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desse martírio e tentação, do mesmo modo que foi recentemente liber- tado, pela abolição da escravatura, o senhor de escravos georgiano do doloroso dilema de dissipar em champanha todo o mais-produto ex- traído a chicote dos escravos negros ou de retransformá-lo parcialmente em mais negros e mais terras. Nas mais diversas formações sócio-econômicas não apenas tem lugar reprodução simples, mas, embora em diferente medida, repro- dução em escala ampliada. Produz-se progressivamente mais e se con- some mais e, portanto, mais produto é transformado em meios de pro- dução. Esse processo, contudo, não se apresenta como acumulação de capital e, por conseguinte, também não como função do capitalista, enquanto os meios de produção do trabalhador e portanto também seu produto e seus meios de subsistência não se confrontam com ele sob a forma de capital.470 Richard Jones, falecido há alguns anos, sucessor de Malthus na cadeira de Economia Política na Universidade de Hai- leybury, nas Índias Orientais, discute isso bem a partir de dois im- portantes fatos. Como a maior parte do povo da Índia é composta por camponeses que produzem autonomamente seu produto, seus meios de trabalho e de subsistência nunca existem “sob a forma (in the shape) de um fundo que é poupado de renda alheia (saved from Revenue), e que portanto percorreu um processo prévio de acumulação (a previous process of acumulation)”.471 Por outro lado, os trabalhadores não-agrícolas nas províncias onde o domínio inglês dissolveu em menor grau o velho sistema são ocupados diretamente pelos grandes, para os quais flui, como tributo ou renda da terra, uma porção do mais-produto rural. Parte desse produto é consumida in natura pelos grandes, parte é transformada para eles em artigos de luxo e demais meios de consumo pelos trabalhadores, enquanto o restante constitui o salário dos trabalhadores, que são pro- prietários de seus instrumentos de trabalho. Produção e reprodução em escala ampliada seguem aqui seu curso, sem nenhuma interferência desse santo milagroso, desse cavaleiro da triste figura, o capitalista “abstinente”. MARX 231 470 "As classes de renda particulares que mais contribuem ao progresso do capital nacional variam segundo os diferentes níveis de seu desenvolvimento e são, por conseguinte, total- mente diferentes em nações que ocupam diferentes posições nesse desenvolvimento. (...) Lucros (...) fonte de acumulação sem importância, em comparação aos salários e rendas, nas fases anteriores da sociedade. (...) Quando tem lugar, de fato, um considerável incremento nas forças da indústria nacional, os lucros adquirem importância comparativamente maior como fonte de acumulação." (JONES, Richard. Textbook etc. pp. 16, 21.) 471 Op. cit., p. 36 et. seqs. {à 4ª edição. — Aqui se trata possivelmente de um equívoco, pois o trecho não foi encontrado. — F. E.}
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