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Emergências Tireoidianas
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Página 1 de 5 CRISE TIREOTÓXICA O termo tireotoxicose refere-se às manifestações bioquímicas e fisiológicas de quantidade excessiva de hormônios tireoidianos, enquanto o termo hipertireoidismo significa especificamente aumento da síntese e da secreção de hormônios da tireoide. Os dois principais hormônios sintetizados e liberados pela tireoide são tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3). O T4 é um pró-hormônio e está presente em concentrações mais elevadas do que o T3, já o T3 é o hormônio biologicamente ativo por meio da interação com receptores específicos. A crise tireotóxica (ou tempestade tireotóxica) corresponde a uma situação de exacerbação súbita das manifestações clínicas do hipertireoidismo, com descompensação de múltiplos sistemas e risco de morte. etiologia e fisiopatologia A maioria dos pacientes que desenvolvem crise tireotóxica apresenta história prévia de hipertireoidismo, tratado ou não. A doença de Graves é a etiologia do hipertireoidismo na maioria dos casos de crise tireotóxica, mas qualquer causa de hipertireoidismo pode evoluir para tempestade tireotóxica. Atualmente, a principal condição precipitante de crise tireotóxica são as infecções, seguidas por trauma, procedimentos cirúrgicos, toxemia gravídica, parto, irradiação da tireoide com tireoidite secundária, eventos cardiovasculares ou cerebrovasculares, aumento de oferta de iodo para a glândula, uso de radiocontrastes ionizados e amiodarona e retirada abrupta de drogas para o controle da doença. → condições agudas como infecções, procedimentos cirúrgicos e acidose, podem diminuir a afinidade das proteínas pelos hormônios tireoidianos, possibilitando uma maior fração de hormônio livre no sangue – fração com atividade biológica Atenção! Apesar dos níveis de T4 e T3 serem usualmente maiores na crise tireotóxica do que na tireotoxicose não complicada, esses níveis não permitem a diferenciação entre essas duas condições. AMIODARONA: A amiodarona pode induzir a tireotoxicose por duas formas: Tipo 1: ocorre em paciente com patologia tireoidiana prévia (doença de Graves ou bócio multinodular tóxico) e é devido à sobrecarga de iodo oferecida à glândula. Tipo 2: ocorre uma tireoidite destrutiva da glândula com liberação de hormônios tireoidianos para circulação sistêmica. achados clínicos São de aparecimento abrupto, envolvendo múltiplos órgãos e sistemas, principalmente cardiovascular e nervoso simpático. Nessa situação, os pacientes se apresentam com síndrome de hipermetabolismo, manifestando: • febre: quase invariavelmente presente na apresentação, com temperatura média de 39,3°C. Sudorese costuma ser profusa, e os pacientes podem apresentar disfunção renal por desidratação. • sintomas cardiovasculares: taquicardia sinusal e arritmias cardíacas, assim como congestão pulmonar com evolução para edema agudo de pulmão. • sintomas do trato gastrointestinal: náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia. Alguns pacientes apresentam icterícia, sendo esse sinal de prognóstico ruim. • sistema nervoso central: ocorre em casos mais graves, com manifestações variadas como agitação, labilidade emocional, confusão mental e delirium, este último caracterizando o que é denominado encefalopatia tireotóxica. Alguns pacientes, durante a evolução, podem entrar em coma. Tremores e incapacidade de permanecer parado são outros sintomas característicos. Atenção! Pistas diagnósticas: (1) febre desproporcional a um quadro infeccioso, (2) frequência cardíaca inapropriadamente elevada, (3) história prévia de hipertireoidismo, bócio e exoftalmo. diagnóstico O diagnóstico é clínico, e baseado nessas quatro manifestações principais: exacerbação dos sintomas usuais de hipertireoidismo, hiperpirexia, aumento da frequência cardíaca (geralmente superior a 140 bpm) e alteração do estado mental. Observação! Pacientes idosos