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Laísa Dinelli Schiaveto Trato Urinário Inferior INTRODUÇÃO As pelves renais, os ureteres, a bexiga e a uretra (exceto por sua porção terminal) são revestidos por uma forma especial de epitélio de transição – urotélio. Este é composto por cinco ou seis camadas de células com núcleos ovais, frequentemente com sulcos nucleares lineares, e uma camada superficial consistindo em células “em guarda-chuva”, as quais são grandes, achatadas e com citoplasma abundante. Repousa sobre uma membrana basal bem desenvolvida, abaixo da qual está uma lâmina própria. A lâmina própria na bexiga urinária contém feixes de musculo liso, que formam uma muscular da mucosa descontínua. Ureteres MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS São encontradas em aproximadamente 2% ou 3% de todas as autópsias. Embora a maioria tenha pouca importância clínica, algumas anomalias podem contribuir para uma obstrução do fluxo urinário e, consequentemente, causar doença clínica. URETERES DUPLOS E BÍFIDOS Quase sempre estão associados a pelves renais duplas, totalmente distintas ou ao desenvolvimento anômalo de um rim grande que possui uma pelve parcialmente bífida, terminando em ureteres separados. Além disso, podem seguir separados para a bexiga, mas comumente são reunidos no interior da parede vesical e drenam por um único orifício ureteral. A maioria é unilateral e não tem significado clínico. OBSTRUÇÃO DA JUNÇÃO URETEROPÉLVICA (JUP) É a causa mais frequente de hidronefrose em lactentes e crianças. Quando ocorrem no início da vida, são bilaterais em 20% das vezes, estando frequentemente associados a outras anomalias congênitas, ocorrendo principalmente em homens. Em adultos, é mais comum em mulheres e na maioria das vezes é unilateral. Esta condição é atribuída a uma organização anormal dos feixes de músculo liso na JUP, a um depósito estromático excessivo de colágeno entre os feixes ou raramente a uma compressão congênita extrínseca da JUP por vasos renais. Na maioria dos casos, há agenesia renal contralateral. Laísa Dinelli Schiaveto DIVERTÍCULOS São dilatações saculares da parede uretral. Essas são incomuns, podendo ser congênitas ou adquiridas. A maioria é assintomática, mas a estase urinária dentro de divertículos por vezes leva a infecções recorrentes. INFLAMAÇÃO A ureterite tipicamente não está associada à infecção e possui poucas consequências clínicas. MORFOLOGIA Acúmulo ou agregação de linfócitos formando centros germinativos na região subepitelial. Uretrite Folicular: Discretas elevações da mucosa, produzindo uma superfície mucosa finamente granular. Uretrite Cística: Cistos finos salpicam a mucosa, variando de 1 a 5 mm de diâmetro, sendo revestidos por urotélio achatado. TUMORES TUMORES PRIMÁRIOS São raros. TUMORES BENIGNOS PEQUENOS Geralmente, são de origem mesenquimal (ex.: leiomioma). TUMORES MALIGNOS PRIMÁRIOS São semelhantes aos originados na pelve renal, nos cálices e na bexiga. A maioria compreende carcinomas uroteliais, ocorrendo mais frequentemente durante a 6a e 7a décadas de vida, e causando obstrução da luz uretral. Às vezes, são multifocais e costumam ocorrer simultaneamente com neoplasias semelhantes na bexiga ou na pelve renal. LESÕES SEMELHANTES A TUMORES O pólipo fibroepitelial é uma lesão semelhante a um tumor que se apresenta macroscopicamente como uma pequena massa com projeção para a luz, frequentemente em crianças. É composto por tecido frouxo e vascularizado, sobreposto pelo urotélio. Apesar de ser mais comum nos ureteres, pode acometer a bexiga, pelves renais e uretra. LESÕES OBSTRUTIVAS Existe uma grande variedade de lesões que podem obstruir os ureteres e originar hidroureter, hidronefrose e, algumas vezes, pielonefrite. Sendo assim, esta é clinicamente significativa, pois pode, posteriormente, envolver o rim (hidronefrose ou mesmo pielonefrite), comprometendo a função renal. A obstrução unilateral tipicamente resulta de causas proximais, enquanto a obstrução bilateral resulta de causas distais, como a hiperplasia nodular