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Material de Apoio Disciplina: Direito Processual Civil III Tema: Cumprimento Provisório da Sentença Conceito e Fundamentos Com base no artigo 995 do Código de Processo Civil, temos que os recursos, em regra, não têm efeito suspensivo automático e, em razão disso, é perfeitamente possível ao prejudicado pelo inadimplemento da obrigação, dar início à fase de cumprimento de sentença, ainda que pendente análise de recurso. Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso. Nesse sentido, o artigo indica que quando o juiz proferir uma decisão, em regra, a decisão terá eficácia, portanto, gerando efeitos e por isso tem que ser cumprida. E, se ela - decisão - não for cumprida, cabe ao prejudicado/interessado requerer o seu cumprimento, ainda que provisório, já que pode haver reforma/anulação da decisão a partir da interposição de recursos. Embora o Código e a doutrina empreguei a expressão “cumprimento provisório da sentença” (CPC, art. 520), o cumprimento provisório também pode ser de decisão - parcial de mérito ou de tutela provisória - haja vista existir outros tipos de decisões no processo civil brasileiro que reconhecem e impõe o cumprimento de uma obrigação. Por fim, é importante deixar claro que, embora se fale “cumprimento provisório de sentença” ou “cumprimento provisório de decisão”, o que é provisório não é o cumprimento de sentença considerado em si, mas sim o título executivo judicial, que ainda pode ser alterados pela instância superior, justamente porque a execução é de título provisório. Cabimento Existem duas hipóteses nas quais são cabíveis a execução provisória, sendo elas: ● Títulos judiciais sujeitos a recursos sem efeito suspensivos ○ Recurso com efeito suspensivo: Não há cumprimento provisório ○ Recurso sem efeito suspensivo: Há possibilidade de cumprimento provisório ■ Exemplos: ● Acórdãos do TJ/TRF sujeitos a REsp ou REx, que via de regra são recursos desprovidos de efeito suspensivo ● Sentença que estabelece obrigação alimentar. Conforme art. 1.012, § 1º, a Apelação contra sentença que condena ao pagamento de pensão alimentícia é - regra geral - sem efeito suspensivo ○ Trânsito em Julgado: Há cumprimento definitivo da sentença. Art. 520. O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime: ATENÇÃO: Em que pese o capítulo do cumprimento provisório falar unicamente em obrigação de pagar quantia certa, o § 5º do artigo 520, estabelece que o disposto neste artigo é aplicável, no que couber, a qualquer obrigação, portanto, é cabível cumprimento provisório de sentença que reconheça obrigação de fazer, não fazer, dar-entregar. Art. 520. § 5º Ao cumprimento provisório de sentença que reconheça obrigação de fazer, de não fazer ou de dar coisa aplica-se, no que couber, o disposto neste Capítulo. ● Tutelas Provisórias Da decisão que concede uma tutela provisória - urgência ou evidência - é cabível agravo de instrumento, conforme previsão do art. 1.015 do CPC. Nesse sentido, à luz do art. 1.016 e seguintes também do CPC, a atribuição do efeito suspensivo ao agravo de instrumento é função do relator do recurso no Tribunal. Assim, caso ele conceda o efeito suspensivo, há impedimento ao prosseguimento de eventual cumprimento provisório da decisão, contudo, caso não conceda, há uma decisão que gera efeitos imediatos e que podem ser objeto de cumprimento. ATENÇÃO: Não existe cumprimento provisório de título executivo extrajudicial, sendo sempre definitiva a execução. Isto porque, o título extrajudicial não está sujeito a recurso, já que não passa pelo processo de conhecimento para sua formação. Neste sentido - Súmula 317 do STJ: “É definitiva a execução de título extrajudicial, ainda que pendente apelação contra sentença que julgue improcedentes os embargos”. ATENÇÃO: Existe uma questão controvertida na doutrina sobre a (in)existência de cumprimento provisório de sentença ou decisão contra a Fazenda Pública, especialmente por conta do previsto no art. 100 da Constituição da República. Nesse sentido, de acordo com o artigo 100 da Constituição Federal somente pode ocorrer a expedição do precatório ou da requisição de pequeno valor (espécies do gênero ofício requisitório) de sentenças judiciais transitadas em julgado. A consequência prática é que somente caberia cumprimento definitivo de sentença contra fazenda pública, já que fala - como dissemos - em decisão judicial transitada em julgado. PORÉM, a jurisprudência dos Tribunais superiores acaba mitigando o rigor do artigo 100 da CF, tanto é que não restam dúvidas quanto ao cabimento de execução de título extrajudicial contra a Fazenda Pública. Em razão dessa mitigação, é possível afirmar que a jurisprudência tem admitido o cumprimento provisório de sentença contra a Fazenda Pública, não havendo recurso com efeito suspensivo. A única questão que a jurisprudência tem deixado bem clara é que o cumprimento provisório contra a Fazenda Pública vai até a expedição de requisição de pequeno valor ou de precatório. Após, ainda que venha o valor, é necessário esperar o trânsito em julgado para fazer o levantamento. Resumindo: Para maioria da doutrina cabe cumprimento provisório de decisão contra a Fazenda Pública, inclusive