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DIDIER Jr., Fredie. Sobre a Teoria Geral do Processo, Essa Desconhecida.1ª ed. Bahia: Jus PODIVM, 2012. Daiana Santos do Vale CREDENCIAIS DO AUTOR Fredie Didier Jr é Professor-adjunto de Direito da Universidade Federal da Bahia (graduação, mestrado e doutorado). Coordenador do curso de graduação da Faculdade Baiana de Direito. Membro da Associação Internacional de Direito Processual (IAPL), do Instituto Brasileiro de Direito Processual e do Instituto Brasileiro do Direito Processual. Presidente da Associação Norte e Nordeste de Professores de Processo, Mestre (UFBA), Doutor (PUC/SP), Livre-Docente (USP) e Pós- doutorado (Universidade de Lisboa). Advogado e consultor jurídico. RESENHA DA OBRA O livro é constituído por introdução, 04 (quatro) capítulos e conclusões, cada um deles sob a responsabilidade do autor, traduzindo um estudo sobre a Teoria Geral do Processo, com a profundidade que este tema merece e em abordagens que se complementam para propiciar uma reflexão de grande relevância para a sociedade e o ordenamento jurídico brasileiro. A obra examina dois assuntos de grande relevância teórica e prática: os conceitos fundamentais do Direito e a função da Ciência do Direito, em geral e no âmbito do Processo. O autor, no entanto, não se limita a descrever esses dois temas, tal como eles têm sido enfrentados pela doutrina. Bem ao contrário: ele faz da estrutura, da função e dos limites desses o seu próprio objeto de estudo crítico, demonstrando, dessa forma a importância de seu estudo. No capítulo inicial, há uma apresentação de vários aspectos conceituais através da definição de teoria e sua classificação em geral, parcial, total, particular e individual. Segundo VILANOVA, “Teoria é todo sistema de proposições orientado para um objeto com fim cognoscitivo”. Didier ainda destaca a concepção de uma teoria sobre outra teoria: uma teoria da teoria onde cita como exemplo a epistemologia que é uma teoria da ciência, que é um conjunto de teorias ou seja, aduz que uma teoria tanto pode servir a uma abordagem filosófica, como a uma abordagem científica. Apresenta as definições de uma teoria para as ciências sociais em seus vários graus de abstração como por exemplo: geral, quando reúne enunciados que possuem pretensão universal, invariável; individual, quando pretende organizar conhecimento em torno de um objeto singular, investigado exatamente em razão da importância de suas peculiaridades; particular, onde restringe-se a generalidade da teoria a um grupo de objetos, selecionados com base em algum elemento comum além da parcial, onde a teoria cuida de cada um dos resultados dessa decomposição e total, que nada mais são que o conjunto dessas teorias parciais, que se complementam. Percebe-se também a existência de sistematização dos conceitos jurídico-positivos e conceitos jurídicos fundamentais (conceitos lógico-jurídicos). Para VILANOVA, em um sistema conceitual nem todos os conceitos ocupam o mesmo plano, há conceitos que possuem âmbito de validez específico, outros, genérico; uns são conceitos fundamentais, outros derivados e adjacentes. Para DIDIER, o conceito jurídico-positivo é construído a partir da observação de uma determinada realidade normativa e, por isso mesmo, apenas a ela é aplicável. Como exemplo deste conceito, destacou o estupro e o casamento. Já o conceito jurídico fundamental, que é aquele construído pela Filosofia do Direito com a pretensão de auxiliar a compreensão do fenômeno jurídico onde e quando ele ocorra. Como exemplo deste conceito, destacou fato jurídico e personalidade. O autor destacou de forma especial, a existência e importância dos conceitos jurídicos fundamentais que são claramente imprescindíveis para o desenvolvimento de uma ciência jurídica, que se proponha a fornecer diretrizes para uma aplicação racional, coerente e justa do direito. Expõe o entendimento sobre Teoria Geral do Direito que é uma disciplina jurídica dedicada à elaboração, organização e articulação dos conceitos fundamentais à compreensão do fenômeno jurídico bem como sobre sua existência nos currículos dos cursos de graduação e de pós-graduação em direito que deveria chamar-se Introdução ao Estudo do Direito e não Teoria Geral do Direito, como costuma apresentar-se quanto disciplina na grade curricular. Por fim, destaca a Parte Geral que é um conjunto de enunciados normativos que servem à compreensão e à aplicação de outras normas, ditas especiais ou específicas e Regime Jurídico que é um