da próstata. FIBROSE RETROPERITONEAL ESCLEROSANTE É uma causa incomum de estreitamente ou obstrução uretral, que é caracterizada por um processo inflamatório proliferativo fibroso que envolve as estruturas retroperitoneais e causa hidronefrose. O distúrbio ocorre na meia-idade até o final da vida, sendo mais comum em mulheres. • Uma parte está associado a doenças relacionadas à IgG4, associada com níveis séricos elevados de IgG4 e lesões fibroinflamatórias ricas em Laísa Dinelli Schiaveto plasmócitos secretores de IgG4. Além do retroperitônio, essa doença frequentemente envolve outros tecidos, em especial órgãos exócrinos (ex.: pâncreas e as glândulas salivares). • Outra parte está associada a exposição de medicamentos (derivados do ergot e bloqueadores beta-adrenérgicos), condições inflamatórias adjacentes (vasculite, diverticulite e doença de Crohn) ou doenças malignas (linfomas e carcinomas do trato urinário). • No entanto, a grande maioria, não apresente uma causa obvia e é considerada primária ou idiopática (doença de Ormond). EXAME MISCROSCÓPICO Revela, tipicamente, tecido fibroso contendo um infiltrado proeminente de linfócitos, frequentemente com centros germinativos, plasmócitos (frequentemente IgG4-positivos) e eosinófilos. TRATAMENTO Inicialmente, envolve corticoides, embora muitos pacientes tornem-se resistentes e necessite de stents ou liberação cirúrgica dos ureteres do tecido fibroso circundante (ureterólise). Bexiga Urinária MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS REFLUXO VESICOURETRAL É a anomalia congênita mais comum e séria, uma vez que é contribuinte para infecção e cicatrização renal na pielonefrite. São conexões anormais entre a bexiga e vagina, reto ou útero, podendo criar fístulas vesicouterinas congênitas. DIVERTÍCULOS São evaginações saculiformes da bexiga que podem variar de menos de 1 cm até 5-10 cm de diâmetro, podendo ser congênitos ou adquiridos. Divertículos Congênitos: Podem ser decorrentes de uma falha focal do desenvolvimento da musculatura normal ou de alguma obstrução do trato urinário durante o desenvolvimento fetal. Divertículos Adquiridos: Ocorrem devido ao aumento prostático (hiperplasia ou neoplasia), produzindo obstrução do fluxo urinário e acentuado espessamento muscular da parede vesical. Assim, a pressão intravesical elevada causa protrusão da parede vesical e formação de divertículos. Frequentemente são múltiplos e possuem colos estreitos localizados entre os feixes musculares hipertrofiados entrelaçados. Embora os divertículos sejam, na maioria das vezes, pequenos e assintomáticos, eles podem ser clinicamente significativos, uma vez que constituem locais de estase urinaria e predispõem a infecção e formação de cálculos vesicais. Ainda, podem predispor ao refluxo vesicouretral como resultado de uma interferência com o ureter. Raramente, um carcinoma pode surgir em um divertículo da bexiga. EXTROFIA DA BEXIGA É uma falha do desenvolvimento da parede anterior do abdome e da bexiga, de modo que a bexiga se comunica por um grande defeito com a superfície do corpo ou está situada como um saco aberto. A mucosa vesical exposta pode sofrer metaplasia glandular colônica e está sujeita a infecções que frequentemente se disseminam para os níveis superiores do sistema urinários Os indivíduos apresentam maior risco de adenocarcinoma originado na bexiga remanescente. Obs.: Essas lesões são passíveis de correção cirúrgica e a sobrevida em longo prazo é possível. Laísa Dinelli Schiaveto ANOMALIAS DO ÚRACO O úraco (canal que liga a bexiga fetal ao alantoide) é normalmente obliterado após o nascimento, mas, às vezes, pode permanecer parcial ou totalmentepatente. Úraco Parcial: Apenas a região central do úraco persiste, originando cistos uracais revestidos por urotélio ou por epitélio glandular metaplásico. Carcinomas, principalmente tumores glandulares, podem se originar nesses cistos. Eles representam apenas uma minoria de todos os cânceres de bexiga (0,1 a 0,3%), porém 20 a 40% dos adenocarcinomas da bexiga. Úraco Totalmente Patente: Um trato