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Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 1 Choque na cirurgia Definição É o estado de hipoperfusão tecidual e hipó- xia celular, decorrente do desbalanço entre a oferta e o consumo de oxigênio. Em outras palavras, trata-se de uma signifi- cativa redução da quantidade de oxigênio consumido pelos tecidos, causada por queda do fluxo sanguíneo e/ou bloqueios metabólitos intracelulares. Nesse contexto, o sistema circulatório é in- capaz de fornecer oxigênio e nutrientes aos tecidos de forma suficiente. Choque não é sinônimo de hipotensão arterial! Nem todo paciente chocado encon- tra-se hipotenso. Tipos de choque: Hipovolêmico – ocorre perda de sangue ou de líquidos corporais (desidratação). Isso não significa que, obrigatoriamente, ha- verá hipotensão, pois podem ter catecola- minas sendo liberadas. Obstrutivo extra-cardíaco – acúmulo de sangue no pericárdio, dificultando o pro- cesso de expansão cardíaca dentro deste saco. Séptico – condição causada por uma septi- cemia, ou seja, condição elevada de bacté- rias no sangue. Cardiogênico – decorrente de uma grave redução da função cardíaca. Fisiopatologia Em todos os tipos de choque, tem-se uma perfusão tecidual inadequada, responsável por desencadear: quebra homeostática, oferta reduzida de oxigênio, mecanismo anaeróbico, hipofunção celular, acidose citoplasmática e lise celular. Tecidos perfundidos inadequadamente acabam sofrendo um desequilíbrio entre oferta de oxigênio (DO2) e o consumo de oxigênio (VO2). No choque, um desses fatores está aumentado e o outro está reduzido. A relação entre DO2 e VO2 é dada pela fórmula de extração de O2 (ExO2): ExO2 = DO2 x VO2 A oferta de oxigênio depende dos níveis de hemoglobina (mínimo 10mg/dl), débito car- díaco e saturação de oxigênio. O consumo de oxigênio é proporcional ao débito cardí- aco, à concentração de oxigênios no sistema arteriovenoso multiplicado por 10. A extra- ção de oxigênio fornece o balanço entre es- ses dois fatores. Microcirculação É onde ocorre o principal defeito no choque. Nas arteríolas, existem receptores α e β adrenérgicos nas arteríolas; nas veias, ape- nas receptores α; nos vasos anastomóticos (shunts) arteriovenosos, apenas receptores β. Os receptores α são vasoconstritores e res- pondem bem à noradrenalina. Os recepto- res β são vasodilatadores e respondem bem à adrenalina. Quando há descarga de catecolaminas, a re- percussão sobre a microcirculação se dá onde existem receptores adrenérgicos isola- dos – as arteríolas não influenciam no cali- bre da microcirculação, uma vez que pos- suem receptores α e β. Havendo liberação adrenérgica, a vasoconstrição das vênulas e a vasodilatação dos shunts provocam uma modificação das resistências. Dessa forma, o sangue se desvia dos capilares, passando das arteríolas diretamente para as vênulas, atra- vés dos shunts, sem perfundir os tecidos. Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 2 Dito isso, o choque pode ser dividido em fa- ses, de acordo com a compensação do es- tado fisiológico do paciente: 1. Fase fisiológica: normalmente, tem-se uma boa perfusão sanguínea na microcircula- ção. A pré-carga e a pós-carga do coração continuam equilibradas. 2. Fase compensada: para aumentar o débito cardíaco, aumentam-se a contratilidade do coração e a frequência cardíaca (DC= VS x FC). 3. Fase descompensada: o débito cardíaco perde a sua estabilidade, pois o coração já não consegue aumentar a sua ação sobre a pós-carga. Com isso, para um maior des- vio de sangue em direção ao cérebro, tem- se uma vasoconstrição a nível cutâneo e renal – podendo causar palidez e insufici- ência renal. 4. Fase irreversível: a bomba cardíaca entra em falência e a perfusão sanguínea atinge o seu menor nível, uma vez que a vaso- constrição se estende para todo o sistema vascular, inclusive no cérebro. Ainda que se tentem ressuscitações farmacológicas (catecolaminas exógenas), não se conse- gue elevar a FC e, com isso, evolui-se a óbito. Nessa fase ocorrem os seguintes fe- nômenos: a. Perda de tônus e dilatação do esfínc- ter pré-capilar; b. Obstruções microvasculares (pla- quetas, leucócitos e hemácias); c. Falência miocárdica com alterações na função contrátil; d. Absorção de endotoxinas bacteria- nas, a partir do intestino, causando lesões na mucosa intestinal; e. Produção de radicais livres de O2. Mecanismos compensatórios Com a queda da PA, há uma ativação do sis- tema nervoso simpático, por meio de um re- flexo autonômico mediado por barorrecep- tores, responsável por: Aumentar o retorno venoso; Aumentar a resposta adrenérgica, por meio de hormônios adrenomedulares; Fazer vasoconstrição arteriolar, aumen- tando a resistência vascular periférica e re- distribuindo os fluxos sanguíneos; Ativar o sistema RAA e o hormônio ADH, aumentando a vasoconstrição visceral e retenção de água. Ciclo vicioso do choque Na hipovolemia, ocorre uma queda do dé- bito cardíaco, o que leva a um hipofluxo de microcirculação. Com isso, o estímulo adre- nérgico na microcirculação promove um desvio circulatório para os shunts arteriove- nosos, o que reduz a perfusão tecidual. O metabolismo anaeróbico faz uma dilatação de capilares por acidose local, o que leva a uma vasodilatação e estase periférica, le- vando, novamente, a uma hipovolemia. Isso ocorre devido aos vasos estarem maiores que o volume sanguíneo corrente, o que pi- ora o choque. Fatores desencadeantes do choque Queda ou inadequação do volume sanguíneo circulante Pode ser causada por perda de líquido ou perda de sangue, como em hemorragias agudas (ex.: trauma perfurante) ou crônicas (ex.: neoplasia de colo com perda sanguínea oculta pelas fezes), perda de água e eletróli- tos (ex.: queimaduras, peritonites repetiti- vas), vasodilatação primária (ex.: toxinas e drogas) e aumento de permeabilidade capi- lar (toxinas). Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 3 Queda ou inadequação do débito cardíaco Ocorre por IAM, arritmias graves, pericar- dite constritiva (em que ocorre enrijeci- mento do pericárdio e uma maior contensão da expansão cardíaca) etc; Bloqueio do metabolismo celular aeróbico Ocorre por hipóxia, toxinas, venenos... Em geral, por alterações no equilíbrio acidobá- sico. Avaliação do padrão hemodinâmico Utiliza os seguintes dados Resistência Periférica total É a soma das resistências da microcirculação e é proporcional do diâmetro dos vasos (R), à velocidade do fluxo e ao hematócrito. Débito cardíaco Depende, diretamente, da volemia, FC e da força inotrópica do coração. É inversamente proporcional à resistência arterial periférica. RPT: resistência periférica total. Fluxo sanguíneo Corresponde à relação entre pressão (pro- porcional ao débito cardíaco) e resistência vascular. Pressão venosa central É a pressão hidrostática do interior das gran- des veias. Sua medida é muito útil para a condução terapêutica. Depende da volemia, do débito cardíaco e da resistência vascular periférica. Pressão arterial Pressão exercida nas artérias de grande cali- bre. A pressão sistólica depende do débito cardíaco e a pressão diastólica depende da resistência periférica total.
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