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CÓ PIA C ON TR OL AD A INTOXICAÇÕES EXÓGENAS AGUDAS EM CÃES E GATOS WARLEY GOMES DOS SANTOS >> OBJETIVOS Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de ■ reconhecer os sinais clínicos das intoxicações; ■ identificar as síndromes tóxicas; ■ estabelecer uma lista de diagnóstico diferencial entre os diversos agentes que promovem intoxicação; ■ descrever os métodos de ação diante de um paciente intoxicado por qualquer xenobiótico; ■ interpretar quando determinadas medidas de descontaminação deverão ser realizadas ou não; ■ descrever medidas específicas a serem tomadas em alguns tipos de intoxicação. 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 53 07/05/2021 07:36:10 CÓ PIA C ON TR OL AD A PRINCIPAIS AGENTES TÓXICOS E SEUS MÉTODOS DE AÇÃO CASO CLÍNICO CONCLUSÃO EXAMES LABORATORIAIS COMPLEMENTARES DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ENTRE OS AGENTES TÓXICOS O QUE FAZER DIANTE DE CANINO OU FELINO INTOXICADO Diurese forçada Resinas de troca iônica Armadilha iônica Lavagem gástrica Hemodiálise e hemoperfusão Emulsão lipídica de nutrição parenteral Indução de vômitos Uso do carvão ativado MEDIDAS GERAIS DE DESCONTAMINAÇÃO USO DE ANTÍDOTOS E ADJUVANTES NAS INTOXICAÇÕES O QUE É NECESSÁRIO PARA UM AGENTE TÓXICO DESENCADEAR OS SEUS EFEITOS NOCIVOS GENE MDR1 OU ABCB1 DIAGNÓSTICO DAS INTOXICAÇÕES Sinais clínicos Síndromes tóxicas PRINCIPAIS SINAIS CLÍNICOS EM INTOXICAÇÕES E SÍNDROMES TÓXICAS QUANDO OCORREM AS INTOXICAÇÕES >> ESQUEMA CONCEITUAL 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 54 07/05/2021 07:36:11 CÓ PIA C ON TR OL AD A >> INTRODUÇÃO Os agentes tóxicos — como os organofosforados, os carbamatos, o monofluoracetato de sódio, os rodenticidas anticoagulantes, a estricnina, a brometalina, o fosfato de zinco, o amitraz — sempre foram substâncias elencadas entre os agentes que fazem vítimas caninas e felinas, mas com o perfil de frequência de ocorrência de um ou outro entre esses agentes de caráter regional. Por outro lado, a vasta disponibilidade de medicamentos com diferentes ações vem surgindo como causa rotineira das intoxicações, e os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são o grande vilão.1–4 Além dos AINEs, atualmente assumem protagonismo nas intoxicações na clínica médica de cães e gatos outros fármacos, como os antiparasitários de uso interno e externo, bem como os lançados no mercado recentemente, medicamentos com ação no sistema nervoso central (SNC) (tranquilizantes, sedativos, anticonvulsivantes), antimicrobianos, bloqueadores de canais de cálcio, anti-histamínicos, betabloqueadores, agonistas da serotonina e baclofeno.1–4 O ponto em comum desses agentes é que a maioria deles está disponível em apresentações comerciais para uso em humanos, embora existam indicações dos fármacos em doses terapêuticas para animais. As intoxicações ocorrerão quando esses agentes forem ingeridos em doses elevadas por algum motivo (acidentalmente, por administração equivocada de grandes doses pelo tutor ou até mesmo por prescrição de um medicamento sem a observação de características para a raça ou a espécie).1–4 VIDEOAULA SOBRE O CAPÍTULO PR OM EV ET 55 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 55 07/05/2021 07:36:12 CÓ PIA C ON TR OL AD A >> DIAGNÓSTICO DAS INTOXICAÇÕES O diagnóstico das intoxicações passa pela identificação dos sinais clínicos, os quais, às vezes, podem ser inespecíficos, o que torna útil a identificação do tipo da síndrome tóxica apresentado pelo animal. Também é importante elucidar as circunstâncias em que a intoxicação do animal ocorreu. >/ PRINCIPAIS SINAIS CLÍNICOS EM INTOXICAÇÕES E SÍNDROMES TÓXICAS Os animais vítimas de agentes tóxicos representam uma grande proporção dos pacientes que se apresentam nas clínicas e em hospitais veterinários em situações graves e, algumas vezes, com iminência de óbito. Nesse contexto, realizar o diagnóstico definitivo é um desafio que, na maioria das vezes, baseia-se nos sinais clínicos e no tipo de síndrome tóxica que o animal apresenta. Em algumas ocasiões, esses sinais são inespecíficos, e o quadro clínico pode ter sido provocado inclusive por causas não tóxicas.5 >> SINAIS CLÍNICOS Os animais intoxicados podem apresentar diversos sinais clínicos decorrentes do agente tóxico, e são comumente encontrados os observados na Figura 1. 56 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 56 07/05/2021 07:36:12 CÓ PIA C ON TR OL AD A Distúrbios neurológicos Desordens gastrintestinais Arritmias Alterações hemodinâmicas Dispneia / secreções brônquicas Pigmentúria Injúria renal aguda Alterações da coagulação Anemia hemolítica Excitação Depressão Paralisia fl ácida ou espástica Espasmos musculares Miose Ptialismo Estupor Vômitos Hemoglobinúria Epilepsia Midriase Sialorreia Coma Diarreia Ioglobinúria Principalmente hipocoagulabilidade Especialmente os felinos FIGURA 1: Sinais clínicos frequentes nas intoxicações. // Fonte: Arquivo de imagens do autor. PR OM EV ET 57 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 57 07/05/2021 07:36:12 CÓ PIA C ON TR OL AD A >> SÍNDROMES TÓXICAS A presença de um conjunto de sinais clínicos concomitantes pode caracterizar uma síndrome que indicará diversos possíveis agentes tóxicos envolvidos.6,7 Caso se consiga enquadrar o paciente canino ou felino em algum tipo de síndrome tóxica de forma adequada, isso poderá facilitar a abordagem e o tratamento mais bem direcionado do quadro toxicológico, uma vez que no Brasil não há grande variedade de testes toxicológicos com resultados imediatos para uso veterinário. Além disso, os testes específicos para diagnóstico definitivo, como os realizados por diferentes técnicas de cromatografia, demoram para apresentar os resultados.6,7 O Quadro 1 apresenta as principais síndromes tóxicas.6,7 QUADRO 1 SÍNDROMES TÓXICAS Síndrome colinérgica muscarínica ■■ Bradicardia, sialorreia, miose, aumento das secreções respiratórias, defecação, micção Síndrome colinérgica mista ■■ Micção, diarreia, miose, tremores musculares/fasciculações Síndrome anticolinérgica ■■ Hipertermia, midríase, hipertensão, taquicardia, taquisfigmia, clônus muscular Síndrome alfa-adrenérgica ■■ Midríase, hipertensão, taquicardia (bradicardia reflexa), hiperatividade, andar compulsivo Síndrome beta-adrenérgica ■■ Taquicardia, hipotensão Síndrome simpatolítica ■■ Peristaltismo reduzido, miose, bradicardia (taquicardia reflexa), hipotensão Síndrome mista alfa e beta-adrenérgicas ■■ Taquicardia, hipertensão mucosas secas, midríase Síndrome serotoninérgica ■■ Hiperatividade neuromuscular, agitação inicialmente, instabilidade autonômica, hipertermia // Fonte: Elaborado pelo autor. 58 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 58 07/05/2021 07:36:12 CÓ PIA C ON TR OL AD A A identificação de sinais clínicos que caracterizam essas síndromes irá auxiliar no diagnóstico toxicológico presuntivo e poderá determinar as condutas emergenciais a serem adotadas no paciente grave. No QR Code abaixo, poderá ser visualizado um mapa mental com as principais síndromes tóxicas. Além do exame físico e da identificação de sinais clínicos ou mesmo da síndrome tóxica, outras informações devem ser obtidas prontamente, as quais serão úteis na elucidação diagnóstica, como o histórico (passado mórbido), a anamnese (sondagem visando esclarecer um possível uso de medicamentos contínuos ou mesmo um medicamento utilizado para tratar um sinal clínico agudo, ingestão de plantas ornamentais presentes no domicílio); a epidemiologia (regiões com histórico de extermínio de animais); o tipo de ambiente em que o animal vive (contexto urbano, rural, acesso à rua).7 Perguntas como qual é o nome do produto ingerido ou mesmo se a casa foi dedetizada recentemente, se há pesticidas no domicílio sob pias ou em outros locais alcançados pelos animais,bem como a quantidade ingerida, devem sempre ser realizadas ao responsável pelo animal.7 Como exemplo, um canino de 40kg de peso vivo ingeriu o conteúdo de uma caixa de ibuprofeno cuja apresentação é de 400mg cada comprimido com 10 unidades na caixa, ou seja, 4.000mg na caixa. Sabe-se que a dose nefrotóxica de ibuprofeno é a partir de 125mg/kg. Desse modo, o animal, apesar de ter ingerido ligeiramente menos do que a quantidade nefrotóxica (5.000mg), e mesmo que não apresente sinais clínicos da toxicose, pois a ingestão ocorreu há 2 horas, deve ser submetido a medidas imediatas, uma vez que ingeriu uma quantidade do fármaco muito acima de doses terapêuticas (doses a partir de 8mg/kg por longos períodos já causam distúrbios gastrintestinais) e por se tratar de um agente que poderá causar úlceras gástricas, hemorragias gastrintestinais, injúria renal aguda e inclusive óbito. Por essas razões, indicam-se medidas como ■ internação do animal por um período de 24 a 48 horas, no mínimo; ■ fluidoterapia; ■ diurese forçada; ■ medidas de descontaminação (indução de vômito); ■ uso de carvão ativado; ■ colestiramina (após diluição, administrar via oral [VO] 50mg/kg de peso); ■ monitoração renal (urinálise seriada); ■ hemograma e bioquímicos de rotina; ■ dosagem de albumina, sódio, potássio, fósforo; ■ hemogasometria; ■ proteção hepática (N-acetilcisteína, S-adenosilmetionina [SAMe]); ■ proteção gástrica (omeprazol, sucralfato). PR OM EV ET 59 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 59 07/05/2021 07:36:13 CÓ PIA C ON TR OL AD A Os quadros de intoxicações normalmente cursam com sinais clínicos agudos (rodenticidas cumarínicos podem demorar de 24 a 48 horas ou mais para incitar alterações da coagulação, hemostasia e hemorragias cavitárias), com algumas exceções. Importa observar que pessoas maliciosas podem ter misturado diferentes agentes tóxicos e assim confundir o clínico. Por