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RIXA ART. 137 - PARTICIPAR DE RIXA, SALVO PARA SEPARAR OS CONTENDORES: PENA - DETENÇÃO, DE QUINZE DIAS A DOIS MESES, OU MULTA 1 INTRODUÇÃO CONCEITO: Rixa é a briga ou contenda entre TRÊS OU MAIS PESSOAS, acompanhadas de vias de fato ou violências físicas recíprocas. O legislador entende a PARTICIPAÇÃO como suficiente para se tratar de prática criminosa. Caracteriza-se pelo TUMULTO, de modo que cada sujeito age por si mesmo contra qualquer um dos contendores. Trata-se, portanto, de um crime AUTÔNOMO pois absorve o crime abstrato. OBS: Só absorve as vias de fato e a ameaça. Se houver outros delitos (lesão corporal, morte etc.) o agente responderá por eles em concurso material com a rixa. 2 OBJETIVIDADE JURÍDICA Protege a SAÚDE ou a VIDA da pessoa humana. Embora seja um crime de perigo ele também protege a pessoa humana. Isto pode ser evidenciado, por exemplo quando observamos o título ao qual o dispositivo está inserido. 3 SUJEITOS DO DELITO A rixa é um crime de perigo abstrato, plurissubjetivo (de concurso necessário). Desta premissa extrai-se que: a. Só há delito quando três ou mais pessoas se agridam reciprocamente. Portanto os rixosos SÃO AO MESMO TEMPO SUJEITOS PASSIVOS E SUJEITOS ATIVOS. b. No número mínimo exigido para a existência da rixa não importa que algum dos rixosos seja inimputável. Assim, conforme a doutrina de Heleno Fragoso nesse caso não há rixa, mas a jurisprudência majoritária entende que ainda que haja um inimputável, persistirá a tipificação do delito de rixa. c. Ainda se configura a rixa se um dos participantes não for identificado. d. Para completar o nº necessário NÃO SE LEVA EM CONTA OS INDIVÍDUOS QUE VÃO SEPARAR os contendores. 4 ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO O núcleo do tipo é o verbo PARTICIPAR, ou seja, tomar parte, contribuir. Neste sentido, para ser responsabilizado basta que o agente PARTICIPE dos fatos em qualquer momento, pouco importando que chegue depois de iniciada a contenda ou saia antes de terminada. Assim, a participação pode ser: MATERIAL: quando ocorre por meio de vias de fato ou lesões corporais. (exemplo: quando o sujeito empurra ou utiliza da violência – socos/pontapés) MORAL: neste caso não é imprescindível o corpo a corpo, o indivíduo pode participar atirando objetos. Esta participação decorre de induzimento ou instigação (jogar objetos, apagar a luz) Exemplo: O sujeito permanece fora da luta corporal, instigando os rixosos a continuar as agressões recíprocas. 5 SURGIMENTO DA RIXA A rixa pode surgir de duas formas: 1- EX IMPROVISO: A rixa surge subitamente, a luta pode surgir entre três ou mais pessoas de improviso, sem qualquer combinação, em face de uma discussão violenta. Surge de forma INESPERADA, alguns autores sustentam uma desorganização organizada - os sujeitos NÃO POSSUEM VÍTIMAS DETERMINADAS. 2- EX PROPÓSITO: Nessa hipótese a rixa é combinada por três ou mais pessoas e é PROPOSITAL. A maioria dos autores não exige o requisito da subitaneidade. Porém, para jurisprudência, essa característica é indispensável. Damásio considera irrelevante a circunstância da imprevisão do fato ou a rixa preordenada. Isto porque se no entrevero, as condutas são desordenadas, de modo que uns venham a lutar contra todos, não há como deixar de reconhecer os demais delitos. Essencial para isso, entretanto, é que cada um lute com qualquer pessoa. Sendo assim, caso seja reconhecida a existência de dois grupos antagônicos, que lutam contra si, não há rixa, mas delito de lesão corporal ou homicídio. A jurisprudência não tem identificado frequentemente esta forma de rixa (ex proposito). Os indivíduos responderão por outros crimes, podendo se falar em concurso de pessoas e divisão de tarefas. OBS: De acordo com a definição legal, não há rixa quando o sujeito intervém para separar os contendores. OBS: No crime de rixa, se houver evento MORTE, o sujeito RESPONDE PELO ATAQUE que ele causou aquela vítima, isto porque o resultado do crime de rixa é o perigo de dano que no caso, é presumido e não concreto. A simples participação produz o resultado, independentemente de qualquer consequência. 6 ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO O elemento subjetivo é o DOLO DE PERIGO, animus rixandi. O DOLO pode ser DIRETO ou EVENTUAL, mas se o animus for outro, responderá por outro delito. Neste sentido, entende-se que NÃO HÁ RIXA CULPOSA. 