podem apresentar-se com quadro de apatia, perda de peso, bócio pequeno, fibrilação atrial, eventualmente confusão, sem manifestar agitação e febre alta (tireotoxicose apática). CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DE BURSCH E WAEKOFSKUY: URGÊNCIA E EMERGÊNCIA emergências tireoidianas data: 18 / 08 / 21 Página 2 de 5 EXAMES COMPLEMENTARES: O diagnóstico de crise tireotóxica é clínico, e os exames complementares ajudam na avaliação de complicações e diagnósticos diferenciais. Devem ser colhidos culturas, exames de imagem e exames de bioquímica sérica. Os achados laboratoriais mais comuns consistem em: • TSH indetectável • T3 e T4 livres aumentados • cálcio e fosfatase alcalina podem estar aumentados • hiperglicemia • leucocitose DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: O diagnóstico diferencial da crise tireotóxica deve ser feito com situações de hiperatividade adrenérgica, sepse ou hipertermia. • hipoglicemia • hipóxia • sepse • meningites / encefalites • encefalopatia hipertensiva • síndrome de abstinência alcoólica • síndrome de abstinência de benzodiazepínicos • síndrome de abstinência de opioides • heart stroke • feocromocitoma • síndrome serotoninérgica • intoxicações por cocaína ou catecolaminérgicos • hipertermia maligna • síndrome neuroléptica maligna tratamento O tratamento do paciente com tempestade tireoidiana deve ser feito em ambiente de UTI e deve ser focado em quatro ações principais: 1. controle da produção de hormônios pela glândula tireoide 2. bloqueio dos efeitos hormonais periféricos 3. suporte clínico 4. tratamento da causa precipitante CONTROLE DA PRODUÇÃO HORMONAL: As medicações antitireoidianas bloqueiam a organificação do iodo e a produção hormonal. Apesar de essas medicações diminuírem a formação de hormônio tireoidiano, não impedirão a secreção de hormônio tireoidiano pré-formado. O propiltiouracil é considerado por boa parte dos autores como primeira escolha, devido ao fato de que essa medicação, em comparação com o metimazol, apresenta a vantagem adicional de inibir a conversão periférica de T4 em T3 quando em doses maiores que 400 mg ao dia, conseguindo diminuir com maior velocidade os níveis séricos de T3. Essas medicações podem ser usadas por via oral ou via sonda nasogástrica e retal no paciente com diminuição do nível de consciência. • propiltiouracil (PTU): dose de ataque de 600 a 1.000 mg, posteriormente dose de 200-300 mg a cada 4 a 6 horas (1.200 a 1.500 mg ao dia) • metimazol: dose inicial de 20 mg a cada 4 a 8 horas (60 a 120 mg ao dia) Efeitos colaterais: agranulocitose (raro) utilizado para diminuir a secreção de hormônio tireoidiano pré-formado. Essas soluções apresentam vários mecanismos de ação, entre eles inibir a captura de T4 pelo fígado, inibir a conversão de T4 em T3, bloquear a liberação de hormônio pela glândula, diminuir a porcentagem livre de T4 e T3 e bloquear a ligação de T4 e T3 com receptores celulares. • lugol / iodeto de potássio: 4 – 8 gotas em 6 – 8 horas • ácido iopanoico (telepaque): agente de contraste e agente iodado de escolha. A dose usual para o tratamento é de 1 g a cada 8/8 horas no primeiro dia de tratamento, posteriormente usando dose de 500 mg a cada 12 horas Atenção! É importante que os agentes iodados sejam utilizados pelo menos 1 hora e idealmente de 2 a 3 horas após o uso de drogas antitireoidianas, pois o excesso de iodo oferecido para a glândula pode levar a piora da tireotoxicose. O carbonato de lítio representa uma alternativa como agente para inibir a liberação hormonal, principalmente em pacientes com alergia ao iodo. A dose inicial é de 300 mg a cada 6 horas. BLOQUEIO DOS EFEITOS HORMONAIS PERIFÉRICOS: O bloqueio beta-adrenérgico ajuda no controle de sudorese, ansiedade, taquicardia, arritmias, pressão arterial e tremor. O medicamento de escolha é o propranolol – que pode inibir a conversão periférica de T4 para T3, apesar desse efeito ser lento, geralmente em uma semana. Outras opções incluem