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MEGACÓLON CONGÊNITO Seminário do Módulo de Nascimento e saúde do RN - 2020 Discente: Giovanna de Freitas Ferreira Universidade Federal de Mato Grosso Campo Universitário de Rondonópolis Curso de Graduação em Medicina Tópicos de discussão Definição Fisiologia do Sistema Nervoso Entérico Etiogenia e Fisiopatogenia Manifestações Clínicas Diagnóstico Tratamento Prognóstico (SANTOS, 2020) Intestino Grosso A doença de Hirschsprung, ou megacólon congênito agangliônico, é um distúrbio do desenvolvimento (neurocristopatia) do sistema nervoso entérico caracterizado pela ausência de células ganglionares nos plexos mioentérico e da submucosa. (FIORINO; LIACOURAS, 2013) (HALL, 2017) (HALL, 2017) Etiologia Neurocristopatia Genética (ZANDONÁ; SCHOFFEN, 2008) Neurocristopatia Durante a 3ª semana de desenvolvimento embrionário, no processo chamado neurulação, ocorre a formação da crista neural a partir da ectoderme. Suas células pluripotentes darão origem aos melanócitos, células da medular adrenal, dentina e aos neurônios do sistema nervoso autônomo, incluindo os do sistema entérico As células nervosas migram da crista neural primeiramente para o estômago e duodeno após a 7ª semana, e para o restante do sistema gastrointestinal após a 12ª semana de gestação (LOURENÇÃO, 2012) Após migrarem, já entre a 12ª e 16ª semanas, os neuroblastos invadem a parede intestinal, originando primeiramente os plexos mioentéricos de Auerbach nas camadas mais externas, e posteriormente os plexos de Meissner na submucosa Desta forma, a ausência de células ganglionares tem sido atribuída à falha na migração das células da crista neural, durante a embriogênese. (LOURENÇÃO, 2012) A doença de Hirschsprung é habitualmente esporádica; entretanto, um padrão de herança dominante e recessivo tem sido demonstrado em grupos familiares. Foram identificados defeitos genéticos em vários genes que codificam proteínas da via de sinalização RET (RET, GDNF e NTN) e que estão envolvidos na via do receptor de endotelina (EDN) tipo B (EDNRB, EDN3 e EVE-1). Origens Genéticas (ZANDONÁ; SCHOFFEN, 2008) Gene RET --> braço longo do cromossomo 10 50% dos casos familiares do MC 20% dos casos esporádicos há muitas síndromes que são associadas ao quadro clinico de megacólon, com valores de associações que ascendem ao redor de 28%, distribuídas entre anomalias cardíacas, cerebrais e craniofaciais, além da síndrome de Down (JÚNIOR,2012) Traço isolado em 70% dos pacientes Associada à anormalidade cromossômica em 12% Com outras anomalias congênitas em 18% ou mais dos casos Essa é a causa mais comum de obstrução intestinal baixa em recém-nascidos 1/20.000 a 1/5.000 nascimentos 4meninos:1menina Não se tem muitos dados sobre sua real incidência na população brasileira Epidemiologia (FIORINO; LIACOURAS, 2013) (JÚNIOR, 2012) (LOURENÇÃO, 2012) A desenervação congênita ocorre principalmente na parte terminal do intestino grosso, Em 2% dos casos, todo o intestino grosso é afetado Na grande maioria das vezes, o segmento denervado se limita ao reto e/ou ao sigmóide terminal (90%) Em 7% dos casos o segmento é longo (JÚNIOR,2012) (SANTOS-JASSO, 2017) Limitada ao Reto e Sigmóide são 80-85% dos casos Limitada ao Colo Descencente, Sigmóide e Reto são ~10% dos casos Afeta desde próximo à válvula íleocecal até o reto e são 5-10% dos casos Geralmente, o segmento proximal à parte do intestino desnervada, a qual é normalmente inervada, fica alongado, dilatado e hipertrofiado. Fisiopatologia (JÚNIOR, 2012) (TANNURI, 2007) (JÚNIOR, 2012) (ZANDONÁ; SCHOFFEN, 2008) Em crianças com MC não tratadas, a massa fecal vai se acumulando ao decorrer dos anos