urinário fistuloso conecta a bexiga ao umbigo. INFLAMAÇÃO CISTITE AGUDA E CRÔNICA As mulheres possuem maior probabilidade de desenvolver cistite visto que suas uretras mais curtas. Agentes Etiológicos Comuns – São os coliformes; Escherichia coli, Ptoteus, Klebsiella e Enterobacter. Causas Menos Comuns – Tuberculose; Candida albicans; criptocócicos; esquistossomose (Schistosoma haematobium); vírus (adenovírus); clamídia; micoplasma; radiação. Fatores Predisponentes – Cálculos vesicais; obstrução urinária; diabetes melito; instrumentação; deficiência imunológica. Obs.: A pielonefrite bacteriana frequentemente é precedida por infecção da bexiga urinaria, com disseminação retrógrada de microrganismos para os rins e seus sistemas coletores. MORFOLOGIA A maioria dos casos gera uma forma de uma inflamação aguda ou crônica inespecífica da bexiga. Cistite Aguda: Ocorre hiperemia da mucosa e infiltrado neutrofílico, algumas vezes associados a exsudatos. Cistite Hemorrágica: Ocorre em pacientes que tomam medicamentos antitumorais citotóxicos (ex.: ciclofosfamida) ou infecção por adenovírus. Cistite Crônica: Ocorre devido à persistência da infecção bacteriana associada com infiltrados inflamatórios mononucleares. Cistite Folicular: É caracterizada pela presença de folículos linfoides na mucosa da bexiga e na parede subjacente; (forma crônica). Cistite Eosinofílica: Manifestada pela infiltração de eosinófilos submucosos, tipicamente é uma inflamação subaguda inespecífica, mas também pode ser uma manifestação de um distúrbio alérgico sistêmico; (forma crônica). QUADRO CLÍNICO Todas as formas de cistite são caracterizadas por uma tríade de sintomas: • Frequência Urinária – que em casos agudos pode exigir micção a cada 15 a 20 minutos; • Dor Abdominal Baixa – localizada na região da bexiga ou na suprapúbica; • Disúria – dor ou queimação ao urinar. Os sintomas locais de cistite podem ser perturbados, mas essas infecções também são precursoras de uma pielonefrite. Ainda, algumas vezes, é uma complicação secundária a algum distúrbio associado com a estase urinária, como aumento prostático, cistocele da bexiga, cálculo ou tumores à essas doenças devem ser tratadas antes que a cistite possa ser aliviada. FORMAS ESPECIAIS DE CISTITE 1) CISTITE INTERSTICIAL (Síndrome da Dor Pélvica Crônica) Trata-se de uma forma de cistite crônica, que ocorre mais frequentemente em mulheres e é caracterizada clinicamente por dor suprapúbica intermitente, geralmente intensa, frequência urinária, urgência, hematúria e disúria, e achados citoscópicos de fissuras e hemorragias puntiformes (glomerulações) na mucosa da bexiga após distensão luminal. A etiologia é desconhecida, sua avaliação e diagnóstico permanecem controversos, e seu tratamento é empírico (uso inicial de antimicrobianos baseado nos agentes mais prováveis da infecção). Tardiamente, no Laísa Dinelli Schiaveto curso da doença, pode aparecer fibrose transmural, levando a uma bexiga contraída. • Alguns casos estão associados com úlceras mucosas crônicas – Úlceras de Hunner; sendo esta chamada de fase tardia. Este é característico por um número aumentado de mastócitos na mucosa. Os achados patológicos são inespecíficos e o principal papel da biopsia é descartar o carcinoma in situ, o que pode mimetizar clinicamente a cistite intersticial. 2) MALACOPLAQUIA Trata-se de uma reação inflamatória crônica distinta que parece resultar de defeitos adquiridos na função dos fagócitos, surgindo no contexto da infecção bacteriana crônica, principalmente, por E. coli ou ocasionalmente por espécies de Proteus. Ocorre com maior frequência em receptores de transplantes imunossuprimidos. MORFOLOGIA Na bexiga, a malacoplaquia toma forma de placas mucosas ligeiramente elevadas, amareladas e moles, com 3 a 4 cm de diâmetro, que são preenchidas por grandes macrófagos esponjosos, misturados com células gigantes multinucleadas e linfócitos. Os macrófagos possuem um citoplasma granular abundante devido a fagossomos preenchidos com resíduos membranosos e particulados de origem bacterina. Além disso, concreções mineralizadas, laminadas, resultantes do depósito de cálcio em lisossomos aumentados – Corpos de Michaelis- Gutmann – tipicamente estão presentes no interior dos macrófagos. 