exemplo, tem-se um canino que sai com o seu tutor para passear em jardins e parques e, algumas vezes, de forma inevitável, lambe plantas ou mesmo superfícies e tem contato com agentes tóxicos pesticidas colocados nesses lugares com o intuito de exterminar ratos, baratas, caramujos ou mesmo plantas invasoras, ervas daninhas. Assim, em um animal como o exemplificado, que saiu com o seu tutor para um parque e no qual, de forma aguda, instalou-se um quadro neurológico, deverá ter a possibilidade de intoxicação no rol de diagnósticos diferenciais.2,5–7 >/ QUANDO OCORREM AS INTOXICAÇÕES As intoxicações ocorrem acidentalmente com a ingestão de plantas tóxicas, a ingesta de quantidades elevadas de medicamentos pelos animais (muito comum com medicamentos de uso humano, como AINEs, analgésicos, anti-histamínicos, relaxantes musculares, bloqueadores de canais de cálcio, suplementos vitamínicos e minerais ou doses elevadas de medicamentos), a ingestão de iscas contendo pesticidas que o tutor utilizou em seu domicílio para exterminar ratos e baratas e também as intoxicações provocadas por pessoas visando exterminar os animais. Porém, não é incomum a ocorrência de intoxicações por medicamentos prescritos pelos médicos-veterinários (é muito frequente a administração de sobredoses pelos tutores). Por outro lado, também são comuns intoxicações provocadas por medicamentos administrados nos animais sem indicação veterinária, ou seja, administrados pelos tutores por conta própria. Para exemplificar, nesse cenário, diante da exposição dos agentes a seguir, pode-se suspeitar de intoxicações quando se está perante ■ animais que recentemente fizeram uso de medicamentos por motivos de pós-operatório, como os AINEs, e se apresentam com hematêmese, melena, dor abdominal, alterações de transaminases hepáticas, alterações de tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) e injúria renal aguda. Reitera-se que os AINEs (principalmente os de uso humano, como o ibuprofeno, o diclofenaco sódico, o naproxeno e o ácido acetilsalicílico [AAS]) figuram-se entre os principais agentes terapêuticos envolvidos nas intoxicações por medicamentos, seguidos dos antiparasitários (inclusive os antiparasitários lançados recentemente) e dos antimicrobianos, entre outros; ■ gatos em anorexia fazendo uso de estimulantes de apetite agonistas da serotonina, como a mirtazapina, que, por causa de um erro do tutor, receberam doses erradas, em risco de apresentar síndrome serotoninérgica; ■ cães que fizeram uso de medicamentos com baixo índice terapêutico, como a digoxina, e apresentam colapso agudo, letargia, vômitos, anorexia, arritmia; ■ cães com sinais clínicos neurológicos e cegueira aguda com histórico de aplicação recente de medicamentos como as avermectinas; 60 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 60 07/05/2021 07:36:13 CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ cães com sinais clínicos neurológicos e que receberam diaceturato de diminazeno para o tratamento de babesiose; ■ gatos que utilizaram medicamentos de uso humano conhecidos como “antissépticos de vias urinárias” contendo cloreto de metiltionínio ou fenazopiridina; ■ gatos que fizeram uso de enema contendo fosfato de sódio para o tratamento de constipação/ obstipação felina (o uso dessa substância é proibido em gatos e em cães de pequeno porte); ■ gatos que fizeram uso de xampus e de sabonetes contendo o ectoparasiticida benzoato de benzila (uso principal em seres humanos). Alguns laboratórios veterinários comercializam medicamentos cujo uso é seguro em cães, mas o limiar terapêutico é baixo ou mesmo a utilização é proibida em gatos, porém, de forma equivocada, são utilizados em gatos. Os agentes piretroides, utilizados para o extermínio de ectoparasitos, são um exemplo de medicamento que pode provocar sinais clínicos neuromusculares em gatos mesmo em baixas concentrações. Desse modo, deve-se ter muita atenção em relação a produtos contendo esses agentes, os quais não devem ser utilizados em gatos. ATIVIDADES 1. Assinale a alternativa correta com relação ao diagnóstico de síndromes tóxicas em cães e em gatos. >> Resposta no final do capítulo a> Uma grande variedade de testes toxicológicos para uso veterinário com resultados imediatos está disponível no Brasil, os quais devem ser utilizados sempre que necessário. b> Os quadros de intoxicações normalmente cursam com sinais clínicos agudos e é necessário observar que, muitas vezes, o diagnóstico é dificultado pelo fato de pessoas maliciosas terem misturado diferentes agentes tóxicos. c> O nome do produto ingerido deve ser investigado, mas não é necessária a informação da quantidade, pois os tutores raramente podem dar informações precisas, e esse dado é facilmente identificado nos exames laboratoriais. d> A identificação de síndromes tóxicas não deve estar baseada em sinais clínicos, ela deve sempre ser realizada por meio de testes toxicológicos. 2. Assinale a alternativa que apresenta os sinais clínicos da síndrome colinérgica mista. >> Resposta no final do capítulo a> Taquicardia e hipotensão. b> Hiperatividade, andar compulsivo e agressividade. c> Instabilidade autonômica, hipertermia e hiperatividade neuromuscular. d> Micção, diarreia, miose, fasciculações e tremores. PR OM EV ET 61 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 61 07/05/2021 07:36:13 CÓ PIA C ON TR OL AD A 3. Identifique a síndrome tóxica que tem hipertensão, taquicardia, braquicardia reflexa, midríase, hiperatividade e andar compulsivo como sinais clínicos. >> Resposta no final do capítulo a> Síndrome alfa-adrenérgica. b> Síndrome serotoninérgica. c> Síndrome anticolinérgica. d> Síndrome beta-adrenérgica. >> O QUE É NECESSÁRIO PARA UM AGENTE TÓXICO DESENCADEAR OS SEUS EFEITOS NOCIVOS Há muitos fatores que influenciam em um agente provocar ou não os seus efeitos tóxicos na vítima. Assim, a toxicidade ou os efeitos nocivos podem depender8 ■ da espécie; ■ da raça (mutação no gene ABCB1ou MDR1 em algumas raças de cães); ■ da idade; ■ da quantidade ingerida do agente; ■ da via de exposição ao agente; ■ do peso molecular do agente; ■ do limiar toxicológico do agente para a espécie; ■ da dose letal mediana (DL50) do agente; ■ da lipossolubilidade (grande influência na toxicocinética); ■ das características toxicocinéticas e toxicodinâmicas (absorção, distribuição, redistribuição, metabolismo, capacidade de excreção, entre outros fatores). Por meio do QR Ccode abaixo, pode ser visualizado um mapa mental que demonstra todos os fatores envolvidos na capacidade de um agente ser nocivo. Além disso, sugere como aumentar a excreção renal/urinária de alguns agentes tóxicos pelo mecanismo de armadilha iônica, com a manipulação do potencial hidrogeniônico (pH) urinário e sanguíneo (principalmente a alcalinização com o uso de bicarbonato de sódio, que pode ser útil diante da intoxicação pelo AAS e por outros medicamentos).8 São muitos elementos que poderão favorecer a toxicidade de um agente tóxico, como o pH de onde ele é absorvido, o pH arterial, a lipossolubilidade e o peso molecular, a dose e a concentração ingeridos, entre outras. 62 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 62 07/05/2021 07:36:14 CÓ PIA C ON TR OL AD A >/ GENE MDR1 OU ABCB1 A expressão do gene MDR1 ou ABCB1 figura com a síntese da glicoproteína-P, e uma alteração na síntese dessa glicoproteína poderá ter impacto catastrófico para o canino quando exposto a determinados fármacos. Essa proteína transmembrana tem papel importante na bomba de efluxo que irá proteger o SNC, impedindo o acúmulo de xenobióticos (substâncias estranhas ao organismo) no SNC e em outros órgãos e tecidos. Algumas raças caninas podem apresentar uma alteração nesse gene por deleção de quatro pares de bases nitrogenadas e, por causa disso, ocorrerá uma glicoproteína-P não funcional. Com essa alteração, o SNC estará permeável, permitindo a passagem de grande quantidade de fármacos, como as avermectinas e a milbemicina, a acepromazina, entre outros.9 Mesmo animais que não apresentam alteração do gene MDR1 ou ABCB1 (por exemplo, filhotes em que a barreira hematoencefálica ainda está em desenvolvimento), diante uma ingestão de altas doses de avermectinas, poderão evoluir com um quadro grave de intoxicação, com sinais clínicos neurológicos, cegueira, sinais cardiovasculares, coma e morte. Por outro lado, em cães que apresentam deleção de pares de base, ou seja, que possuem uma glicoproteína-P afuncional (como o que ocorre em até 70% dos animais da raça Collie), o uso de ivermectina em doses para profilaxia das filarioses pode ser seguro, mas já se consideram tóxicas para esses animais doses a partir de 0,1mg/kg, capazes de causar grave intoxicação.9 O Quadro 2 apresenta as raças com maior frequência dessa alteração genética e os principais medicamentos que podem provocar intoxicação em cães com alteração genética (homozigotos ou heterozigotos) no gene MDR1 ou ABCB1. QUADRO 2 MUTAÇÃO DO GENE MDR-1 OU ABCB-1 RAÇAS MAIS ACOMETIDAS PELA MUTAÇÃO ALGUNS FÁRMACOS QUE PODEM CAUSAR INTOXICAÇÃO NOS ANIMAIS QUE POSSUEM A MUTAÇÃO ■■ Collie ■■ Border Collie ■■ Pastor Alemão ■■ Pastor de Shetland ■■ Pastor Inglês ■■ Whippet de pelo longo ■■ Old english sheepdog ■■ Avermectinas ■■ Acepromazina ■■ Morfina ■■ Apomorfina ■■ Doxorrubicina ■■ Metronidazol ■■ Loperamida ■■ Vincristina, vimblastina ■■ Outros // Fonte: Elaborado pelo autor. PR OM EV ET 63 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 63 07/05/2021 07:36:14 CÓ PIA C ON TR OL AD A Algumas raças podem apresentar mais frequentemente mutações nesse gene, tornando-se mais suscetíveis a intoxicações por diferentes classes de medicamentos e, em especial, as avermectinas. Os cães da raça Collie podem ser os mais acometidos por essas mutações, mas elas ocorrem também em outras raças, como Border Collie, Pastor-Alemão, dentre outras raças comuns no Brasil. Mais detalhes podem ser visualizados pelo QR Code abaixo. >> DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ENTRE OS AGENTES TÓXICOS Apesar de o tratamento da vítima baseado na identificação de uma síndrome tóxica ser útil e poder salvar o paciente, a identificação do agente tóxico específico envolvido é importante e fará a diferença no tratamento, pois poderá guiar medidas específicas únicas (uso de antagonistas e antídotos, por exemplo).5 O Quadro 3 apresenta os principais agentes que promovem sinais clínicos neurológicos, os quais deverão fazer parte de sua lista de diagnósticos diferenciais em casos de excitação ou depressão do SNC, fraqueza muscular, paresia, paralisia e cegueira aguda.5 QUADRO 3 DIAGNÓSTICOS TOXICOLÓGICOS DIFERENCIAIS Excitação/epilepsia ■■ Organofosforados, carbamatos ■■ Estricnina, metaldeído ■■ Piretrinas/piretroides ■■ Teobromina, metilxantinas ■■ Organoclorados ■■ Pseudoefedrinas ■■ Fosfato de zinco ■■ Nicotina ■■ Chumbo (cegueira) Depressão ou epilepsia ■■ Avermectinas (cegueira), maconha, benzodiazepínicos (exceto na excitação paradoxal) ■■ Baclofeno ■■ Barbitúricos ■■ Amitraz ■■ Etilenoglicol ■■ Metanol ■■ Outros // Fonte: Elaborado pelo autor. 