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Patologia do Trato Urinário Inferior

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Laísa Dinelli Schiaveto 
 
Trato Urinário Inferior 
INTRODUÇÃO 
As pelves renais, os ureteres, a bexiga e a uretra 
(exceto por sua porção terminal) são revestidos por 
uma forma especial de epitélio de transição – urotélio. 
 
Este é composto por cinco ou seis camadas de células 
com núcleos ovais, frequentemente com sulcos 
nucleares lineares, e uma camada superficial 
consistindo em células “em guarda-chuva”, as quais são 
grandes, achatadas e com citoplasma abundante. 
Repousa sobre uma membrana basal bem 
desenvolvida, abaixo da qual está uma lâmina própria. 
A lâmina própria na bexiga urinária contém feixes de 
musculo liso, que formam uma muscular da mucosa 
descontínua. 
 
Ureteres 
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS 
São encontradas em aproximadamente 2% ou 3% de 
todas as autópsias. Embora a maioria tenha pouca 
importância clínica, algumas anomalias podem 
contribuir para uma obstrução do fluxo urinário e, 
consequentemente, causar doença clínica. 
 
URETERES DUPLOS E BÍFIDOS 
Quase sempre estão associados a pelves renais duplas, 
totalmente distintas ou ao desenvolvimento anômalo 
de um rim grande que possui uma pelve parcialmente 
bífida, terminando em ureteres separados. 
Além disso, podem seguir separados para a bexiga, mas 
comumente são reunidos no interior da parede vesical 
e drenam por um único orifício ureteral. 
A maioria é unilateral e não tem significado clínico. 
 
OBSTRUÇÃO DA JUNÇÃO 
URETEROPÉLVICA (JUP) 
É a causa mais frequente de hidronefrose em lactentes 
e crianças. Quando ocorrem no início da vida, são 
bilaterais em 20% das vezes, estando frequentemente 
associados a outras anomalias congênitas, ocorrendo 
principalmente em homens. Em adultos, é mais comum 
em mulheres e na maioria das vezes é unilateral. 
Esta condição é atribuída a uma organização anormal 
dos feixes de músculo liso na JUP, a um depósito 
estromático excessivo de colágeno entre os feixes ou 
raramente a uma compressão congênita extrínseca da 
JUP por vasos renais. Na maioria dos casos, há 
agenesia renal contralateral. 
 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
DIVERTÍCULOS 
São dilatações saculares da parede uretral. Essas são 
incomuns, podendo ser congênitas ou adquiridas. A 
maioria é assintomática, mas a estase urinária dentro 
de divertículos por vezes leva a infecções recorrentes. 
INFLAMAÇÃO 
A ureterite tipicamente não está associada à infecção 
e possui poucas consequências clínicas. 
MORFOLOGIA 
Acúmulo ou agregação de linfócitos formando centros 
germinativos na região subepitelial. 
Uretrite Folicular: Discretas elevações da mucosa, 
produzindo uma superfície mucosa finamente granular. 
Uretrite Cística: Cistos finos salpicam a mucosa, 
variando de 1 a 5 mm de diâmetro, sendo revestidos 
por urotélio achatado. 
TUMORES 
TUMORES PRIMÁRIOS 
São raros. 
TUMORES BENIGNOS PEQUENOS 
Geralmente, são de origem mesenquimal 
(ex.: leiomioma). 
TUMORES MALIGNOS PRIMÁRIOS 
São semelhantes aos originados na pelve renal, nos 
cálices e na bexiga. A maioria compreende carcinomas 
uroteliais, ocorrendo mais frequentemente durante a 6a 
e 7a décadas de vida, e causando obstrução da luz 
uretral. Às vezes, são multifocais e costumam ocorrer 
simultaneamente com neoplasias semelhantes na 
bexiga ou na pelve renal. 
LESÕES 
SEMELHANTES A TUMORES 
O pólipo fibroepitelial é uma lesão semelhante a um 
tumor que se apresenta macroscopicamente como 
uma pequena massa com projeção para a luz, 
frequentemente em crianças. É composto por tecido 
frouxo e vascularizado, sobreposto pelo urotélio. 
Apesar de ser mais comum nos ureteres, pode 
acometer a bexiga, pelves renais e uretra. 
LESÕES OBSTRUTIVAS 
Existe uma grande variedade de lesões que podem 
obstruir os ureteres e originar hidroureter, 
hidronefrose e, algumas vezes, pielonefrite. Sendo 
assim, esta é clinicamente significativa, pois pode, 
posteriormente, envolver o rim (hidronefrose ou 
mesmo pielonefrite), comprometendo a função renal. 
A obstrução unilateral tipicamente resulta de causas 
proximais, enquanto a obstrução bilateral resulta de 
causas distais, como a hiperplasia nodular da próstata. 
 
