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Deise Emanuelle via Passei Direto Poder Constituinte Natureza do Poder Constituinte Originário • Poder de direito (ou poder jurídico) • Poder de fato • Poder político Segundo o Abade de Sieyés e os demais jusnaturalistas, o poder constituinte teria como fonte principal os valores que são superiores às leis escritas, ou seja, o direito natural, e, nesse sentido, seria um poder de direito. É como se a Constituição não fosse verdadeiramente formar direitos, e sim consolidar, em documento escrito, direitos que já foram formados antes da própria existência da lei, os direitos advindos do poder natural, do poder divino, a liberdade, a igualdade, a ideia da vida etc. Os juspositivistas, como Hans Kelsen, dentre outros, entendiam que o poder constituinte se legitimava nele próprio e que não havia nenhum alicerce prévio efetivo, seja em direito natural ou em direito positivo anterior. Com isso, o poder constituinte seria um poder de fato. Segundo Paulo Bonavides, o poder constituinte, em sua origem, é poder de direito, mas na sua aplicação seria um poder de fato, ou seja, seu nascimento é baseado nos valores de direito natural, mas na sua aplicação ele é um poder de fato, é um poder que não se discute, importante para o Estado e que deve ser cumprido pelos cidadãos sem questionamentos. Conceito De Poder Constituinte Com o desenvolvimento da Teoria do Poder Constituinte ao longo da história do Direito Constitucional, o poder criador, originário, defendido por Sieyès, passou a ser analisado sob outros ângulos. Considerando-se que Constituição sem mecanismo de reforma é antidireito, e ainda com o surgimento do federalismo americano em 1787, que tem como principal vetor a autonomia dos Estados- membros com a sua auto-organização por meio de uma Constituição, a doutrina refletiu sobre outras necessárias manifestações do poder constituinte, derivadas do poder inicial. Daí por que o poder constituinte pode ser conceituado, em síntese, como: o poder que fundamenta a criação de uma nova Constituição, a reforma desse texto constitucional e, nos Estados federativos, o poder que legitima a auto-organização dos Estados-membros por meio de suas próprias Constituições, bem como as respectivas reformas dos textos estaduais. Como nos Estados Unitários não há divisão geográfica do poder político, podemos concluir que o poder constituinte na sua manifestação de criação das Constituições Estaduais só está presente nos Estados Federativos. Lammêgo Bulos explica que, do ponto de vista material, sempre existiu e sempre existirá o poder constituinte para criar, estabelecer e estruturar a Constituição, entretanto, em uma análise eminentemente formal, o poder constituinte é algo novo, cuja formulação provém de Sieyès, que com originalidade, conseguiu exprimir a filosofia e o conteúdo desse poder, dissociando-o dos poderes constituídos. Deise Emanuelle via Passei Direto Titularidade X Exercício Analisando o poder constituinte à luz da Constituição de 1988, encontramos a sua titularidade e o exercício no art. 1 o , parágrafo único, 19 por meio do qual podemos afirmar que o titular do poder não se confunde sempre com o seu exercente. De acordo com o dispositivo constitucional citado, a titularidade do poder está nas mãos do povo, mas a exteriorização desse poder pode ser direta ou indiretamente exercida pelo povo. Movidos por seus direitos políticos, o povo toma decisões políticas diretas quando participa de plebiscito, de referendo, ajuíza ação popular, participa de projetos de lei populares, etc. Em suma, quando o povo toma decisões políticas sem necessidade de intermediações, sem representação, diz-se que o exercício do poder está sendo realizado de forma direta. Por sua vez, o exercício indireto é realizado pelos nossos representantes, que recebem o voto para, em nosso nome, tomar as decisões políticas fundamentais para o nosso país. Esse dispositivo constitucional, expressa a base democrática brasileira com um modelo de democracia semidireta ou participativa. Em sua obra clássica, Qu´est-ce que le Tiers État?, o abade de Sieyès sustentou que o Poder Constituinte reside na vontade da Nação, o que não se confunde com o Povo. Segundo explica Uadi Lammêgo Bulos, o povo seria o conjunto de pessoas reunidas e submetidas a um poder, e a nação seria mais do que o conjunto; seria a encarnação dos indivíduos como um todo, na sua generalidade e permanência. Generalidade, pois o poder não estaria