3) CISTITE POLIPOIDE É uma condição inflamatória resultante da irritação da mucosa da bexiga. Embora os cateteres de demora sejam os causadores mais comumente responsabilizados, qualquer agente lesivo pode originar essa lesão. O urotélio é projetado em estruturas polipoides bulbosas largas como resultado de um acentuado edema da submucosa. Obs.: Pode ser confundida com o carcinoma urotelial papilar tanto na clínica quanto histologicamente. LESÕES METAPLÁSICAS CISTITE GLANDULAR E CISTITE CÍSTICA São lesões comuns, na qual ninhos de urotélio (ninhos de Brunn) crescem para baixo, dentro da lâmina própria. Cistite Glandular: As células epiteliais no centro do ninho sofrem metaplasia e assumem um aparência cuboide ou colunar. Cistite Cística: As células epiteliais no centro do ninho se retraem para produzir espaços císticos revestidos por urotélio achatado. Cistite Cística e Glandular: Ocorre quando os dois processos coexistem. Obs.: Uma variação da cistite glandular, células caliciformes estão presentes e o epitélio lembra a mucosa intestinal (metaplasia intestinal ou colônica). METAPLASIA ESCAMOSA Como resposta a uma lesão, o urotélio frequentemente é substituído por um epitélio escamoso não queratinizante, que constitui um revestimento mais resistente. ADENOMA NEFROGÊNICO Trata-se de uma lesão incomum que resulta de uma cobertura de células tubulares renais em locais de urotélio lesionado. O urotélio de revestimento pode ser focalmente substituído por epitélio cuboide, que pode assumir um padrão de crescimento papilar. Além disso, a proliferação tubular pode infiltrar a lâmina própria subjacente e o músculo detrusor superficial, mimetizando um processo maligno. NEOPLASIAS O câncer de bexiga representa aproximadamente 7% dos cânceres e 3% da mortalidade por câncer (EUA). Cerca de 95% dos tumores vesicais possuem origem epitelial, enquanto 5% possuem origem mesenquimal. Laísa Dinelli Schiaveto TUMORES UROTELIAIS A maioria dos tumores uroteliais é do tipo urotelial (células transicionais). Representam aproximadamente 90% de todos os tumores da bexiga e envolve uma gama de lesões, desde pequenas lesões benignas até cânceres agressivos. Muitos são multifocais. Existem duas lesões precursoras distintas do carcinoma urotelial invasivo: (I) tumores papilares não invasivos; e (II) carcinoma urotelial não invasivo plano. • Tumores Papilares Não Invasivo: É a lesão precursora mais comum, sendo originados da hiperplasia urotelial papilar. Esses possuem uma variedade de alterações atípicas e são classificados de acordo com seu comportamento biológico. • Carcinoma Urotelial Não Invasivo Plano: É referido como carcinoma in situ ou CIS (termo histológico para descrever lesões epiteliais que apresentam alterações citológicas de malignidade, mas que estão confinadas ao epitélio, não apresentando evidências de invasão da membrana basal). São consideradas de alto grau. Em cerca de metade dos indivíduos com câncer de bexiga invasivo, o tumor já invadiu a parede da bexiga no momento da apresentação e as lesões precursoras não podem ser detectadas. Assim, acredita-seque a lesão precursora foi destruída pelo componente invasivo de alto grau, que tipicamente aparece como uma massa grande, frequentemente ulcerada. Embora a invasão da lâmina própria agrave o prognóstico, a maior diminuição da sobrevida está associada à invasão muscular própria (músculo detrusor). Então, quando esta ocorre, existe uma taxa de mortalidade em 5 anos de 30%. SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO A classificação de 1973 da Organização Mundial de Saúde (OMS) gradua os tumores em um raro papiloma totalmente benigno e três graus de carcinoma de células de transição (graus 1, 2 e 3). Já, a classificação mais recente, em 1998, baseada em um consenso atingido na conferência da International Society of Urological Pathology (ISUP), e adotada