FIBROSE 
RETROPERITONEAL ESCLEROSANTE 
É uma causa incomum de estreitamente ou obstrução 
uretral, que é caracterizada por um processo 
inflamatório proliferativo fibroso que envolve as 
estruturas retroperitoneais e causa hidronefrose. 
O distúrbio ocorre na meia-idade até o final da vida, 
sendo mais comum em mulheres. 
• Uma parte está associado a doenças relacionadas à 
IgG4, associada com níveis séricos elevados de 
IgG4 e lesões fibroinflamatórias ricas em 
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plasmócitos secretores de IgG4. Além do 
retroperitônio, essa doença frequentemente 
envolve outros tecidos, em especial órgãos 
exócrinos (ex.: pâncreas e as glândulas salivares). 
• Outra parte está associada a exposição de 
medicamentos (derivados do ergot e bloqueadores 
beta-adrenérgicos), condições inflamatórias 
adjacentes (vasculite, diverticulite e doença de 
Crohn) ou doenças malignas (linfomas e 
carcinomas do trato urinário). 
• No entanto, a grande maioria, não apresente uma 
causa obvia e é considerada primária ou idiopática 
(doença de Ormond). 
EXAME MISCROSCÓPICO 
Revela, tipicamente, tecido fibroso contendo um 
infiltrado proeminente de linfócitos, frequentemente 
com centros germinativos, plasmócitos 
(frequentemente IgG4-positivos) e eosinófilos. 
TRATAMENTO 
Inicialmente, envolve corticoides, embora muitos 
pacientes tornem-se resistentes e necessite de stents 
ou liberação cirúrgica dos ureteres do tecido fibroso 
circundante (ureterólise). 
Bexiga Urinária 
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS 
REFLUXO VESICOURETRAL 
É a anomalia congênita mais comum e séria, uma vez 
que é contribuinte para infecção e cicatrização renal 
na pielonefrite. 
São conexões anormais entre a bexiga e vagina, reto 
ou útero, podendo criar fístulas vesicouterinas 
congênitas. 
 
