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4° período Medicina Farmacologia Quimioterápicos As Neoplasias Malignas • O câncer está entre as principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo e, de acordo com a OMS, acredita- se que haverá grande aumento do número de novos casos nas próximas décadas. Estima-se, no biênio 2018-2019 para o Brasil a ocorrência de 600 mil casos novos de câncer, para cada ano. O que ocorre no câncer? • O processo patogênico do câncer envolve perda dos mecanismos normais de controle que regulam sobrevida, proliferação e diferenciação celular, podendo haver anormalidades cromossômicas qualitativas e / ou quantitativas, incluindo várias translocações e aparecimento de sequencias gênicas amplificadas. • Além disso, células tronco tumorais, as quais estão presentes no interior da massa tumoral, conservam a capacidade de sofrer ciclos repetidos, de proliferação e migrar para locais distantes do corpo, favorecendo a metástase. Modalidades de Tratamento • No contexto das doenças neoplásicas, podem ser empregadas estratégias cirúrgicas, além de quimioterapia (QT) e radioterapia (RT), o que deve ser definido caso a caso. Nesse sentido, a quimioterapia pode ser classificada de acordo com sua finalidade: • Curativa: quando é usada com objetivo de alcançar controle completo do tumor. •. Adjuvante: quando se segue à cirurgia curativa (o objetivo é esterilizar, assim, as células residuais locais ou circulantes, o que diminui a incidência de metástases à distância). • Neoadjuvante: realizada previamente para se obter redução parcial do tumor, permitindo a complementação terapêutica com cirurgia e/ou RT. • Obtém-se cura de cerca de 1 / 3 dos pacientes por estratégias de tratamento local, como cirurgia, radioterapia (RT), quando o tumor permanece localizado no momento do diagnóstico. Quando estabelecido mais precocemente, o diagnóstico pode levar a maior taxa de cura com os tratamentos locais. • Em casos remanescentes, as micrometástases indicam necessidade de tratamento sistêmico com quimioterapia (QT). • Já na doença localmente avançada, QT costuma a ser combinada com RT para possibilitar a ressecção cirúrgica. Em contrapartida, QT isolada cura < 10% dos casos de câncer quando o estágio já é avançado. Usos da QT • Indução primária para doença avançada ou para cânceres sem outra abordagem efetiva. - Tratamento primário para pacientes portadores de CA avançado para os quais não existe tratamento alternativo. - Principal conduta no paciente com doença metastática avançada. • O objetivo é melhorar a qualidade global de vida e prolongar o tempo de progressão do tumor. Confere benefício de sobrevida em relação a apenas terapia de suporte, logo deve ser precoce. Nesse sentido, é estratégia potencialmente curativa em apenas um subgrupo de doentes avançados como Linfoma Hodgkin e não Hodgkin, LMA, câncer de células germinativas, coriocarcinoma e infantis (LLA, Burkitt, Wilms e rabdomiossarcoma embrionário). • Tratamento neoadjuvante para pacientes com doença localizada para as quais formas locais de terapia (cirurgia, radioterapia ou ambas) não se mostraram adequadas. - Doença localizada com possibilidade de terapias locais alternativas, como cirurgia, mas que não são totalmente efetivas. Muito utilizado no câncer anal, de bexiga, mama, esôfago, laringe e pulmão de não pequenas células. Benefício máximo quando quimioterapia é administrada em associação a radioterapia, de forma concomitante ou sequencial. • Tratamento adjuvante para métodos locais incluindo cirurgia, radioterapia ou ambas. - Pode ser potencial curativo após ressecção cirúrgica do tumor primário. Reduz recidiva local e sistêmica e melhora a sobrevida global do paciente. Ex: tamoxifeno em mulheres pós- menopausa com câncer de mama em estágio inicial cujos tumores expressam receptores para estrogênio. OBS: como é citostático (ou citotóxico), apenas causa lesão em uma proporção de células, precisando de administração por longo prazo, com