limitado, em seu exercício, a nenhuma parcela de indivíduos, posto que a soberania pertence à comunidade inteira. Permanência, no sentido de se considerar o interesse permanente das gerações futuras, que não poderá ficar renegado ao interesse transitório de um grupo de indivíduos. Poderes Constituídos O poder de tomada de decisões políticas fundamentais é uno e indivisível, entretanto, para evitar a concentração de poder, sua manifestação se dá por meio das funções legislativa, executiva e judiciária. Essas manifestações do poder são consagradas como poderes constituídos porque foram desenhados pela vontade da Constituição, fruto do poder constituinte originário. Com isso, os trabalhos legislativo, executivo e judiciário estão subordinados ao texto constitucional. Como exemplos dessa sujeição dos Poderes à Constituição, poderíamos concluir: se o legislador elabora leis contrárias à Constituição, o juiz deverá declará-las inconstitucionais (ex.: art. 102, I, “a”, da CRFB/88); se o chefe do Executivo descumpre a Constituição, deverá ser processado na forma do art. 85 da CRFB/88. Espécies De Poder Constituinte Com base no conceito acima exposto, poderíamos dividir o Poder Constituinte em três manifestações: o poder originário (poder criador, de 1o grau, genuíno) e suas manifestações derivadas (de 2o grau, poder instituído, constituído ou remanescente); o poder reformador com base no art. 60 da CRFB/ 88 (realizando a alteração formal do texto da Constituição); e o poder decorrente, de acordo com o art. 11 do ADCT (que permitirá, nos Estados federativos, a elaboração e reforma das Constituições Estaduais). Deise Emanuelle via Passei Direto O Poder Constituinte Originário O poder constituinte originário é o poder criador, o poder institucionalizador de uma Constituição central. Podemos dizer que a sua última manifestação no Brasil foi realizada no dia 5 de outubro de 1988, quando da promulgação da nossa atual Constituição. É claro que se desenha um modelo ideal de um poder constituinte originário sempre pautado na vontade popular. Mas, aqui no país, nem sempre isso foi possível, diante da nossa história conturbada de ditadura e pseudodemocracias. Então é possível se dizer que o poder constituinte originário se manifestou no Brasil por meio de todas as Constituições, de 1824 a 1988. Por sua vez, em suas manifestações posteriores, o Poder Constituinte Originário se exterioriza de maneira derivada, dando ensejo ao Poder Constituinte Derivado, com as suas espécies, Reformador e Decorrente. O Poder Constituinte Derivado Reformador É o que possibilita a reforma formal da Constituição. No texto da atual Lei Maior é exteriorizado por meio das espécies normativas: emendas revisionais (art. 3 o do ADCT) e emendas constitucionais (art. 60 da CRFB/88). O Poder Constituinte Derivado Decorrente É o que permite, nos Estados federativos, a auto-organização dos Estados-membros na forma dos arts. 25 da CRFB/88 e 11 do ADCT. Frise-se que essa manifestação de poder é peculiar aos Estados federativos diante da autonomia dos entes que os compõem, não existindo,em regra geral, nos Estados unitários, que não possuem Constituições Estaduais. Levando-se em consideração que, no Brasil, o Distrito Federal e os Municípios também fazem parte da nossa Federação, qual seria o poder que fundamenta a elaboração de uma Lei Orgânica do Distrito Federal e de uma Lei Orgânica de Município brasileiro? Apesar da controvérsia na doutrina, podemos dizer que a Lei Orgânica do Município é uma manifestação constituída do Poder Legislativo municipal e não é considerada fruto de poder constituinte derivado decorrente. Quanto à Lei Orgânica distrital, o entendimento majoritário tem sido o de a reconhecer como manifestação de poder constituinte derivado decorrente, tendo em vista que retira fundamento jurídico de validade diretamente da Constituição da República e que tem força normativa equivalente a da Constituição Estadual (servindo, inclusive, como parâmetro de constitucionalidade estadual). Não há que se falar em poder constituinte decorrente nos territórios, tendo em vista que são descentralizações políticas administrativas da União Federal e não possuem autonomia. Características Do Poder Constituinte Originário O poder constituinte originário tem como principais características, as de ser: • Inicial • Ilimitado • Incondicionado • Permanente Deise Emanuelle via Passei Direto É inicial, pois inaugura uma nova ordem jurídica, rompendo com o ordenamento jurídico