DIVERTÍCULOS 
São evaginações saculiformes da bexiga que podem 
variar de menos de 1 cm até 5-10 cm de diâmetro, 
podendo ser congênitos ou adquiridos. 
Divertículos Congênitos: Podem ser decorrentes de 
uma falha focal do desenvolvimento da musculatura 
normal ou de alguma obstrução do trato urinário 
durante o desenvolvimento fetal. 
Divertículos Adquiridos: Ocorrem devido ao 
aumento prostático (hiperplasia ou neoplasia), 
produzindo obstrução do fluxo urinário e acentuado 
espessamento muscular da parede vesical. Assim, a 
pressão intravesical elevada causa protrusão da parede 
vesical e formação de divertículos. Frequentemente 
são múltiplos e possuem colos estreitos localizados 
entre os feixes musculares hipertrofiados 
entrelaçados. 
Embora os divertículos sejam, na maioria das vezes, 
pequenos e assintomáticos, eles podem ser 
clinicamente significativos, uma vez que constituem 
locais de estase urinaria e predispõem a infecção e 
formação de cálculos vesicais. Ainda, podem predispor 
ao refluxo vesicouretral como resultado de uma 
interferência com o ureter. Raramente, um carcinoma 
pode surgir em um divertículo da bexiga. 
EXTROFIA DA BEXIGA 
É uma falha do desenvolvimento da parede anterior do 
abdome e da bexiga, de modo que a bexiga se 
comunica por um grande defeito com a superfície do 
corpo ou está situada como um saco aberto. 
A mucosa vesical exposta pode sofrer metaplasia 
glandular colônica e está sujeita a infecções que 
frequentemente se disseminam para os níveis 
superiores do sistema urinários 
Os indivíduos apresentam maior risco de 
adenocarcinoma originado na bexiga remanescente. 
Obs.: Essas lesões são passíveis de correção cirúrgica 
e a sobrevida em longo prazo é possível. 
 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
ANOMALIAS DO ÚRACO 
O úraco (canal que liga a bexiga fetal ao alantoide) é 
normalmente obliterado após o nascimento, mas, às 
vezes, pode permanecer parcial ou totalmentepatente. 
Úraco Parcial: Apenas a região central do úraco 
persiste, originando cistos uracais revestidos por 
urotélio ou por epitélio glandular metaplásico. 
Carcinomas, principalmente tumores glandulares, 
podem se originar nesses cistos. Eles representam 
apenas uma minoria de todos os cânceres de bexiga 
(0,1 a 0,3%), porém 20 a 40% dos adenocarcinomas da 
bexiga. 
Úraco Totalmente Patente: Um trato urinário 
fistuloso conecta a bexiga ao umbigo. 
INFLAMAÇÃO 
CISTITE AGUDA E CRÔNICA 
As mulheres possuem maior probabilidade de 
desenvolver cistite visto que suas uretras mais curtas. 
Agentes Etiológicos Comuns – São os coliformes; 
Escherichia coli, Ptoteus, Klebsiella e Enterobacter. 
Causas Menos Comuns – Tuberculose; Candida 
albicans; criptocócicos; esquistossomose (Schistosoma 
haematobium); vírus (adenovírus); clamídia; 
micoplasma; radiação. 
Fatores Predisponentes – Cálculos vesicais; obstrução 
urinária; diabetes melito; instrumentação; deficiência 
imunológica. 
Obs.: A pielonefrite bacteriana frequentemente é 
precedida por infecção da bexiga urinaria, com 
disseminação retrógrada de microrganismos para os 
rins e seus sistemas coletores. 
MORFOLOGIA 
A maioria dos casos gera uma forma de uma 
inflamação aguda ou crônica inespecífica da bexiga. 
Cistite Aguda: Ocorre hiperemia da mucosa e 
infiltrado neutrofílico, algumas vezes associados a 
exsudatos. 
Cistite Hemorrágica: Ocorre em pacientes que 
tomam medicamentos antitumorais citotóxicos (ex.: 
ciclofosfamida) ou infecção por adenovírus. 
Cistite Crônica: Ocorre devido à persistência da 
infecção bacteriana associada com infiltrados 
inflamatórios mononucleares. 
Cistite Folicular: É caracterizada pela presença de 
folículos linfoides na mucosa da bexiga e na parede 
subjacente; (forma crônica). 
Cistite Eosinofílica: Manifestada pela infiltração de 
eosinófilos submucosos, tipicamente é uma inflamação 
subaguda inespecífica, mas também pode ser uma 
manifestação de um distúrbio alérgico sistêmico; 
(forma crônica). 
QUADRO CLÍNICO 
Todas as formas de cistite são caracterizadas por uma 
tríade de sintomas: 
• Frequência Urinária – que em casos agudos pode 
exigir micção a cada 15 a 20 minutos; 
• Dor Abdominal Baixa – localizada na região da 
bexiga ou na suprapúbica; 
• Disúria – dor ou queimação ao urinar. 
Os sintomas locais de cistite podem ser perturbados, 
mas essas infecções também são precursoras de uma 
pielonefrite. Ainda, algumas vezes, é uma complicação 
secundária a algum distúrbio associado com a estase 
urinária, como aumento prostático, cistocele da 
bexiga, cálculo ou tumores à essas doenças devem 
ser tratadas antes que a cistite possa ser aliviada. 
FORMAS ESPECIAIS DE CISTITE 
1) CISTITE INTERSTICIAL (Síndrome da 
Dor Pélvica Crônica) 
Trata-se de uma forma de cistite crônica, que ocorre 
mais frequentemente em mulheres e é caracterizada 
clinicamente por dor suprapúbica intermitente, 
geralmente intensa, frequência urinária, urgência, 
hematúria e disúria, e achados citoscópicos de fissuras 
e hemorragias puntiformes (glomerulações) na mucosa 
da bexiga após distensão luminal. 
A etiologia é desconhecida, sua avaliação e diagnóstico 
permanecem controversos, e seu tratamento é 
empírico (uso inicial de antimicrobianos baseado nos 
agentes mais prováveis da infecção). Tardiamente, no 
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curso da doença, pode aparecer fibrose transmural, 
levando a uma bexiga contraída. 
• Alguns casos estão associados com úlceras 
mucosas crônicas – Úlceras de Hunner; sendo esta 
chamada de fase tardia. Este é característico por 
um número aumentado de mastócitos na mucosa. 
Os achados patológicos são inespecíficos e o principal 
papel da biopsia é descartar o carcinoma in situ, o que 
pode mimetizar clinicamente a cistite intersticial. 
2) MALACOPLAQUIA 
Trata-se de uma reação inflamatória crônica distinta 
que parece resultar de defeitos adquiridos na função 
dos fagócitos, surgindo no contexto da infecção 
bacteriana crônica, principalmente, por E. coli ou 
ocasionalmente por espécies de Proteus. Ocorre com 
maior frequência em receptores de transplantes 
imunossuprimidos. 
MORFOLOGIA 
Na bexiga, a malacoplaquia toma forma de placas 
mucosas ligeiramente elevadas, amareladas e moles, 
com 3 a 4 cm de diâmetro, que são preenchidas por 
grandes macrófagos esponjosos, misturados com 
células gigantes multinucleadas e linfócitos. 
Os macrófagos possuem um citoplasma granular 
abundante devido a fagossomos preenchidos com 
resíduos membranosos e particulados de origem 
bacterina. Além disso, concreções mineralizadas, 
laminadas, resultantes do depósito de cálcio em 
lisossomos aumentados – Corpos de Michaelis-
Gutmann – tipicamente estão presentes no interior 
dos macrófagos. 
3) CISTITE POLIPOIDE 
É uma condição inflamatória resultante da irritação da 
mucosa da bexiga. Embora os cateteres de demora 
sejam os causadores mais comumente 
responsabilizados, qualquer agente lesivo pode 
originar essa lesão. 
O urotélio é projetado em estruturas polipoides 
bulbosas largas como resultado de um acentuado 
edema da submucosa. 
Obs.: Pode ser confundida com o carcinoma urotelial 
papilar tanto na clínica quanto histologicamente. 
 