recomendação de 5 anos. Ciclo celular • As células devem passar pelas fases do ciclo celular (G0, G1, S, G2, M). A porcentagem aproximada de tempo consumido em cada fase por uma célula maligna é de 39% (S), 19% (G2), 2% (M), 40% (G1), levando-se em consideração que G1 pode variar bastante. Fig. 1. Representação esquemática do Ciclo Celular. • O entendimento do ciclo celular torna- se importante para a definição do tratamento, uma vez que existem fármacos específicos do ciclo celular (ECCS), os quais atuam de maneiras distintas em fases diferentes. Por outro lado, há também disponíveis fármacos não específicos (ICCs), os quais conseguem destruir células tanto em Go quanto no ciclo. Associação de Fármacos • Fármacos como monoterapia em doses clinicamente toleráveis têm se mostrado ineficazes (com raras exceções como linfoma de Burkitt e coriocarcinoma). Dessa forma, torna- se cada vez mais frequente a associação de fármacos (poliquimioterapia) no tratamento das neoplasias malignas. • Vantagens da poliquimioterapia (poliQT). - Destruição máxima das células dentro da faixa de toxicidade tolerada pelo hospedeiro para cada fármaco. - Maior faixa de interação entre fármacos e células tumorais com diferentes anormalidades genéticas (população tumoral heterogênea). - Pode impedir ou retardar o desenvolvimento subsequente de resistência celular aos fármacos Fatores Relacionados com a Dose • A intensidade da dose é um dos principais fatores que limitam a capacidade da quimioterapia e radioterapia de produzirem cura. A curva dose resposta dos sistemas biológicos costuma ser sigmoidal e a seletividade depende da diferença entre as curvas dose- resposta dos tecidos normais e tumorais. • Observa-se uma relação positiva entre intensidade da dose e eficácia clínica para uma série de tumores sólidos e hematológicos, sendo adotadas medidas: • Escalonamento de dose. • Redução do intervalo entre os ciclos de tratamento. • Programação sequencial de agentes isolados ou dos esquemas de associação. • Embora remissões completas continuem sendo observadas com redução da dose de até 20%, as células tumorais residuais podem não ser totalmente eliminadas, possibilitando recidiva. Nesse contexto, o escalonamento da dose e o uso em doses mais próximas da máxima tolerada estão associados à melhora da resposta ao tratamento. Resistência aos fármacos • Causas possíveis: • Instabilidade genômica. - Mutações no p53 (gene de supressão tumoral): alguns estudos mostram que a perda de função de p53 está associada a resistência. - Defeitos nas enzimas de reparação ligadas ao desenvolvimento do CCr familiar e esporádico → leva a resistência a vários agentes antineoplásicos não relacionados, incluindo fluoropirimidinas, cisplatina, tiopurinas. • Resistência adquirida. - Resposta à exposição de determinado agente anti- neoplásico. • De forma geral, a resistência pode ser altamente específica a um fármaco ou a uma ampla variedade de fármacos. Melanoma, CA de células renais, câncer cerebral apresentam resistência primária, com ausência de resposta a primeira exposição aos agentes disponíveis. Fármacos Alquilantes • Breve Histórico • A descoberta e desenvolvimento inicial de drogas anticancerígenas alquilantes remete à Primeira Guerra mundial. O gás tóxico de enxofre, que causou queimaduras tópicas na pele, nos olhos, nos pulmões e na mucosa, também causou aplasia da medula óssea e do tecido linfoide e ulceração do trato gastrointestinal nos expostos. Então, em 1942, Louis Goodman e Alfred Gilman demonstraram a atividade de mostardas de nitrogênio contra o linfoma de camundongo. Além disso, seus estudos clínicos posteriores de mostardas de nitrogênio intravenosos em pacientes com linfoma lançaram a era moderna da quimioterapia do câncer. Ações comuns dos agentes alquilantes • Mecanismo deAção • Efeitos citotóxicos: transferência de grupos alquila para constituintes celulares. • Não são fármacos específicos do ciclo celular (ECCs), mas maioria funciona melhor nas fases G1 tardia e