64 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 64 07/05/2021 07:36:15 CÓ PIA C ON TR OL AD A Muitos agentes tóxicos rotineiros causam sinais clínicos neurológicos, mas nem sempre será fácil realizar o diagnóstico definitivo. Deve-se estabelecer uma lista de diagnósticos diferenciais tendo como partida os agentes tóxicos apresentados no mapa mental que pode ser visualizado no QR Code abaixo. O Quadro 4 apresenta os principais agentes envolvidos na instalação de injúria renal aguda, danos hepáticos e insuficiência hepática aguda, anemia hemolítica, meta-hemoglobinemia e arritmia.5 QUADRO 4 DIAGNÓSTICOS TOXICOLÓGICOS DIFERENCIAIS Arritmia ■■ Azaleias ■■ Espirradeira ■■ Sapo ■■ Escorpião ■■ Síndrome serotoninérgica Meta-hemoglobinemia ■■ Anestésicos locais (benzocaína, lidocaína) ■■ Zinco, ferro ■■ Rodenticidas cumarínicos ■■ Naftalina ■■ Cebola, alho, paracetamol ■■ Fenazopiridina (antissépticos para as vias urinárias de uso humano) ■■ Azul de metileno Agressão hepática/insuficiência hepatica aguda ■■ AINEs ■■ Cobre ■■ Hepatopatia steroidal ■■ Adoçante xylitol ■■ Palmeira Cica Injúria renal aguda ■■ AINEs ■■ Lírios ■■ Sementes de uvas ■■ Etilenoglicol ■■ Zinco ■■ Colecalciferol (rodenticida análogo da vit. D) // Fonte: Elaborado pelo autor. PR OM EV ET 65 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 65 07/05/2021 07:36:16 CÓ PIA C ON TR OL AD A Injúria renal aguda, arritmias, agressão hepática e meta-hemoglobinemia são frequentes em pacientes intoxicados. Os agentes tóxicos devem ser levados em consideração diante de pacientes com essas alterações e estão detalhados no mapa mental que pode ser visualizado pelo QR Code abaixo. >> EXAMES LABORATORIAIS COMPLEMENTARES A realização de exames laboratoriais complementares é importante e constitui ferramenta ímpar no diagnóstico de algumas situações. Por exemplo, prolongamento do TP e do TTPA, em associação com a clínica do paciente e com o histórico levam ao diagnóstico de intoxicação por rodenticidas cumarínicos; elevação acentuada de creatinofosfoquinase pode auxiliar na confirmação de que o animal apresenta rabdomiólise (a rabdomiólise é a lesão muscular intensa e, decorrente disso, serão liberados pigmentos de mioglobina na circulação e filtrados pelos rins, favorecendo a ocorrência de injúria renal aguda em animais picados por cascavéis); presença de corpúsculos de Heinz nas hemácias pode indicar lesões provocadas por agentes tóxicos oxidantes diversos. Além de os exames laboratoriais auxiliarem no diagnóstico, inclusive na definição de que o quadro clínico do paciente pode não ser de origem tóxica, eles também serão guias e, algumas vezes, metas a serem alcançadas nas medidas de terapia intensiva e suporte dopaciente crítico (por exemplo, a redução dos níveis de lactato como meta).10 Os exames laboratoriais desejáveis como informações mínimas para o cuidado do paciente crítico vítima de intoxicações são10 ■ hemograma; ■ coagulograma (TP, TTPA, tempo de trombina [TT]); ■ bioquímicos (ureia, creatinina, alanino-aminotransferase [ALT], fosfatase alcalina [FA], bilirrubinas, gama-glutamiltransferase [GGT], albumina); ■ sumário de urina; ■ ionograma (sódio, potássio, cálcio iônico, fósforo); ■ lactato; ■ hemogasometria. 66 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 66 07/05/2021 07:36:16 CÓ PIA C ON TR OL AD A ATIVIDADES 4. Entre as raças de cães a seguir, quais teriam a menor probabilidade de apresentar mutação no gene ABCB1? >> Resposta no final do capítulo a> Collie, Pastor-Alemão e Pastor de Shetland. b> Border Collie e Whippet de pelo longo. c> Pastor-Australiano, Pastor-Inglês e Pastor Branco Suíço. d> Shi-tzu e Cocker Spaniel. 5. Os rins podem ser acometidos por diferentes agentes tóxicos, e pode ocorrer IRA por mecanismos diretos do agente tóxico e de modo secundário (pré-renal). Analise as afirmativas a seguir com relação aos principais agentes que causam uma injúria renal aguda de forma primária. I. Ingestão de uvas com sementes. II. Colecalciferol. III. Lírios. IV. Amitraz. ▼ Qual(is) está(ão) correta(s)? >> Resposta no final do capítulo a> Apenas a I. b> Apenas a II e a IV. c> Apenas a III e a IV. d> Apenas a I, a II e a III. 6. Marque V (verdadeiro) ou F (falso) com relação às substâncias que podem provocar meta-hemoglobinemia, anemia hemolítica e corpúsculos de Heinz em gatos. — Tramadol. — Paracetamol. — Naftalina. — Benzocaína. ▼ Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. >> Resposta no final do capítulo a> F — V — V — V b> F — V — F — F c> V — F — F — V d> V — F — V — F PR OM EV ET 67 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 67 07/05/2021 07:36:16 CÓ PIA C ON TR OL AD A 7. Os seguintes agentes podem causar intoxicação com grande toxicidade ao fígado. Entre eles, qual é o que será MENOS provável de causar uma insuficiência hepática aguda/agressão hepática aguda grave? >> Resposta no final do capítulo a> Palma Cyca. b> Adoçante de mesa à base de xilitol. c> Benzocaína. d> Paracetamol. >> O QUE FAZER DIANTE DE CANINO OU FELINO INTOXICADO Um canino ou um felino que foi exposto a um agente tóxico, na maioria das vezes, dará entrada na clínica ou no hospital veterinário apresentando um quadro crítico com iminente risco de óbito. A abordagem inicial desse animal, independentemente do agente tóxico, deverá ser feita com base no “algoritmo da vida”, ou seja, o ABCDE, inicialmente proposto para o atendimento de pacientes humanos vítimas de trauma. O diagnóstico presuntivo ou mesmo definitivo do agente tóxico do qual o animal foi vítima servirá de guia para a implementação de condutas definitivas e até mesmo para o uso de fármacos que são antídotos (por exemplo, atropina — fármaco anticolinérgico importante nas intoxicações por carbamatos e organofosforados; vitamina K1 — ativação dos fatores de coagulação II, VII, IX e X que estão prejudicados na intoxicação por raticidas cumarínicos), quelantes, como a colestiramina e os adsorventes (carvão ativado). A fluidoterapia/reanimação volêmica com cristaloide (Ringer lactato, cloreto de sódio [NaCl] 0,9%, Normosol®, Plasma-Lyte®) será etapa fundamental em caninos ou em felinos intoxicados. Pacientes hipovolêmicos e desidratados, além das complicações perfusionais, hemodinâmicas (macro-hemodinâmica e micro-hemodinâmica), renais e do equilíbrio ácido básico, poderão também ter complicações em virtude do uso de carvão ativado, bem como menor excreção urinária de determinados agentes tóxicos. Por todos esses motivos e outros, é necessária a garantia de normovolemia nesses animais. Caso a intoxicação seja por rodenticidas cumarínicos, será necessário avaliar a necessidade de transfusão precoce de sangue total fresco (coletado a 6 horas, no máximo, para manter fatores de coagulação) ou hemoderivados (por exemplo, plasma fresco congelado e papa de hemácias). 68 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 68 07/05/2021 07:36:16 CÓ PIA C ON TR OL AD A Em pacientes felinos hipotérmicos, para melhor resposta à reanimação volêmica, será necessário o aquecimento do animal. Há uma disfunção do sistema nervoso simpático nos gatos hipotérmicos, por isso o aquecimento de forma criteriosa e lenta até atingir temperatura retal de 36,8°C é mandatório para resposta hemodinâmica adequada e prevenção de edema agudo pulmonar iatrogênico por hipervolemia. Por outro lado, não é incomum que animais intoxicados apresentando quadro neuromuscular estejam com a temperatura elevada por causa do intenso trabalho muscular. A monitoração multiparamétrica, em especial, o traçado eletrocardiográfico e a pressão arterial sistólica, diastólica e média, são variáveis hemodinâmicas-chave no paciente crítico intoxicado. Diversos agentes tóxicos causarão perturbação hemodinâmica grave com10–13 ■ hipotensão; ■ hipertensão; ■ bradicardia; ■ taquicardia; ■ bloqueios atrioventriculares; ■ extrassístoles; ■ fibrilação atrial; ■ fibrilação ventricular; ■ parada cardiorrespiratória. O QR Code abaixo apresenta um mapa mental com as principais etapas a serem executadas diante de um paciente intoxicado, e a Figura 2 apresenta um mapa mental com as diretrizes conhecidas como regras dos 20 de Kirby, constando todos os procedimentos e as condutas que garantirão a abordagem adequada desse animal durante a hospitalização, no internamento ou em unidade de terapia intensiva (UTI) veterinária. Seguindo esses “vértices de ouro” propostos, garante-se a abordagem desse paciente crítico como um