anterior, dando ensejo à importância de se analisar o que acontecerá com o ordenamento anterior constitucional e infraconstitucional. É ilimitado, pois não está de modo algum limitado pelo direito positivo anterior e, também, incondicionado, pois não tem que se submeter a nenhuma forma prefixada para sua manifestação. Nesse sentido, pode surgir de uma revolução, de um golpe, de um plebiscito ou de um referendo. Seria permanente por continuar existindo mesmo após concluir a sua obra, ou seja, não se esgotaria com a criação da nova Constituição. Alguns autores ainda acrescentam que é um poder autônomo, por caber apenas ao seu titular a escolha do conteúdo a ser consagrado na Constituição. Nesse contexto, mostra-se relevante a decisão do Supremo Tribunal Federal no bojo da ADI nº 815/DF. No seu julgamento, o tribunal entendeu não existir hierarquia entre as normas constitucionais originárias. Isto é, não seria possível que o STF, na sua tarefa de zelar pela guarda da Constituição Federal, declarasse que determinadas normas promulgadas pelo constituinte originário eram eivadas de inconstitucionalidade, por terem conteúdo incompatível com o das demais normas constitucionais. Deste modo, o controle de constitucionalidade mostra-se possível, tão somente, em face do poder constituinte derivado. Os adeptos da teoria jusnaturalista afirmam que este poder seria ilimitado pelo direito positivo já que não é necessária a observância de qualquer regra anterior à nova constituinte, entretanto, existiriam limitações instituídas pelo direito natural. Para Manoel Gonçalves Ferreira Filho: (...) Todas correntes estão de acordo em reconhecer que ele é ilimitado em face do Direito positivo (no caso a Constituição vigente até sua manifestação). A este caráter os positivistas designam soberano, dentro da concepção de que, não sendo limitado pelo Direito positivo, o Poder Constituinte não sofre qualquer limitação de direito, visto que para essa escola de Direito somente é Direito quando positivo. Os adeptos do jusnaturalismo o chamam de autônomo, para sublinhar que, não limitado pelo Direito positivo, o Poder Constituinte deve sujeitar-se ao Direito natural. Nesse mesmo sentido, Jorge Miranda distingue três categorias de limitações materiais (ou substanciais) possíveis: transcendentes, imanentes e heterônomos. Os limites transcendentes são os que se prendem aos direitos fundamentais, interligados com a dignidade da pessoa humana, advindos do direito natural. Com base nesses limites, é possível se estabelecer o princípio da vedação ao retrocesso (“efeito cliquet”), o qual impede retrocessos na seara de direitos fundamentais já consolidados. Exemplo: instituir na atual Constituição a proibição do voto feminino, presente no constitucionalismo brasileiro desde 1934. Já os limites imanentes são impostos ao Poder Constituinte no que tange à estrutura principal do Estado, à sua soberania e forma. Os limites heterônimos estão relacionados com o direito internacional, ou seja, às relações internacionais estabelecidas pelo país, bem como aos princípios, tratados e regras e demais obrigações que devem ser respeitadas. Características Do Poder Constituinte Derivado Deise Emanuelle via Passei Direto O poder constituinte derivado, por sua vez, possui as seguintes características principais: • Subordinado • Condicionado • Limitado É subordinado, pois as suas manifestações (reformadora e decorrente) encontram fundamento de validade na Constituição Federal e devem respeitá-la, sob pena de declaração de inconstitucionalidade. A exteriorização das espécies normativas baseadas nesse poder (emendas e normas constitucionais estaduais) deve ser realizada, em razão de seu condicionamento, em harmonia com a Constituição Federal e as suas limitações se fazem presentes de acordo com as normas que devem ser obedecidas para sua elaboração, bem como ao conteúdo, que não pode desrespeitar o do texto constitucional principal. Poder Reformador O Poder Reformador é o responsável pelas alterações formais que a Constituição poderá sofrer ao longo de sua existência. Para substituir, revogar, adicionar ou renumerar dispositivo no texto constitucional será necessária a atuação dessa manifestação derivada de poder. O núcleo da rigidez constitucional e, ao mesmo tempo, do poder de reforma é o art. 60 da CRFB/88, no qual se prevê a elaboração de emendas constitucionais para essa finalidade. De acordo com as limitações enfrentadas, diante da sua subordinação à Constituição, a