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Introdução à Linguística

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Linguística
1ª edição
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
Linguística - Capa 6mm.pdf 1 11/06/2015 16:50:59
autor
LUIS CLAUDIO DALLIER
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
LINGUÍSTICA
Conselho editorial luis claudio dallier; roberto paes; gladis linhares; karen 
bortoloti; marilda franco de moura
Autor do original luis claudio dallier
Projeto editorial roberto paes
Coordenação de produção gladis linhares
Coordenação de produção EaD karen fernanda bortoloti 
Projeto gráfico paulo vitor bastos
Diagramação bfs media
Revisão linguística bfs media
Imagem de capa cienpies design / illustrations
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida 
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em 
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
D147l Dallier, Luís Cláudio
 Linguística / Luís Cláudio Dallier.
 Rio de Janeiro : SESES, 2015.
 128 p. : il.
 isbn: 978-85-5548-041-6
 1. Linguagem. 2. Gerativismo. 3. Sociolinguística. 4. Funcionalismo linguístico.
 I. SESES. II. Estácio.
cdd 410.92
Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento
Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Prefácio 7
1. A Linguagem 9
Objetivos 10
1.1 Conceituação de Linguagem 11
1.1.1 Linguagem verbal e não verbal 11
1.1.2 Concepções de linguagem 12
1.1.2.1 Linguagem como expressão do pensamento 12
1.1.2.2 Linguagem como instrumento de comunicação 14
1.1.2.3 Linguagem como lugar ou 
experiência de interação humana 14
1.2 A linguagem humana e a linguagem animal 17
1.3 Características da linguagem humana 19
1.3.1 Independência de estímulo 20
1.3.2 Arbitrariedade 21
1.3.3 Dupla articulação 21
1.3.4 Produtividade 22
Atividades 23
Reflexão 25
Referências bibliográficas 26
2. A Linguística 27
Objetivos 28
2.1 Estudos sobre a linguagem na pré linguística 29
2.1.1 Platão e a filosofia da linguagem 30
2.1.2 Aristóteles e o estudo da linguagem 31
2.1.3 Estudos da linguagem na Roma antiga 32
2.1.4 Estudos da linguagem na Idade Média 
até o fim do século XVIII 32
2.1.5 Antecedentes da Linguística no século XIX 33
2.2 O estudo científico da linguagem 35
2.3 Linguística e gramática: descrição x prescrição 42
2.3.1 Gramática prescritiva ou normativa 42
2.3.2 Gramática descritiva 44
2.3.3 Gramática internalizada 45
Atividades 45
Reflexão 47
Referências bibliográficas 48
3. As Principais Contribuições de Saussure à 
Linguística 49
Objetivos 50
3.1 Langue e Parole 51
3.2 A natureza do signo linguístico: significante e significado 54
3.3 Arbitrariedade e linearidade 57
3.4 Diacronia e sincronia 60
3.5 Sintagma e paradigma 69
3.5.1 Relações sintagmáticas 70
Atividades 72
Reflexão 73
Referências bibliográficas 75
4. Gerativismo e Aquisição da Linguagem 77
Objetivos 78
4.1 A hipótese inatista para aquisição da linguagem 79
4.2 A teoria de Chomsky 82
4.2.1 Competência e desempenho 85
4.3 Gramatical e agramatical 90
Atividades 93
Reflexão 94
Referências bibliográficas 96
5. Sociolinguística e Funcionalismo 97
Objetivos 98
5.1 A Sociolinguística 99
5.1.1 A variação linguística 100
5.2 Tipos de variação linguística 102
5.2.1 As variações entre o português do Brasil e de Portugal 104
5.2.2 Níveis de linguagem 107
5.3 A noção de erro 110
5.3.1 O preconceito linguístico 113
5.4 Funcionalismo: europeu e norte-americano 114
5.4.1 Princípios do Funcionalismo norte-americano: iconicidade e gramati-
calização 117
5.4.2 Língua: visão formalista e visão funcionalista 117
Atividades 120
Reflexão 122
Referências bibliográficas 123
Gabarito 123
7
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
Este livro é uma introdução aos estudos linguísticos, apresentando a área 
da Linguística como a ciência da linguagem.
Por meio deste material didático, você conhecerá uma nova abordagem da 
língua e entrará em contato com algumas das principais contribuições teóricas 
que marcaram o estabelecimento da Linguística Moderna no século XX. 
Depois de algumas reflexões iniciais sobre a linguagem e uma panorâmica 
acerca dos estudos que antecedem o estabelecimento da Linguística como uma 
área do conhecimento científico, você terá a oportunidade de estudar as ideias 
de Ferdinand Saussure, Noam Chomsky, Roman Jakobson e outros linguistas 
importantes. Diversos temas relacionados com a língua e seu uso são apresen-
tados e debatidos aqui, como o conceito de língua, a aquisição da linguagem, as 
variações que uma língua manifesta, entre outros assuntos.
Além dos aspectos históricos, da fundamentação teórica e dos exemplos re-
lacionados com cada corrente ou tendência dos estudos linguísticos, você tam-
bém encontra neste livro sugestões de leituras, vídeos e outros recursos para 
avançar no aprendizado. 
Assim, use este material como fonte de consulta e um roteiro para iniciar 
seus estudos sobre a Linguística.
Bons estudos!
A Linguagem
1
10 • capítulo 1
Ao estudar o tema da linguagem, você terá oportunidade de fazer algumas 
análises e reflexões sobre a principal forma de comunicação e interação no 
nosso dia a dia: a língua. Para isso, vamos relembrar as diversas manifestações 
da linguagem, apresentando os principais tipos de linguagem e destacando a 
língua em sua modalidade oral e escrita. Também estudaremos as principais 
concepções e características da linguagem humana, além de tocarmos na 
questão da relação entre linguagem animal e linguagem humana. Como você 
perceberá ao longo dos estudos linguísticos, nossa abordagem não será a par-
tir do entendimento do senso comum sobre a língua nem estará baseada em 
regras gramaticais. Vamos estudar a linguagem levando em conta diferentes 
concepções e aspectos teóricos, tudo isso no contexto da Linguística, a área 
de conhecimento que mais nos interessa aqui. Assim, você terá oportunidade 
de conhecer importantes conceitos que certamente contribuirão para o ensi-
no-aprendizado da língua.
OBJETIVOS
•  Conhecer diferentes concepções de linguagem;
•  Compreender as principais características da linguagem humana;
•  Refletir sobre questões relacionadas com o uso da linguagem feito pelos seres humanos e 
formas de comunicação entre os animais;
•  Familiarizar-se com abordagens teóricas sobre a língua.
capítulo 1 • 11
1.1 Conceituação de Linguagem
A linguagem pode ser entendida como uma capacidade que todo ser humano 
tem de se comunicar. Constitui todo sistema de sinais ou signos convencionais 
que nos permite a comunicação.
Mas, o que são os signos?