LESÕES METAPLÁSICAS 
CISTITE GLANDULAR E CISTITE CÍSTICA 
São lesões comuns, na qual ninhos de urotélio (ninhos 
de Brunn) crescem para baixo, dentro da lâmina 
própria. 
Cistite Glandular: As células epiteliais no centro do 
ninho sofrem metaplasia e assumem um aparência 
cuboide ou colunar. 
Cistite Cística: As células epiteliais no centro do ninho 
se retraem para produzir espaços císticos revestidos 
por urotélio achatado. 
Cistite Cística e Glandular: Ocorre quando os dois 
processos coexistem. 
Obs.: Uma variação da cistite glandular, células 
caliciformes estão presentes e o epitélio lembra a 
mucosa intestinal (metaplasia intestinal ou colônica). 
METAPLASIA ESCAMOSA 
Como resposta a uma lesão, o urotélio 
frequentemente é substituído por um epitélio 
escamoso não queratinizante, que constitui um 
revestimento mais resistente. 
ADENOMA NEFROGÊNICO 
Trata-se de uma lesão incomum que resulta de uma 
cobertura de células tubulares renais em locais de 
urotélio lesionado. 
O urotélio de revestimento pode ser focalmente 
substituído por epitélio cuboide, que pode assumir um 
padrão de crescimento papilar. Além disso, a 
proliferação tubular pode infiltrar a lâmina própria 
subjacente e o músculo detrusor superficial, 
mimetizando um processo maligno. 
NEOPLASIAS 
O câncer de bexiga representa aproximadamente 7% 
dos cânceres e 3% da mortalidade por câncer (EUA). 
Cerca de 95% dos tumores vesicais possuem origem 
epitelial, enquanto 5% possuem origem mesenquimal. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
 