os tribunais têm esse entendimento, mitigando o rigor normativo do art. 100 da CF. Contudo, não há possibilidade de levantar valores antes do trânsito em julgado da decisão. Regime Jurídico As regras procedimentais do cumprimento provisório de sentença tem algumas diferenças para o cumprimento definitivo de sentença. Isso porque, no cumprimento provisório está sendo realizada a execução de um título que ainda pode sofrer alterações. Assim, as tentativas de recebimento dos valores ou cumprimento da obrigação tem que ser realizadas com cautela, já que há possibilidade de reforma da decisão e o devedor pode deixar de ser devedor ou não dever tanto quanto esperado pelo credor. Regra nº. 01: Responsabilidade objetiva do exequente (regra a ser aplicada, inclusive, na execução definitiva). Caso o título provisório seja modificado, o credor que deu início ao cumprimento provisório responde objetivamente pelos danos causados ao devedor, que serão apurados nos próprios autos. Há responsabilização por perdas e danos, ainda que a parte não tenha agido de má-fé. Portanto, independente de culpa, já que decorre do próprio fato de ter feito o cumprimento provisório da decisão. ATENÇÃO: Pode ser aplicado até mesmo no cumprimento definitivo de sentença. Por exemplo, no caso de rescisão do título executivo através de ação rescisória. Regra nº. 02: Restabelecimento das partes no estado anterior (se possível, conforme § 4º). Caso haja reforma da decisão será restabelecido o estado anterior das partes. No entanto, o restabelecimento somente será possível caso não prejudique terceiros (§ 4º). Se eventualmente ele não for possível, há perdas e danos. Art. 520. § 4º A restituição ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real eventualmente já realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao executado. Se eventualmente não for possível o restabelecimento porque o bem está em poder de terceiro - como por exemplo, quando alguém compra um bem (casa do devedor) em hasta pública - deverá ser convertida em perdas e danos. Regra nº. 03: Caução para levantamento de dinheiro e atos de alienação (hipóteses de dispensa do artigo 521). Para dar início ao cumprimento provisório de sentença não é necessário a apresentação de caução ou pagamento. Contudo, para realizar levantamento de valores e atos de alienação (expropriação), através de caução real ou fidejussória (caução pessoal - ex: fiança). Esta caução a ser prestada tem a finalidade de que, em caso de reforma da decisão, o devedor tenha sobreo que recair a sua pretensão de perdas e danos. Art. 520. IV - o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. Exemplo: Imagine uma ação de dano moral na qual a parte perde em primeira instância, tem a decisão mantida em segunda instância e o devedor recorre para o STJ. Em regra, o RESp não é dotado de efeito suspensivo, logo, a parte interessada pode iniciar o cumprimento provisório da decisão. - Após iniciar o cumprimento provisório e penhorar um sítio do devedor, a parte tem por objetivo realizar a venda deste sítio, logo, para vender é preciso dar um bem em garantia, porque se porventura a decisão for reformada, há que se ter garantia do recebimento por conta da conversão em perdas e danos. ATENÇÃO: Para levantar e expropriar bens e valores, precisa o exequente dar caução. Porém, existem hipóteses de dispensa da caução, o que permite o levantamento independentemente de qualquer caução. Art. 521. A caução prevista no inciso IV do art. 520 poderá ser dispensada nos casos em que: I - o crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem II - o credor demonstrar situação de necessidade; III – pender o agravo do art. 1.042; IV - a sentença a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou em conformidade com acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos. Parágrafo único. A exigência de caução será mantida quando da dispensa possa resultar manifesto risco de grave dano de difícil ou incerta reparação. Isso não significa a inexistência de responsabilidade objetiva, contudo, para vender coisas e levantar valores, a parte não precisa dar nenhum bem em garantia para caucionar eventuais prejuízos decorrentes da reforma da decisão. IMPORTANTE: Atenção ao parágrafo único do art. 521 do CPC. Isso porque, mesmo nos casos estabelecidos neste artigo possa implicar na impossibilidade de retorno ao estado anterior, ele pode manter a necessidade de caução. De todo modo, para não aplicar as hipóteses do artigo 521 ele deve fundamentar a decisão. Regra nº. 04: Multa e honorários (parágrafo 2º). Diferentemente do que entendia o STJ no regime anterior, se se tratar de cumprimento provisório de sentença de quantia o devedor será intimado para pagar em 15 dias, sob pena de multa de 10% e honorários de 10%. Art. 520. § 2º A multa e os honorários a que se refere o § 1º do art. 523 são devidos no cumprimento provisório de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa. Nesse sentido, o entendimento do STJ era que no cumprimento provisório não tinha multa e nem honorários, porém, em razão da previsão legal, os entendimentos do STJ estão todos prejudicados neste sentido.
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