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Max Weber: Racionalizações e Desencantamento do Mundo Um pensador é em essência um provocador. Diferentemente do pensamento científico, o pensador não busca a verdade universal e definitiva, mas sim, expressa sua perspectiva, sua análise de mundo, de forma que seus melhores pensamentos, fiquem de legado. Assim foi Max Weber. Em sua obra, o autor, debruça-se sobre a análise da cultura, vista por ele como diversificada e múltipla e que dá significado a vida humana – uma vez que a cultura é fruto da interação humana em sociedade, e, portanto, varia de acordo com as características de cada grupo social (como região geográfica, religião predominante etc.) –, essa distinção de cultura, por sua vez, será responsável por criação de conflitos entre diferentes sociedades, de forma direta ou indireta, de forma aberta ou velada, cada uma buscando levar sua “verdade” acima das demais. Ainda de acordo a Weber, a modernidade é um modo de vida cultural, principalmente para a modernidade ocidental, cuja característica principal é um processo muito amplo, diversificado e sólido de racionalizações, o que significa que a modernidade apresenta um curso de ações históricas que estruturam e baseiam instituições e modos de conduta de vida caracterizadas pela exteriorização e universalização. Um exemplo de uma dessas condutas é o capitalismo em si, surgido na Europa, e propagado mundo afora como sistema ideal a ser adotado por todos os países, independente da sua especificidade, população, limitações e preferências. Outro exemplo, bastante significativo, que poder ser muito bem identificado em relações internacionais é o cientificismo. O embasamento científico domina todas as relações de comercio, produção e venda (como atualmente se fala muito sobre as diferentes vacinas produzidas por diferentes países, tais produtos precisam de certificações internacionais por unidades científicas respeitadas). Para Weber então, uma característica importante da modernidade é a profunda racionalização do mundo de forma diversificada. A modernidade poderia ser definida, em certa medida, como o racionalismo de domínio do mundo, ou seja, a ascensão e desenvolvimento, e a consolidação de estruturas sociais baseadas em critérios racionais e que tem poder de universalização, em especial a ciência e o capitalismo, não é à toa que essas duas grandes forças são tão prevalentes no nosso cotidiano universal. Essa racionalização universal é um fator preponderante para o que Weber chamou de desencantamento do mundo, e nesse viés, “desencantamento” é a palavra utilizada para caracterizar um mundo dominado por formas/procedimentos/interesses racionais e formais, impessoais. Essa impessoalidade deve-se ao fato de estruturas objetivas não se basearem em valores morais/emoções, se baseando meramente em cálculos de eficácia. O movimento protestante (posterior a Lutero, mas sobretudo, a partir de Calvino), mudou o modo religioso de entender a relação de Deus com o mundo, rompendo com a tradicional visão católica. A essência da ideia protestante que vai impactar favoravelmente o desenvolvimento o capitalismo moderno e da modernidade como um todo é que Deus passa a ser visto como um ser observador, distante (impossibilitando a comunicação humana com ele). Os protestantes, então, passam a pregar a importância de que cada novo fiel se torne um servidor do Senhor, absoluto e justo, o que se oporia visão católica de Deus bondoso, visão essa, que já entrava em questionamento, uma vez que no mundo se via a dicotomia entre o “Deus poderoso e bondoso” e a presença de pobreza, sofrimento e maldade. Segundo essa corrente protestante, esse novo Deus justo – ao qual não nos cabe caracterizar seu julgamento como “bom” o “mau”, mas sim apenas a devoção e a fidelidade, provados ao seguir princípios racionais, esquivando-se da irracionalidade (mágica, ou fatos inexplicáveis). Ou seja, o protestantismo é um desencantamento no campo religioso. Max Weber: Racionalizações e Desencantamento do Mundo Dessa forma, ser fiel a Deus significa agir racionalmente no mundo. Baseado nisso, o protestantismo vai certificar/autorizar as relações comerciais e a liberdade material do fiel, o liberando para a atividade econômica capitalista, tornando o trabalho a forma de dignificar o homem, e, se tal trabalho rende frutos, esse sucesso é o único sinal de que Deus agiu a seu favor, ao contrário do catolicismo, que por muito tempo pregou a fuga dessas tarefas mundanas, e em casos específicos, até a fuga do meio mundano, rumo a monastérios, onde tais propostas não são bem vistas. Assim o sucesso no mundo era o sinal da Graça, de seu trabalho e fidelidade a Deus (vocação conforme vontade de deus).
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