 
TUMORES UROTELIAIS 
A maioria dos tumores uroteliais é do tipo urotelial 
(células transicionais). Representam aproximadamente 
90% de todos os tumores da bexiga e envolve uma 
gama de lesões, desde pequenas lesões benignas até 
cânceres agressivos. Muitos são multifocais. 
Existem duas lesões precursoras distintas do 
carcinoma urotelial invasivo: (I) tumores papilares não 
invasivos; e (II) carcinoma urotelial não invasivo plano. 
• Tumores Papilares Não Invasivo: É a lesão 
precursora mais comum, sendo originados da 
hiperplasia urotelial papilar. Esses possuem uma 
variedade de alterações atípicas e são classificados 
de acordo com seu comportamento biológico. 
• Carcinoma Urotelial Não Invasivo Plano: É referido 
como carcinoma in situ ou CIS (termo histológico 
para descrever lesões epiteliais que apresentam 
alterações citológicas de malignidade, mas que 
estão confinadas ao epitélio, não apresentando 
evidências de invasão da membrana basal). São 
consideradas de alto grau. 
Em cerca de metade dos indivíduos com câncer de 
bexiga invasivo, o tumor já invadiu a parede da bexiga 
no momento da apresentação e as lesões precursoras 
não podem ser detectadas. Assim, acredita-seque a 
lesão precursora foi destruída pelo componente 
invasivo de alto grau, que tipicamente aparece como 
uma massa grande, frequentemente ulcerada. 
Embora a invasão da lâmina própria agrave o 
prognóstico, a maior diminuição da sobrevida está 
associada à invasão muscular própria (músculo 
detrusor). Então, quando esta ocorre, existe uma taxa 
de mortalidade em 5 anos de 30%. 
 
SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO 
 
A classificação de 1973 da Organização Mundial de 
Saúde (OMS) gradua os tumores em um raro papiloma 
totalmente benigno e três graus de carcinoma de 
células de transição (graus 1, 2 e 3). 
Já, a classificação mais recente, em 1998, baseada em 
um consenso atingido na conferência da International 
Society of Urological Pathology (ISUP), e adotada pela 
OMS em 2004, reconhece um raro papiloma benigno, 
um grupo de neoplasias uroteliais papilares de baixo 
potencial maligno e dois graus de carcinoma (baixo e 
alto grau). 
EPIDEMILOGIA E PATOGENIA 
A incidência do carcinoma de bexiga é maior em 
homens, em países desenvolvidos e em áreas urbanas. 
A relacao do sexo masculino para o feminino 
corresponde a aproximadamente 3:1. Cerca de 80% 
dos pacientes estão entre 50 e 80 anos e, com raras 
exceções, não é familiar. 
Fatores Contribuintes para o Carcinoma Urotelial: 
• Tabagismo 
• Exposição industrial a arilaminas 
• Infecções por Schitosoma haematobium 
• Uso de analgésicos em longo prazo 
• Irradiação 
Alterações Genéticas Adquiridas: 
1) Fortemente Associadas com a Histopatologia do Tumor 
• Mutações de ganho de função em FGFR3 – São 
predominantemente encontradas em carcinomas 
papilares não invasivos de baixo grau e resultam na 
ativação constitutiva do receptor tirosina-cinase 
FGFR3; 
• Mutações de perda de função nos genes 
supressores de tumores TP53 e RB – São quase 
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sempre vistas em tumores de alto grau e, 
frequentemente, invasivos da camada muscular. 
 
2) Não Fortemente Associadas com a Histopatologia do 
Tumor 
• Mutações de ativação do oncogene HRAS – São 
frequentemente encontradas, particularmente em 
baixo grau, em tumores não invasivos. 
Ainda, ocorrendo em 30 a 60% dos tumores, as perdas 
de material genético no cromossomo 9 (incluindo 
monossomias ou deleções de 9p e 9q). Essas 
anormalidades são frequentemente as únicas 
alterações cromossômicas presentes nos tumores 
papilares não invasivos e ocasionalmente em tumores 
planos não invasivos. 
MORFOLOGIA 
O aspecto dos tumores uroteliais varia de puramente 
papila a nodular ou plano. A maioria surge nas paredes 
lateral ou posterior na base da bexiga. 
 