causando uma hipertrofia, dilatação e alongamento do cólon. A porção aganglionar do cólon permanece contraída e a massa fecal não passa, acumulando-se e originando o megacólon. (ZANDONÁ; SCHOFFEN, 2008) (JÚNIOR, 2012) (SOUSA, 2017) Há um crescimento anormal do cólon, fazendo com que haja alargamento visível da base do tórax e distensão abdominal, a qual é mais evidente ainda devido ao pouco desenvolvimento físico da criança (crescimento em altura e peso) dando assim um aspecto de desproporcionalidade (ZANDONÁ; SCHOFFEN, 2008) (ZANDONÁ; SCHOFFEN, 2008) (SOUSA, 2017) Mesmo a parte inervada do intestino grosso sofre com o aumento de diâmetro podendo passar dos 15 até 20 cm de diâmetro, até romper as paredes do cólon próximo ao ceco, havendo hemorragia e extravasamento das fezes. Ocorre também inflamações e úlceras superficiais na mucosa A grande permanência das fezes no interior do intestino (constipação) alternada por diarréias, somadas a deficiente movimentação do mecônio torna a absorção dos nutrientes(eletrólitos, vitamina K e B12, riboflavina etimina) muito ineficaz. Portanto, por mais que o indivíduo se alimente sempreterá aspecto de desnutrido e mal desenvolvido, em casos mais graves verifica-se um retardo mental nutricional Contudo, atualmente, devido a melhora no atendimento e triagem neonatal, o megacólon congênito temsido mais reconhecido e diagnosticado precocemente, fazendo com que os casos dedesnutrição e diminuição do desenvolvimento devido à doença se tornem maisraros (ZANDONÁ; SCHOFFEN, 2008) (SOUSA, 2017) Sinais & Sintomas no RN A doença de Hirschsprung é normalmente diagnosticada no período neonatal, apresentando-se com abdome distendido, falha de eliminação meconial e/ou vômitos biliosos ou com resíduos gástricos. Esses sinais costumam ser percebidos dentro de 24 horas A desidratação e a ampola retal vazia também são indícios da doença. Há também gases intestinais retidos por longos períodos de tempo (SOUZA, 2019) (FIORINO; LIACOURAS, 2013) Noventa por cento dos recém-nascidos que não eliminam mecônio nas primeiras 24 horas, após o nascimento, certamente têm doença de Hirschsprung (JÚNIOR, 2012) (ZANDONÁ; SCHOFFEN, 2008) Cerca de 50% das crianças comprometidas e não tratadas, morrem nos primeiros anos de vida e a grande maioria não logra atingir a vida adulta O exame rotineiro deve incluir o toque digital do reto que, em geral, provoca a saída explosiva de conteúdo intestinal com alívio imediato, porém passageiro, da distensão Quando o toque não libera a rolha de mecônio ou os gases retidos, uma sonda retal e a lavagem por sifonagem dão resultados satisfatórios Esses sinais são altamente sugestivos para o diagnóstico de megacólon congênito (JÚNIOR, 2012) Percebe-se à inspeção o peristaltismo intestinal e, quando a distensão abdominal se acentua, o quadro clínico de obstrução é acompanhado de desconforto respiratório que pode se expressar por certo grau de cianose Complicações (JÚNIOR, 2012) (ZANDONÁ; SCHOFFEN, 2008) Além disso, a dilatação excessiva do segmento do cólon afetado causa obstrução de vasos sangüíneos e linfáticos devido à pressão exercida nas paredes intestinais. A estase possibilita a proliferação debactérias, o que pode levar a enterocolite (Clostridium difficile,Staphylococcus aureus, anaeróbios, coliformes), com diarreia associada, dor à palpaçãoabdominal, sepse e sinais de obstrução intestinal A enterocolite é a complicação mais temível, antigamente interpretada e denominada como "diarréia putrefativa", mas que tem como substrato a isquemia do segmento normalmente inervado que pode evoluir com pneumatose intestinal, perfuração, peritonite e morte. Essa complicação fatal