Essa é uma pergunta que poderíamos responder dedicando um livro inteiro 
somente a ela, mas por hora vamos definir os signos como os sinais que os se-
res humanos produzem quando se comunicam. Ao falarmos ou escrevermos, 
por exemplo, estamos usando o signo linguístico, utilizando os sons ou as le-
tras para fazer referência a alguma coisa que é representada por palavras. O 
signo representa algo que não está presente. Assim, os signos são usados para 
designar ou significar alguma coisa. 
CONEXÃO
Os dicionários podem ser fonte de consulta interessante para termos uma definição de lin-
guagem e, mais do que isso, compararmos as diversas acepções que essa palavra pode ter. 
Veja no link abaixo as definições e as acepções que o Dicionário Michaelis oferece para 
“linguagem”: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues- 
portugues&palavra=linguagemVamos avançar no entendimento da linguagem fazendo, agora, uma distin-
ção básica entre dois tipos de linguagem.
1.1.1 Linguagem verbal e não verbal
A linguagem humana pode ser verbal e não verbal.
A linguagem não verbal é aquela que utiliza um tipo de código diferente da 
palavra. É o caso das imagens, dos ícones, dos gestos, das cores, dos sons etc. 
A linguagem verbal se vale da palavra, seja escrita ou falada. Quando você es-
creve um poema, digita uma mensagem nas redes sociais ou conversa com um 
amigo, está usando a palavra ou a língua como meio privilegiado de expressão, 
de comunicação e de interação com os outros.
12 • capítulo 1
Se distinguimos linguagem verbal, ou seja, uma linguagem humana que 
utiliza como sinais a palavra articulada, chegamos então à diferença entre lin-
guagem e língua.
Podemos dizer que a língua é uma linguagem humana específica, baseada 
na palavra. Dito de outra forma, a língua é a linguagem verbal.
Assim, a língua é um tipo de linguagem humana. 
Podemos, ainda, afirmar que a música, a pintura, a dança, o teatro, o cinema e 
outras expressões são um tipo de linguagem humana. Daí falamos em linguagem 
da música, linguagem corporal, linguagem pictórica e por aí em diante.
Ao fazermos a distinção entre linguagem verbal e não verbal, precisamos 
lembrar que muitas vezes a comunicação se dá por meio do uso dos dois tipos 
de linguagem. Ao falarmos com alguém ou discursarmos para determinado 
público, vamos tanto fazer uso da linguagem verbal (a fala) como também da 
linguagem não verbal (nosso gestual, postura corporal, tom da voz etc.). 
Embora na escrita prevaleça a linguagem verbal, devemos reconhecer que a 
linguagem não verbal participa dos atos de comunicação em geral. Mesmo que 
os estudos sobre a linguagem privilegiem a linguagem verbal, e aqui neste livro 
é também o que acontece, não podemos deixar de observar que a linguagem 
não verbal está associada intimamente à atividade humana.
1.1.2 Concepções de linguagem
Para o nosso propósito, entre as muitas formas de linguagem, estamos destacando 
a língua, que é um caso particular dentro de um fenômeno geral que é a linguagem. 
A linguagem pode ser estudada desde muitas perspectivas e orientações te-
óricas. Na tentativa de esquematizar e sintetizar as diferentes abordagens da 
linguagem, apresentamos três formas de compreensão de linguagem.
Assim, ao estabelecermos as três principais concepções de linguagem, te-
mos como preocupação maior entender as principais elaborações conceituais 
sobre a linguagem e a língua.
1.1.2.1 Linguagem como expressão do pensamento
De acordo com essa primeira concepção, a linguagem corresponde a uma ex-
pressão que se constrói no interior da mente e tem na exteriorização apenas 
uma tradução. 
capítulo 1 • 13
A linguagem é entendida como uma forma de expressar pensamentos, sen-
timentos, intenções, vontades, ordens, pedidos etc.
A intenção de expressar alguma coisa ou o ato ilocucional (enunciação) é, 
na verdade, um ato monológico, imune ao outro e às circunstâncias sociais nas 
quais a enunciação acontece. 
O que é ato ilocucional? Inicialmente, podemos responder dizendo que ele é um ato de 
fala. “Ato de fala é um conjunto de coisas que fazemos ao dizer algo”. Os atos de fala 
classificam-se em: “ato locucional (é o sentido e a referência de determinada senten-
ça), ato ilocucional (apresenta certa força ao dizer algo) e ato perlocucional (é certo 
efeito pelo fato de se dizer algo)” (FURTADO, 2003, p.119).
Por isso, “as leis da linguística são essencialmente as leis da psicologia in-
dividual, e da capacidade de o homem organizar de maneira lógica seu pensa-
mento dependerá a exteriorização desse pensamento por meio de uma lingua-
gem articulada e organizada” (TRAVAGLIA, 2003, p. 21).
Isso quer dizer que, nessa concepção de linguagem, o uso da língua é visto 
como algo que se limita a quem fala ou escreve. Não há preocupação com o 
modo pelo qual o outro vai ler ou ouvir nossa mensagem.
Para essa concepção, a correção linguística ou o falar e escrever bem depen-
dem das regras às quais o pensamento lógico deve estar sujeito. Se as pessoas 
não se expressam bem ou não usam a língua corretamente, tal fato se deve às 
pessoas não pensarem corretamente. 
CONEXÃO
Você pode conhecer um pouco mais sobre a noção de código e o processo de comunicação len-
do o artigo “O estudo científico da comunicação”, no link: http://www2.metodista.br/unesco/ 
PCLA/revista6/artigo%206-3.htm
Tal situação se resolveria por meio da internalização das regras gramaticais 
e de seu adequado uso.
14 • capítulo 1
1.1.2.2 Linguagem como instrumento de comunicação
A língua é tomada predominantemente como um código, que deverá ser utiliza-
do com eficiência. A otimização do uso do código deve atender às necessidades 
de tornar inteligível a mensagem que se quer comunicar, levando o receptor a 
responder adequadamente ao que se deseja. 
O código deve “ser dominado pelos falantes para que a comunicação possa 
ser efetivada”. O uso do código, no caso a própria língua, “é um ato social, en-
volvendo consequentemente pelo menos duas pessoas”, por isso “é necessário 
que o código seja utilizado de maneira semelhante, preestabelecida, conven-
cionada para que a comunicação se efetive” (TRAVAGLIA, 2003, p. 22).
O código é, então, entendido como “um conjunto de regras que permite a 
construção e a compreensão de mensagens. É, portanto, um sistema de signos. 
A linguagem é, por conseguinte, um dentre outros códigos (código marítimo, 
código rodoviário)”. Dentre todos os outros códigos, a linguagem verbal, seja 
escrita ou oral, é o único código que “pode falar dos próprios signos que os 
constituem ou de outros signos” (VANOYE, 1981, p. 30).