pela OMS em 2004, reconhece um raro papiloma benigno, um grupo de neoplasias uroteliais papilares de baixo potencial maligno e dois graus de carcinoma (baixo e alto grau). EPIDEMILOGIA E PATOGENIA A incidência do carcinoma de bexiga é maior em homens, em países desenvolvidos e em áreas urbanas. A relacao do sexo masculino para o feminino corresponde a aproximadamente 3:1. Cerca de 80% dos pacientes estão entre 50 e 80 anos e, com raras exceções, não é familiar. Fatores Contribuintes para o Carcinoma Urotelial: • Tabagismo • Exposição industrial a arilaminas • Infecções por Schitosoma haematobium • Uso de analgésicos em longo prazo • Irradiação Alterações Genéticas Adquiridas: 1) Fortemente Associadas com a Histopatologia do Tumor • Mutações de ganho de função em FGFR3 – São predominantemente encontradas em carcinomas papilares não invasivos de baixo grau e resultam na ativação constitutiva do receptor tirosina-cinase FGFR3; • Mutações de perda de função nos genes supressores de tumores TP53 e RB – São quase Laísa Dinelli Schiaveto sempre vistas em tumores de alto grau e, frequentemente, invasivos da camada muscular. 2) Não Fortemente Associadas com a Histopatologia do Tumor • Mutações de ativação do oncogene HRAS – São frequentemente encontradas, particularmente em baixo grau, em tumores não invasivos. Ainda, ocorrendo em 30 a 60% dos tumores, as perdas de material genético no cromossomo 9 (incluindo monossomias ou deleções de 9p e 9q). Essas anormalidades são frequentemente as únicas alterações cromossômicas presentes nos tumores papilares não invasivos e ocasionalmente em tumores planos não invasivos. MORFOLOGIA O aspecto dos tumores uroteliais varia de puramente papila a nodular ou plano. A maioria surge nas paredes lateral ou posterior na base da bexiga. As lesões papilares são excrescências vermelhas elevadas, variando em tamanho menor que 1 cm de diâmetro a massas grandes de até 5 cm de diâmetro. Tumores múltiplos bem individualizados são frequentes. Em geral, a maioria dos tumores papilares tem baixo grau. 1) PAPILOMAS Representam 1% ou menos dos tumores vesicais e, geralmente, são observados em pacientes mais jovens. Papilomas Exofíticos: Tipicamente, surgem de maneira isolada como estruturas pequenas (0,5 a 2,0 cm), delicadas e fixadas superficialmente à mucosa por um pedículo. As papilas digitiformes individuais possuem um núcleo central de tecido fibrovascular frouxo coberto por um epitélio que é histologicamente idêntico ao urotélio normal. Recorrências e progressões são raras. Papilomas Invertidos: São lesões benignas que consistem em cordões interanastomosantes de urotélio sem atipias citológicas, que se invaginam para dentro da lâmina própria. 2) NEOPLASIAS UROTELIAIS PAPILARES DE BAIXO POTENCIAL MALIGNO Compartilha muitos aspectos histológicos com o papiloma, sendo que as únicas diferenças consistem no urotélio mais espesso. Pode recorrer, tendo mesma morfologia e, raramente, pode progredir para tumores de graus maiores. Na citoscopia, esses tumores tendem a ser maiores que os papilomas e podem ser indistinguíveis dos carcinomas papilares de baixo e alto grau. 3) CARCINOMAS UROTELIAIS PAPILARES DE BAIXO GRAU Possuem um aspecto arquitetural e citológico bem ordenado. As células são espaçadas de modo homogêneo e coeso. Existe um leve grau de atipia nuclear, consistindo em núcleos hipercromáticos dispersos, raras figuras mitóticas predominantemente na direção da base, e leve variação no tamanho e forma dos núcleos. Podem recorrer e, mesmo que não seja frequente, podem invadir. Além disso, raramente representam uma ameaça à vida do paciente. Laísa Dinelli Schiaveto 4) CARCINOMAS UROTELIAIS PAPILARES DE ALTO GRAU Arquiteturalmente ocorre desorganização e perda de polaridade. Contêm células pouco coesas, com grandes núcleos hipercromáticos. Alguma células são altamente anaplásicas. Figuras de mitose, incluindo algumas atípicas, são frequentes. Em relação com as lesões de baixo grau, esses tumores apresentam uma incidência muito maior de invasão para a camada muscular, maior risco de progressão e, quando associados à invasão, um potencial metastático significativo. 