S. • A alquilação do DNA no núcleo é a principal interação que leva a morte celular e o N7 da guanina o principal sítio de alquilação. • As interações podem ocorrer em um filamento ou ambos do DNA, por ligação cruzada (maioria bifuncionais, com 2 grupos reativos). No entanto, esses fármacos também reagem quimicamente com grupos de outros nucleófilos celulares (sulfidrila, amino, hidroxila, carboxila e fosfato). • Causas de Resistência aos Alquilantes • Aumento da Capacidade de Reparo do DNA. • Diminuição do transporte dos fármacos para o meio intracelular. • Aumento da expressão ou da atividade de glutationa e proteínas. • Associadas que são necessárias para conjugar o fármaco Alquilante. • Aumento da atividade da glutationa S-transferase que catalisa a conjugação. • Efeitos Adversos • Relacionados com dose e principalmente em tecidos de crescimento rápido como medula óssea, trato gastrointestinal e sistema reprodutor. • Náuseas e vômitos. • Toxicidade sistêmica. • Vesicantes (agentes vesicantes, são substâncias químicas que em contato com a pele e as mucosas produzem irritação e bolhas cutâneas). • Natureza carcinogênica, podendo aumentar neoplasias secundárias, particularmente leucemia mieloide aguda (LMA). • Principais Exemplos • Ciclofosfamida • Classe das mostardas nitrogenadas. • Fármaco ativado pelo metabolismo hepático, com alta biodisponibilidade VO, não perdendo sua eficácia clínica em relação a via IV. • Uso Terapêutico • O espectro clínico de atividade da ciclofosfamida é amplo. • Promove remissões completas e curas presumidas como um agente único para o linfoma de Burkitt. • Participa de combinações de medicamentos para linfomas não Hodgkin, outras neoplasias linfoides, cânceres de mama e ovário e tumores sólidos em crianças. • É frequentemente usado em combinação com a doxorrubicina e um taxano como terapia adjuvante após a cirurgia para câncer de mama. • Tem sido usada para tratar distúrbios autoimunes (Granulomatose de Wegener, artrite reumatóide e síndrome nefrótica) devido a seus potentes efeitos imunossupressores, mas deve- se ter cautela ao administrar o medicamento em condições não neoplásicas, devido aos efeitos tóxicos e ao seu potencial para induzir menopausa prematura, esterilidade, efeitos teratogênicos e leucemia. • Efeitos Adversos • Cistite hemorrágica. • Secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIADH). • Toxicidades gastrointestinais, pulmonares, renais, hepáticas. • Toxicidades cardíacas (necrose miocárdica hemorrágica) após altas doses com doses totais superiores a 200 mg / kg. • Cloranbucil • Classe das mostardas nitrogenadas. • Os efeitos citotóxicos do clorambucil na medula óssea, nos órgãos linfoides e nos tecidos epiteliais são similares àqueles observados com outras mostardas de nitrogênio. • Agente administrado por via oral, é bem tolerado em pequenas doses diárias e fornece uma titulação flexível das contagens sanguíneas. • Uso Terapêutico • É utilizado quase exclusivamente no tratamento da LLC e a terapia de manutenção geralmente é necessária para manter a resposta clínica. O tratamento com clorambucil pode continuar por meses ou anos, alcançando seus efeitos gradualmente e, muitas vezes, sem toxicidade significativa para a medula óssea comprometida. • Efeitos Adversos • A Hipoplasia Acentuada da medula óssea pode ser induzida com doses excessivas. • Efeitos Adversos Raros • Desconforto Gastrointestinal. • Azoospermia. • Amenorreia. • Fibrose Pulmonar. • Convulsões. • Dermatite. • Hepatotoxicidade. • Nitrosureias • São fármacos que funcionam como alquilantes bifuncionais, são altamente lipossolúveis e têm capacidade de atravessar a BHE, sendo efetivos e de grande valia no tratamento de tumores cerebrais. • Ex: Carmustina e Iomustina. • Alquilantes não clássicos • Procarbazina: associação para Linfoma de Hodgkin e não Hodgkin. • Dacarbazina: melanoma, linfoma Hodgkin, sarcoma de tecidos moles e neuroblastoma. • Bendamustina: LLC, mieloma múltiplo, câncer de mama. Análogos da