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etc. e que aqui tampouco arrisca coisa alguma exceto a pele do próprio trabalhador, cria-se assim, sistematicamente, um exército industrial de reserva sempre disponível, durante parte do ano dizimado por um trabalho forçado desumano, enquanto durante outra parte está na mi- séria por falta de trabalho. “Os empregadores”, diz a “Child. Empl. Comm.”, “exploram a irregularidade habitual do trabalho domiciliar para, nas épocas em que seja necessário trabalho extra, forçarem-no até 11, 12 e 2 horas da noite, de fato até, como diz uma frase corrente, durante todas as horas” e isso em locais “onde o fedor é suficiente para vos pôr a nocaute (the stench is enough to knock you down). Os senhores podem ir, talvez, até a porta e abri-la, mas recuariam com horror em vez de ir avante.”270 “Nossos patrões são tipos gozados”, diz uma das testemunhas ouvidas, um sapateiro, “eles pensam que não faz nenhum mal a um rapaz matar-se de tanto trabalhar metade do ano e ser quase obrigado a vagabundear durante a outra metade.”271 Como ocorre com os obstáculos técnicos, esses assim chamados “costumes do comércio” (usages which have grown with the growth of trade) foram e são declarados, por capitalistas interessados, como sendo “barreiras naturais” da produção, grito predileto dos lordes do algodão à época em que a lei fabril ameaçou-os pela primeira vez. Embora sua indústria, mais do que qualquer outra, se baseie no mercado mundial e, portanto, na navegação, a experiência prática os desmentiu. Desde então todo pretenso “obstáculo ao comércio” é tratado pelos inspetores de fábrica ingleses como puro embuste.272 As investigações inteiramente conscienciosas da “Child. Empl. Comm.” provam que, de fato, em al- gumas indústrias, a massa de trabalho já empregada só foi distribuída de modo mais regular por todo o ano devido à regulamentação da jornada de trabalho,273 que esta última foi o primeiro freio racional para os volúveis caprichos da moda, destruidores de vidas humanas, sem sentido e inadequados ao sistema da grande indústria,274 que o OS ECONOMISTAS 108 270 Child. Empl. Comm., IV Report., pp. XXXV, nº 235 e 237. 271 Loc. cit., p. 127, nº 56. 272 "No que se refere ao prejuízo sofrido pelo comércio devido à não-execução a tempo de ordens de embarque, lembro-me que esse era o argumento predileto dos donos de fábricas em 1832 e 1833. Nada do que agora possa ser alegado sobre esse assunto poderia ter tanto peso como antes de o vapor ter cortado pela metade todas as distâncias e estabelecido novas regulamentações para o tráfego. Quando efetivamente testada, essa assertiva mos- trou-se outrora não veraz e, agora, certamente também não resistiria a uma nova prova." (Reports of Insp. of Fact., 31st Oct. 1862. pp. 54, 55.) 273 Child. Empl. Comm. III Rep., p. XVIII, nº 118. 274 Já em 1699, John Bellers observava: “A incerteza da moda aumenta o número dos pobres necessitados. Ela abriga dois grandes males: 1º, os oficiais passam necessidades durante o inverno por falta de trabalho, pois os comerciantes de manufaturas e mestres-tecelões não ousam adiantar seus capitais para ocupar os oficiais antes que chegue a primavera e
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