Para Travaglia (2003, p. 22), a concepção da linguagem como instru-
mento de comunicação levou “ao estudo da língua enquanto código vir-
tual, isolado de sua utilização – na fala (cf. Saussure) ou no desempenho 
(cf. Chomsky)”. Essas abordagens teriam levado a Linguística a não considerar 
“os interlocutores e a situação de uso como determinantes das unidades e re-
gras que constituem a língua, isto é, afastou o indivíduo falante do processo de 
produção, do que é social e histórico na língua”. 
Assim, os estudos linguísticos adotaram uma perspectiva formalista, estu-
dando prioritariamente o funcionamento interno da língua e deixando de lado 
as implicações da relação entre a língua e o homem dentro do contexto social.
1.1.2.3 Linguagem como lugar ou experiência de interação humana
Nessa concepção, a língua é mais do que tradução e exteriorização do pensa-
mento e, também, vai além da transmissão de informação ou da comunicação. 
Ao usar a língua, o indivíduo é um sujeito que realiza ações, age, atua sobre o 
interlocutor.
capítulo 1 • 15
A linguagem é um “lugar de interação humana, de interação comunicativa pela 
produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de comu-
nicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23).
Quem utiliza a língua não expressa apenas o pensamento, não comunica 
somente alguma coisa; na verdade, ao usar a língua, o indivíduo ou os inter-
locutores “interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e ‘falam’ 
e ‘ouvem’ desses lugares de acordo com as formações imaginárias (imagens) 
que a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2003, p. 
23). Por isso, o diálogo caracteriza tal concepção de linguagem, constituindo-se 
numa dimensão privilegiada do uso da língua.
Figura 1.1 – Se a linguagem é interação, então, o que ouvimos pode afetar muito nossa vida 
ou nosso humor. 
Para ilustrar essa concepção de linguagem, podemosevocar o exemplo das 
conversações que são travadas por pessoas que estão ligadas por laços afetivos 
ou por estreitas relações de trabalho. É comum, nessas conversações, constatar-
mos uma interação verbal, um fenômeno social que estabelece mais do que uma 
simples comunicação entre as pessoas ou a troca abstrata de formas linguísticas. 
16 • capítulo 1
O que se fala e o que se ouve têm poder de provocar reações, produ-
zir mudanças, despertar sentimentos e paixões, desencadear proces-
sos e ações etc. Também se considerarmos as palavras de um juiz, pro-
ferindo a célebre frase “Eu vos declaro marido e mulher”, teremos um 
exemplo de que o uso da língua pode ser mais do que expressão do pensa-
mento ou comunicação de uma informação. Nesse caso, a fala da autoridade 
faz surgir ou realiza um ato social e jurídico. Se um agente da lei, dirigindo- 
-se a uma pessoa, dá voz de prisão e profere: “Esteja preso!”, ele não está sim-
plesmente exteriorizando seu pensamento ou comunicando uma novidade.
Essa concepção de linguagem não toma a substância da linguagem como 
um sistema abstrato de formas linguísticas, no qual pouco importam o con-
texto e a heterogeneidade da língua; nem considera a linguagem como uma 
enunciação monológica isolada, na qual se negligenciam o diálogo e a intera-
ção verbal. Antes, a linguagem entendida como processo de interação privilegia 
o contexto, o diálogo, a interação e a dimensão social da linguagem.
Dentro dessa abordagem, podemos incluir algumas correntes e teorias da 
Linguística que você terá oportunidade de estudar ao longo do Curso, como a 
Linguística Textual, a Teoria do Discurso, a Análise do Discurso, a Análise da 
Conversação, a Semântica da Conversação, a Semântica Argumentativa e os es-
tudos relacionados com a Pragmática.
Podemos resumir as três concepções de linguagem na tabela seguinte.
LINGUAGEM
EXPRESSÃO DO 
PENSAMENTO
LINGUAGEM
COMUNICAÇÃO
LINGUAGEM
INTERAÇÃO 
HUMANA
Exteriorização do pensa-
mento
Meio objetivo para a co-
municação
Veículo de interação hu-
mana
A expressão se constrói 
no interior da mente.
A expressão nasce da 
necessidade de se co-
municar.
A expressão é também 
ação.
capítulo 1 • 17
LINGUAGEM
EXPRESSÃO DO 
PENSAMENTO
LINGUAGEM
COMUNICAÇÃO
LINGUAGEM
INTERAÇÃO 
HUMANA
Ato monológico, indivi-
dual
Diálogo superficial
Privilegia o diálogo e a 
interatividade.
Regras para a organiza-
ção lógica do pensamen-
to: gramática normativa
Existência de códigos 
para a eficiência da co-
municação
Valorização do contexto 
dos usuários da língua; 
adequação no uso da 
língua
Para quem se fala, em 
que situação e para que 
se fala não são preocu-
pações no uso da língua.
Preocupação com o 
meio, o destinatário, a 
mensagem e a utilização 
eficiente do código
Preocupação com as di-
mensões afetivas e so-
ciais
1.2 A linguagem humana e a linguagem 
animal
Você já ficou surpreso com o seu cachorro por ele abanar o rabo quando ouve 
a palavra "passear" ou admirado com algum papagaio capaz de fazê-lo rir com 
algumas palavras pronunciadas de modo engraçado? 
Muita gente fica intrigada diante da relação que alguns animais têm com a lin-
guagem humana, perguntando se seria possível eles compreenderem o que falamos. 
Também podemos nos questionar se os próprios animais têm uma linguagem.
Talvez você já tenha ouvido dizer que a linguagem humana distingue a to-
dos nós dos demais seres viventes ou animais. A linguagem humana, na verda-
de, seria nossa marca registrada. Mas como explicar a inteligência da organiza-
ção e dos padrões das comunidades de abelhas ou as formas de comunicação 
de chimpanzés ou golfinhos? 
18 • capítulo 1
Esse é um assunto muito interessante e que desperta certa curiosidade.
Primeiramente, vamos tentar esclarecer a seguinte questão: existe uma lin-
guagem animal?
Para responder a essa pergunta precisamos lembrar que o conceito de lin-
guagem pode ser bem amplo, não correspondendo apenas à língua ou à lingua-
gem verbal. Se entendermos a linguagem e a comunicação num sentido mais 
amplo, incluindo, por exemplo, a comunicação por gestos ou estímulos visuais, 
podemos adiantar que encontraremos animais com algum tipo de linguagem 
ou padrão de comunicação.
Estudos comprovam padrões de comunicação entre certas comunidades de 
outros seres vivos, o que nos leva a falar em “linguagem animal”. Petter (2003, 
p. 16-17) menciona os estudos realizados por um zoólogo alemão, Karl von 
Frisch, sobre um sistema de comunicação entre abelhas. 
As abelhas seriam capazes de “(a) compreender uma mensagem com mui-
tos dados e de reter na memória informações sobre a posição e a distância; e (b) 
produzir uma mensagem simbolizando – representando de maneira conven-
cional – esses dados por diversos comportamentos somáticos”. No entanto, a 
“linguagem” animal “não se deixa analisar, decompor em elementos menores”. 