Platina • Mecanismo de ação • Diferentemente dos outros alquilantes, não formam intermediários de íon carbônio, mas ligam- se covalentemente a sítios nucelofílicos no DNA e compartilham muitos atributos farmacológicos com os alquilantes. • Possuem ampla atividade neoplásica e são base para tratamentos do câncer de ovário, cabeça e pescoço, bexiga, esôfago, pulmão e colo. • Resistência • Multifatorial, compostos diferem quanto ao grau de resistência cruzada. • Exemplos: cisplatina, carboplatina, oxaliplatina. • Cisplatina • Atividade importante contra ampla variedade de tumores sólidos como pulmão de células não pequenas, e de células pequenas, câncer de esôfago, gástrico, colangiocarcinoma, cabeça e pescoço, genitourinário (testículo, ovário, bexiga). Quando em associação, vem produzindo cura do câncer testicular não seminomatoso. • Principal toxicidade: nefrotoxicidade, o que vem sendo abolido com tratamento prévio com hidratação e diurese de cloreto (altas concentrações de cloreto estabilizam o fármaco. Antimetabólitos • Antifolatos • Breve histórico • A quimioterapia antifolato produziu as primeiras remissões marcantes- embora temporárias- na leucemia e a primeira cura de um tumor sólido, o coriocarcinoma. O interesse em antagonistas do folato aumentou ainda mais com o desenvolvimento da terapia de combinação curativa para leucemia linfocítica aguda na infância, em que o metotrexato (MTX) desempenhou papel de destaque. • Além disso, com a progressão do conhecimento, observou-se que a aplicabilidade do MTX era ainda mais ampla, com ação sobre linfoma sistêmico e do SNC, sarcoma osteogênico e leucemias. Dessa forma, o reconhecimento de que o MTX, um inibidor da DHFR, também inibe diretamente as enzimas dependentes de folato levou ao desenvolvimento de análogos de antifolato direcionados especificamente a essas outras enzimas dependentes de folato. • O ácido fólico é fator nutricional essencial que é convertido por ação enzimática em cofatores de tetrahidrofolato (FH4), que fornecem grupos metila para a síntese de precursores de DNA e RNA. A interferência no metabolismo do FH4 inibe a replicação do DNA. • Exemplo: Metotrexato (MTX). • Mecanismo de ação • Análogo do ácido fólico que se liga com alta afinidade ao sítio catalítico ativo da Di-hidrofolato redutase (DHFR). Inibe a síntese de THF, transportador de C para processos metabólicos que interferem na produção de DNA, RNA e de proteínas-chave celulares. • Possui ação citotóxica por meio da formação de metabólitos de poliglutamato retidos intracelularmente nas células cancerosas, os quais exercem efeitos inibitórios aumentados sobre as enzimas envolvidas em biossíntese de novo de nucleotídeos de purina e Timidilato. • Resistência • Transporte diminuído do fármaco pelo carreador de folato ou pela proteína receptora. • Formação diminuída de poliglutamatos de MTX. • Níveis aumentados de enzima alvo DHFR por amplificação gênica e outros mecanismos genéticos. • Alteração de DHFR com afinidade reduzida pelo MTX. • Observações • É preciso ter cuidado quando o MTX é administrado na presença de ácido acetilsalicílico (AAS) anti- inflamatórios não esteroidais (AINES), penicilina, cefalosporinas, as quais diminuem excreção renal. • Efeitos biológicos podem ser revertidos com folato reduzido de leucovorina ou pela L-leucovorina, em casos de toxicidade excessiva e superdosagem acidental. A introdução de esquemas de alta dose com “resgate” da toxicidade do hospedeiro pelo folato reduzido de leucovorina aumentou ainda mais aeficácia desse fármaco tanto para os linfomas sistêmicos quanto para os linfomas do SNC, sarcoma osteogênico e leucemias. Análogos das Pirimidinas • Mecanismo de ação • Os antimetabólitos pirimidínicos abrangem grupo diverso de fármacos que inibem a função do RNA e DNA. • As fluoropirimidinas inibem a síntese de precursores essenciais de DNA, enquanto outros incorporam- se ao DNA e bloqueiam seu alongamento e função. • A inibição ocorre, pois, possuem a capacidade de entrar