Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
como intervenção direta ao patria potestas,299 ou seja, interpretado mo- dernamente, à autoridade paterna, passo perante o qual o sensível Parlamento inglês fingiu por muito tempo estar impedido pelo temor. A força dos fatos obrigou, no entanto, a reconhecer finalmente que a grande indústria, junto com o fundamento econômico do antigo sistema familiar e do trabalho familiar, que lhe corresponde, dissolve também as próprias relações familiares antigas. O direito das crianças teve de ser proclamado. “Infelizmente”, diz o relatório final de 1866 da “Child. Empl. Comm.”, “transparece, da totalidade dos depoimentos de teste- munhas, que as crianças de ambos os sexos precisam de mais proteção contra seus pais do que contra qualquer outra pessoa.” O sistema da exploração desmesurada do trabalho infantil de modo geral e do trabalho a domicílio em particular é “mantido porque os pais exercem sobre seus jovens e tenros rebentos um poder arbitrário e nefasto, sem freios nem controle. (...) Os pais não deveriam ter o poder absoluto de fazer de seus filhos meras máquinas para conseguir certa quantia de salário semanal. Crian- ças e jovens têm direito à proteção da legislatura contra o abuso do poder paterno, que alquebra prematuramente sua força física e os degrada na escala dos seres morais e intelectuais.”300 Não é, no entanto, o abuso do poder paterno que acarretou a exploração direta ou indireta de forças de trabalho imaturas pelo ca- pital, mas, pelo contrário, é o modo de exploração capitalista que fez do poder paterno, ao suprimir sua correspondente base econômica, um abuso. Por terrível e repugnante que agora pareça a dissolução do antigo sistema familiar no interior do sistema capitalista, a grande indústria não deixa de criar, com o papel decisivo que confere às mu- lheres, pessoas jovens e crianças de ambos os sexos em processos de produção socialmente organizados para além da esfera domiciliar, o novo fundamento econômico para uma forma mais elevada de família e de relações entre ambos os sexos. É, naturalmente, tolo tomar como absoluta tanto a forma teuto-cristã de família quanto a forma romana antiga, ou a grega antiga, ou a oriental, que, aliás, constituem entre si uma progressão histórica de desenvolvimento. É igualmente óbvio que a composição do pessoal coletivo do trabalho por indivíduos de ambos os sexos e dos mais diversos grupos etários — embora em sua forma capitalista espontaneamente brutal, em que o trabalhador com- parece para o processo de produção e não o processo de produção para o trabalhador —, fonte pestilenta de degeneração e escravidão, tenha, MARX 117 299 Pátrio poder, autoridade paterna. (N. dos T.) 300 Child. Empl. Comm., V Rep., p. XXV. nº 162; e II Rep., p. XXXVIII, nº 285, 289, p. XXV, XXVI, nº 191.
Compartilhar