todo.14 PR OM EV ET 69 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 69 07/05/2021 07:36:17 CÓ PIA C ON TR OL AD A Regras dos 20 de Kirby Dosagem e metabolismo de fármacos Fluidos, pressão oncótica e osmótica Pressão arterial Oxigenação e ventilação FC, contrabilidade e rítimo Glicemia Temperatura Consciência Contrabilidade e integridade gastrintestinal Condição imunológica e antimicrobianos Albumina Controle da dor Cuidados com feridas e bandagens Eletrólitos Cuidados de enfermagem Coagulação Hematimetria, hemoglobina Nutrição Função renal Cuidados com carinho FIGURA 2: A regra de 20 de Kirby e o cuidado ao paciente crítico. // Fonte: Arquivo de imagens do autor. Além da abordagem seguindo o ABCDE no ambiente de emergência e da regra dos 20 de Kirby, também poderá ser útil a realização de medidas de descontaminação, como descritas a seguir.14 70 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 70 07/05/2021 07:36:18 CÓ PIA C ON TR OL AD A >/ MEDIDAS GERAIS DE DESCONTAMINAÇÃO Entre as ações que podem fazer a diferença no atendimento do paciente intoxicado, destacam-se as medidas de descontaminação. Com essas providências, pode-se alterar a toxicocinética do agente tóxico, reduzindo a sua absorção e facilitando a eliminação. Entre as medidas de descontaminação, destacam-se10,12 ■ banho do paciente ou mesmo lavagem de seus olhos e boca (água em temperatura ambiente); ■ diurese forçada; ■ hemodiálise e hemoperfusão; ■ armadilha iônica; ■ indução do vômito; ■ lavagem gástrica e inclusive enemas intestinais com carvão ativado para reduzir a recirculação entero-hepática de alguns agentes, como os carbamatos, por exemplo; ■ uso de resinas de troca e carvão ativado VO e, também, após a lavagem gástrica. >> DIURESE FORÇADA A fluidoterapia com cristaloides, forçando a excreção renal de alguns agentes, por exemplo, os carbamatos, pode ser efetiva, aumentando a excreção, pois esse agente tem até 90% de eliminação renal. Outros agentes, como os salicilatos,as anfetaminas e o fenobarbital, também podem ter maior excreção urinária com a diurese forçada. Para a realização da diurese forçada, o alvo no paciente não anúrico e não oligúrico será um volume urinário entre 3 e 5mL/kg/h, utilizando uma dose de 3 a 5mg/kg, aproximadamente, de furosemida a cada 8 horas ou manitol de 1 a 2g/kg a cada 6 horas. Quando se realiza a diurese forçada, deve haver monitoração da função renal, bem como dos eletrólitos e da volemia do paciente. Além do mais, a fluidoterapia com cristaloides atuará na manutenção da boa perfusão renal nas exposições a toxinas em geral, pois a maioria, de algum modo, poderá causar dano renal, que pode ser provocada por mecanismos diretos nefrotóxicos e inclusive por mecanismos pré-renais decorrentes das alterações hemodinâmicas.10,12 >> HEMODIÁLISE E HEMOPERFUSÃO As medidas avançadas como a hemodiálise e a hemoperfusão podem ser úteis em determinadas situações nas quais houve a ingestão de grande quantidade de determinados agentes e que não houve êxito no manejo padrão, como a fluidoterapia, a descontaminação, o carvão ativado, os antídotos e os antagonistas, caso existam para a substância, e medidas de suporte. Essas técnicas teriam indicação nas intoxicações graves por, dentre outros agentes,10,12 ■ álcool; ■ acetona; ■ paracetamol; ■ atenolol; ■ barbitúricos; ■ metais pesados; ■ metanol; ■ hidrato de cloral. PR OM EV ET 71 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 71 07/05/2021 07:36:18 CÓ PIA C ON TR OL AD A Infelizmente, nem todo agente pode ser removido pelas técnicas descritas, pois a remoção depende de suas características toxicocinéticas/farmacocinéticas.10,12 >> ARMADILHA IÔNICA A acidificação ou a alcalinização urinária e sanguínea de acordo com a substância que provocou a toxicose é um método que pode ser utilizado para facilitar a eliminação de diversos medicamentos. A acidificação é menos utilizada porque a maioria dos pacientes críticos provavelmente já está em algum nível de acidemia, mas essa conduta utilizando cloreto de amônio pode ser útil, por exemplo, nas intoxicações por anfetaminas e por estricnina. A alcalinização urinária, que pode ser realizada pelo método conhecido como armadilha iônica, é mais utilizada em animais intoxicados pelos seguintes agentes: ■ ácido 2,4 diclorofenoxiacético (herbicida); ■ AAS; ■ amitriptilina; ■ nortriptilina; ■ diflunisal (semelhante ao AAS); ■ clorpropramida; ■ fluoretos; ■ fenobarbital; ■ metotrexato; ■ pentobarbital; ■ sulfonamidas. A armadilha iônica visa alcançar um pH urinário entre 7,5 e 8,0, aproximadamente, e um pH arterial máximo de 7,5. A elevação do pH no lúmen tubular provocará o aumento da proporção ionizada do fármaco que está causando intoxicação e por isso dificulta a reabsorção e aumenta a excreção. Essa estratégia poderá aumentar a excreção do AAS em de 10 a 20 vezes, por exemplo.10,12 Para a realização dessa alcalinização, utiliza-se o bicarbonato de sódio em uma dose de 1 a 2mEq/kg (de 1 a 2mL/kg 8,4%), aproximadamente, administrado de forma intravenosa (IV) lentamente. A utilização de hemogasometria é útil para maior acurácia na execução do procedimento e para reduzir chances de complicações com a alcalinização excessiva, bem como para a monitoração dos íons sódio e potássio.10,12 >> INDUÇÃO DE VÔMITOS A indução do vômito é uma medida clássica que poderá auxiliar na eliminação do agente tóxico, impedindo a sua absorção total. A literatura indica que se realize essa manobra após a ingestão recente de determinados agentes tóxicos, ou seja, em até 1 hora (mas há literatura que expande esse tempo para até 4 horas, aproximadamente).10–13 72 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 72 07/05/2021 07:36:18 CÓ PIA C ON TR OL AD A Porém, os tutores muitas vezes chegam aos hospitais e às clínicas veterinárias após esse tempo e, diante de um animal assintomático com a certeza de que ele ingeriu algum agente tóxico, mesmo com o tempo desconhecido da exposição, pode-se executar a indução do vômito. A realização da indução do vômito após 1 hora da ingestão do agente tóxico pode não trazer benefícios, pois o agente poderá se encontrar em outras porções do trato gastrintestinal (TGI). Onde se coloca o tempo transcorrido desde a exposição ao agente tóxico como protagonista para a tomada de decisões, deverá imperar o bom senso, tendo em vista que há muitos medicamentos de uso humano de liberação lenta no mercado (retard) que permanecerão por maior tempo no estômago. Caso o agente tóxico seja um produto com essas características, haverá a chance de ele ainda se encontrar no estômago após 4 horas da ingestão. Por esse motivo, os pacientes intoxicados por esses produtos e assintomáticos deverão ser submetidos à indução de vômito. Pode-se seguir o mesmo raciocínio diante de animais expostos a agentes tóxicos/ medicamentos de baixo limiar toxicológico e baixa DL50. Pode-se realizar a indução do vômito até 4 horas após a ingesta quando o agente tóxico for10–13 ■ rodenticida contendo brometalina isoladamente ou em associação com outros agentes; ■ rodenticidas cumarínicos ou rodenticidas contendo colecalciferol (análogo da vitamina D3); ■ uvas; ■ goma de mascar contendo xilitol; ■ chocolates. O QUE UTILIZAR PARA INDUZIR O VÔMITO No Brasil, não há muitos medicamentos disponíveis para a indução do vômito. Para induzir o vômito no cão, tradicionalmente, utiliza-se água oxigenada a 3% em uma dose entre 1 e 5mL/kg, não devendo ultrapassar 50mL/animal. Para o gato, deve-se desencorajar o uso da água oxigenada, pois essa substância pode causar esofagite hemorrágica e gastrite nessa espécie. Por esse motivo, nos gatos, pode-se utilizar um agonista alfa-2 adrenérgico como a xilazina 0,44mg/kg intramuscular (IM) ou a dexmedetomidina em dose baixa de 7µg/ kg IM. Após a indução do vômito, deve-se proceder com a reversão desses agentes com ioimbina ou atipamezol imediatamente. O que menos se deseja em um paciente intoxicado são mais complicações anestésicas nesse paciente. A apomorfina é um exemplo de medicamento reportado para a indução de vômito que é padrão nos Estados Unidos para essa finalidade, mas não se encontra facilmente no Brasil. Uma alternativa possível que demonstra ser segura para a utilização em cães é a administração de ácido tranexâmico com uma dose aproximada de 10mg/kg IV.10–13 PR OM EV ET 73 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 73 07/05/2021 07:36:18 CÓ PIA C ON TR OL AD A Após a indução do vômito, é necessário administrar fármacos antieméticos e, inclusive, protetores de mucosa por causa de agressão provocada pelos agentes tóxicos, pelo vômito e inclusive pelo agente indutor de vômito, como a água oxigenada, que provoca irritação da mucosa gástrica e esofágica.10–13 QUANDO SE DEVE DESENCORAJAR A INDUÇÃO DO VÔMITO A indução do vômito é uma medida de descontaminação muito útil para reduzir/impedir a absorção do agente tóxico, mas essa manobra não poderá ser realizada sempre, e é necessário levar em consideração o estado geral do paciente e o tipo de agente tóxico. Antes da realização da indução do vômito, deverão ser estabelecidos os benefícios e os malefícios da realização dessa manobra em pacientes nas seguintes condições:10–13 ■ animais que já vomitaram; ■ tempo decorrido da intoxicação superior a 1 hora (porém, deve-se avaliar bem se há a possibilidade de o agente ainda se encontrar em alguma quantidade no estômago, como no caso dos rodenticidas em barras ou blocos parafinados. Caso haja essa possibilidade e o paciente não apresente clínica que impeça, deve-se induzir o vômito); ■ presença de sinais clínicos óbvios da intoxicação, com tremores e fasciculações (caso o animal não esteja com rebaixamento de consciência, pode-se realizar a indução do vômito para eliminar conteúdo remanescente do agente tóxico); ■ presença de arritmias graves; ■ pacientes comrebaixamento de consciência; ■ presença de epilepsia; ■ pacientes braquicefálicos (há grande chance de broncoaspiração, por isso é necessário avaliar o risco e o benefício); ■ condições prévias, como megaesôfago ou outras situações que predispõem à broncoaspiração; ■ ingesta de substâncias cáusticas, corrosivas, ácidos, derivados de petróleo em geral (muito presentes em removedores de cera, de limo de banheiro, gasolina, querosene, entre outros. Nessa situação, recomenda-se administrar antieméticos como o citrato de maropitant, omeprazol e sucralfato para atenuar as lesões à mucosa provocadas por esses agentes). >> LAVAGEM GÁSTRICA A lavagem gástrica é uma medida de descontaminação importante, mas que somente poderá ser realizada com o animal anestesiado (ou em animal já em estupor/coma, o qual não demanda anestesia), pois é mandatória a intubação orotraqueal com o cuff inflado para a proteção das vias aéreas. As soluções infundidas na lavagem gástrica e o carvão ativado podem causar graves complicações respiratórias caso sejam broncoaspirados. Além disso, ressalta-se a necessidade de se realizar a devida avaliação de risco e benefício para prevenir complicações anestésicas em um paciente que já se encontra intoxicado. 