conjunto de enunciados normativos que estruturam determinado instrumento jurídico. No segundo capítulo, o autor demonstra a importância e explica o alcance da Teoria Geral do Processo. Apresenta uma diferenciação entre à Teoria Geral do Direito e a Teoria Geral do Processo onde esta segunda é em relação à primeira uma teoria parcial, pois se ocupa dos conceitos fundamentais relacionados ao processo, um dos fatos sociais regulados pelo Direito. Uma disciplina filosófica, de viés epistemológico. Ainda em sua tese, o Autor afirma que a Teoria Geral do Processo é um sistema de conceitos onde o conceito de processo acha-se supraordenado em relação aos demais conceitos lógico-jurídicos processuais, onde é possível, a partir de uma abordagem axiológica, considerar o processo como o conceito central da Teoria Geral do Processo, comprrendido como método de produção de norma jurídica (método de exercício de poder), como ato jurídico complexo ( processo sinônimo de procedimento), e como conjunto de relações jurídicas( pode-se examiná-lo pela perspectiva do plano da eficácia dos fatos jurídicos). Destaca a articulação dos conceitos apresentados que revelam o que é, o que gera e para quê serve o processo e o conceito de processo jurisdicional bem como estabelece distinções entre a Teoria Geral do Processo e Ciência do Direito Processual; Teoria Geral do Processo e Teorias Individuais do Processo; Teoria Geral do Processo e Teorias Particulares do Processo; Teoria Geral do Processo e Direito Processual e Teoria Geral do Processo e Parte Geral. Didier faz, neste capítulo, a chamada crítica do pensamento sobre esta teoria, o que na humilde opinião desta que vos escreve, representa um dos pontos importantes e de destaque sobre o estudo aqui proposto pelo autor, com o exame da obra de vários cientistas do direito como por exemplo: FRANCESCO CANELUTTI, que entende que a Teoria Geral do Processo não se encontra “ao lado”, mas, sim, sobre as teorias particulares, que se unem nesta Teoria ainda mais geral; NICETO ALCALÁ-ZAMORA Y CASTILLO, que entende que à Teoria Geral do Processo cabe a construção dos conceitos, exposição das teses e definição dos princípios comuns a todas as espécies de processo; CÂNDIDO DINAMARCO que entende que a Teoria Geral do Processo é um sistema de conceitos e princípios elevados ao grau máximo de generalização útil e condensados indutivamente a partir do confronto dos diversos ramos do direito processual, entre outros. O autor estabelece ainda, a relação entre a Teoria Geral do Processo e o Processo Penal em que afirma que a posição de sua tese já foi apresentada qual seja, a Teoria Geral do Processo serve à compreensão de qualquer processo, inclusive do processo penal pelo que cita, também, posicionamentos contrários a uma Teoria Geral do Processo que sirva ao processo penal como a trazida, por exemplo, por ROGÉRIO LAURIA TUCCI, que entende ser inadmissível a absorção, pelo processo penal, de diversificados regramentos e institutos, próprios do civil. Por fim, faz menção à utilidade da Teoria Geral do Processo, outro ponto chave para a compreensão da Teoria Geral do Processo e sua importância para nosso ordenamento jurídico, o que faz através de sua função bloqueadora através do controle da fundamentação das decisões judiciais, onde não é qualquer interpretação que vale, mas apenas aquelas que resultam de uma argumentaçãoconforme os padrões dogmáticos bem como a relação da Teoria Geral do Processo e a interpretação da jurisprudência; a construção, pela Ciência Dogmática do Processo, dos conceitos processuais jurídico-positivos; sua relação com a equivocidade terminológica como exemplo a competência territorial e funcional além de sua relação com o aperfeiçoamento profissional do operador do direito e a teoria geral do processo e a Legística, onde uma boa lei, além de possuir a correção da sua linguagem, precisa de um conjunto de técnicas para elaboração e o aprimoramento das leis. O terceiro capítulo traz um questionamento sobre a transformação da metodologia jurídica nos últimos cinquenta anos e sua real utilização nos dias atuais, que pode ser reunida em três grupos, conforme a área do conhecimento jurídico em que ocorrem : a) ciência do direito constitucional; b) teoria da norma jurídica e c) hermenêutica jurídica. O autor faz menção ainda, sobre o neoconstitucionalismo ou neopositivismo; sobre as muitas críticas existentes nessa atual fase do pensamento jurídico onde as discussões tem por alvo a terminologia, abusos e incompreensões