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Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 1 Resposta endócrina metabólica ao trauma – REMIT Introdução Trata-se de uma resposta fisiológico a uma perturbação, na tentativa de manter a ho- meostase. Tal resposta é composta por rea- ções endócrinas, metabólicas e imunológi- cas. Os pontos de controle da resposta do orga- nismo ao estresse se encontram no hipotá- lamo e no tronco cerebral. Incluem-se os neurônios hipotalâmicos parvocelulares que liberam CRH (hormônio liberador de cortico- tropina) e AVP (vasopressina), além de mo- noaminas (noradrenalina). Nesse sentido, o eixo hipotálamo-hipófise, aliado ao sistema simpático-adrenomedular eferente, são os braços efetores pelos quais o cérebro influencia os órgãos após o con- tato com um agente agressor. Ainda, o sis- tema parassimpático eferente e os media- dores inflamatórios também contribuem para essa resposta. Objetivos: Limitar grandes perdas sanguíneas; Restaurar a homeostasia; Gerar energia; Aumentar o fluxo sanguíneo e incremen- tar a entrada de nutrientes; Eliminar substâncias oriundas do desbri- damento de tecidos necróticos; Facilitar a cicatrização de feridas. Mecanismos desencadeantes Dentre os mecanismos desencadeantes, destacam-se: Hipovolemia/hipoperfusão; Hipotermia; Lesão tecidual; Dor; Ansiedade. Características básicas da REMIT Perda de células corporais Lise do protoplasma celular; Perda de eletrólitos intracelulares, como o potássio; Balanço nitrogenado negativo – maior consumo proteico do que produção. Na REMIT, aminoácidos usados na glicone- ogênese hepática não dão destino ao grupamento amino, sendo este excre- tado na urina na forma de ureia. Conservação de líquido extracelular Queda absoluta na excreção de sódio – pois eliminar sódio implica na elimina- ção de água. Incapacidade relativa de excreção de bi- carbonato de sódio. Acidúria. Aumento da reabsorção de sódio no íleo. Alteração nas fontes de energia Discreta hiperglicemia/hipoinsulinemia – decorrente da redução da perfusão. Aumento das catecolaminas – hiperme- tabolismo. Aumento de ácidos graxos livres – trans- formação do tecido adiposo. Redução do quociente respiratório para oxigenação de gorduras. Alteração na regulação da neutralidade Feita através dos rins e dos pulmões. Inicialmente, tende à alcalose – a mag- nitude do trauma vence a capacidade de resposta do organismo → OHAH Oxidação do citrato transfundido (transformado em bicarbonato); Redução dos íons hidrogênio (hi- perventilação e excreção aumen- tada de CO2); Aldosteronismo pós-traumático; Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 2 Hiperventilação. Desenvolvimento posterior de acidose Decorrente da redução da perfusão tis- sular e acúmulo de ácido lático. Fases da resposta ao trauma Primeira fase: catabólica Caracteriza-se pela progressiva elevação do nível de catecolaminas, vasoconstrição peri- férica e redução da temperatura corporal – decorrentes do estresse emocional da ad- missão hospitalar, anestesia, ato operatório até o período operatório de 2-4 dias. Objetivos – Reestabelecer a homeostase. Para isso, tenta-se regular a osmolaridade, promovendo a eliminação do lixo catabólico e produção de energia por novas fontes. Características: Duração de 1-5 dias, a depender da ca- pacidade de resposta do paciente e do nível do trauma. Principais hormônios: adrenérgicos e corticoides. Aumento nos níveis de glucagon, ADH, aldosterona, GH e tiroxina. Queda no nível de insulina. Consequências Retenção de água, sódio e bicarbonato. Eliminação de ureia, potássio e fosfato. Aumento do catabolismo lipídico e pro- teico (balanço nitrogenado negativo). Gliconeogênese. Lise do protoplasma celular. Repercussões Clínicas Febre. Taquicardia. Dor. Oligúria. Sonolência. Perda da libido. Amenorreia. Inapetência. Imobilidade. Segunda fase: anabólica Os níveis hormonais voltam à normalidade. Objetivos – reconstrução plástica, cicatriza- ção de feridas e consolidação de suturas. Etapa Gliconeogênica – balanço nitrogenado positivo, aumento da força muscular e do peso; ingestão e absorção normais, recupe- ração do apetite e desejo de reintegração ao meio. Etapa Lipogênica – ganho ponderal, sobre- tudo, à custa de tecido