Não haveria articulação na “linguagem” animal, o que levaria à conclusão de 
que “a comunicação das abelhas não é uma linguagem, é um código de sinais”. 
Isso seria evidenciado nas seguintes características: “conteúdo fixo, mensagem 
invariável, relação a uma só situação, transmissão unilateral e enunciado inde-
componível” (PETTER, 2003, p. 16-17). Assim, apenas ampliando o conceito de 
linguagem poderíamos afirmar que os animais possuem uma linguagem, mas 
que não se confunde com a linguagem humana. 
A linguagem humana conduz à distinção entre o ser humano e outros ani-
mais em função do dispositivo mental sofisticado que permite organizar de 
modo complexo as percepções de mundo e a expressão dos pensamentos de 
forma criativa e praticamente ilimitada (PETTER, 2003).
Poderíamos, então, indagar: "Que outro ser tem gestos significativos, pin-
ta, fotografa, faz cinema?". Nossa resposta deve, ao mesmo tempo, reconhecer 
que há algum tipo de linguagem e padrões de comunicação entre os animais 
e, ainda, apontar para o fato "de que o homem e a linguagem se relacionam de 
forma a não se conceberem um sem o outro e que a linguagem está indissolu-
velmente associada com a atividade mental humana, a qual, absolutamente, 
não se manifesta só pelo verbal" (PALOMO, 2001, p. 11).
capítulo 1 • 19
Vamos, no entanto, insistir na questão intrigante da relação entre os ani-
mais e a linguagem humana porque, muitas vezes, podemos ter a impressão 
de que o nosso cão entende o que falamos. Aliás, assistindo a alguns docu-
mentários, podemos jurar que certos macacos, golfinhos ou animais especial-
mente treinados "entendem" tudo o que seus adestradores falam ou procuram 
comunicar.
Na verdade, os animais podem ter uma forma especial de entender as pala-
vras. É provável que um cão entenda uma palavra como um som que desencadeia 
uma resposta, assim, ao ouvir a palavra "bola", o cachorro pode entender que pre-
cisa "pegar a bola para ganhar um petisco", por exemplo (MCGRATH, 2008).
Devemos admitir que, provavelmente, animais como os cães "não compre-
endem conceitos abstratos, [pois] eles não podem entender as palavras que se 
referem a tais conceitos". Diferentemente de nós, que entendemos ideias como 
"atenção", "paz", "ódio" e "amor" (ideias não vinculadas necessariamente a um 
objeto ou uma ação específica) os cães ouvirão que os amamos de uma for-
ma significativa talvez não tão diferente de quando ouvem a palavra "petisco" 
(MCGRATH, 2008).
De qualquer modo, não é possível afirmar categórica e definitivamente que 
"os cães entendem ou não conceitos abstratos", pois até onde se sabe esses ani-
mais "só compreendem palavras que se referem a coisas concretas", ou seja, 
conceitos concretos (MCGRATH, 2008).
Assim,procurando finalizar a resposta à pergunta que fizemos inicialmen-
te, podemos dizer que "se a linguagem indica o processo de comunicar um estí-
mulo particular (uma palavra) para produzir uma determinada reação, então os 
cães definitivamente compreendem a linguagem" (MCGRATH, 2008). Porém, 
cabe uma ressalva: o conceito de linguagem, na perspectiva da Linguística, vai 
além desse aspecto e implica elementos que, definitivamente, não compõem a 
capacidade de expressão e comunicação dos animais.
1.3 Características da linguagem humana
Se admitimos que os animais possuem algum tipo de linguagem, podemos 
usar a expressão "linguagem humana" para nos referirmos às peculiaridades 
ou traços distintivos da linguagem desenvolvida e utilizada pelos seres huma-
nos, particularmente a linguagem verbal ou a língua.
20 • capítulo 1
Se você consultar alguns livros de Linguística que tratam desse assunto, po-
derá perceber que os autores não apresentam as características da língua de 
modo uniforme ou numa lista idêntica. O que faremos aqui é apresentar de 
modo introdutório e resumido algumas das principais características da lín-
gua, do ponto de vista de alguns estudiosos da Linguística. Embora essas carac-
terísticas estejam baseadas em pesquisas e teorias desenvolvidas na área dos 
estudos linguísticos desde o começo do século XX, não vamos explicitar, por 
enquanto, o referencial teórico dessas características.
1.3.1 Independência de estímulo
A independência de estímulo como característica da língua deve ser entendida 
a partir do fato ou da constatação de que “não há, em geral, qualquer conexão 
entre as palavras e as situações em que são utilizadas, de tal forma que a ocor-
rência de determinados vocábulos seja previsível, como se prevê um comporta-
mento habitual, a partir das próprias situações" (ESTÁCIO, 2014). 
Isso quer dizer que não é comum nós falarmos a palavra "livro" todas as ve-
zes que olhamos ou utilizamos um livro, do mesmo modo que não é habitual 
produzirmos a palavra "preocupado" em cada situação na qual estejamos com 
algum tipo de preocupação. Na verdade, a probabilidade de usar a palavra "li-
vro" ou a palavra "preocupado" nas situações que mencionamos não é maior 
do que a de utilizar esses termos em qualquer outro contexto. Isso acontece 
porque "a linguagem não depende de estímulos externos para se manifestar" 
(ESTÁCIO, 2014).
A independência de estímulo também está relacionada com a criatividade 
no uso da língua. O fato de a linguagem humana ser independente de estímulo 
se dá porque as palavras ou o enunciado que uma pessoa profere em um de-
terminado contexto ou numa "ocasião é, em princípio, não predizível, e não 
pode ser descrito apropriadamente, no sentido técnico desses termos, como 
uma resposta a algum estímulo identificável, linguístico ou não linguístico” 
(LYONS, 1987, p. 213). Assim, uma criança quando está adquirindo a língua, 
não produz os enunciados apenas a partir dos estímulos externos que recebe.
capítulo 1 • 21
1.3.2 Arbitrariedade
A arbitrariedade é uma característica de língua que corresponde ao fato de não 
haver uma relação de causa e efeito entre o som de uma determinada palavra e 
o sentido associado a esse som. É arbitrário, por exemplo, o fato de utilizarmos 
a palavra "maçã" para um referente que corresponde à fruta que você conhece 
e que todos nós podemos comer. Não há um motivo natural, uma relação de 
causa e efeito para chamarmos de "maçã" um determinado fruto. Prova disso 
é que, em inglês, para se referir ao mesmo fruto, é usada a palavra "apple", en-
quanto em alemão se usa "apfel", em francês se usa "pomme" e no espanhol a 
palavra correspondente é "manzana". 
A arbitrariedade na língua é, assim, uma manifestação da referência simbó-
lica que a língua faz à realidade. Os elementos da linguagem não constituem a 
realidade em si, eles fazem referência à realidade, ou representam a realidade, 
por meio dos signos linguísticos.