alteração deverá seguir à risca o determinado pelo dispositivo mencionado, sob pena de que a norma constitucional derivada venha a ser declarada inconstitucional. Além das emendas constitucionais, o art. 3 o do ADCT ainda faz menção à outra espécie de norma reformadora, que diante da limitação temporal que lhe foi determinada pelo constituinte originário, não poderá mais promover mudanças na Constituição. Na verdade, emendas constitucionais e emendas de revisão traduzem expressões distintas de um mesmo fenômeno jurídico: a reforma da Constituição. A seguir, faremos uma análise acerca das duas espécies normativas e das limitações por elas enfrentadas em nome da proteção da rigidez constitucional. Emendas Constitucionais e Limitações A emenda constitucional é classicamente a espécie normativa adotada pelo constitucionalismo brasileiro para fins de reforma à Constituição.26 De acordo com o art. 60 da CRFB/88, as emendas devem obedecer a uma série de regras especiais para a sua elaboração (art. 60, I, II, III, § 2 o , § 3 o e § 5 o ), incluindo limitações circunstanciais (art. 60, § 1 o ), bem como matérias explícitas (art. 60, § 4 o ) e implícitas, sob pena de incidirem em violação à Constituição e consequente declaração de inconstitucionalidade. De acordo com o art. 60 e com apoio na doutrina, é possível se observar, portanto, quatro categorias de limitações principais, a saber: a) de ordem temporal; b) circunstancial; c) formal; e d) material (explícitas e implícitas), que serão a seguir analisadas. a) Limitação temporal Deise Emanuelle via Passei Direto Por limitação de ordem temporal,devemos compreender a que se relaciona aos dias, meses ou anos durantes os quais a Constituição não poderia ser alterada. Numa análise simples, podemos observar da leitura do art. 60 da CRFB/88, que inexiste limitação de ordem temporal ao poder reformador, o que permitia a alteração constitucional desde a sua promulgação. A única Constituição brasileira que efetivamente trouxe limitação de ordem temporal ao Poder Reformador foi a de 1824, que, de acordo com seu art. 174, impedia o processo de reforma antes dos 4 (quatro) anos contados da outorga do texto. b) Limitação circunstancial (art. 60, § 1o ) § 1 o A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. As hipóteses de limitação circunstancial, ainda que em certa medida sejam limitações temporais (haja vista que enquanto perdurarem impedirão a emenda do texto constitucional) devem ser entendidas como determinados eventos que, quando em curso, impedem que seja promovida qualquer reforma à Constituição Federal. Intervenção federal (arts. 34 e 35), estado de defesa e estado de sítio (arts. 136 a 141) configuram a proteção constitucional às situações de crise. Como nessas circunstâncias o Estado está vivendo um momento de exceção, protege-se a Constituição de eventuais golpes que poderiam ser a ela deflagrados com reformas constitucionais descabidas. c) Limitações de ordem formal, procedimental ou processual (art. 60, I, II, III e § 2 o , § 3 o e § 5 o ) Dizem respeito ao processo legislativo especial previsto na Constituição para elaboração das emendas constitucionais. Podem se dividir entre: i) iniciativa; ii) votação/promulgação; e iii) vedação à reedição, na forma que estudaremos a seguir. i) iniciativa Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I – de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II – do Presidente da República; III – de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. O art. 60, I, II e III, traz o rol de legitimados ativos que poderão, em conjunto ou separadamente (iniciativa concorrente), apresentar uma PEC ao Congresso Nacional, deflagrando o processo legislativo reformador. Pode-se dizer que o rol é taxativo, não havendo sido prevista pelo constituinte originário a iniciativa popular para o oferecimento da PEC, em que pese parte da doutrina defender essa possibilidade. Como o art. 32, § 3 o , da CRFB/88 dispõe que à Câmara Legislativa aplica-se o disposto no art. 27, que faz referência à organização das Assembleias Legislativas, podemos concluir que o órgão legislativo do Distrito Federal também poderá participar do processo de reforma, se apresentar uma PEC em conjunto com os demais órgãos legislativos estaduais, na forma do art. 60, III. ii) votação/promulgação § 2 o A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, Deise Emanuelle via Passei Direto em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. § 3 o