IFA ou IPX para detecção de antígenos virais). O título é expresso como a recíproca da maior diluição capaz de provocar reação especifica (ECP ou ags virais) em 50% dos cultivos e a unidade será TCID50 (tissue culture infection dose). Os valores obtidos são submetidos a cálculos matemáticos que convertem os dados de infectividade em valores numéricos. Ensaio de Placa: Diluições seriadas da suspensão viral são inoculadas em monocamadas celulares pré-formados. Após adsorção e a remoção do inóculo, os tapetes celulares são recobertos com agarose (meio semi-sólido) e incubados por 24- 72 horas. As partículas virais que penetraram nas células durante a adsorção irão replicar e produzir progênie viral. A cobertura semi-sólida impede a disseminação para o meio de cultura e a transmissão viral ocorrerá apenas para as células vizinhas. Após alguns dias, são observados focos de destruição celular nos tapetes (placas). Cada placa representa um determinado número de células infectadas e destruídas a partir de uma célula originalmente infectada. O número de placas corresponde ao número aproximado de unidades infecciosas presentes na diluição inoculada. Para uma melhor visualização e contagem das placas, os poços são corados com corantes vitais. Nessa técnica, a quantificação é expressa como unidade formadora de placas (PFU). Para o cálculo final do título, leva-se em consideração o número de placas produzidas em cada diluição e o volume utilizado para inoculação. ROTEIRO - AULA PRÁTICA: CULTIVO CELULAR APLICADO A PRÁTICAS VIROLÓGICAS I- Explicar os sistemas de hospedeiros para isolamento viral, vantagens e desvantagens II- Citar as aplicações do cultivo celular na virologia em geral III- Diferenciar os tipos de culturas IV- Explicar os procedimentos e cuidados para manutenção das células: esterilidade, componentes do meio de cultura etc V- Explicar métodos para detecção de vírus em cultura de células, efeitos citopáticos etc. VI- Explicar os procedimentos para a passagem das células VII- Explicar os métodos e aplicações de titulação viral. PROCEDIMENTOS DA AULA PRÀTICA: 1. VISUALIZAÇÃO E COMPARAÇÃO DE CÉLULAS INFECTADAS E NÃO INFECTADAS: Cada grupo receberá : 1. Uma frasco (T-25) com células da linhagem MDBK contendo 5 mL de meio de cultura ( MEM 10 % Soro fetal bovino). 2. Uma frasco (T25) contendo a mesma linhagem celular infectada por herpesvirus bovino tipo 1. As células de ambos os frascos deverão ser visualizadas ao microscópio para a diferenciação dos aspectos morfológicos e efeito citopático característico. 2.REPIQUE OU PASSAGEM DE CULTURAS DE CÉLULAS Material: - Ácool 70% - Recipientes para descarte com hipoclorito de sódio. - Frasco (T25) - Frasco contendo tripsina +EDTA (2 mL) - Frasco contendo meio de cultura (MEM) com 10% de soro fetal bovino (10mL) Procedimento: 1. Efetuar a antissepsia das mãos antes de manipular a cultura de células com álcool a 70 % 2. Descartar o meio de cultura no recipiente de descarte contendo hipoclorito de sódio 3. Como são células aderentes, a cultura será submetida à tripsina/EDTA (2 mL) para romper a adesão das células na garrafa (deixar atuar por cerca de 3-5 minutos) 4. Acompanhar no microscópio a individualização das células. 5. Acrescentar 10 mL de meio de cultura com 10% de soro para ressuspender as células 6. Coletar 5 mL e transferir para nova garrafa. 3.QUANTIFICAÇÃO DE VÍRUS: MÉTODO DE DILUIÇÃO LIMITANTE 1. As células em suspensão obtidas pela tripsinização serão distribuídas em placas de 96 poços no volume de 50 ul/poço As células de uma das garrafas para o repique serão utilizadas para o plaqueamento 2. A partir de uma suspensão viral serão efetuadas diluições seriadas (até 5 diluições (base 10) ou seja, 100 microlitros da suspensão viral + 900 microlitros de MEM). As diluições serão efetuadas em eppendorfs (50ul +450 ul meio) 50ul Suspensão viral 10-1 10-2 10-3 10-4 10-5 Em todos os tubos: 450ul de meio 3. Cada diluição será adicionada aos poços contendo as células em réplicas (8), 50ul/poço. Começar pela maior diluição 4. Levar as placas para estufa a 37 C por 24 a 72 horas. Esquema da microplaca : 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 A dil 10-1 dil 10-2 dil 10-3 dil 10-4 dil 10-5 Ctle Pos Ctle Pos Ctle Pos B dil 10-1 dil 10-2 dil 10-3 dil 10-4 dil 10-5 C dil 10-1 dil 10-2 dil 10-3 dil 10-4 dil 10-5 D dil 10-1 dil 10-2 dil 10-3 dil 10-4 dil 10-5 E dil 10-1 dil 10-2 dil 10-3 dil 10-4 dil 10-5 F dil 10-1 dil 10-2 dil 10-3 dil 10-4 dil 10-5 G dil 10-1 dil 10-2 dil 10-3 dil 10-4 dil 10-5 H dil 10-1 dil 10-2 dil 10-3 dil 10-4 dil 10-5 Ctle Neg Ctle Neg Ctle Neg
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