Usamos a língua para representar a realidade, o mundo, as coisas ou qual-
quer referente, nos valendo dos símbolos, que são arbitrários,. Desse modo, 
não há relação natural, direta ou motivada entre os sons de uma palavra (se-
quência fônica) e o sentido atribuído a essa palavra (conteúdo significativo) e a 
realidade (referente). Isso mostra que a simbolização é, na verdade, o processo 
necessário pelo qual passa a realidade para se transformar em linguagem, em 
código que permite infinitas combinações, relações, interpretações e interação 
(BORBA,1998, p. 10).
1.3.3 Dupla articulação
Antes de você compreender o que é a dupla articulação da linguagem humana, 
é preciso, primeiro, entender o conceito de articulação.
A articulação linguística está relacionada com a capacidade que a lingua-
gem tem de fazer combinações entre as unidades significativas por si mesmas 
ou não. Falamos ou pronunciamos as palavras porque os sons que compõem 
determinada palavra se articulam, se combinam. 
Essa articulação ocorre em diversos níveis. Se, por exemplo, segmentarmos 
as unidades bata/cata/data/gata/lata/mata/nata/pata/rata em unidades meno-
res, morfema por morfema, verificaremos que a primeira unidade fônica é a 
única responsável por diferenciar o significado dessas nove palavras. Desse 
22 • capítulo 1
modo, a diferença entre "pata" e "rata", por exemplo, reside no som que corres-
ponde à primeira letra dessas palavras, sendo tanto uma diferença no som que 
você ouve como também no sentido ao qual esse som está ligado. Apenas com a 
alteração de um único morfema, também chamado de unidade distintiva pela 
função que desempenha, é possível executar novas combinatórias. 
Perceba, entretanto, que entre as combinações dos exemplos que demos há 
diferenças, ainda que mínimas. Essas diferenças são de dois tipos e caracte-
rizam a dupla articulação: a) diferença de natureza mórfica (forma – primeira 
articulação); b) diferença de natureza fônica (som – segunda articulação). 
Assim, dizemos que a linguagem é duplamente articulada. A articulação se 
dá sempre numa linearidade e auxilia no processo de criação e economia lin-
guísticas (BORBA,1998, p. 10).
1.3.4 Produtividade
Essa característica da língua corresponde à possibilidade que o sistema lin-
guístico apresenta quanto ao número infinito de mensagens que um usuário 
pode produzir, bastando para isso que o indivíduo domine o código linguístico. 
Pense no fato de que a partir de um conjunto limitado de letras ou de sons, 
que pertencem a uma determinada língua, é possível produzir uma quantidade 
infinita de frases ou textos. Não é interessante perceber que com apenas 26 le-
tras do nosso alfabeto possamos escrever milhares de textos?
A linguagem não apresenta um limite definido, não exige a mera reprodu-
ção de mensagens previamente compartilhadas. Cada usuário pode fazer, e 
acabará fazendo, combinações únicas e mesmo assim, pelo princípio da produ-
tividade, ele será compreendido, desde que a mensagem produzida seja num 
código também dominado pelo receptor (BORBA,1998, p. 13).
A produtividade é uma característica linguística que pode ser evidenciada, 
também, pelo fato de a criança, ainda muito cedo, produzir "construções grama-
ticais que jamais ocorreram antes em sua experiência" (LYONS, 1987, p. 212).
capítulo 1 • 23
ATIVIDADES
01. Considere as seguintes afirmativas relacionadas com a linguagem e a língua:
I. Há distinção entre língua e linguagem, pois a língua seria uma das formas ou manifes-
tações da linguagem humana. Assim, a língua não abarca todas as formas de comunicação 
ou todos os signos produzidos pelo ser humano.
II. Língua e linguagem são indistintas, pois a única manifestação de linguagem possível é 
a língua, ouseja, a palavra escrita ou falada.
III. Enquanto o termo “linguagem” corresponde a formas de expressão, comunicação e 
interação humana por meio de signos ou sinais (visuais, sonoros, gráficos, espaciais, gestuais 
etc.), a língua corresponde à linguagem verbal, ou seja, à linguagem baseada na palavra.
IV. Língua é um termo utilizado para se referir apenas à linguagem escrita, enquanto lin-
guagem é o termo apropriado para se referir à oralidade.
Estão corretas somente as afirmativas
a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) II e IV.
e) III e IV.
02. A linguagem verbal pode ser exemplificada: 
a) na fala e na escrita.
b) nos gestos e nos sinais de trânsito.
c) na fala somente.
d) na escrita somente.
e) nos sons e nas cores.
03. A independência de estímulo, uma das características da língua, corresponde:
a) Ao fato de não haver conexão entre as palavras e as situações em que são utilizadas, 
não havendo previsibilidade para ocorrência de um vocábulo a partir de determinada 
situação ou estímulo externo. 
b) À possibilidade que o sistema linguístico apresenta quanto ao número infinito de mensa-
gens que um usuário pode produzir, bastando para isso que o indivíduo domine o código 
linguístico.
24 • capítulo 1
c) À relação convencional, sem nexo de causa e efeito, entre a forma de uma palavra e seu 
sentido ou significado.
d) À capacidade que a linguagem tem de fazer combinações entre as unidades que com-
põem, por exemplo, uma palavra.
e) Ao fato de falarmos ou pronunciarmos as palavras em função da articulação ou combi-
nação de seus sons e de suas partes significativas.
04. Seria possível alguém viver em sociedade sem a linguagem? Essa questão pode ser trabalhada 
assistindo ao filme "O enigma de Kaspar Hauser", de Werner Herzog. Identifique no filme algumas 
implicações sociais e culturais envolvidas no fato de o personagem principal chegar a uma cidade 
desprovido de linguagem verbal. Para responder a esta questão, leia também o texto a seguir:
É possível alguém viver sem linguagem?
Kaspar Hauser tem sua história notabilizada por meio de inúmeras publicações científicas e 
do filme O enigma de Kaspar Hauser, do cineasta alemão Werner Herzog. Os primeiros anos 
de vida de Kaspar Hauser foram numa cela, sem contato verbal com qualquer outra pessoa. 
Isso o impediu de adquirir uma língua, quando era criança. Seu isolamento o privou não so-
mente da fala. Ele não tinha conceitos, raciocínios, hábitos nem mesmo gestos característicos 
das pessoas que viviam em sociedade. Não sabia distinguir o sonho da realidade. Kaspar 
Hauser aprendeu a falar apenas mais tarde. Supostamente aos quinze anos de idade, foi dei-
xado em uma praça pública de Nuremberg, na Alemanha, com uma carta na mão explicando 
parte de sua história. Menos de cinco anos depois, em 1833, ele morreu assassinado. Sua 
vida em sociedade foi marcada por inadequações e estranhamentos devido à exclusão social 
e ao isolamento que experimentara desde criança. (Saldanha, 2010, p. 174-175)
05. Suponha que um professor, numa reunião de trabalho, tenha de apresentar sua discor-
dância em relação à opinião de outro colega. O professor, em vez de seguir um impulso inicial 
e dizer “Você está completamente errado, essa sua visão tacanha do problema só vai trazer 
mais aporrinhação, não posso concordar com você!”, afirma o seguinte: “Parece-me que você 
está equivocado, pois sua visão do problema pode ser limitada e, talvez, acarrete mais com-
plicações, assim, tenho dificuldades em concordar com você”. Nesse caso, o cuidado que o 
professor teria na elaboração da fala está relacionado com qual concepção de linguagem? 