5) CARCINOMA IN SITU (CIS) OU CARCINOMA UROTELIAL PLANO É definido pela presença de células citologicamente malignas dentro de um epitélio plano. Pode variar desde um quadro de atipia citológica em toda a espessura até um quadro de células malignas dispersas em meio a um urotélio de outro modo normal (disseminação pagetoide). Possui perda de coesão, que provoca a descamação de células malignas para a urina. Quando essa é extensa, apenas algumas células do CIS ficam presas a uma membrana basal em grande parte desnudada. Geralmente, aparece como um vermelhidão, granularidade ou espessamento da mucosa, sem produzir uma massa intraluminal evidente. Comumente é multifocal e pode envolver a maior parte da superfície vesical e se estender para os ureteres e uretra. Se não tratados, 50 a 75% dos casos progridem para um câncer invasivo. 6) CARCINOMA UROTELIAL INVASIVO Pode estar associado ao carcinoma urotelial papilar de alto grau ou CIS adjacente. A extensão da invasão para a muscular da mucosa tem importância prognóstica e o subestadiamento na biópsia é um problema significativo. A extensão da disseminação (estadiamento) no momento do diagnóstico inicial é o fator mais importante para determinar o prognóstico de um paciente. Obs.: Menos de 10% dos carcinomas de baixo grau invadem, porém até 80% dos carcinomas uroteliais de alto grau são invasivos. Os tumores agressivos podem se estender para a parede da bexiga, e, em estágios mais avançados, invadir a próstata adjacente, as vesículas seminais, os ureteres e retroperitônio. Ainda, alguns produzem comunicações fistulosas com a vagina ou reto. Aproximadamente 40% desses tumores profundamente invasivos metastatizam para os Laísa Dinelli Schiaveto linfonodos regionais. Pode ocorrer hematogênica, principalmente para o fígado, pulmões e medula óssea. OUTROS TIPOS DE TUMORES EPITELIAIS 1) CARCINOMAS ESCAMOSOS São mais frequentes em países em que a esquistossomose urinaria é endêmica. Carcinomas Escamosos Puros: Estão quase sempre associados à irritação crônica e à infecção da bexiga. Carcinomas Uroteliais Mistos com Áreas de Carcinoma Escamoso: São mais frequentes, sendo que a maioria consiste em tumores vegetantes, invasivos e ulcerados. O nível de variação celular varia amplamente, de lesões altamente diferenciadas produzindo queratina abundante a tumores anaplásicos apenas com evidência focal de diferenciação escamosa. 2) ADENOCARCINOMAS São raros e histologicamente idênticos aos adenoacarcinomas observados no TGI. Alguns são originados dos remanescentes uracais ou estão associados à metaplasia intestinal extensa. 3) CARCINOMAS DE CÉLULAS PEQUENAS São indistinguíveis dos carcinomas de pequenas células do pulmão. Surgem na bexiga frequentemente associados ao carcinoma urotelial, escamoso ou adenocarcinoma. TUMORES MESENQUIMAIS 1) TUMORESBENIGNOS Existe uma grande variedade de tumores mesenquimais benignos que pode surgir na bexiga. De maneira geral, são raros, sendo que o mais comum é o leiomioma. Todos tendem a crescer como massas isoladas, intramurais, encapsulas, ovais e esféricas, variando em diâmetro até vários centímetros. 2) SARCOMAS Os sarcomas verdadeiros são raros na bexiga. O mais comum na infância é o rabdomiossarcoma embrionário – sendo que alguns de manifestam como uma massa polipoide semelhante a um cacho de uva (sarcoma botrioide) – enquanto, em adultos, o mais comum é o leiomiossarcoma. Tendem a produzir massas grandes (variando até 10 a 15 cm de diâmetro) que sofrem protrusão para a luz vesical. Tem aspecto macroscópico branco- acinzentado, carnoso e macio. TUMORES SECUNDÁRIOS O envolvimento maligno secundário da bexiga ocorre mais frequentemente por extensão direta de lesões primárias de órgãos próximos: colo uterino, útero, próstata e reto. Os linfomas podem envolver a bexiga como componente de doença sistêmica, mas também, raramente, como linfoma vesical primário. Curso Clínico do Câncer da Bexiga Os tumores da bexiga classicamente produzem