adiposo (anabolismo lipídico), balanço nitrogenado normal e nor- malização das funções vitais. Pode durar de dois meses a anos. Alterações endócrinas da resposta ao trauma ADH – aumenta; retém água. Aldosterona – aumenta; retém sódio e excreta potássio. Cortisol – aumenta; reduz a síntese pro- teica e estimula o catabolismo hepático dos aminoácidos, com consequente ex- creção de ureia. Catecolaminas – aumentam; promove catabolismo hepático de aminoácidos pelos músculos e gliconeogênese. Mais uma vez, o aumento do catabolismo proteico estimula a excreção de ureia. Glucagon – aumenta; estimula a glicone- ogênese, glicogenólise e a liberação de ácidos graxos do tecido adiposo. GH – aumenta; estimula a lipólise. Insulina – aumenta; promove a liberação de aminoácidos dos músculos, hipergli- cemia e liberação de ácidos graxos do tecido adiposo. Resposta imune ao trauma O componente inflamatório envolve a libe- ração local de citocinas e a ativação sistê- mica de cascatas humorais, envolvendo complemento e fatores ativadores de pla- Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 3 quetas. Tais mediadores promovem a cica- trização de feridas, pela estimulação da an- giogênese, migração de leucócitos e de fi- broblastos. A resposta imune ao trauma grava começa minutos após a agressão e se caracteriza pela ativação de macrófagos, promovendo o aumento da síntese e liberação de mediado- res inflamatórios. Mediadores pró-inflamatórios: TNF-a, IL-1, IL-6, IL-8. Mediadores anti-inflamatórios: IL-4, IL-10, IL- 11, IL-13. No pós-operatório e em decorrência de traumas acidentais, fraturas e choques he- morrágicos, tem-se uma depressão das fun- ções imunológicas celular e humoral. Nesse sentido, tem-se um grande risco de compli- cações sépticas após o choque que se segue a tais condições adversas. Alterações da função imune específicas: Linfopenia, diminuição da proliferação das células B e T. Diminuição da atividade das células na- tural killer. Baixa produção de linfocinas (IL-2, IL-3). Aumento da produção de IL-4 e IL-10. Alterações da função imune inespecíficas Monocitose. Aumento da IL-6. Depressão da função dos granulócitos. Componentes biológicos do trauma Componente primário Depende da força física sobre os tecidos e da magnitude da destruição tissular, provocada pelo trauma. Caracteriza-se pela perda da integridade do tegumento, podendo gerar perdas sanguíneas e edema traumático. Ex.: lesão por projétil, incisão cirúrgica. Componente secundário São reações de adaptação ou complicações induzidas pelos componentes primários. Componentes metabólicos secundários ao trauma: alterações endócrinas, alterações hemodinâmicas, infecção e Insuficiência de Múltiplos Órgãos. Componentes associados Não decorrem diretamente pelo trauma, mas a sua atuação influencia a evolução pós- traumática. Pode potencializar a ação do componente primário ou bloquear a ação do componente secundário. Existem 4 tipos: Alterações no ritmo alimentar. Imobilização prolongada. Perdas hidroeletrolíticas extra renais. Doenças intercorrentes.Consequências da hipotermia na REMIT Redução da capacidade de agregação plaquetária: aumenta a possibilidade de sangramento. Hipoperfusão da microvasculatura, pre- dispondo à acidose. Dificuldade de metabolização de drogas. Tríade da morte – presença de coagulopatia, acidose e hipotermia no paciente lesionado. Quando esse quadro se instala, é muito difí- cil revertê-lo Suporte nutricional A terapia nutricional precoce deve iniciar logo que houver estabilidade hemodinâ- mica, preferencialmente, até 48 horas da admissão hospitalar ou da realização de uma operação. A terapia nutricional perioperatória tem pa- pel fundamental na melhora dos resultados clínicos. Ela pode ser realizada pela via ente- ral (TNE), parenteral (TNP) ou ambas. A TNE Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 4 parece ser a opção preferencial no pós-ope- ratório de pacientes traumatizados. A TNP deve estar reservada a aqueles que estão in- capazes de tolerar a terapia enteral ou como complementação a esta. A avaliação do status inicial da proteína é uma das ferramentas diagnósticas utilizadas para avaliar a presença de desnutrição.
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