74 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 74 07/05/2021 07:36:18 CÓ PIA C ON TR OL AD A Deve-se irrigar o estômago com solução fisiológica morna (temperatura de aproximadamente 38°C), com volume entre 5 e 10mL/kg, quantas vezes forem necessárias até não refluir mais conteúdo tóxico e gástrico. Outra consideração importante é em relação ao calibre da sonda para a realização do procedimento, pois deverá ser utilizada uma do maior calibre possível para o animal (algumas vezes, sondas utilizadas em potros são excelentes pelo maior calibre). No final da lavagem, deve-se depositar no estômago solução de carvão ativado e, caso indicado, também quelante colestiramina. As contraindicações para a lavagem gástrica são, em sua maioria, similares às para a indução do vômito. As indicações principais para a lavagem gástrica são ■ realização até 1 hora, aproximadamente, da ingestão do agente tóxico no paciente que já se apresenta com sinais clínicos neurológicos com contraindicação da realização do vômito; ■ realização em mais de 1 hora da ingestão do agente tóxico quando houver a possibilidade de que o agente ainda se encontre em alguma quantidade no estômago, como no caso de ► rodenticidas em barras ou blocos parafinados; ► medicamentos de liberação lenta retard; ► substâncias de baixo limiar terapêutico e tóxico nos animais nos quais não mais é possível a indução do vômito; ■ agentes que possam causar obstrução, formação de bezoar. >> USO DO CARVÃO ATIVADO O carvão ativado é amplamente conhecido no meio médico-veterinário como agente importante na adsorção de muitas substâncias que causam intoxicação nos animais, embora essa capacidade varie de acordo com o produto que causou a toxicose. Ele é um agente que possui grande área e superfície porosa para a adsorção. Pode ser utilizado tanto VO em animais assintomáticos como imediatamente após a lavagem gástrica e ainda nas irrigações intestinais para impedir ou reduzir a recirculação entero-hepática de algumas substâncias. Quando se desconhece o agente tóxico, pode-se empregar o carvão ativado, e a sua utilização precoce é mais efetiva. A dose a ser utilizada, idealmente, deveria ser em torno de 10 vezes a quantidade do agente tóxico ingerido, mas, em média, para o uso clínico, a dose se encontra entre 1 e 5g/kg de carvão ativado, diluído em água (em torno de 1g/5mL de água). Caso o agente tóxico possua recirculação entero-hepática, deve-se administrar o carvão ao paciente em um período que varia entre dois e três dias a cada 6 horas. O carvão ativado não é um agente inócuo ao paciente, podendo causar vômitos (portanto, deve-se administrar antieméticos no paciente previamente), hipernatremia e obstrução intestinal. PR OM EV ET 75 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 75 07/05/2021 07:36:18 CÓ PIA C ON TR OL AD A Por esses motivos, deve-se hidratar o paciente sob uso do carvão ativado com boa manutenção do estado volêmico. Outra complicação decorrente do uso do carvão ativado, caso seja broncoaspirado, é broncopneumonia aspirativa importante (mais um motivo para não se utilizar essa substância VO em animais com sintomatologia neurológica e/ou rebaixamento de consciência).10–13 Os animais em uso de carvão ativado podem se beneficiar da utilização de um laxante suave à base de sorbitol (supositório — não há solução oral da linha humana), sulfato de magnésio (de 2 a 4mL/kg), bisacodil (5mg/animal de pequeno porte, 10mg/animal médio) ou mesmo lactulose (de 2 a 3mL/animal).10–13 Não se deve utilizar sulfato de magnésio em animais diante de intoxicação por agentes que promovem bloqueio neuromuscular.10–13 Os laxantes também podem reduzir o tempo de permanência do agente tóxico no TGI. O Quadro 5, sem a intenção de exaurir todas as substâncias possíveis de adsorção, apresenta alguns xenobióticos que podem ser adsorvidos pelo carvão ativado.10–13 QUADRO 5 USO DO CARVÃO ATIVADO NAS INTOXICAÇÕES EXÓGENAS — LISTA PARCIAL DE AGENTES QUE PODEM SER ADSORVIDOS PELO CARVÃO ATIVADO Paracetamol Benzodiazepínicos Digitalis (planta dedaleira) Morfina AAS Cânfora Digitoxina Nicotina 2,4-D ácido diclorofe- noxiacético Carbamatos Estricnina Organofosforados Ácido valproico Carbamazepina Etilenoglicol Organoclorados Anfetaminas Cloroquina Fenilbutazona Quinidina Antimicrobianos Clorfeniramina Fenitoína Quinina Antidepressivos tricíclicos Cocaína Fungicidas Sulfonamidas Anti-helmínticos Cumarínicos (rodenticidas) Hexaclorofeno Teofilina Cloreto de metiltio- nínio Dapsona Isoniazida Verapamil AAS: ácido acetilsalicílico. // Fonte: Elaborado pelo autor. 76 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 76 07/05/2021 07:36:19 CÓ PIA C ON TR OL AD A >/ USO DE ANTÍDOTOS E ADJUVANTES NAS INTOXICAÇÕES Os antídotos são substâncias que podem prevenir, reduzir ou mesmo reverter os efeitos de determinados agentes tóxicos. Eles são classificados como químicos, farmacológicos ou mesmo antídotos funcionais. Os antídotos químicos atuam diretamente sobre o agente tóxico para reduzir a toxicidade ou aumentar a excreção (quelantes), ao passo que os antídotos farmacológicos antagonizam ou competem com o agente tóxico em determinado receptor (por exemplo, atropina, atipamezol, naloxona) e, finalmente, os antídotos de função são substâncias que tratam os sinais clínicos. Infelizmente, não há antídotos para todos os agentes tóxicos, bem como há outros empecilhos para o seu uso, como o fato de que os antídotos também podem causar intoxicação (por exemplo, o cloreto de metiltionínio pode causar intoxicação em gatos), são difíceis de serem encontrados comercialmente e têm alto custo.15 >> RESINAS DE TROCA IÔNICA A colestiramina (antídoto químico — quelante) é uma resina de troca iônica que se liga a lipoproteínas e aos ácidos biliares, reduzindo a absorção intestinal, bem como a recirculação entero-hepática, favorecendo a eliminação do agente tóxico. Trata-se de um medicamento importante de ser encontrado nos internamentos e em unidades de terapia intensiva veterinárias.15 A dose de colestiramina a ser utilizada VO ou na sonda orogástrica após a lavagem gástrica pode ser entre 50 e 75mg/kg, e se indica continuidade por VO durante de dois a três dias três vezes ao dia nos animais intoxicados por análogos da vitamina D (rodenticidas contendo colecalciferol).15 O QR Code abaixo apresenta um mapa mental com os principais antídotos e adjuvantes que podem ser utilizados nos pacientes intoxicados, e a Figura 3 apresenta substâncias que podem ser impedidas de serem absorvidas e/ou reabsorvidas pela colestiramina.15 Valeressaltar que nem todo agente tóxico possui antídoto e, também que, por serem produtos de baixo apelo farmacêutico, pode ser difícil encontrar antídotos comercialmente. PR OM EV ET 77 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 77 07/05/2021 07:36:19 CÓ PIA C ON TR OL AD A Colestiramina Reduz a absorção e recirculação de diversos agentes Rodenticidas anticoagulantes e alguns pesticidas Piroxicam, diclofenaco, naproxeno, ibuprofeno Tiroxina Tetraciclinas Penicilina-g Fenobarbital Fenitoína Clorotiazina Betabloqueadores Compostos altamente lipofílico Colecalciferol (análogos da vitamina D) Dose: diluir o produto e administrar 50-75 mg/kg via oral ou na sonda orogástrica FIGURA 3: Agentes tóxicos que podem ter sua absorção e reabsorção reduzidas pela colestiramina, que é uma resina de troca iônica. // Fonte: Arquivo de imagens do autor. >> EMULSÃO LIPÍDICA DE NUTRIÇÃO PARENTERAL Utilizam-se amplamente os lipídios de NP na prática clínica humana no cuidado do paciente crítico e casualmente na medicina veterinária. O seu uso além da NP advém da prática clínica humana nas intoxicações por anestésicos locais. A partir daí, expandiu-se a utilização desses lipídios de forma experimental nas intoxicações de animais por substâncias altamente lipofílicas, como as avermectinas e os piretroides. A cada dia, surgem mais evidências de que se deve empregar lipídios de NP nos animais críticos intoxicados por substâncias lipofílicas que causam sinais clínicos neurológicos e cardiovasculares graves. 