hematúria indolor. Essa é sua manifestação clínica dominante e algumas vezes a única. Frequência, urgência e disúria ocasionalmente acompanham a hematúria. Quando o orifício ureteral está envolvido, pielonefrite ou hidronefrose podem ocorrer. Aproximadamente 60% das neoplasias, quando descobertas, são únicas, e 70% estão localizadas na bexiga. O risco de recorrência e progressão está relacionado a diversas variáveis, incluindo tamanho do tumor, estágio, grau, multifocalidade, taxa de recorrência prévia e displasia e/ou CIS associados na mucosa circundante. O prognóstico depende do grau histológico e do estágio no diagnóstico. O desafio clínico nessas neoplasias é a detecção precoce e o acompanhamento adequado. OBSTRUÇÃO Possui grande importância clínica devido ao seu eventual efeito sobre os rins. Ocorre mais em homens do que em mulheres. A causa mais comum, em homens, é o aumento da glândula prostática devido à hiperplasia nodular; enquanto, nas mulheres, é cistocele da bexiga. Laísa Dinelli Schiaveto Causas Pouco Frequentes: (1) estenoses uretrais congênitas; (2) estenoses uretrais inflamatórias; (3) fibrose inflamatória e contração da bexiga; (4) tumores vesicais, tanto benignos quanto malignos; (5) invasão do colo da bexiga por tumores originados em órgãos contíguos; (6) obstruções mecânicas causadas por corpos estranhos e cálculos; e (7) lesão da inervação que controla a contração da bexiga (bexiga neurogênica). MORFOLOGIA Nos estágios iniciais, ocorre somente espessamento da parede de bexiga devido à hipertrofia da musculatura lisa. Com a hipertrofia progressiva, os feixes musculares individualmente aumentam grandemente e produzem trabeculação da parede da bexiga. Ao longo do tempo, são formadas criptas que podem ser convertidas em divertículos. Em alguns casos de obstrução aguda ou em doença terminal, a bexiga pode ficar extremamente dilatada, podendo atingir a margem da pelve ou até mesmo o nível do umbigo. Nesses casos a parede da bexiga está acentuadamente adelgaçada, sem trabeculações. Uretra INFLAMAÇÃO A uretrite é dividida em causas gonocócicas e não gonocócicas. Uretrite Gonocócica: Trata-se de uma das manifestação mais precoces dessa infecção venérea. Uretrite Não Gonocócica: É comum e pode ser causada por vários organismos diferentes; • Cepas de Chlamydia (C. trachomatis) • Mycoplasma (Ureaplasma urealyticum) Uretrite Inflamatória: É de origem verdadeiramente não infecciosa. Um exemplo é a artrite reativa, que está associada com a tríade clínica de artrite, conjuntivite e uretrite. É acompanhada frequentemente por cistite (mulheres) e prostatite (homens). As alterações morfológicas são muito típicas de inflamação em outros locais do trato urinário. Além disso, o envolvimento uretral não constitui por si só um problema clínico sério, mas pode causar considerável dor local, prurido e frequência, podendo alertar para uma doença mais séria em níveis mais altos do trato urogenital. TUMORES TUMORES EPITELIAIS BENIGNOS Incluem papilomas escamosos e uroteliais, papilomas uroteliais invertidos e condilomas. CARCINOMA PRIMÁRIO Trata-se de uma lesão rara. Tumores originados na uretra proximal tendem a exibir diferenciação urotelial e são análogos àqueles que ocorrem na bexiga, enquanto as lesões encontradas na uretra distal mais tipicamente consistem em carcinomas escamosos. ADENOCARCINOMA São pouco frequentes na uretra e geralmente ocorrem em mulheres. Obs.: Algumas lesões neoplásicas da uretra são semelhantes às descritas na bexiga, originadas por metaplasia ou, menos comumente, a partir das glândulas periuretrais. LESÕES SEMELHANTES A TUMORES A carúncula uretral é uma lesão inflamatória que apresenta uma pequena massa vermelha e dolorosa ao redor do meato uretral externo, tipicamente em mulheres mais velhas. Laísa Dinelli Schiaveto Consiste em tecido de granulação inflamado recoberto por uma mucosa intacta, mas extremamente friável, que pode ulcerar e sangrar com o menor trauma. A excisão cirúrgica permite alívio imediato e cura.
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