Quais são as características ou principais aspectos dessa concepção de linguagem?
capítulo 1 • 25
REFLEXÃO
Você tem visto que a língua tem lugar central na experiência de comunicação e interação do 
ser humano, fazendo parte de nossa humanidade.
Tanto a oralidade quanto a escrita apontam para o fato de que a necessidade de viver 
em sociedade e nos relacionarmos com os outros nos leva a desenvolver estratégias de 
comunicação. Entretanto, não usamos a língua apenas para entrar em relação com os outros 
em situações cotidianas e mais utilitaristas de comunicação. Fazemos uso da língua nas 
manifestações artísticas, na expressão esteticamente elaborada de sentimentos e emoções, 
na criação de novas formas de se expressar e em diversas experiências culturais. Porém, 
mais do que o uso da língua, interessam-nos, também, as reflexões que podemos fazer sobre 
esse uso. Queremos pensar sobre a língua. Estudar não uma língua específica, do ponto 
de vista gramatical ou etimológico, mas conhecer aquilo que é comum às estruturas e ao 
funcionamento das línguas em geral. Por isso, você estudou algumas das características da 
linguagem humana e aprendeu sobre diferentes concepções teóricas da linguagem.
Para finalizar este momento de seus estudos linguísticos, leia a citação a seguir procu-
rando refletir sobre o lugar da linguagem na história da humanidade e sua estreita relação 
com a vida em sociedade:
O fascínio que a linguagem sempre exerceu sobre o homem vem desse poder que per-
mite não só nomear/criar/transformar o universo real, mas também possibilita trocar 
experiências, falar sobre o que existiu, poderá vir a existir, e até mesmo imaginar o que 
não precisa nem pode existir. A linguagem verbal é, então, a matéria do pensamento e 
o veículo da comunicação social. Assim como não há sociedade sem linguagem, não 
há sociedade sem comunicação. Tudo o que se produz como linguagem ocorre em 
sociedade, para ser comunicado, e, como tal, constitui uma realidade material que se 
relaciona com o que lhe é exterior, com o que existe independentemente da linguagem. 
Como realidade material – organização de sons, palavras, frases – a linguagem é rela-
tivamente autônoma; como expressão de emoções, ideias, propósitos, no entanto, ela é 
orientada pela visão de mundo, pelas injunções da realidade social, histórica e cultural 
de seu falante. (PETTER, 2003, p. 12)
26 • capítulo 1
LEITURA
No artigo "Existe linguagem animal?" você pode ler um pouco mais sobre a comunicação 
entre animais e sua distinção em relação à linguagem humana. Disponível em: http://faabiy.
blogspot.com/2010/08/existe-linguagem-animal.html .
No vídeo "Linguagem e dialogismo", produzido pela Unesp/Univesp, você pode encon-
trar explicações e uma síntese sobre as três concepções de linguagem que foram apresenta-
das neste capítulo. O vídeo pode ser acessado no canal da Univesp TV, no Youtube: https://
www.youtube.com/watch?v=D3Cu0e_cTz0 .
Embora não tenhamos tratado diretamente do tema da origem da linguagem, caso você 
tenha interesse no assunto, não deixe de assistir ao documentário francês "As origens da 
linguagem", que apresenta hipóteses interessantes para o surgimento da língua, encontrado 
em versão dublada no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=cYJoXsfgenQ .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORBA, F. da S. Introdução aos estudos linguísticos. Campinas: Pontes 1998.
ESTÁCIO. Linguística. WebAula, 2014.
MCGRATH, Jane. O que significa para os animais entender palavras. Howstuffworks, 2008. 
Disponível em: http://casa.hsw.uol.com.br/caes-e-palavras2.htm . Acessado em: 10 fev. 2015.
PALOMO, Sandra M. S. Linguagem e linguagens. In: Eccos Revista Científica. São Paulo, UNINOVE, 
vol. 3, nº 2, dez. 2001.
PETTER, Margarida. Linguagem, língua, Linguística. In: FIORIN, José L. (org.). Introdução à 
Linguística I. São Paulo: Contexto, 2003.
TRAVAGLIA, Luiz C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 9. ed. rev. São 
Paulo: Cortez, 2003.
VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo: MartinsFontes, 1981. (Ensino Superior)
A Linguística
2
28 • capítulo 2
Neste capítulo, vamos continuar nosso estudo sobre a linguagem, aprenden-
do sobre a história e as diversas áreas da Linguística, caracterizada como o 
conhecimento científico da língua. Além disso, também abordaremos o pa-
pel do linguista, destacando seu trabalho com a língua e sua relação com a 
gramática.
OBJETIVOS
•  Obter uma panorâmica dos estudos da linguagem antes do surgimento da Linguística Moderna;
•  Compreender os pressupostos teóricos e metodológicos da Linguística;
•  Conhecer as diferentes áreas da Linguística e as possibilidades de atuação do linguista.
capítulo 2 • 29
2.1 Estudos sobre a linguagem na pré 
linguística
O estudo sobre a linguagem antecede o surgimento da própria Linguística 
como uma disciplina e área do conhecimento. Por isso mesmo, podemos nos 
referir a um longo período de estudos da linguagem, abrangendo diferentes po-
vos e culturas, sem pretensões científicas e não se enquadrando na categoria 
de disciplina acadêmica.
Primeiramente, nessa perspectiva histórica dos estudos sobre a linguagem, 
podemos mencionar a tradição hindu.
Por motivos religiosos relacionados com o cuidado com a língua nas can-
ções e nos rituais, os antigos hindus desenvolveram estudos gramaticais por 
meio dos quais classificavam os sons da fala. Essa classificação era bem deta-
lhada e precisa, sendo baseada na observação e na experiência que os gramáti-
cos hindus desenvolviam. Na verdade, "em sua análise das palavras, os gramá-
ticos hindus foram bem além daquilo que se poderia julgar necessário ao seu 
objetivo original", que era preservar os textos sagrados sem qualquer alteração 
por conta de seu uso nas canções ou quando eram recitados nas cerimônias 
religiosas indianas (LYONS, 1979, p. 22).
Já no século IV a.C., temos um gramático conhecido por Panini se dedican-
do "ao estudo do valor e do emprego das palavras". Ele fez uma descrição deta-
lhada do sânscrito, um tratado com milhares de regras. No século II a.C, outro 
gramático, Pantañjali, explicou esse tratado. Esses dois gramáticos hindus lan-
çaram a base da gramática do sânscrito (CÂMARA JR, 1986, p.15).