7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se a rixa com a PRÁTICA DE VIAS DE FATO OU VIOLÊNCIAS RECÍPROCAS, instante em que há a produção do resultado, que é o perigo abstrato de dano. Conforme a doutrina de Magalhães Noronha a rixa se consuma quando cessa a atividade dos contendores. Mas este entendimento não prospera, o crime se consuma a partir do momento em que o sujeito participa do evento, seja de forma material ou moral. Com relação a tentativa existem divergências: • As doutrinas de Damásio, Noronha e Fragoso admitem a tentativa, tendo em vista que aceitam as duas modalidades de rixa, ex propósito e ex improviso. Podendo ser a rixa preordenada poderá existir tentativa se ela não ocorrer por intervenção de terceiros. • Já Mirabete não admite a tentativa porque ele argumenta que a conduta e o evento se exaurem simultaneamente, no exemplo da preparação indica atos preparatórios ou tentativa de lesões corporais. OBS: Como a maioria da jurisprudência acha indispensável a subtaneidade para configurar o delito entende-se inadmissível a tentativa. 8 RIXA E LEGÍTIMA DEFESA Controvertida é a possibilidade da existência de legítima defesa do rixento. Aquele que participa de rixa não pode alegar legítima defesa por ela ser uma atividade criminosa. Exemplo doutrinário de Manzini e Weltzel: “durante uma rixa um dos contendores pega um revólver e tenta matar ou provocar uma lesão em outro, poderá haver reação deste e este pode alegar legítima defesa”. Nesse caso o delito de rixa já se havia consumado, e o que ocorreu é a legítima defesa em relação ao homicídio, pois o agressor responderá por rixa qualificada se sobrevier a lesão ou morte. Caberá a LEGÍTIMA DEFESA na rixa, alegada por aqueles que estão de fora, e entram apenas para defender direito seu ou de outrem, inexiste a legítima defesa dos co-rixantes. Este é o entendimento da jurisprudência: “Reconhecer o direito de legítima defesa em favor de uns, para absolvê-los, condenando-se somente alguns dos participantes, é desfigurar a feição jurídica do delito de rixa” 9 FORMAS QUALIFICADAS De acordo com o §único deste tipo penal, se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. OBS: Não importa neste contexto quem praticou a morte ou a lesão. Todos respondem pela qualificadora, inclusive o indivíduo que sofreu a lesão. No entanto, se for possível identificar o autor, ele responderá pela rixa e pela lesão. Se ocorrer lesão grave ou morte, QUALIFICA-SE O DELITO PARA TODOS OS PARTICIPANTES inclusive para o quem sofreu a lesão. As qualificadoras são crimes PRETERDOLOSOS em que o 1º delito é punido a título de dolo enquanto resultado qualificador é punido a título de culpa. Pergunta: E com relação aos que forem identificados por terem praticado a lesão grave ou a morte? R.: Entendem a maioria dos doutrinadores que responde ele por rixa qualificada e lesão grave/homicídio em concurso material e os outros respondem por rixa qualificada. Segundo Damásio o agente vai responder por rixa simples em concurso com a lesão grave/homicídio, pois ao contrário haveria um bis in idem na medida que o crime de lesão grave absorve o da qualificadora OBS: No caso de haver LESÕES LEVES, estas NÃO QUALIFICAM o crime, somente haverá concurso de lesão leve com a rixa se descobrir-sea autoria delas. Não sendo possível identificar o autor da lesão ou da morte todos responderão pela forma qualificada. É pacífico o entendimento de que também responde pela qualificadora aquele que sofreu a lesão grave. Será atribuída qualificadora, também, àquele que já deixou o local da rixa quando da causação da lesão grave ou morte. No entanto, alguns operadores da lei entendem que responde somente pelo caput. Já o mesmo não ocorre com aquele que intervém posteriormente aos resultados morte ou lesão grave, pois não há nexo causal entre a sua atuação e tais eventos. A rixa é qualificada até mesmo se um estranho a ela mata um dos rixosos quando de sua intervenção para separá-los, pois a morte tem nexo causal com o fato. Também deve-se salientar que poderá ocorrer a qualificadora tanto se a morte for dolosa como culposa. Existe apenas UM CRIME mesmo ocorrendo VÁRIAS MORTES ou lesões graves, no entanto, caberá a análise do julgador no momento de fixar a pena. (Art. 59, CP). 10 QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA • crime de perigo abstrato • crime comissivo: porque o sujeito deve participar de forma omissiva no caso de ser garante. Exemplo: o carcereiro vê os presos brigando e nada faz para impedir, é exemplo de participar da rixa de forma omissiva. • plurissubjetivo: pois é um crime de concurso necessário • simples: visto que atinge a objetividade jurídica da saúde e da vida. • Instantâneo: já que se consuma em um momento subjetivo • comum: não exige condição especial 11 PENA E AÇÃO PENAL PENA: Conforme o caput a pena poderá ser de 15 dias a dois meses, ou multa. Já, de acordo com o parágrafo 1º a pena deverá ser de 6 meses a dois anos. Além do crime de dano, se for possível identificar o autor que praticou a lesão ou morte poderá responder por crime de dano, se não for todos responderão pela qualificadora. AÇÃO: Ação penal pública incondicionada.