 
As lesões papilares são excrescências vermelhas 
elevadas, variando em tamanho menor que 1 cm de 
diâmetro a massas grandes de até 5 cm de diâmetro. 
Tumores múltiplos bem individualizados são 
frequentes. Em geral, a maioria dos tumores papilares 
tem baixo grau. 
 
1) PAPILOMAS 
Representam 1% ou menos dos tumores vesicais e, 
geralmente, são observados em pacientes mais jovens. 
Papilomas Exofíticos: Tipicamente, surgem de 
maneira isolada como estruturas pequenas (0,5 a 2,0 
cm), delicadas e fixadas superficialmente à mucosa por 
um pedículo. As papilas digitiformes individuais 
possuem um núcleo central de tecido fibrovascular 
frouxo coberto por um epitélio que é 
histologicamente idêntico ao urotélio normal. 
Recorrências e progressões são raras. 
Papilomas Invertidos: São lesões benignas que 
consistem em cordões interanastomosantes de 
urotélio sem atipias citológicas, que se invaginam para 
dentro da lâmina própria. 
2) NEOPLASIAS UROTELIAIS 
PAPILARES DE BAIXO POTENCIAL 
MALIGNO 
Compartilha muitos aspectos histológicos com o 
papiloma, sendo que as únicas diferenças consistem no 
urotélio mais espesso. Pode recorrer, tendo mesma 
morfologia e, raramente, pode progredir para tumores 
de graus maiores. Na citoscopia, esses tumores 
tendem a ser maiores que os papilomas e podem ser 
indistinguíveis dos carcinomas papilares de baixo e alto 
grau. 
3) CARCINOMAS UROTELIAIS 
PAPILARES DE BAIXO GRAU 
Possuem um aspecto arquitetural e citológico bem 
ordenado. As células são espaçadas de modo 
homogêneo e coeso. Existe um leve grau de atipia 
nuclear, consistindo em núcleos hipercromáticos 
dispersos, raras figuras mitóticas predominantemente 
na direção da base, e leve variação no tamanho e forma 
dos núcleos. Podem recorrer e, mesmo que não seja 
frequente, podem invadir. Além disso, raramente 
representam uma ameaça à vida do paciente. 
 
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4) CARCINOMAS UROTELIAIS 
PAPILARES DE ALTO GRAU 
Arquiteturalmente ocorre desorganização e perda de 
polaridade. Contêm células pouco coesas, com 
grandes núcleos hipercromáticos. Alguma células são 
altamente anaplásicas. Figuras de mitose, incluindo 
algumas atípicas, são frequentes. 
Em relação com as lesões de baixo grau, esses tumores 
apresentam uma incidência muito maior de invasão 
para a camada muscular, maior risco de progressão e, 
quando associados à invasão, um potencial metastático 
significativo. 
 
5) CARCINOMA IN SITU (CIS) OU 
CARCINOMA UROTELIAL PLANO 
É definido pela presença de células citologicamente 
malignas dentro de um epitélio plano. Pode variar 
desde um quadro de atipia citológica em toda a 
espessura até um quadro de células malignas dispersas 
em meio a um urotélio de outro modo normal 
(disseminação pagetoide). 
Possui perda de coesão, que provoca a descamação de 
células malignas para a urina. Quando essa é extensa, 
apenas algumas células do CIS ficam presas a uma 
membrana basal em grande parte desnudada. 
Geralmente, aparece como um vermelhidão, 
granularidade ou espessamento da mucosa, sem 
produzir uma massa intraluminal evidente. 
Comumente é multifocal e pode envolver a maior 
parte da superfície vesical e se estender para os 
ureteres e uretra. Se não tratados, 50 a 75% dos casos 
progridem para um câncer invasivo. 
 