facilmente nas células tumorais e sofrer ativação por enzimas intracelulares, bloqueando enzimas essenciais para síntese de DNA, ou, ainda, pela incorporação direta ao DNA, bloqueando sua função. • Exemplos: 5-fluorouracil, floxuridina, capecitabina • Uso clínico • 5-Fluorouracil (5FU) • Produz respostas parciais em 10% a 20% dos pacientes com carcinoma de cólon metastático, carcinomas do trato GI superior e carcinomas de mama, mas raramente é usado como agente único. • 5FU em combinação com leucovorina e oxaliplatina ou irinotecano em terapia adjuvante está associado a uma vantagem de sobrevida para pacientes com câncer colorretal. • Floxuridina • É administrada principalmente por infusão contínua na artéria hepática para tratamento de pacientes com carcinoma metastático do cólon ou após ressecção de metástases hepáticas (a taxa de resposta da infusão intra-hepática é o dobro da administração intravenosa). • Capecitabina • É um pró-fármaco administrado por via oral de 5-FU que está aprovada para o tratamento de: • Cancro da Mama Metastizado que não responderam a um regime de paclitaxel e antraciclina. • Cancro Da Mama Metastático quando utilizado em combinação com docetaxel em doentes que tiveram um regime anterior contendo antraciclinas • Câncer Colorretal Metastático. Análogos da Citidina • Citarabina • Antimetabólito mais importante usado na terapia de LMA. • Único agente mais efetivo para a indução de uma remissão da doença. • Age por meio da interferência no emparelhamento de bases. • Toxicidade: potente agente mielossupressor, capaz de produzir leucopenia, trombocitopenia e anemias graves agudas, com alterações megaloblásticas notáveis. • Outras manifestações: distúrbios do TGI, estomatite, conjuntivite, elevações de enzimas hepáticas, edema pulmonar não cardiogênico e dermatite. Análogos das Purinas • São agentes com propriedades antileucêmicas e imunossupressoras, incluindo as 6-tiopurinas, azatioprina e fosfato de fludarabina (muito usado na LLC). • Análogos das 6-tiopurinas • O mecanismo de ação envolve incorporação do nucleotídeo da 6- tioguanina ao DNA, em que ele induz quebra de filamentos e emparelhamento incorreto de bases. • Foram aprovados para tratamento das leucemias humanas, atuando como análogos das purinas naturais (hipoxantina e guanina). • Como exemplo, temos a tioguanina e mercaptopurina, ambas usadas na manutenção da LLA. Produtos Naturais • Alcaloides da Vinca • Mecanismo de ação • São agentes específicos do ciclo celular, bloqueando mitose e de metabolismo hepático (necessitando de ajuste de dose na disfunção hepática). • Ligam-se especificamente a 𝛽-tubulina, impedindo sua polimerização com a 𝛼-tubulina e a formação de microtúbulos. Dessa forma, não há formação de fuso mitótico, cromossomos não se alinham na placa equatorial e a divisão celular é interrompida em metáfise. • Células então bloqueadas sofrem alterações típicas de apoptose. • Exemplos: Vimblastina • Utilizada no Linfoma Hodgkin e não Hodgkin, câncer mama e de células germinativas. • Efeitos adversos: náuseas, vômitos, supressão da medula óssea, alopécia, vesicante. • Vincristina • Utilizada no Linfoma Hodgkin e não Hodgkin, Mieloma Múltiplo, tumores pediátricos, associação com prednisona para indução de remissão da LLA. • Efeitos adversos: neurotoxicidade (microtúbulos são encontrados em altas concentrações no cérebro), neuropatia sensorial periférica em geral. Mielossupressão mais discreta do que vimblastina. SIADH pode ocorrer. • Vinorelbina • Utilizado no câncer de pulmão de células não pequenas, de mama e de ovário. • Efeitos adversos: náuseas e vômitos, elevações de prova de função hepática, neurotoxicidade, SIADH. • Taxanos • Mecanismo de ação • Ligam- se a subunidade 𝛽 - tubulina, antagonizam o desmonte dos microtúbulos, levando ao aparecimento de feixes de microtúbulos e estruturas aberrantes derivadas de microtúbulos na fase mitótica do ciclo celular. Ocorre interrupção da mitose. • Uso clínico • Câncer de ovário, mama, pulmão, cabeça