78 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 78 07/05/2021 07:36:20 CÓ PIA C ON TR OL AD A Desse modo, tem-se sugerido o uso dos lipídios nas intoxicações com quadro neurológico e cardiovascular grave, dentre outras substâncias, em toxicoses provocadas por ■ anestésicos locais; ■ avermectinas; ■ piretroides; ■ baclofeno; ■ verapamil; ■ anlodipino; ■ propanolol; ■ antidepressivos tricíclicos; ■ fenobarbital; ■ diltiazem; ■ anfetaminas e metanfetaminas; ■ maconha. Os lipídios de NP são constituídos por triglicerídeos de cadeias médias a longas de diferentes origens, mas principalmente de soja, glicerol, lecitina de ovo. Existem diversas apresentações comerciais, entre 10 e 30%. Deve-se manter em refrigeração o frasco contendo emulsão lipídica de NP depois de aberto. Deve-se utilizar o conteúdo remanescente no máximo em 24 horas, pois é um excelente meio para crescimento bacteriano. LEMBRAR Os mecanismos de ação dos lipídios de NP ainda estão sendo estudados, e se supõe que essa substância reduza a fração livre do agente tóxico no plasma. A dose de emulsão lipídica a ser utilizada, oriunda de estudos experimentais, é um bolo de 1,5mL/kg de lipídio na concentração de 20% seguido da infusão contínua na dose de 0,25 a 0,5mL/kg/min durante aproximadamente 2 horas. Os efeitos adversos da utilização de lipídios de NP são incomuns, mas devem ser considerados os mesmos que os de um paciente sob NP, como a possibilidade de ocorrer, entre outros,15–17 ■ hipertrigliceridemia; ■ lipemia; ■ pancreatite decorrente da lipemia; ■ distúrbios eletrolíticos. PR OM EV ET 79 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 79 07/05/2021 07:36:20 CÓ PIA C ON TR OL AD A ATIVIDADES 8. Assinale a alternativa correta com relação à fluidoterapia/reanimação volêmica de pacientes caninos ou felinos a serem tratados para intoxicações. >> Resposta no final do capítulo a> A preocupação com a volemia dos pacientes intoxicados apenas será necessária em casos nos quais se constatou mau funcionamento renal. b> Os pacientes hipovolêmicos também poderão ter complicações em virtude do uso de carvão ativado. c> A fluidoterapia/reanimação volêmica em pacientes felinos deve ser feita apenas com o uso de ringer lactato, e se deve evitar o uso de NaCl 0,9%. d> A hipovolemia é considerada um risco no sentido de ocasionar complicações perfusionais, mas ela também favorece maior excreção urinária de determinados agentes tóxicos. 9. Assinale a alternativa correta com relação ao ABCDE no ambiente de emergência. >> Resposta no final do capítulo a> A garantia de que as vias aéreas estejam desobstruídas, sem secreções para a passagem do ar, é necessária. b> Os distúrbios neurológicos, de acordo com o protocolo ABCDE, devem ser apenas identificados, e tratados apenas após a desintoxicação do animal. c> A temperatura do paciente deve ser mantida um pouco abaixo da temperatura normal para retardar a progressão da intoxicação. d> A expansão torácica e o drive ventilatório adequados devem ser garantidos, mas sem a utilização de oxigenação nessa etapa. 10. Assinale a alternativa correta com relação à diurese forçada. >> Resposta no final do capítulo a> A diurese forçada é indicada especialmente nos casos de intoxicação por carbamatos, e é ineficaz nos casos em que o agente é do grupo dos salicilatos ou das anfetaminas. b> A diurese forçada é absolutamente contraindicada nos casos de intoxicação por fenobarbital. c> O alvo em um paciente não anúrico e não oligúrico é um volume urinário entre 3 e 5mL/kg/h. d> A realização da diurese forçada demanda o uso de 16mg/kg de furosemida a cada 4 horas. 80 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 80 07/05/2021 07:36:20 CÓ PIA C ON TR OL AD A 11. Assinale a alternativa correta com relação à realização de acidificação ou de alcalinização urinária para a descontaminação de caninos e de felinos. >> Resposta no final do capítulo a> A acidificação é a técnica mais utilizada, pois com ela se obtêm melhores resultados. b> O objetivo da armadilha iônica é a alcalinização urinária, alcançando um pH urinário entre 7,5 e 8,0, aproximadamente, e um pH arterial máximo de 7,5. c> As intoxicações por AAS, diflunisal e ácido 2,4 diclorofenoxiacético devem ser tratadas exclusivamente por meio da acidificação urinária, nunca pela alcalinização. d> O cloreto de amônio é utilizado para a alcalinização em uma dose de 7,5mEq/kg, administrado de forma IM. 12. Marque V (verdadeiro) ou F (falso) com relação às substâncias cujas medidas de descontaminação podem incluir a indução do vômito. — Ingestão de chocolates. — Ingestão de carbamatos. — Ingestão de gasolina. — Ingestão de anti-inflamatórios. ▼ Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. >> Resposta no final do capítulo a> V — F — V — F b> F — V — F — V c> V — V — F — V d> F — F — V — F 13. Assinale a alternativa correta com relação ao que se deve utilizar para a indução do vômito em caninos e em felinos. >> Resposta no final do capítulo a> A água oxigenada a 3%, na dose entre 1 e 5mL/kg, deve ser utilizada para os gatos. b> A xilazina pode ser utilizada em gatos, na dose de 4,4mg/kg IM. c> O medicamento mais utilizado e abundante no Brasil para a indução do vômito é a apomorfina. d> Uma alternativa segura para a utilização em cães é o ácido tranexâmico com dose aproximada de 10mg/kg IV. PR OM EV ET 81 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 81 07/05/2021 07:36:20 CÓ PIA C ON TR OL AD A 14. Assinale a alternativa correta com relação à realização de lavagem gástrica em animais intoxicados. >> Resposta no final do capítulo a> O estômago, na realização de lavagem gástrica, deverá ser irrigado com solução fisiológica morna, com temperatura aproximada de 38ºC, com volume entre 5 e 10mL/kg, quantas vezes forem necessárias até não refluir mais conteúdo tóxico e gástrico. b> A lavagem gástrica não deve ser realizada com o animal anestesiado ou em estupor/ coma. c> A sonda utilizada para a lavagem gástrica deverá ser do menor calibre possível, permitindo apenas uma eficaz irrigação do estômago. d> A lavagem gástrica é um procedimento vantajoso, pois não apresenta contraindicação. 15. Assinale a alternativa correta a respeito do uso de carvão ativado. >> Resposta no final do capítulo a> Ocarvão ativado deverá ser administrado apenas uma vez caso o agente tóxico possua recirculação entero-hepática. b> A dose a ser utilizada, idealmente, deve ser em torno de duas vezes a quantidade do agente tóxico ingerido. c> A dose de carvão ativado se encontra entre 1 e 5g/kg, em média, diluído em água, para o uso clínico. d> O uso de carvão ativado não deve ser feito caso o agente tóxico seja desconhecido, pois ele pode piorar o quadro do paciente quando exposto a determinados agentes. 16. Assinale a alternativa correta com relação aos antídotos a serem utilizados em casos de intoxicações. >> Resposta no final do capítulo a> Os antídotos químicos antagonizam ou competem com o agente tóxico em determinado receptor. b> Os antídotos não estão disponíveis para todos os agentes tóxicos e, além disso, alguns antídotos também podem causar intoxicação. c> Os antídotos de função são os que promovem a excreção do agente tóxico. d> Os antídotos farmacológicos atuam diretamente sobre o agente tóxico para reduzir a toxicidade ou aumentar a excreção. >> PRINCIPAIS AGENTES TÓXICOS E SEUS MÉTODOS DE AÇÃO Até então, apresentaram-se os principais diagnósticos diferenciais nas intoxicações em cães e em gatos, como realizar a abordagem do paciente, as medidas de descontaminação, o uso de carvão ativado e de antídotos. 82 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 82 07/05/2021 07:36:21 CÓ PIA C ON TR OL AD A A Figura 4 apresenta um resumo dos principais agentes tóxicos para os felinos e o modo de ação dessas substâncias.1–17 Agentes tóxicos para os felinos Enemas intestinais com fosfato de sódio Baclofeno Benzocaína Ibuprofeno, napoxeno, carprofeno, paracetamol Lírios, cebola, alho Chocolate Piretrinas / piretroides Fluoruracila Rodenticidas Venlafaxina Antissépticos para vias urinárias – fenazopiridina Cisplatina Azul de metileno Benzoato de benzila Outros FIGURA 4: Agentes tóxicos para os felinos. // Fonte: Arquivo de imagens do autor. O mapa mental da Figura 4 apresenta os principais agentes que podem causar intoxicação nos felinos, como medicamentos e fármacos, alimentos e produtos destinados ao uso humano e pode ser visualizado pelo QR Code abaixo. PR OM EV ET 83 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 83 07/05/2021 07:36:21 CÓ PIA C ON TR OL AD A O QR Code abaixo apresenta um mapa mental com toda a abordagem nas intoxicações por carbamatos e organofosforados. As intoxicações por esses agentes são as mais frequentes na maioria dos estados do Brasil e podem provocar o óbito do animal de forma aguda. A Figura 5 apresenta um resumo das intoxicações por piretrinas e piretroides. Piretrinas / Piretroides Letargia Hiperestesia Taquicardia Hipertermia Sialorreia Sinais neurológicos Sinais gastrintestinais FIGURA 5: Utilizam-se esses agentes na rotina como ectoparasiticidas (presentes em muitas coleiras “repelentes”). Vale ressaltar que os felinos são extremamente sensíveis a esses agentes, mesmo quando expostos a doses baixas. // Fonte: Arquivo de imagens do autor. O mapa mental da Figura 5 apresenta toda a abordagem nas por piretrinas e piretroides e pode ser visualizado pelo QR Code abaixo. 