é de ocorrência mais comum no período neonatal. Na nossa casuística, a incidência de enterocolite foi de 6%, com 60% de óbitos O reconhecimento precoce da doença de Hirschsprung antes do surgimento de enterocolite é essencial para a redução da morbidade e mortalidade Complicações (JÚNIOR, 2012) Sinais & Sintomas na criança mais velha A demora no diagnóstico pode ocorrer por váriosfatores, como: Menor segmento do cólon afetado Áreas pequenas do cólon afetadas entremeadas por áreas saudáveis O megacólon congênito pode ser diagnosticado em crianças mais velhas ou até adolescentes, sendo mais raro se manifestar apenas na fase adulta Esses fatores podem levar a sintomas mais leves. Além disso, o megacólon congênito nem sempre é cogitado como uma hipótese diagnóstica, fazendo com que o diagnóstico demore ainda mais (JÚNIOR, 2012) Sinais & Sintomas na criança mais velha Adoença de Hirschsprung em pacientes maiores deve ser distinguida de outras causas de distensão abdominal e constipação crônica O histórico frequentemente revela a constipação, iniciando na infância, que não respondeu bem ao tratamento médico. Incontinência, urgência fecal e comportamentos de retenção das fezes normalmente não estão presentes. No exame físico, o abdome é timpânico e distendido, com grande massa fecal palpável no quadrante inferior esquerdo. As vezes é possível palpar o fecaloma Normalmente, o reto não tem fezes e, no exame retal, quando o dedo é removido, pode haver uma descarga explosiva de fezes e gases com odor fétido. No lactente e pré-escolar, o aspecto físico é bem característico e chama a atenção o hipodesenvolvimento e o abdômen distendido com a base do tórax alargada. (JÚNIOR, 2012) Diagnóstico Suspeita clínica Biópsia Manometria anorretal Enema opaco História Clínica Observar sinais e sintomas caracterísricos da doença RN sem eliminação de mecônio nas primeiras 48 horas de vida História de constipações intestinais por longos períodos Ao exame físico, percebe-se abdome timpânico à percussão e distendido. Pode-se, ainda, palpar o fecaloma em alguns casos (FIORINO; LIACOURAS, 2013) (JÚNIOR, 2012) A avaliação anatomopatológica é fundamental para o diagnóstico da DH, através da identificação da aganglionose A biópsia por sucção retal é o padrão-ouro para diagnosticar a doença de Hirschsprung. Ela vai retirar um pedaço da mucosa e submosa, exatamente onde os plexos se encontram. Não necessita de anestesia nem de internação e pode ser feita ambulatorialmente Biópsia A biópsia cirúrgica da parede retal também pode ser realizado, contudo, envolve anestesia e cirurgia (FIORINO; LIACOURAS, 2013) (JÚNIOR, 2012) (NASCIUTTI et al, 2016) (Arquivo Pessoal) (SANTOS-JASSO, 2017) Reflexo da defecação: O enchimento das porções finais do intestino grosso estimula terminações nervosas presentes em sua parede através de sua distensão. Impulsos nervosos são, então, em intensidade e frequência cada vez maior, dirigidos a um segmento da medula espinhal (sacral) e acabam por desencadear uma importante resposta motora que vai provocar um aumento significativo e intenso nas ondas peristálticas por todo o intestino grosso, ao mesmo tempo em que ocorre um relaxamento no esfíncter interno do ânus. Dessa forma, ocorre o reflexo da defecação. Se durante esse momento o esfíncter externo do ânus também estiver relaxado, as fezes serão eliminadas para o exterior do corpo Manometria Anorretal (FIORINO; LIACOURAS, 2013) (COLORRETAL, 2020) • O reflexo de inibição reto-anal exige integridade do sistema nervoso intrínseco do reto. O EAI é relaxado toda vez que há distensão do reto. Na DH, a distenção do reto não provoca o relaxamento do EAI e ainda, provoca