O trabalho relacionado com o sânscrito e desenvolvido pelos gramáticos 
hindus começa a se tornar conhecido no mundo ocidental no final do século 
XVIII.
Antes porém de tratarmos dessas influências e de um período que abrange 
a Idade Média e entra na Idade Moderna, vamos lembrar que estamos tratando 
de uma história que, no contexto do pensamento e da cultura ocidentais, teria 
início com o estudo da gramática entre os gregos na Antiguidade clássica. Esse 
estudo era de natureza filosófica, baseado na lógica e preocupado com o esta-
belecimento das relações entre o pensamento e a palavra, buscando a exatidão 
e a correção. Os estudos voltados para a gramática grega tiveram uma grande 
contribuição nesse sentido.
30 • capítulo 2
Uma preocupação importante na filosofia grega estava relacionada com o 
que era considerado natural ou convencional na língua. Os pensadores gregos 
debatiam se o que dominava a língua era a "natureza" ou a "convenção", no con-
texto de uma especulação filosófica bastante comum e que colocava em campos 
opostos o natural e o convencional. Assim, ao afirmar que uma determinada ins-
tituição, como a língua, era natural significava "dizer que ela tinha sua origem em 
princípios eternos e imutáveis fora do próprio homem, e era por isso inviolável". 
Por outro lado, afirmar "que era convencional equivalia a dizer que ela era o mero 
resultado do costume e da tradição, isto é, de algum acordo tácito, ou “contra o 
social”, entre os membros da comunidade – “contrato” que, por ter sido feito pe-
los homens, podia ser pelos homens violado" (LYONS, 1979, p. 4).
Assim, os gregos se dedicaram à questão da definição das "relações entre 
o conceito e a palavra que o designa, ou seja, tentavam responder à pergunta: 
haverá uma relação necessária entre a palavra e o seu significado?" (PETTER, 
2003, p. 7). 
Pelo menos dois filósofos se destacam nos estudos sobre a linguagem na 
Antiguidade clássica grega: Platão e Aristóteles. 
2.1.1 Platão e a filosofia da linguagem
Platão não reconhecia a linguagem como mediadora entre a consciência e a re-
alidade, já que a linguagem afastaria o homem do contato direto com o mundo 
das ideias (o lugar das verdades), sendo, portanto, uma contingência ou mesmo 
degradação do ser humano. Consequentemente, “Platão concebe o ato de falar 
como um compromisso com a verdade, pois acredita que toda ficção fatalmen-
te se desmorone diante do que ele chama de ‘realidades vivas’, isto é, as ideias” 
(BRANDÃO, 1976, p. 19-24).
CONEXÃO
Você pode compreender melhor o conceito de “mundo das ideias” por meio da Alegoria da 
Caverna, de Platão. Uma animação muito interessante sobre essa alegoria pode ser assistida 
no link a seguir: http://www.youtube.com/watch?v=eZze-EpcwRI
capítulo 2 • 31
Em relação ao discurso, no campo da Retórica, Platão entendia que o emis-
sor e o receptor têm limitações na mensagem, pois a atenção dada ao ouvinte se 
constitui em “adulação interesseira” e a intervenção do orador será entendida 
como uma ilusão enganadora (BRANDÃO, 1976, p. 26).
Platão trouxe uma contribuição interessante ao ser, provavelmente, o pri-
meiro pensador que propôs uma classificação para as palavras, distinguindo os 
nomes dos verbos.
2.1.2 Aristóteles e o estudo da linguagem
A abordagem de Aristóteles em relação à linguagem é encontrada em textos 
como Retórica e Argumentos Sofísticos. 
Para Aristóteles, a linguagem tem um caráter precário diante da realidade 
que ela pretende representar, já que “os nomes e uma quantidade qualquer de 
termos são finitos, enquanto o número das coisas é infinito”, no entanto, ele 
reconhece que a linguagem é condição essencial para a comunicação huma-
na. Aristóteles entendia que sem o significado das palavras não seriam possí-
veis as discussões, as conversações e, até mesmo, a compreensão de si mesmo 
(BRANDÃO, 1976, p. 19-20).
Aristóteles também entendia que a simbolização por meio da linguagem é 
algo próprio do ser humano, que deveria se definir muito mais pela palavra do 
que pelo emprego da força ou pelo corpo.
A linguagem é considerada, ainda, sob dois ângulos: como suporte da refle-
xão filosófica e como veículo de manifestação de valores e crenças humanas. 
Assim, a linguagem estaria relacionada com a ciência ou filosofia e com a retó-
rica. Na filosofia, deve-se buscar ou descobrir a verdade (exigência de certezas), 
na retórica deve-se descobrir de modo especulativo o que é adequado para per-
suadir em cada situação (bastando a persuasão) (BRANDÃO, 1976, p. 20).
Indo além da classificação de Platão em relação às palavras, Aristóteles clas-
sificava as palavras em três categorias: nomes, verbos e partículas. A contribui-
ção de Aristóteles foi numa direção diferente da de Platão, pois ele "chegou a 
elaborar uma teoria da frase, a distinguir as partes do discurso e a enumerar as 
categorias gramaticais" (PETTER, 2003, p. 7).
32 • capítulo 2
2.1.3 Estudos da linguagem na Roma antiga
A partir dos estudos gramaticais do grego, os romanos desenvolveram um es-
tudo normativo do latim, apoiado em categorias como "certo e errado". Con-
forme a explicação oferecida por Lyons (1979, p. 14), as semelhanças entre as 
estruturas do latim e do grego levaram os latinistas a considerarem as diversas 
categorias gramaticais elaboradas pelos gregos como "categorias linguísticas 
universais e necessárias".
Entre os latinos que receberam alguma influência dos gregos, podemos 
mencionar Varrão (século II a.C), que se dedicou àgramática e procurou definí
-la como arte e ciência, escrevendo um compêndio de vários volumes intitulado 
De Língua Latina (PETTER, 2003, p. 7). 
Houve também outros nomes importantes entre os romanos, gramáticos 
que procuraram descrever a língua das obras clássicas latinas, que eram consi-
deradas a produção dos melhores escritores, não se preocupando com a língua 
falada no cotidiano.
2.1.4 Estudos da linguagem na Idade Média até o fim do século XVIII
Por influência principalmente da Igreja e em função da diplomacia, da eru-
dição e da cultura, o latim foi a língua mais estudada durante a Idade Média 
(LYONS, 1979, p. 14). Vários manuais de latim surgiram e os estudos gramati-
cais baseados no latim foram consideráveis no período medieval, influencian-
do outras línguas e gramáticas.
No século XVI, motivada pela Reforma Protestante, ocorre a tradução de 
textos sagrados em várias línguas, ainda que o latim mantivesse seu prestígio 
como língua universal. Concomitantemente, há uma difusão de línguas estran-
geiras até então desconhecidas a partir do intercâmbio cultural resultante dos 
deslocamentos dos viajantes, comerciantes e diplomatas (PETTER, 2003, p. 7). 