6) CARCINOMA UROTELIAL INVASIVO 
Pode estar associado ao carcinoma urotelial papilar de 
alto grau ou CIS adjacente. 
A extensão da invasão para a muscular da mucosa tem 
importância prognóstica e o subestadiamento na 
biópsia é um problema significativo. A extensão da 
disseminação (estadiamento) no momento do 
diagnóstico inicial é o fator mais importante para 
determinar o prognóstico de um paciente. 
 
 
Obs.: Menos de 10% dos carcinomas de baixo grau 
invadem, porém até 80% dos carcinomas uroteliais de 
alto grau são invasivos. Os tumores agressivos podem 
se estender para a parede da bexiga, e, em estágios 
mais avançados, invadir a próstata adjacente, as 
vesículas seminais, os ureteres e retroperitônio. Ainda, 
alguns produzem comunicações fistulosas com a vagina 
ou reto. Aproximadamente 40% desses tumores 
profundamente invasivos metastatizam para os 
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linfonodos regionais. Pode ocorrer hematogênica, 
principalmente para o fígado, pulmões e medula óssea. 
OUTROS TIPOS DE TUMORES EPITELIAIS 
1) CARCINOMAS ESCAMOSOS 
São mais frequentes em países em que a 
esquistossomose urinaria é endêmica. 
Carcinomas Escamosos Puros: Estão quase sempre 
associados à irritação crônica e à infecção da bexiga. 
Carcinomas Uroteliais Mistos com Áreas de 
Carcinoma Escamoso: São mais frequentes, sendo 
que a maioria consiste em tumores vegetantes, 
invasivos e ulcerados. O nível de variação celular varia 
amplamente, de lesões altamente diferenciadas 
produzindo queratina abundante a tumores 
anaplásicos apenas com evidência focal de 
diferenciação escamosa. 
2) ADENOCARCINOMAS 
São raros e histologicamente idênticos aos 
adenoacarcinomas observados no TGI. Alguns são 
originados dos remanescentes uracais ou estão 
associados à metaplasia intestinal extensa. 
3) CARCINOMAS DE CÉLULAS 
PEQUENAS 
São indistinguíveis dos carcinomas de pequenas células 
do pulmão. Surgem na bexiga frequentemente 
associados ao carcinoma urotelial, escamoso ou 
adenocarcinoma. 
TUMORES MESENQUIMAIS 
1) TUMORESBENIGNOS 
Existe uma grande variedade de tumores 
mesenquimais benignos que pode surgir na bexiga. 
De maneira geral, são raros, sendo que o mais comum 
é o leiomioma. 
Todos tendem a crescer como massas isoladas, 
intramurais, encapsulas, ovais e esféricas, variando em 
diâmetro até vários centímetros. 
2) SARCOMAS 
Os sarcomas verdadeiros são raros na bexiga. 
O mais comum na infância é o rabdomiossarcoma 
embrionário – sendo que alguns de manifestam como 
uma massa polipoide semelhante a um cacho de uva 
(sarcoma botrioide) – enquanto, em adultos, o mais 
comum é o leiomiossarcoma. 
Tendem a produzir massas grandes (variando até 10 a 
15 cm de diâmetro) que sofrem protrusão para a luz 
vesical. Tem aspecto macroscópico branco-
acinzentado, carnoso e macio. 
TUMORES SECUNDÁRIOS 
O envolvimento maligno secundário da bexiga ocorre 
mais frequentemente por extensão direta de lesões 
primárias de órgãos próximos: colo uterino, útero, 
próstata e reto. 
Os linfomas podem envolver a bexiga como 
componente de doença sistêmica, mas também, 
raramente, como linfoma vesical primário. 
Curso Clínico do Câncer da Bexiga 
Os tumores da bexiga classicamente produzem 
hematúria indolor. Essa é sua manifestação clínica 
dominante e algumas vezes a única. Frequência, 
urgência e disúria ocasionalmente acompanham a 
hematúria. Quando o orifício ureteral está 
envolvido, pielonefrite ou hidronefrose podem 
ocorrer. 
Aproximadamente 60% das neoplasias, quando 
descobertas, são únicas, e 70% estão localizadas na 
bexiga. 
O risco de recorrência e progressão está 
relacionado a diversas variáveis, incluindo tamanho 
do tumor, estágio, grau, multifocalidade, taxa de 
recorrência prévia e displasia e/ou CIS associados 
na mucosa circundante. 
O prognóstico depende do grau histológico e do 
estágio no diagnóstico. 
O desafio clínico nessas neoplasias é a detecção 
precoce e o acompanhamento adequado. 
OBSTRUÇÃO 
Possui grande importância clínica devido ao seu 
eventual efeito sobre os rins. Ocorre mais em homens 
do que em mulheres. A causa mais comum, em 
homens, é o aumento da glândula prostática devido à 
hiperplasia nodular; enquanto, nas mulheres, é 
cistocele da bexiga. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
 