contrações bruscas nele (FIORINO; LIACOURAS, 2013) O enema opaco é um procedimento que avalia o intestino grosso (cólon) e o reto. O exame é indicado para pesquisa de megacólon, constipação crônica, sangramento nas fezes, doença inflamatória intestinal (retocolite ulcerativa e doença de Chron). Enema Opaco (FIORINO; LIACOURAS, 2013) (NUNES, 2016) • A imagem observada será a de segmento de calibre normal (segmento denervado), uma zona como boca de funil (área de transição) e o segmento proximal enormemente dilatado (segmento normal). Em recém-nascidos, pode ser difícil conseguir vizualizar uma imagem definida como sinal patognomônico do megacólon congênito. Por isso, caso o RN apresente retenção do bário, de 24 a 36 horas após o exame, torna-se sinal fortemente sugestivo para o diagnóstico da doença. (JÚNIOR, 2012) Tratamento Colostomia ou Ileostomia Cirurgia definitiva Fármacos � O objetivo do tratamento é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, obtendo um numero aceitável de evacuações, conservando a continência fecal e evitando o desenvolvimento de sintomas de enterocolite Colostomia (KFOURI et al., 2018) (KFOURI, 2018) A cirurgia é o tratamento definitivo, o qual é resolutivo na maior parte dos casos Poucos pacientes relatam ainda sofrer de algum tipo de constipação instestinal, contudo, os sintomas tendem a desaparecer a longo dos meses Há diversas técnicas cirúrgicas que podem ser realizadas para a correção do megacólon congênito. A maior parte delas se resume na ressecção de uma parte do intestino grosso aganglionar e hipertrofiada e posterior reconeção da parte do intestino restante com o reto e ânus Cirurgia (KFOURI, 2018) Prognóstico O prognóstico da doença de Hirschsprung cirurgicamente tratada geralmente é satisfatório; a maioria dos pacientes atinge a continência fecal. Os problemas pós-operatórios de longo prazo incluem constipação, enterocolite recorrente, estenose, prolapso, abscessos perianais e escape fecal. Após essas medidas, a evolução do RN é variável podendo ser relativamente boa, com períodos de constipação e/ou obstrução recorrentes ou ainda, resolução completa do quadro (FIORINO; LIACOURAS, 2013) (JÚNIOR, 2012) Referências ZANDONÁ, Diego Willian Legori; SCHOFFEN, João Paulo Ferreira. Megacóloncongênito: fisiopatologia,etiologia e tratamento. Revista Uningá, Maringá–Pr, n. 15, p. 119-134, mar. 2008. Disponível em: http://revista.uninga.br/index.php/uninga/article/view/649/300. Acesso em: 22 nov. 2020. SANTOS JÚNIOR, Júlio César SANTOS JÚNIOR, Júlio César M.. MEGACÓLON - PARTE I: DOENÇA DE HIRSCHSPRUNG. Revista Brasileira de Coloproctologia, Guaratinguetá - Sp, v. 3, n. 22, p. 196-209, mar. 2012. Disponível em: http://www.sbcp.org.br/revista/nbr223/P196_209.htm. Acesso em: 22 nov. 2020. TANNURI, Uenis; TANNURI, Ana Cristina Aoun. Megacolo congênito no recém-nascido: qual o melhor tratamento?. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo , v. 53, n. 2, p. 100-101, Apr. 2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 42302007000200008&lng=en&nrm=iso>. access on 22 Nov. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302007000200008. NUNES, Magda Lahorgue; FIORI, Humberto Holmer; HOLZHEY, Christine. Neurocristopatia no diagnóstico diferencial das apnéias do recém nascido: relato de caso. Arq. Neuro-Psiquiatr., São Paulo , v. 59, n. 4, p. 968-971, Dec. 2001 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0004-282X2001000600025&lng=en&nrm=iso>. access on 22 Nov. 2020. https://doi.org/10.1590/S0004-282X2001000600025. OBRIGADA PELA ATENÇÃO Giovanna de Freitas Ferreira giovannafreitasferreira@gmail.com
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