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Sarah Cintra Cân�e� d� ���o d� úte�� O câncer de colo de útero se inicia com a multiplicação descontrolada de células anormais, sem a reparação ou morte dessas células, como acontece com as células normais que apresentam falhas no DNA. Essa multiplicação desordenada das células ocorre após a interação do genoma humano pelo vírus do papiloma humano (HPV). Inicialmente existe a infecção do epitélio metaplásico na zona de transformação do colo uterino, por HPV oncogênico, seguido da persistência dessa infecção e da progressão de um clone de células epiteliais para lesões pré-invasivas e invasivas, com ruptura da membrana basal. A infecção pelo HPV é muito comum, estima-se que cerca de 75 - 80% dos adultos com vida sexual ativa irão adquirir o vírus antes dos 50 anos. Essa infecção pode levar, também, ao câncer de canal anal, vagina, vulva e pênis, além de verrugas genitais. É importante ressaltar que a maioria das infecções pelo HPV é transitória e não é capaz de desenvolver câncer invasor isoladamente. O colo uterino é formado, principalmente, por células escamosas e células cilíndricas ou glandulares. A junção desses dois epitélios é chamada de zona de transformação e aqui irá iniciar quase que todos os cânceres de colo uterino. Por conta da sua posição anatômica , o colo uterino permite fácil acesso no exame e, consequentemente, diagnosticar alterações locais em fases iniciais, assim prevenindo o câncer de colo uterino com bastante eficiência. As alterações pré - cancerosas podem ser divididas em alterações escamosas - neoplasias intraepiteliais escamosas (NIC), que possuem grau I, II e III, 5º Semestre Sarah Cintra conforme o comprometimento do epitélio escamoso. A NIC I tem taxas de regressão espontânea muito altas e baixa probabilidade de progressão para câncer. Não costuma ser considerada lesão pré-invasiva, diferentemente das NIC II e III e do adenocarcinoma in situ, quando do acometimento do epitélio glandular (AIS). Nesses casos não temos o rompimento da membrana basal. Alguns pesquisadores estimam que a incidência de lesões pré-invasivas escamosas (NIC II/III) é cerca de quatro vezes superior à do câncer invasivo. A prevenção primária do câncer cervical é por meio da vacina anti HPV. A vacina está indicada especialmente para meninas de 9 a 13 anos que não iniciaram atividade sexual. Além da vacinação e do rastreamento, o diagnóstico precoce e o tratamento das lesões pré-invasivas é fundamental para a redução da incidência e mortalidade desses tumores. Epidemiologia O câncer de colo uterino é a segunda neoplasia mais comum entre as mulheres, atrás somente do câncer de mama. A OMS recomenda que se estabeleçam programas de rastreamento para o câncer de colo uterino, universalmente aceito através do exame de 5º Semestre Sarah Cintra colpocitologia oncótica, o de Papanicolau. Novos métodos de rastreamento vêm sendo estudados, entre os quais a utilização dos testes de biologia molecular, de DNA e RNA/HPV, isoladamente ou associados ao exame colpocitológico e à inspeção visual com ácido acético e com iodo. Apesar de encontrarmos casos de câncer de colo uterino em mulheres cada vez mais jovens, a grande maioria deles ocorre entre 35 e 50 anos de idade, sendo mais comum aos 45 anos. Porém, cerca de 20% dos casos ocorrem em pacientes com mais de 60 anos, mantendo a importância do rastreio nessa faixa etária. O Inca orienta que o exame colpocitológico seja feito a partir dos 25 anos de idade, após o início da atividade sexual. Após dois exames anuais consecutivos normais, deve-se passar a fazê-los trienalmente, até os 64 anos. Pacientes submetidas a histerectomia por doença benigna não precisam continuar o rastreamento se os exames anteriores forem normais, bem como as pacientes após os 64 anos que tenham dois exames anteriores normais. Fatores de risco O principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de colo uterino é a infecção persistente pelo HPV oncogênico. Temos hoje os HPV 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58 como os principais vírus causadores do câncer de colo uterino no mundo, sendo que o 16 e 18 são responsáveis por cerca de 70 % dos cânceres de colo uterino. O início da atividade sexual precoce, a multiplicidade de parceiros sexuais, parceiros sexuais com múltiplas parceiras, infecções por chlamydia trachomatis e herpes simples tipo II associadas, são fatores correlatos importantes da infecção por HPV e, consequentemente, do desenvolvimento do câncer de colo uterino. Os anticonceptivos hormonais orais por mais de cinco anos e o fumo também aumentam o risco de câncer de colo uterino, segundo estudos recentes, embora o risco pelo anticonceptivo desapareça 10 anos após a suspensão do uso. Substâncias do tabaco parecem agir no DNA das células cervicais e facilitar o desenvolvimento do câncer. O estado imunológico está intimamente ligado à progressão de lesões pré invasivas para o câncer invasor, muito bem visto em pacientes com SIDA e transplantados. Diagnóstico Cerca de 69% dos cânceres de colo de útero são do tipo epidermóide ou escamosos e cerca de 25% adenocarcinomas ou glandulares . Outros tipos perfazem cerca de 5%, entre eles misto ou adenoescamosos, os sarcomas, o neuroendócrino, o de células claras e o melanoma. Entre os carcinomas escamosos temos HPV 16 (59%), HPV 18 (13%), seguidos de HPV 58, 33 e 45 e nos adenocarcinomas HPV 16 (36%), HPV 18 (37%), seguidos de HPV 45, 31 e 33. O diagnóstico clínico é difícil em tumores em estádios iniciais, pois, normalmente, são assintomáticos, só 5º Semestre Sarah Cintra diagnosticados pela presença de células neoplásicas em exames colpocitológicos, alterações colposcópicas sugestivas de invasão (vasos atípicos, áreas de necrose tumoral e hemorragia e tumores exofíticos) e pela confirmação por biópsias incisionais ou conizações. Os tumores em estádios iniciais apresentam ótimo prognóstico, com sobrevida acima de 95% em cinco anos. Os sinais e sintomas mais comuns em câncer de colo uterino avançado será o sangramento uterino anormal, sinusorragia, corrimento vaginais serossanguíneo e/ou fétido ou mesmo tumores cervicais visíveis a olho nu. Ainda, pode ser observado, tumores pélvicos palpáveis, adenomegalia inguinal ou nódulos metastáticos à distância ou sintomas de metástases ósseas, pulmonares, e outros. Os laudos anatomopatológicos devem conter o tipo, o grau histológico e tamanho do tumor, o percentual de comprometimento do estroma cervical, extensão ao corpo uterino e o comprometimento neoplásico de paramétrios, vagina, linfonodos e invasão do espaço vascular linfático. Esses itens são fundamentais para avaliação do risco e estabelecimento da conduta que será tomada posteriormente. Estadiamento Para o estadiamento adequado, a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) estabelece a necessidade do exame físico completo, com toque retal, avaliação do tamanho do tumor, comprometimento de vagina e de paramétrios, raios X de tórax, cistoscopia para avaliação de comprometimento da bexiga e de retossigmoidoscopia para avaliar invasão do reto e sigmoide e também avaliação de vias urinárias através de urografia excretora, especialmente em casos localmente avançados. A hematimetria e provas de função renal e hepática também são exames necessários nessa avaliação. Como fatores prognósticos principais do câncer de colo, temos o estadiamento, a presença de invasão linfovascular, o tamanho do tumor, a profundidade de invasão estromal e a metástase ganglionar. 5º Semestre Sarah Cintra A disseminação do câncer de colo uterino pode se dar pela mucosa vaginal, tornando-se doença visível ou palpável, pelo miométrio, especialmente tumores de endocérvice, pelos ductos linfáticos paracervicais até os linfonodos (obturadores, ilíacos internos e externos) e estruturas adjacentes ao colo ou paramétrios. Primariamente, os linfonodos parametriais seriam comprometidos, seguidos dos paracervicais e ureterais, obturadores e ilíacos internos ou hipogástricos, ilíacos externos e sacrais e posteriormente os ilíacos comuns,inguinais e periaórticos. Tratamento A escolha da melhor opção terapêutica para o câncer de colo uterino depende do estadiamento do tumor, mas também da idade e do desejo da paciente de gestar, do estado geral da paciente e suas comorbidades, das condições disponíveis no serviço de saúde e algumas vezes do desejo da paciente. Nas cirurgias radicais para tratamento do câncer de colo de útero, a preservação dos ovários depende da idade da paciente, considerando a baixa incidência de metástases ovarianas nesses tumores. Seguimento De forma geral, é recomendado o seguimento trimestral no primeiro ano e semestral até cinco anos em serviço especializado de oncologia. A partir de então, anual, podendo ser feito em serviço de atenção primária. As recorrências ocorrem em 75% dos casos nos primeiros dois anos. Nas consultas de seguimento, é necessário realizar a avaliação clínica, com anamnese e exames físicos completos. Os exames complementares, como hematimetria, bioquímica e eletrólitos podem ser solicitados conforme as evidências clínicas. A colheita do exame colpocitológico é obrigatória. Pois, ela pode auxiliar na visualização das lesões vaginais e cervicais e é aconselhável pelo menos nos dois primeiros anos. O raio X de tórax e os exames abdomino-pélvicos de imagem normalmente são solicitados, somente em casos de alterações clínicas. Considerações finais O câncer do colo do útero é uma doença potencialmente evitável, seja com a vacinação em idade precoce contra HPVs de alto risco oncogênico, seja por meio de um programa de rastreamento com citologia ou testes de detecção de HPV. A implementação de programas organizados de rastreamento, entretanto, é extremamente complexa e demanda a participação efetiva das mulheres, dos serviços de saúde e das políticas de saúde. Para o diagnóstico de doença invasiva inicial, sintomas como sangramento vaginal irregular devem ser valorizados. Em casos de doença invasora, o tratamento adequado e sem atraso é um fator prognóstico independente significativo. Técnicas complexas de estadiamento como exames sofisticados de imagens ou cirurgias para biópsias linfonodais não devem postergar o início do tratament 5º Semestre
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