existentes. Nesse sentido, busca responder ao seguinte questionamento: Esta transformação repercutiu na Teoria Geral do Processo? Em resposta, o autor entende que sim, sobretudo com a necessária incorporação de conceitos jurídicos fundamentais processuais ao repertório da Teoria Geral do Processo e a inevitável revisão de alguns conceitos, até então aceitos, o que percebemos claramente no decorrer da exposição do conteúdo abordado por Didier. No quarto capítulo, traz uma proposta de ensino da Teoria Geral do Processo, nos níveis de graduação e pós-graduação, compondo o conteúdo programático ao menos dos cursos que se propõem a formar profissionais generalistas, como é a regra no Brasil, proposta esta que considero de grande relevância para a sociedade, sobretudo para os operadores do direito. Por fim, para a graduação em direito, o autor entende que a Teoria Geral do Processo deve constar como núcleo de uma disciplina introdutória e obrigatória ao estudo do Direito Processual, com a proposta de mudança de nome pelo qual a disciplina costuma ser conhecida, propondo-se como nome: Introdução ao Estudo do Direito Processual ou Introdução ao Direito Processual, sendo oferecida, no mínimo, a partir do quarto semestre do curso de graduação em direito; e com conteúdo exclusivo de uma disciplina nos cursos de mestrado e doutorado. CONCLUSÃO DA RESENHISTA A obra estudada examina dois assuntos de grande relevância teórica e prática: os conceitos fundamentais do Direito e a função da Ciência do Direito, em geral e no âmbito do Processo. O autor, no entanto não se limita a descrever esses dois temas, tal como eles têm sido enfrentados pela doutrina. Bem ao contrário: ele faz da estrutura, da função e dos limites desses o seu próprio objeto de estudo crítico, demonstrando, dessa forma a importância de seu estudo. De um modo geral, o autor apoia-se em diversos estudiosos para emitir suas conclusões. Numa das oportunidades em que declara suas idéias, DIDIER nos lembra a posição adotada e defendida por sua tese de que a Teoria Geral do Processo serve à compreensão de qualquer processo, inclusive do processo penal pelo que cita, também, posicionamentos contrários a uma Teoria Geral do Processo que sirva ao processo penal como a trazida, por exemplo, por Rogério Lauria Tucci, que entende ser inadmissível a absorção, pelo processo penal, de diversificados regramentos e institutos, próprios do civil. Faz menção ainda, sobre as criticas sofridas pelo neoconstitucionalismo ou neopositivismo nessa atual fase do pensamento jurídico e busca responder ao seguinte questionamento: Esta transformação repercutiu na Teoria Geral do Processo? Em resposta, o autor entende que sim, sobretudo com a necessária incorporação de conceitos jurídicos fundamentais processuais ao repertório da Teoria Geral do Processo e a inevitável revisão de alguns conceitos, até então aceitos, o que percebemos claramente no decorrer da exposição do conteúdo abordado por Didier. Apresenta ainda, através de uma postura crítica, de ponderações, experiências e discussões que consideram diferentes posições, a proposta de ensino da Teoria Geral do Processo, nos níveis de graduação e pós-graduação, compondo o conteúdo programático ao menos dos cursos que se propõem a formar profissionais generalistas, como é a regra no Brasil, proposta esta que considero de grande relevância para a sociedade, sobretudo para os operadores do direito e um dos marcos na elaboração deste estudo. Por fim, necessário aqui frisar que é evidente a importância do estudo aqui proposto bem como das reflexões e críticas aqui trazidas pelo autor. Contudo, é fundamental entendermos que os teóricos – críticos enfatizam o papel da ciência na transformação da sociedade, embora a forma de envolvimento do cientista nesse processo de transformação seja objeto de debate. Com este discurso, incentiva-nos a reagir à acomodação e falsa neutralidade, mostrando nossa responsabilidade em tudo que fazemos e criamos. Respaldando, ainda, suas opiniões em autores de peso, destaca que a história da Teoria Geral do Processo mostra que nas transformações da metodologia jurídica nos últimos cinquenta anos não há mudanças radicais no significado de todos os conceitos, sendo utilizada uma linguagem capaz de ser compreendida por ambos os lados. Finalmente, com o estudo dessa obra, podemos amadurecer mais, inclusive para aceitar e até solicitar crítica rigorosa, que em muito pode enriquecer nosso trabalho
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