Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 1 Choque na cirurgia Tipos de choque Choque Hipovolêmico 1. Hemorrágico Caracteriza-se por baixas pressões de enchimento ventricular e, frequentemente, está associado a anemias. As principais causas são: perdas sanguíneas externas ou sangramentos ocultos. Os mecanismos ocultos são proporcionais à intensidade da hemorragia. Em relação ao tipo de soluções cristaloides, temos o soro fisiológico 500ml (NaCl a 9,95) e o Ringer com lactato – o lactato, quando cai na corrente sanguínea, é convertido em bicarbonato, o qual forma um sistema tam- pão. Atualmente, prefere-se usar o Ringer lactato (1500-2000 ml) para tratar um choque hipo- volêmico. Contudo, em choques hipovolêmi- cos de classe III e IV, faz-se infusão de bolsas de sangue. 2. Não hemorrágico Decorre da perda de componente líquido por meio dos tratos gastrointestinal ou uri- nário. É por isso que, frequentemente, tem- se baixas pressões de enchimento capilar e Ht com valores normais ou elevados, devido à hemodiluição. Com o volume sanguíneo reduzido, o re- torno venoso é prejudicado – o que traz re- percussões no volume sistólico, que estará diminuído. Assim, tem-se redução do débito cardíaco reduzido e da perfusão tecidual. Choque Cardiogênico Consiste na incapacidade primária do cora- ção em fornecer um débito cardíaco sufici- ente para as necessidades metabólicas, na presença de um volume circulante ade- quado. Causas: IAM, rotura de válvula cardíaca, ro- tura de septo A-V, arritmias, miocardites, hi- póxia, depressão dos centros nervosos. Com a contratilidade cardíaca reduzida, o débito cardíaco e o volume sistólico também diminuem, o que pode causar congestão pulmonar, perfusão reduzidas – tanto a teci- dual sistêmica, como a da artéria coronária. Choque Obstrutivo Extra-Cardíaco Ocorre bloqueio mecânico do fluxo sanguí- neo na pequena ou grande circulação, redu- zindo o débito cardíaco. Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 2 Causas: tamponamento cardíaco (grande quantidade de líquido se acumula no saco pericárdico), pneumotórax hipertensivo, tromboembolismo pulmonar... Choque Distributivo Há um distúrbio do tônus e/ou permeabili- dade vascular, com redistribuição do fluxo sanguíneo visceral. Existem 3 tipos: séptico, anafilático e neurogênico. 1. Choque séptico É a causa mais comum de morte na UTI, sendo decorrente da resposta imunológica do hospedeiro a agentes infecciosos. A maioria dos casos é provocada no sistema respiratório por bacilos G- produtores de en- dotoxinas. As endotoxinas são lipossacarí- deos da parede bacteriana. Quando esta é degradada, as endotoxinas são liberadas e caem na corrente sanguínea, onde, juntas à uma proteína carreadora, ligam-se a um re- ceptor celular dos macrófagos. Essa reação desencadeia a liberação de citocinas, como a IL-1 e o TNF, que geram e propagam o es- tado patológico. Nesse contexto, induz-se: Produção de proteínas coagulantes; Produção de óxido nítrico – responsável pela hipotensão); Aumento da expressão das moléculas de adesão para neutrófilos, pelas células endoteliais; Efeito tóxico direto sobre o endotélio e a ativação da via extrínseca da coagula- ção – com a tendência de formação de tromboembolismos. Com isso, extremidades e órgãos periféricos (principalmente fígado e pulmões) não esta- rão bem perfundidos. Em resumo, todos es- ses fatores causam: Vasodilatação sistêmica (hipotensão); Contratilidade miocárdica reduzida; Lesão e ativação endotelial, causando adesão leucocitária e dano capilar alve- olar e pulmonar; Ativação do sistema de coagulação, cul- minando em coagulação intravascular disseminada. Ainda, o choque séptico e divido em fases: Fase hiperdinâmica (choque quente): carac- teriza-se por vasodilatação periférica e au- mento do débito cardíaco. Nesse caso, tem- se: Extremidades quentes; Baixa RVP; DC normal ou elevado; Estase do sangue: redução do retorno venoso e do DC; Hiperventilação, alcalose respiratória e confusão mental; Débito urinário normal e febre. Fase hipodinâmica (choque frio): é uma evo- lução do choque quente no indivíduo não é tratado. Nesse caso, tem-se: Extremidades frias; RVP elevada; DC reduzido, hipotensão arterial; Intensa vasoconstrição arterial; Acidose metabólica; Insuficiência respiratória, obnubilação progressiva e queda da função renal. Conceitos importantes SIRS – é um tipo de resposta mais complexa do organismo à infecção. Relaciona-se com a liberação de citocinas, como IL-6, IL-12 e TNF-α. Caracteriza-se por duas ou mais das seguintes alterações: Temperatura acima de 38ºC ou abaixo de 36ºC; Frequência cardíaca acima de 90 bpm ou; Frequência respiratória acima de 20ipm ou PaCO2 maior que 32mmHg. Leucócitos acima de 12.000 ou abaixo de 4.000 células/mm3. Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 3 Sepse – consiste na SIRS acompanhada de foco infeccioso. Sepse grave – sepse com disfunção orgânica, sinais de hipoperfusão (oligúria, acidose, al- teração aguda do estado mental) ou hipo- tensão (PA sistólica menor que 90mmHg). Em resumo, é um quadro de sepse com ins- tabilidade hemodinâmica. Choque séptico – sepse grave com hipoten- são, apesar de adequada reposição volumé- trica. Bactérias G+ e G-, fungos e alguns vírus podem causar sepse e choque séptico. Qual- quer sítio anatômico pode resultar em sepse e choque séptico, mas se destacam os pul- mões, abdômen, vias urinárias e pele. A mor- talidade desse tipo de choque é muito alta – acima de 90%. 2. Choque anafilático É decorrente de uma reação de hipersensi- bilidade imediata do tipo 1 à injeção de dro- gas ou soros, picadas de insetos, ingestão de alimentos, mediada por IgE. Indivíduos previamente sensibilizados com anticorpos IgE formam complexos antígeno- anticorpos, os quais se aderem à membrana plasmática dos mastócitos. Estes liberam mediadores químicos, como a histamina e heparina, que desencadeiam uma vasodila- tação sistêmica, aumento de permeabili- dade vascular e edema generalizado. Esse cenário culmina em uma hipotensão grave e circulação periférica, caracterizando um es- tado de choque. Os sintomas respiratórios decorrem de es- pasmos da musculatura bronquial e edema das mucosas brônquicas e glótica. É comum o desenvolvimento de prurido generalizado devido à ação irritativa da histamina sobre as terminações nervosas. Quadro clínico: degranulação de basófilos e mastócitos; constrição de músculo liso; au- mento da permeabilidade vascular; altera- ção de tônus muscular; degranulação de pla- quetas e atração de célula inflamatória; alte- rações cutâneas (edema, prurido); insufici- ência respiratória (edema de glote ou bron- coespasmo); choque hipotensivo. 3. Choque neurogênico Causado pelo comprometimento neural do tônus vasomotor, provocando vasodilatação generalizada. Isso ocorre por uma lesão aguda do cérebro ou da medula espinal, por acidente anestésico ou por drogas bloquea- doras autonômicas. Na fase aguda, tem-se hipotensão, bradicar- dia e histórico de trauma raquimedular ou raquianestesia. Quadro clínico: Pele fria e pálida; Oligúria e anúria; Taquicardia e hipotensão; Alteração de nível de consciência, con- fusão e ansiedade; Taquipneia, PaO2 <70 mmHg. SaO2 <90%. Manifestações do quadro clínico Cérebro – agitação, confusão, coma, en- cefalopatia isquêmica; Coração – arritmias, alterações de ECG, isquemia, infarto; Pulmão – hipoxemia, infiltrado pulmo- nar, SARA; TGI – queda do pH, sangramento, íleo, pancreatite, translocação bacteriana, hemorragia de mucosa colônica; Fígado – aumento de enzimas, diminui- ção da síntese, icterícia, hepatite; Rim – Oligúria, azotemia, necrose tubu- lar aguda; Pele – cianose e icterícia; Alterações metabólicas – acidose, hiper ou hipoglicemia, hipoalbuminemia; Alterações hematológicas: trombocito- penia, CIVD; Daniel Carlini – MEDUNEB13 Página | 4 Alterações imunológicas: depressão da imunidade humoral e celular, podendo levar a um choque séptico. Monitorização do paciente em choque 1. Monitorização hemodinâmica não inva- siva Aferição de PA, pulso, temperatura corporal e oximetria de pulso. 2. Monitorização hemodinâmica invasiva Monitoramento de diurese, medição da pressão capilar pulmonar e pressão venosa central (PVC). A PVC estima a pressão do átrio direito e é aferida com o uso do cateter de Swan-Ganz. Ela pode ser feita na veia jugular interna di- reita, na veia subclávia, na veia femoral ou na veia jugular externa. 3. Monitorização laboratorial Gasometria arterial, eletrólitos, testes bio- químicos, estudo da coagulação e bacterio- logia. Tratamento Condutas iniciais: Admissão em UTI; Avaliação laboratorial; Acesso venoso; Cateter venoso central; Oximetria de pulso; Suporte hemodinâmico; Vasopressores (dopamina e noradrena- lina). Choque Hipovolêmico Reposição volêmica precoce; Infusão de volume adequado; Reposição de sangue rápida; Identificar fonte de perda de sangue/lí- quido; Choque hemorrágico: concentrado de hemácias. Choque Cardiogênico Obstrução mecânica: cirurgia corretora emergencial. Comprometimento miocárdico: IAM: cirurgia de revascularização coro- nariana; Monitorização hemodinâmica; Drogas: opioides, diuréticos, agentes cronotrópicos e inotrópicos, vasodilata- dores e beta-bloqueadores. Correção das alterações hemodinâmi- cas, pelo uso de: dopamina, dobuta- mina, associação de drogas inotrópicas e vasodilatadoras, agentes fibrinolíti- cos, bicarbonato de sódio, heparina, isoproterenol, adrenalina. Sedação, oxigênio, reposição de vo- lume. Choque Obstrutivo Extra-Cardíaco Uso de maior volume e vasopressores; Trombolítico + anticoagulantes; Tamponamento cardíaco: pericardio- centese de alívio e cirurgia; Pneumotórax hipertensivo: toracocen- tese de alívio; Embolectomia pulmonar de urgência. Choque Distributivo Séptico Identificar e drenar o local da infecção; Agentes antimicrobianos (atbterapia); Monitoração em UTI: suporte volêmico e agentes vasopressores e inotrópicos. Choque Distributivo Anafilático Tratamento emergencial: adrenalina; anti-histamínicos; corticoide. RCP; Intubação endotraqueal; Traqueostomia/cricotireoidostomia.
Compartilhar