e pescoço, esôfago, próstata, bexiga, Kaposi relacionado a AIDS. • Efeitos adversos • Neutropenia, se em alta dose, neuropatia sensorial em meia luva, hipersensibilidade, mucosite. • Epipodofilotoxinas • Mecanismo de ação • Inibição da Topoisomerase II. Impedem o reparo da quebra que normalmente ocorre após ligação da topoisomerase ao DNA. • A enzima continua ligada à extremidade livre do filamento de DNA rompido; consequentemente, há acúmulo de quebras do DNA e morte celular. • Uso clínico • Possui ação contra células germinativas, câncer de pulmão, Hodgkin, não Hodgkin, câncer gástrico. • O Etoposídeo é bastante utilizado em neoplasias hematológicas e câncer sólido. Contudo, seu uso pode levar ao desenvolvimento de neoplasias hematológicas no futuro. • Camptotecinas • Mecanismo de ação • São derivados da Campototheca acuminata. Seu mecanismo de ação inclui inibição da Topoisomerase I, o que leva à lesão do DNA e ao acúmulo de quebras de filamento único de DNA. • Essas lesões são reversíveis e não são tóxicas para a célula, porém, a colisão de um garfo de replicação de DNA com esse filamento clivado causa quebra irreversível de DNA filamento duplo, levando finalmente à morte celular. • Uso clínico • Exemplos: topotecano, usado para câncer de ovário e pulmão e irinotecano, usado principalmente no câncer de cólon e reto. • Antibióticos Antitumorais • Dactinomicina (actinomicina D) • Mecanismo de ação • Liga-se ao DNA dupla hélice, bloqueia transcrição do DNA pela RNApol. • Além disso, promove quebras de filamentos simples de DNA, provavelmente por meio de radical livre intermediário, ou como consequência da ação da Topoisomerase II. • Inibe células em rápida proliferação celular de origem normal e neoplásica e é um dos agentes antitumorais mais potentes conhecidos. • Uso clínico • Utilizados em tumores sólidos em crianças e coriocarcinoma em mulheres adultas. • Antraciclinas • Mecanismo de ação • Possuem ação citotóxica por 4 mecanismos principais - Inibição da Topo II. - Ligação de alta afinidade ao DNA por intercalação com boqueio da síntese de DNA e RNA e ruptura de DNA. - Produção de radicais livres → cardiotoxicidade. - Ligação a membranas celulares alterando = fluidez e transporte de íons. • Exemplos: doxorrubicina, dauorrubicina, idarrubicina, epirrubicina • Uso clínico • A daunorrubicina e a idarrubicina são usadas no tratamento de pacientes com leucemia mieloide aguda (LMA) em combinação com Ara-C. • A doxorrubicina é eficaz em linfomas malignos. Em combinação com ciclofosfamida, alcaloides da vinca e outros agentes, é importante no tratamento de linfomas. Participa de vários esquemas de QT para carcinoma de mama adjuvante e metastático. A droga também é benéfica em sarcomas pediátricos e adultos, incluindo sarcomas osteogênicos, Ewing e de partes moles. TERAPIAS DIRIGIDAS POR ALVO • Inibidores das Proteínas Tirosinases • Inibidores da BCR- ABL cinase. • São representantes do grupo o imatinibe, desatinibe, nilotinibe. • Mecanismo de ação • Os 3 inibidores diferem em relação às especificidades de ligação, à potência e resistência. • O imatinibe e nilotinibe ligam- se a um segmento do domínio cinase que fixa a enzima em um estado fechado ou não funcional;consequentemente, a proteína torna- se incapaz de ligar- se ao seu substrato. • Uso clínico • Induzem remissões clínicas em > 90% dos pacientes com LMC na fase crônica da doença. • O imatinibe trata efetivamente outros tumores que apresentam mutações relacionadas de tirosinase, incluindo tumores do estroma GI e a síndrome de hipereosinofilia e o dermatofibrossarcoma protuberante. • Inibidores dos Receptores de Fatores de Crescimento. • O EGFR é um tipo de receptor transmembrana de tirosinses, essencial para crescimento e diferenciação de células epiteliais. • Nos cânceres epiteliais, a hiperexpressão e a ativação por mutação do EGFR constituem um achado comum e criam dependência na sinalização EGFR nesses tumores. • Mecanismo de ação • O Erlotinibe e gefitinibe