A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. Em nome da rigidez constitucional, o constituinte estabeleceu um processo mais rigoroso para a votação das PECs no Congresso Nacional, consagrando a sua aprovação apenas após dois turnos positivos de votação em cada Casa do Congresso Nacional e ainda pelo voto de 3/5 dos respectivos membros. Sobre esse ponto, interessante observar decisão do STF relativa ao período de tempo necessário entre os dois turnos de votação. Tendo em vista o silêncio do constituinte acerca dessa questão, os ministros entenderam não ser possível determinar qual deve ser o lapso temporal mínimo a ser observado pelos parlamentares, ficando a cargo do Legislativo tal determinação.28 De acordo com o Regimento Interno do Senado Federal, o interstício entre o primeiro e o segundo turno será de, no mínimo, cinco dias úteis (art. 362). Normalmente, como ocorre em todo o processo legislativo, as alterações feitas pela segunda Casa serão revistas pela primeira, salvo se forem redacionais: “Não precisa ser reapreciada pela Câmara dos Deputados expressão suprimida pelo Senado Federal em texto de projeto que, na redação remanescente, aprovada de ambas as Casas do Congresso, não perdeu sentido normativo”.29 Também é importante destacar que o STF entendeu que o processo de reforma das Constituições estaduais deve seguir o modelo federal. Como na forma do art. 64 da CRFB/88, a Câmara dos Deputados é, via de regra, a casa iniciadora do processo legislativo, nela deverão ocorrer normalmente os dois primeiros turnos de votação, para, então, ser a PEC encaminhada para mais dois turnos de aprovação no Senado Federal. Após a sua votação positiva, na forma do art. 60, § 3 o , as emendas serão promulgadas pelas duas Mesas do Congresso que trabalharam na sua elaboração, sendo, portanto, possível se concluir que não há sanção ou veto do Presidente da República no processo legislativo reformador, restando a sua única participação configurada na faculdade de apresentar uma PEC (art. 60, II). Registramos que a promulgação é o ato do processo legislativo que certificará a existência da emenda constitucional, comprovando que a norma foi validamente elaborada de acordo com as regras constitucionais vigentes. Quanto à expressão “com o respectivo número de ordem” significa apenas atenção à sequência obedecida para a numeração das emendas. iii) vedação à reedição § 5 o A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. Sessão legislativa é o ano integral de trabalho legislativo, que se inicia em 2 de fevereiro, na forma do art. 57 da CRFB/88. Durante a sessão legislativa, temos as sessões ordinárias (02/02 a 17/07 e 1o /08 a 22/12) e as extraordinárias (convocação durante os períodos de recesso). Portanto, de acordo com o dispositivo em tela, se a matéria da PEC for rejeitada (vício no Deise Emanuelle via Passei Direto processo legislativo) ou se tiver sido prejudicada (perda de objeto) em sessão ordinária ou em sessão extraordinária, ela só poderá ser novamente oferecida a partir do início da sessão legislativa seguinte. Esta limitação não se aplica na hipótese de rejeição do substitutivo. É possível, entretanto, que a matéria da PEC rejeitada (ou prejudicada) seja reapresentada no mesmo ano? Sim, desde que em sessões legislativas distintas (ex.: PEC rejeitada em janeiro de 2013 pode ser reapresentada a partir de 2 de fevereiro do mesmo ano). d) Limitações de ordem material (explícitas e implícitas) § 4 o Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais. As limitações materiais expressas do art. 60, § 4 o , recebem o nome na doutrina de cláusulas pétreas, mas na verdade, não significa que são dispositivos alheios a qualquer tipo de reforma. Pelo contrário, as emendas mais protetoras são muito bem-vindas. Como as cláusulas pétreas evitam a ruptura com os princípios e estrutura essenciais da Constituição, o que não se permite é a alteração que vise restringir ou abolir os direitos protegidos pelos dispositivos, que serão a seguir analisados. De igual forma, como já se manifestou o STF, as limitações materiais ao poder de reforma nãoimportam na intangibilidade literal do que foi consagrado pelo constituinte originário, mas sim na preservação do núcleo essencial dos princípios e institutos protegidos pelo art. 60, § 4º, CRFB/88. Assim, o que a Constituição efetivamente veda é a proposta tendente a abolir, isto é, a comprometer o núcleo essencial destas matérias.
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