84 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 84 07/05/2021 07:36:23 CÓ PIA C ON TR OL AD A O QR Code abaixo apresenta as intoxicações pelos agentes rodenticidas, as quais ainda acontecem em várias regiões do Brasil. Existem diferentes produtos com a finalidade de extermínio de ratos disponíveis comercialmente. Esses agentes podem cursar com intoxicação grave em caninos e em felinos. Os mais comuns são os agentes conhecidos como rodenticidas cumarínicos, que inibem a via metabólica hepática conhecida como gamacarboxilação oxidativa. Essa via é fundamental para ativar os fatores de coagulação II, VII, IX e X. O Quadro 6 apresenta um panorama da síndrome serotoninérgica, que ocorre cada dia mais em decorrência da ingesta de diferentes agentes, principalmente farmacológicos.1–17 QUADRO 6 SÍNDROME SEROTONINÉRGICA ALGUNS AGENTES QUE PODEM CAUSAR A SÍNDROME SINAIS CLÍNICOS SUPORTE ■■ L-triptofano ■■ Cocaína, LSD, anfetaminas ■■ Fármacos inibidores de MAO ■■ Antidepressivos tricíclicos, tramadol ■■ Ondansetrona, metoclo- pramida ■■ Omeprazol, cetoconazol ■■ Mirtazapina, carbamazepina ■■ outros ■■ Convulsões ■■ Tremores ■■ Agitação/disforia ■■ Instabilidade autonômica ■■ Hipertensão ■■ Hipertermia ■■ Midríase ■■ Vômitos ■■ Diarreia ■■ Dor abdominal ■■ Salivação ■■ Bradicardia/arritmia ■■ VMI ■■ Controlar crises epiléticas convulsivas (propofol) ■■ Cuidado com benzodiaze- pínicos ■■ Descontaminação (menor do que 1h da ingestão) ■■ Controle da temperatura ■■ Sedação e tranquilização (fenotiazínicos) ■■ Controle dos tremores musculares (Metocarbamol) ■■ Tratar arritmias e hiperten- são se presente ■■ Ciproheptadina: antagonista dos receptores para serotonina (cães: 1,1 mg.kg-1 4-6h; gatos: 2-4 mg por dose 4-6h) // Fonte: Arquivo de imagens do autor. PR OM EV ET 85 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 85 07/05/2021 07:36:23 CÓ PIA C ON TR OL AD A Muitos medicamentos de uso rotineiro, como apresentado no mapa mental disponível no QR Code abaixo, poderão desencadear essa síndrome, ameaçadora à vida do animal. ATIVIDADES 17. Marque V (verdadeiro) ou F (falso) com relação aos sinais clínicos que podem ocorrer com frequência em animais intoxicados pelo produto conhecido popularmente como “chumbinho”, do grupo dos carbamatos, ou intoxicados por organofosforados. — Bradicardia. — Ptialismo/sialorreia. — Tremores musculares, fasciculações. — Midríase. ▼ Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. >> Resposta no final do capítulo a> F — F — V — F b> F — V — F — V c> V — F — F — V d> V — V — V — F 18. Analise as afirmativas a seguir, com relação aos sinais clínicos que demonstram a presença de uma síndrome serotonérgica. I. Depressão do SNC. II. Taquicardia, hipertensão. III. Hiperatividade neuromuscular, hipertermia. IV. Arritmias. 86 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 86 07/05/2021 07:36:24 CÓ PIA C ON TR OL AD A ▼ Qual(is) está(ão) correta(s)? >> Resposta no final do capítulo a> Apenas a II, a III e a IV. b> Apenas a IV. c> Apenas a I e a III. d> Apenas a I, a II e a III. >> CASO CLÍNICO CASO CLÍNICO Dois caninos da raça Akita ingeriram grande quantidade de cápsulas de um suplemento muito utilizado atualmente com ativo denominado 5-hidroxitriptofano (5-HTP).18 O 5-HTP é um precursor do neurotransmissor serotonina (5-hidroxitriptamina tipo 3 [5- HT]). O tutor dos animais é médico e trouxe o suplemento do exterior, mas ele também é comercializado no Brasil. A serotonina exerce diferentes funções no organismo e, entre elas, tem grande importância na transmissão nervosa, na motilidade gastrintestinal, no tônus vascular, na pressão arterial, na agregação plaquetária e na inflamação.18 Muitos medicamentos antidepressivos utilizados em seres humanos atuarão exatamente em alguma via serotoninérgica.19 A Figura 6 apresenta o frasco do suplemento de onde os animais ingeriram o 5-HTP. 5-HTP: 5-hidroxitriptofano. FIGURA 6: O 5-HTP é um precursor da serotonina. O uso humano dessas substâncias tem sido frequente e, assim, os animais também estão sujeitos à ingestão acidental pela sua presença nos domicílios. // Fonte: Arquivo de imagens do autor. PR OM EV ET 87 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 87 07/05/2021 07:36:25 CÓ PIA C ON TR OL AD A A serotonina tem efeitos benéficos no organismo humano e em outras espécies, mas uma grande elevação desse neurotransmissor no organismo pode ser devastadora e ameaçadora à vida. É fato que as intoxicações acontecem nos seres humanos quando há o uso de diferentes medicamentos queem comum elevam os níveis da serotonina, e também ocorrem nos animais que ingerem medicamentos de seus tutores de modo acidental ou até mesmo por prescrições médico-veterinárias.18,19 Diferentes fármacos e substâncias, se ingeridos em grande quantidade e/ou mesmo em associação, poderão provocar a síndrome serotoninérgica, destacando-se, entre outras,18,19 ■ amitriptilina; ■ ondansetrona; ■ tramadol; ■ metoclopramida; ■ mirtazapina; suplementos alimentares contendo triptofano, como o ingerido pelos dois cães reportados no caso clínico; ■ drogas recreativas, como a cocaína (cães ingerem de tutores adictos); ■ plantas como a erva-de-são-joão (Hypericum perforatum), que inclusive é comercializada como fitoterápico antidepressivo natural; ■ cogumelos nativos. Os principais sinais clínicos da síndrome serotoninérgica são ■ epilepsia; ■ excitação, agitação/disforia, agressão, vocalização, hiperestesia, hiperreflexia; ■ tremores musculares; ■ midríase, nistagmo; ■ instabilidade autonômica; ■ hipertensão; ■ bradicardia e outras arritmias ameaçadoras à vida; ■ hipertermia; ■ vômitos; ■ salivação; ■ diarreia; ■ dor abdominal; ■ taquipneia. Os dois animais do caso abordado apresentaram sinais clínicos agudos, aproximadamente 30 minutos após a ingesta, e foram levados imediatamente para atendimento médico-veterinário. Estavam extremamente excitados, vocalizando, taquipneicos e taquicárdicos. A temperatura retal encontrava-se em torno de 41°C (o animal mais grave chegou a 42,2°C). Os animais já haviam apresentado vômitos espontaneamente em casa e, pelo motivo de já apresentarem clínica da intoxicação, não se realizou nova indução de vômito. Realizaram-se resfriamento dos animais e tratamento das crises epilépticas com benzodiazepínicos (não é a melhor opção nesse cenário de síndrome serotoninérgica). Um animal foi refratário a essa terapêutica, por isso se utilizou propofol. 88 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 88 07/05/2021 07:36:25 CÓ PIA C ON TR OL AD A O animal refratário ao tratamento das crises epilépticas apresentava-se, além da excitação, com espasticidade dos membros torácicos. Esse animal foi o que evoluiu com outras complicações e inclusive acidose metabólica discreta e respiratória grave por hipercarbia/hipercapnia (havia indicação de ventilação mecânica invasiva), petéquias (possivelmente coagulação intravascular disseminada [CID]), hipoglicemia grave, estupor, coma e óbito (Figura 7). O outro animal evoluiu favoravelmente com tratamento de suporte com alta hospitalar em 24 horas sem demais complicações clínicas e/ou laboratoriais (apenas discreta elevação de FA). FIGURA 7: Paciente canino sob cuidados intensivos por causa de síndrome serotoninérgica. // Fonte: Arquivo de imagens do autor. O animal que apresentou petéquias (Figura 8) pode tê-las manifestado em decorrência da atuação da serotonina na agregação plaquetária, bem como pela hipertermia grave causando coagulopatia de consumo, ou seja, CID. O hemograma desse animal, coletado ainda no início do atendimento, revelou leucocitose por neutrofilia (24.000 leucócitos totais sem desvio à esquerda), sem alterações em série vermelha e trombocitopenia grave (33.000 plaquetas); fibrinogênio = 300mg/dL; bioquímicos — FA = 760UI/L, ureia = 72mg/dL, creatinina = 2mg/dL. FIGURA 8: Paciente canino com petéquias decorrentes de síndrome serotoninérgica. // Fonte: Arquivo de imagens do autor. PR OM EV ET 89 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 89 07/05/2021 07:36:25 CÓ PIA C ON TR OL AD A Os animais com síndrome serotoninérgica devem ser abordados seguindo o algoritmo ABCDE e demandam suporte e cuidados intensivos, mas se deve ter atenção às alterações do SNC, neuromusculares, cardiovasculares, alterações metabólicas (acidose metabólica e/ ou respiratória) e gastrintestinais. Para esse monitoramento sistemático, o método utilizando as regras de 20 de Kirby apresentadas neste capítulo serve como guia. Além disso, pode-se utilizar um antagonista da serotonina como a ciproeptadina por sonda nasogástrica nos animais sintomáticos. As doses do medicamento — cães: 1,1mg/kg por de 4 a 6 horas; gatos: de 2 a 4mg por dose/animal de 4 a 6 horas. O metocarbamol, apesar de não ser comercializado no Brasil (hospitais veterinários de equinos podem possuir), pode ser um aliado no controle dos tremores musculares. Deve-se ter cautela no uso dos benzodiazepínicos, pois eles também poderiam causar síndrome serotoninérgica e, por esse motivo, os fármacos fenotiazínicos podem ser utilizados na tranquilização desses animais, e o propofol, utilizado no tratamento da epilepsia. Para o controle e a prevenção de vômitos, a melhor indicação é o citrato de maropitant.18 A síndrome serotoninérgica é ameaçadora à vida, e são necessárias medidas de descontaminação (indução de vômitos caso o animal não tenha vomitado e eliminado o produto ingerido e estiver dentro do período indicado para tal, ou mesmo lavagem gástrica e carvão ativado). Deve-se ter atenção às alterações neurológicas/neuromusculares, cardiovasculares (arritmia e hipertensão graves), respiratórias (podem demandar ventilação mecânica invasiva), gastrintestinais, ao equilíbrio ácido básico, à possibilidade de injúria renal aguda e inclusive de CID, hipótese reportada neste capítulo. Pode-se utilizar a ciproeptadina como antídoto, bem como o metocarbamol e os fenotiazínicos para o controle dos sinais clínicos. 