ligam- se ao domínio da cinase e bloqueiam a função enzimática do EGFR. • Os anticorpos monoclonais cetuximabe e panitumumabe ligam- se especificamente ao domínio extracelular do EGFR e inibem a sinalização dependente de EGFR. • Uso clínico • Erlotinibe, utilizado no tratamento de cancro de pulmão. • Gefitinib é utilizado para certos tipos de câncer de mama, pulmão e outros. • Cetuximabe tem sido utilizado no tratamento no câncer colorretal metastático e no câncer de cabeça e pescoço recorrente, tanto como primeira linha (associado a derivados da platina) quanto como segunda linha nos casos de falência do tratamento inicial. • Inibidores do HER2 / neu • Uso clínico • Tantos os anticorpos (transtuzumabe, pentuzumabe) quanto as pequenas moléculas (lapatinibe) exercem efeito proeminente em doentes com câncer de mama HER2- positivo e tornaram- se agentes terapêuticos essenciais em associação com quimioterapia citotóxica para essa neoplasia maligna agressiva. • Mecanismo de ação • O transtuzumabe age por meio da ligação ao domínio externo do HER2 / neu (ErbB2). • O lapatinibe bloqueia tanto ErbB1 quanto ErbB2 e se liga a um sítio interno no receptor (habitualmente a bolsa de ligação do ATP) em comparação ao sítio de ligação externo do transtuzumabe. • Inibidores de Angiogênese • Células cancerosas secretam fatores angiogênicos, que induzem a formação de novos vasos sanguíneos, assegurando fluxo de nutrientes para as células tumorais. • Dentre os fatores, temos VEGF, TGF-B, PDGF, FGF. Diversos tumores hiperexpressam esses fatores angiogênicos, favorecendo o crescimento e a metástase do tumor. O bloqueio dessas moléculas pró- angiogênicas pode exercer efeitos inibitórios sobre o crescimento tumoral. • Exemplos: bevacizumabe, sunitimabe, sorafenibe. • Mecanismo de ação • Os anticorpos contra o fator angiogênico normalizam a pressão intersticial e melhoram o fluxo sanguíneo, aumentando a capacidade dos agentes quimioterápicos de alcançar o tumor. • Bevacizumabe bloqueia a ação do VEGF impedindo o crescimento de vasos sanguíneos que alimentam tumores malignos. • Sunitimabe inibe a sinalização de VEGFR e PDGFR. • Sorafenibe inibe várias proteínas quinases de tirosina, tais como as quinases da família VEGFR, PDGFR e Raf. • Uso clínico • Bevacisumabe no câncer colorretal metastático e no câncer de pulmão. • Sunitimabe no tratamento do carcinoma de células renais, tumores do estroma gastrointestinais e câncer pancreático raro. • Sorafenibe no tratamento de câncer renal primário, câncer primário de fígado avançado e carcinoma de tireóide avançado resistente a iodo radioativo. • Inibição do Proteassoma •. Bortezomibe • Uso clínico • Desempenha papel central no mieloma múltiplo (MM), que é o câncer hematológico mais comum. • Mecanismo de ação • Liga-se ao proteassoma e bloqueia sua atividade, interrompendo assim diversas cascatas de sinalização intracelulares e levando à apoptose. • Além disso, impede a atividade de transcrição do NFK-B, infra regulando as respostas de sobrevida. Modificadores da Resposta Biológica • Anticorpos monoclonais • As células cancerosas apresentam antígenos que podem ser alvos da terapia com anticorpos monoclonais. O rituximabe, tem como alvo o CD20 das células B; o Alentuzumabe o CD52, o gentuzumabe o CD33. • Novas modalidades terapêuticas têm como objetivo dirigir o tratamento mais especificamente às células cancerígenas, poupando as normais. Com isso, o objetivo é realizar uma terapia dirigida ao alvo, como o que é feito com os anticorpos monoclonais, constituindo uma forma de imunoterapia. • Fatores de Crescimento • A supressão da medula óssea pode limitar o uso de QT no esquema e doses prescritas. A disponibilidade de fatores de crescimento para eritrócitos (EPO), granulócitos (G-CSF) e granulócitos e macrófagos (GM- CSF) ampliou a capacidade de utilizar a terapia de combinação ou a terapia em altas doses com redução das complicações, como a neutropenia febril.
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