Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
produzida passa pela circulação. Somente então, quando o trabalho assalariado se torna sua base, a produção de mercadorias impõe-se a toda a sociedade; mas também somente então ela desenvolve todas as suas potencialidades ocultas. Dizer que a interferência do trabalho assalariado falseia a produção de mercadorias significa dizer que a produção de mercadorias, para permanecer autêntica, não deve se de- senvolver. Na mesma medida em que ela evolui, segundo suas próprias leis imanentes, até se tornar produção capitalista, as leis de proprie- dades inerentes à produção de mercadorias se convertem em leis de apropriação capitalista.439 Viu-se que mesmo na reprodução simples todo o capital adiantado, como quer que tenha sido originalmente obtido, transforma-se em ca- pital acumulado ou mais-valia capitalizada. Mas no fluxo da produção todo capital originalmente adiantado torna-se em geral uma grandeza evanescente (magnitudo evanescens, em sentido matemático) compa- rado com o capital diretamente acumulado, isto é, a mais-valia ou o mais-produto retransformado em capital, seja funcionando nas mãos de quem acumulou ou em mãos alheias. A Economia Política apresenta, por isso, o capital em geral como “riqueza acumulada” (mais-valia ou renda transformada) “que é empregada de novo para a produção de mais-valia”,440 ou também o capitalista como “possuidor do mais-pro- duto”.441 O mesmo ponto de vista aparece apenas sob outra forma na expressão de que todo capital existente é juro acumulado ou capitali- zado, pois o juro é uma simples fração da mais-valia.442 2. Concepção errônea da reprodução em escala ampliada por parte da Economia Política Antes de tratarmos de algumas determinações mais pormenori- zadas da acumulação ou da retransformação da mais-valia em capital, cumpre esclarecer uma ambigüidade criada pela Economia clássica. As mercadorias que o capitalista compra com parte da mais-valia para seu próprio consumo não lhe servem como meios de produção e valorização; do mesmo modo, o trabalho que compra para satisfazer às suas necessidades naturais e sociais não é trabalho produtivo. Em vez de transformar por meio da compra dessas mercadorias e desse MARX 221 439 Admire-se a astúcia de Proudhon, que quer eliminar a propriedade capitalista, fazendo valer em contraposição a ela as leis eternas da propriedade da produção de mercadorias. 440 "Capital é riqueza acumulada, empregada para se obter lucro." (MALTHUS. Op. cit., [p. 262].) “Capital (...) consiste em riqueza economizada da renda e utilizada para a obtenção de lucro.” (JONES, R. Textbook of Lectures on the Political Economy of Nations. Hertford, 1852. p. 16.) 441 "Os possuidores do mais-produto ou capital." (The Source and Remedy of the National Difficulties. A Letter to Lord John Russell. Londres, 1821. [p. 4.]) 442 "Capital com os juros sobre cada parte do capital poupado, apodera-se de tudo a tal ponto, que toda a riqueza do mundo da qual renda é obtida já se transformou há muito tempo em juros de capital." (Londres, Economist de 19 de julho de 1851.)
Compartilhar