Causas Pouco Frequentes: (1) estenoses uretrais 
congênitas; (2) estenoses uretrais inflamatórias; (3) 
fibrose inflamatória e contração da bexiga; (4) tumores 
vesicais, tanto benignos quanto malignos; (5) invasão 
do colo da bexiga por tumores originados em órgãos 
contíguos; (6) obstruções mecânicas causadas por 
corpos estranhos e cálculos; e (7) lesão da inervação 
que controla a contração da bexiga (bexiga 
neurogênica). 
MORFOLOGIA 
Nos estágios iniciais, ocorre somente espessamento 
da parede de bexiga devido à hipertrofia da 
musculatura lisa. Com a hipertrofia progressiva, os 
feixes musculares individualmente aumentam 
grandemente e produzem trabeculação da parede da 
bexiga. Ao longo do tempo, são formadas criptas que 
podem ser convertidas em divertículos. 
Em alguns casos de obstrução aguda ou em doença 
terminal, a bexiga pode ficar extremamente dilatada, 
podendo atingir a margem da pelve ou até mesmo o 
nível do umbigo. Nesses casos a parede da bexiga está 
acentuadamente adelgaçada, sem trabeculações. 
Uretra 
INFLAMAÇÃO 
A uretrite é dividida em causas gonocócicas e não 
gonocócicas. 
Uretrite Gonocócica: Trata-se de uma das 
manifestação mais precoces dessa infecção venérea. 
Uretrite Não Gonocócica: É comum e pode ser 
causada por vários organismos diferentes; 
• Cepas de Chlamydia (C. trachomatis) 
• Mycoplasma (Ureaplasma urealyticum) 
Uretrite Inflamatória: É de origem verdadeiramente 
não infecciosa. Um exemplo é a artrite reativa, que 
está associada com a tríade clínica de artrite, 
conjuntivite e uretrite. 
É acompanhada frequentemente por cistite (mulheres) 
e prostatite (homens). 
As alterações morfológicas são muito típicas de 
inflamação em outros locais do trato urinário. Além 
disso, o envolvimento uretral não constitui por si só 
um problema clínico sério, mas pode causar 
considerável dor local, prurido e frequência, podendo 
alertar para uma doença mais séria em níveis mais altos 
do trato urogenital. 
TUMORES 
TUMORES EPITELIAIS BENIGNOS 
Incluem papilomas escamosos e uroteliais, papilomas 
uroteliais invertidos e condilomas. 
CARCINOMA PRIMÁRIO 
Trata-se de uma lesão rara. 
Tumores originados na uretra proximal tendem a 
exibir diferenciação urotelial e são análogos àqueles 
que ocorrem na bexiga, enquanto as lesões 
encontradas na uretra distal mais tipicamente 
consistem em carcinomas escamosos. 
ADENOCARCINOMA 
São pouco frequentes na uretra e geralmente ocorrem 
em mulheres. 
Obs.: Algumas lesões neoplásicas da uretra são 
semelhantes às descritas na bexiga, originadas por 
metaplasia ou, menos comumente, a partir das 
glândulas periuretrais. 
LESÕES 
SEMELHANTES A TUMORES 
A carúncula uretral é uma lesão inflamatória que 
apresenta uma pequena massa vermelha e dolorosa ao 
redor do meato uretral externo, tipicamente em 
mulheres mais velhas. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
Consiste em tecido de granulação inflamado recoberto 
por uma mucosa intacta, mas extremamente friável, 
que pode ulcerar e sangrar com o menor trauma. 
A excisão cirúrgica permite alívio imediato e cura.

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