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Se os trabalhadores, porém, pudessem viver do ar, não seria pos-
sível comprá-los por nenhum preço. O seu não-custo é portanto um
limite em sentido matemático, sempre inalcançável, ainda que sempre
aproximável. É constante tendência do capital rebaixar os trabalhado-
res a esse nível niilista. Um escritor do século XVIII, freqüentemente
citado por mim, o autor do Essay on Trade and Commerce, trai o
segredo mais íntimo da alma do capital inglês, quando declara como
missão vital histórica da Inglaterra rebaixar o salário inglês ao nível
do francês e do holandês.474 Ele diz ingenuamente, entre outras coisas:
“Mas se nossos pobres” (expressão artística para trabalhadores)
“desejam viver luxuosamente (...), seu trabalho tem naturalmente
de ser caro. (...) Basta considerar a horripilante massa de coisas
supérfluas (heap of superfluities) que nossos trabalhadores manu-
fatureiros consomem, como aguardente, gin, chá, açúcar, frutas es-
trangeiras, cerveja forte, linhos estampados, rapé e fumo etc”.475
Ele cita o escrito de um fabricante de Northamptonshire que,
com os olhos em direção aos céus, lamenta:
“O trabalho na França é todo 1/3 mais barato que na Inglaterra:
pois os franceses pobres trabalham duramente e se tratam com
dureza quanto à alimentação e vestuário, e seus consumos prin-
cipais são pão, frutas, ervas, raízes e peixe seco; pois comem
muito raramente carne e quando o trigo é caro, muito pouco
pão”.476 “Acresce ainda”, prossegue o ensaísta, “que a bebida deles
consiste em água ou licores fracos, de modo que, na realidade,
gastam surpreendentemente pouco dinheiro. (...) Um estado se-
melhante de coisas é seguramente difícil de implantar, mas não
é inalcançável, como demonstra sua existência tanto na França
como na Holanda”.477
MARX
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474 An Essay on Trade and Commerce. Londres, 1770. p. 44. Analogamente, o Times de dezembro
de 1866 e janeiro de 1867 publicou os desabafos dos proprietários ingleses de minas, nos
quais era descrita a situação feliz dos mineiros belgas, que não demandavam mais e nem
recebiam mais do que o estritamente necessário para viverem para seus masters. Os tra-
balhadores belgas toleram muita coisa, mas figuram no Times como trabalhadores modelos!
No início de fevereiro de 1867, a resposta foi dada pela greve, reprimida a pólvora e chumbo,
dos mineiros belgas (perto de Marchienne).
475 Op. cit., p. 44, 46.
476 O fabricante de Northamptonshire comete, levado pelo ímpeto do coração, uma imperdoável
pia fraus [mentira piedosa]. Ele compara pretensamente a vida dos trabalhadores manu-
fatureiros ingleses e franceses, mas, como ele mesmo depois em seu atordoamento confessa,
com as palavras acima citadas ele descreve os trabalhadores agrícolas franceses!
477 Op. cit., pp. 70-71. — Nota à 3ª edição. Hoje graças à concorrência do mercado mundial,
desde então estabelecida, nós estamos um bom pedaço adiante. “Se a China”, declara o
parlamentar Stapleton a seus eleitores, “se tornar um grande país industrial, não vejo como
a população trabalhadora européia poderia sustentar a luta, sem descer ao nível de seus
concorrentes.” (Times. 3 de setembro de 1873.) — Não mais salários continentais, não,
salários chineses, este é agora o objetivo almejado pelo capital inglês.

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