19. A síndrome serotoninérgica poderá ser desencadeada após a ingestão de grandes quantidades de medicamentos e/ou a associação de medicamentos que, por algum motivo, irão promover a elevação da serotonina no organismo desse indivíduo. Cite seis medicamentos que poderão provocar essa síndrome em cães e em gatos. >> Resposta no final do capítulo 20. Quais são os principais sinais clínicos decorrentes da síndrome serotoninérgica? >> Resposta no final do capítulo 90 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 90 07/05/2021 07:36:26 CÓ PIA C ON TR OL AD A 21. Qual é o medicamento de uso rotineiro nos internamentos como estimulante de apetite (orexígeno) que poderá ser utilizado como antagonista da serotonina? >> Resposta no final do capítulo 22. O metocarbamol, apesar de não ser comercializado no Brasil, pode ser útil para tratar quais sinais clínicos presentes na síndrome serotoninérgica? >> Resposta no final do capítulo >> CONCLUSÃO O reconhecimento rápido de um animal intoxicado, o estabelecimento do diagnóstico diferencial e a tentativa de elucidar qual agente está causando a toxicose podem facilitar o manejo definitivo do paciente. Adicionalmente, o reconhecimento dos sinais clínicos característicos e das síndromes tóxicas também poderá facilitar o direcionamento do atendimento do animal. As medidas de descontaminação, e inclusive o uso de antídotos, quando houver, para o agente tóxico em questão, podem fazer a diferença no cuidado do paciente intoxicado. O atendimento inicial do paciente grave deverá ser conduzido primeiramente seguindo o ABCDE, e grande parte desses animais também demandarão cuidados intensivos. Para isso, utiliza-se como guia a regra de 20 de Kirby para garantir que se realize o cuidado desse animal de forma sistematizada. Medidas específicas podem ser necessárias no tratamento do animal intoxicado. PR OM EV ET 91 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 91 07/05/2021 07:36:26 CÓ PIA C ON TR OL AD A >> ATIVIDADES: RESPOSTAS ATIVIDADE 1 // RESPOSTA: B ►► Comentário: O diagnóstico caracterizando o paciente canino ou felino em algum tipo de síndrome tóxica é um importante fator para a facilitação da abordagem e do tratamento, já que no Brasil não há uma grande variedade de testes toxicológicos com resultados imediatos para o uso veterinário, além de os testes específicospara diagnóstico definitivo, como os realizados por diferentes técnicas de cromatografia, demorarem para apresentar resultados. A identificação de sinais clínicos que caracterizam essas síndromes irá auxiliar no diagnóstico toxicológico presuntivo e poderá determinar as condutas emergenciais a serem adotadas no paciente grave. Perguntas como qual é o nome do produto ingerido ou mesmo se recentemente a casa foi dedetizada, se há pesticidas no domicílio sob pias ou outros locais alcançados pelos animais, bem como a quantidade que foi ingerida, devem sempre ser realizadas ao responsável pelo animal. ATIVIDADE 2 // RESPOSTA: D ►► Comentário: A síndrome colinérgica mista caracteriza-se por micção, diarreia, miose, fasciculações e tremores. Não se relatam como sinais característicos dessa síndrome taquicardia, hipotensão, hiperatividade, andar compulsivo, agressividade, instabilidade autonômica, hipertermia e hiperatividade neuromuscular. ATIVIDADE 3 // RESPOSTA: A ►► Comentário: A síndrome tóxica que tem como sinais clínicos hipertensão, taquicardia, braquicardia reflexa, midríase, hiperatividade e andar compulsivo é a síndrome alfa-adrenérgica. A síndrome serotoninérgica caracteriza-se por alterações do estado mental (agitação) hiperatividade neuromuscular, instabilidade autonômica e hipertermia. Já a síndrome anticolinérgica caracteriza-se por hipertermia midríase taquicardia, taquisfigmia, hipertensão e clônus muscular, e a síndrome beta-adrenérgica caracteriza-se por taquicardia e hipotensão. ATIVIDADE 4 // RESPOSTA: D ►► Comentário: Em indivíduos das raças Shi-tzu e Cocker Spaniel, há menor probabilidade de ocorrer a mutação, embora ela possa acontecer em outras raças, mas principalmente em animais sem raça definida (SRD) com cruzamentos oriundos das raças mais prevalentes. ATIVIDADE 5 // RESPOSTA: D ►► Comentário: O amitraz não é um agente nefrotóxico primário. Caso ocorra IRA, será principalmente por complicações do estado geral do animal e de mecanismos pré-renais. ATIVIDADE 6 // RESPOSTA: A ►► Comentário: A primeira alternativa é falsa, pois uma overdose de tramadol poderia causar uma síndrome serotoninérgica, mas não possui mecanismo primário para causar a oxidação da hemoglobina — meta-hemoglobinemia, anemia hemolítica e corpúsculos de Heinz. A segunda, a terceira e a quarta alternativas são verdadeiras. 92 Int ox Ica çõ es ex óg en as ag ud as em cã es e ga to s 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 92 07/05/2021 07:36:26 CÓ PIA C ON TR OL AD A ATIVIDADE 7 // RESPOSTA: C ►► Comentário: Entre os agentes descritos, todos são extremamente hepatotóxicos, exceto a benzocaína que, em caso de intoxicação em felinos, causará primariamente anemia hemolítica, meta-hemoglobinemia e corpúsculos de Heinz. ATIVIDADE 8 // RESPOSTA: B ►► Comentário: É necessário garantir a normovolemia de pacientes caninos ou felinos vítimas de intoxicação, realizando a fluidoterapia/reanimação volêmica com cristaloide, que pode consistir em ringer lactato, NaCl 0,9%, Normosol® ou Plasma-Lyte®, pois pacientes hipovolêmicos e desidratados, além das complicações perfusionais, hemodinâmicas, renais e do equilíbrio ácido básico, poderão também ter complicações em virtude do uso de carvão ativado, bem como menor excreção urinária de determinados agentes tóxicos. ATIVIDADE 9 // RESPOSTA: A ►► Comentário: O ABCDE para paciente emergencial pode ser utilizado em pacientes caninos ou felinos intoxicados e consiste em A (ar) — deve-se garantir que as vias aéreas estejam desobstruídas, sem secreções para a passagem do ar; B (boa ventilação) — deve-se garantir a expansão torácica e o drive ventilatório adequados. É necessária a oxigenação; C (circula- ção) — deve-se garantir a circulação sanguínea e, por conseguinte, a perfusão tecidual com reanimação volêmica, hemotransfusão precoce, caso necessário, garantir pressão arterial, ritmo, FC, contratilidade cardíaca; D (distúrbios neurológicos) — devem ser identificados e tratados; E — deve-se fazer a exposição de áreas com prováveis lesões ou picadas de animais peçonhentos, bem como prevenir a hipotermia, aquecer ou mesmo resfriar o paciente. ATIVIDADE 10 // RESPOSTA: C ►► Comentário: A fluidoterapia com o uso de cristaloides pode ser efetiva no aumento da excreção de carbamatos, que são agentes de eliminação de até 90%. Além disso, agentes como os salicilatos, as anfetaminas e o fenobarbital podem ter maior excreção urinária com a diurese forçada. Para a realização da diurese forçada, o alvo no paciente não anúrico e não oligúrico é um volume urinário entre 3 e 5mL/kg/h utilizando dose de aproximadamente de 3 a 5mg/kg de furosemida a cada 8 horas ou manitol de 1 a 2g/kg a cada 6 horas. ATIVIDADE 11 // RESPOSTA: B ►► Comentário: A acidificação e a alcalinização urinária e sanguínea de acordo com a substância que provocou a toxicose podem ser utilizadas para facilitar a eliminação do agente tóxico. A acidificação utilizando cloreto de amônio pode ser útil, por exemplo, nas intoxicações por anfetaminas e estricnina, mas ela é menos utilizada, pois a maioria dos pacientes críticos já se encontra em algum nível de acidemia. Realiza-se a alcalinização urinária pelo método conhecido como armadilha iônica, em animais intoxicados por ácido 2,4 diclorofenoxiacético, AAS, amitriptilina, nortriptilina, diflunisal, clorpropramida, fluoretos, fenobarbital, metotrexato, pentobarbital e sulfonamidas. A armadilha iônica visa alcançar um pH urinário de entre 7,5 e 8,0, aproximadamente, e um pH arterial de no máximo 7,5. Para a realização dessa alcalinização, utiliza-se o bicarbonato de sódio na dose aproximada de 1 a 2mEq/kg (de 1 a 2mL/kg 8,4%) IV, administrado de forma lenta. PR OM EV ET 93 6 4 2_PROMEVET_C6V4_Intoxicacao.indd 93 07/05/2021 07:36:26 CÓ PIA C ON TR OL AD A ATIVIDADE 12 // RESPOSTA: C ►► Comentário: A primeira e a segunda alternativa são verdadeiras. A terceira alternativa é falsa, pois não se deve induzir o vômito diante de ingesta de produtos cáusticos, corrosivos, ácidos ou outros que possam provocar perfuração esofágica ou mesmo gástrica, como gasolina, querosene, soda cáustica. A quarta alternativa é verdadeira. ATIVIDADE 13 // RESPOSTA: D ►► Comentário: Normalmente, utiliza-se água oxigenada a 3% em doses entre 1 e 5mL/kg para a indução ao vômito. A dose não deve ultrapassar 50mL/animal. Para o gato, contraindica-se essa utilização, pois a água oxigenada pode causar esofagite hemorrágica e gastrite nessa espécie. Nos gatos, pode-se utilizar um agonista alfa-2 adrenérgico como a xilazina na dose de 0,44mg/kg IM ou a dexmedetomidina em dose baixa de 7µg/kg IM. Após a indução do vômito, deve-se proceder com a reversão desses agentes com ioimbina ou atipamezol imediatamente. A apomorfina é padrão nos Estados Unidos para a indução ao vômito, mas não se encontra facilmente no Brasil. Uma alternativa possível para utilização em cães que demonstra ser segura é a administração de ácido tranexâmico com dose aproximada de 10mg/kg IV. ATIVIDADE 14 // RESPOSTA: A ►► Comentário: A lavagem gástrica somente poderá ser realizada com o animal anestesiado ou quando se encontrar em estupor/coma, já que é mandatória a intubação orotraqueal com o cuff inflado para a proteção das vias aéreas. Realiza-se o procedimento por meio da irrigação do estômago com solução fisiológica morna, com temperatura aproximada de 38ºC, com volume entre 5 e 10mL/kg, quantas vezes forem necessárias até não refluir mais conteúdo tóxico e gástrico. Ao final da lavagem, deve-se depositar no estômago solução de carvão ativado e, casso indicado, também quelante colestiramina. Para o procedimento, deve-se utilizar uma sonda com o maior calibre possível. As contraindicações são em sua maioria similares às para a indução do vômito. ATIVIDADE 15 // RESPOSTA: C ►► Comentário: Pode-se utilizar o carvão ativado quando se desconhece o agente tóxico. A utilização precoce
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