Nesse período, o pensamento de vários filósofos gregos é retomado, entre 
eles Aristóteles. Surge a gramática especulativa, que estava fundada filosofi-
camente na ideia de que "a língua é um espelho que reflete a realidade subja-
cente aos fenômenos do mundo físico". Desse modo, tentava-se determinar de 
que forma a palavra se vinculava à inteligência e à coisa que ela representava 
(BORBA, 1998, p. 305). 
capítulo 2 • 33
Os gramáticos especulativos defendiam que a "palavra não representa di-
retamente a natureza da coisa significada, mas apenas como ela existe de uma 
maneira ou modo: uma substância, uma ação, uma qualidade" (BORBA, 1998, 
p. 305).
Nos séculos XVII e XVIII, as preocupações que os antigos estudiosos ti-
nham com a gramática têm continuidade. Em 1660, por exemplo, destaca-se 
na França a Gramática de Port Royal (Grammaire Générale et Raisonnée de Port 
Royal), um modelo que influenciou muitas gramáticas do século XVII e que re-
tomou ideais da gramática especulativa. Tratava-se de uma gramática que pro-
curava demonstrar que a linguagem está fundada na razão, sendo a imagem 
do pensamento. Consequentemente, "os princípios de análise estabelecidos 
não se prendem a uma língua particular, mas servem a toda e qualquer língua" 
(PETTER, 2003, p. 7).
A Gramática de Port Royal, desse modo, era racional, como já apontado, 
e geral, pois ela estava preocupada em esclarecer princípios que não estavam 
presos à descrição de uma língua particular, já que considerava a linguagem 
em sua generalidade
2.1.5 Antecedentes da Linguística no século XIX
No século XIX, ocorre maior interesse pelas línguas vivas, pelo estudo compa-
rativo dos diferentes falares em função de aumentar o conhecimento sobre um 
número maior de línguas. Isso caracterizou um avanço em relação ao raciocínio 
mais abstrato sobre a linguagem verificado no século XVIII. Desse modo, é desen-
volvido um método histórico de estudo da língua, o que levará ao "florescimento 
das gramáticas comparadas e da Linguística Histórica" (PETTER, 2003, p. 7). 
Já no começo do século XIX, o linguista alemão Humboldt procurou estabele-
cer "o mecanismo e a natureza da linguagem por meio de raciocínios gerais que se 
aplicam ao funcionamento das línguas em particular". O princípio que norteava o 
trabalho de Humboldt era de que a língua se constitui numa atividade interessan-
te, num trabalho mental do homem que é repetido continuamente para que seus 
pensamentos sejam expressos. Assim, ele entendia que a língua era uma energia 
ou força criadora de cada um, não sendo apenas um produto a ser utilizado pelos 
falantes. Consequentemente, a língua exerceria grande influência no modo como 
os falantes percebem e organizam a realidade, o mundo dos objetos, e em torno 
disso sua própria mente ou pensamento (BORBA, 1998, p. 306).
34 • capítulo 2
Outros nomes podem ser destacados nos estudos da linguagem no século 
XIX, como o de Franz Bopp, que em 1816 publica uma obra sobre o sistema 
de conjugações de várias línguas (Sânscrito, Grego, Latim, entre outras). Essa 
obra se constitui num marco para o estabelecimento da linguística comparati-
va. Outros nomes são Grimm, com sua Gramática Germânica de 1819; Rasmus 
Rask, com a publicação de seu trabalho linguístico em 1818. Nessa época, 
os estudos linguísticos estão voltados para o esforço em reconstituir a histó-
ria ou passado de línguas europeias e asiáticas, com uma preocupação mais 
histórica e etimológica, centrada na mudança das línguas ao longo do tempo 
(BANDEIRA, s/d, p. 12).
A descoberta de semelhanças entre essas línguas e grande parte das línguas euro-
peias vai evidenciar que existe entre elas uma relação de parentesco, que elas consti-
tuem, portanto, uma família, a indo-europeia, cujos membros têm uma origem comum, 
o indo-europeu, ao qual se pode chegar por meio do método histórico-comparativo. 
(PETTER, 2003, p.8)
Assim, os estudos da linguagem do século XIX são identificados com a lin-
guística histórica, atrelada à gramática comparada, pois levava em conta a mu-
dança das línguas e buscava descobrir sua história, comparando, por exemplo, 
línguas europeias com o sânscrito.
Os estudos dos gramáticos comparativistas, buscando chegar a formas re-
motas de uma língua e reconstruir hipóteses sobre sua origem, contribuíram 
para o fortalecimento de uma metalinguagem, para o estabelecimento de sím-
bolos e recursos para descreverem uma língua.
O nascimento de Linguística moderna, no século XX, se beneficia dos prin-
cípios metodológicos que foram elaborados no século anterior, ainda que ela 
se constitua em bases diferentes: "O estudo comparado das línguas vai eviden-
ciar o fato de que as línguas se transformam com o tempo, independentemente 
da vontade dos homens, seguindo uma necessidade própria da língua e mani-
festando-se de forma" (PETTER, 2003, p. 8).
capítulo 2 • 35
2.2 O estudo científico da linguagem
A Linguística moderna surge no início do século XX, fundada nos estudos de 
Ferdinand Saussure, com a pretensão de ser um estudo científico da lingua-
gem. Porém, nem sempre os estudos linguísticos tiveram status de cientificida-
de, como podemos constatar ao tratar dos antecedentes da Linguística.
Na verdade, antes do século XX, os estudos linguísticos não faziam parte de 
uma área do conhecimento autônoma, pois eles submetiam-se "às exigências 
de outros estudos, como a lógica, a filosofia, a retórica, a história, ou a críti-
ca literária". Com o surgimento da Linguística no começo do século passado, 
ocorre uma mudança que "se expressa no caráter científico dos novos estu-
dos linguísticos, que estarão centrados na observação dos fatos de linguagem 
(PETTER, 2003, p.13).
Tanto no passado quanto no presente, os estudos linguísticos estiveram 
vinculados, de algum modo, ao seu contexto ou à sua época. Podemos afirmar 
que “as teorias da linguagem, do passado ou atuais, sempre refletem concep-
ções particulares de fenômeno linguístico e compreensões distintas do papel 
deste na vida social”. Assim, em cada momento da história, “as teorias linguís-
ticas definem, a seu modo, a natureza e as características relevantes do fenô-
meno linguístico. E, evidentemente, a maneira de descrevê-lo e de analisá-lo” 
(ALKMIN, 2004, p. 22).
Alguns manuais de história da Linguística nos oferecem um panorama de diversas 
abordagens no estudo do fenômeno linguístico [...] Schleicher se propõe a colocar a 
Linguística no campo das ciências naturais, dissociando-a da tradição filológica, vista 
porele como um ramo da História, ciência humana. Para o referido linguista alemão o 
desenvolvimento da linguagem era comparável ao de uma planta que nasce, cresce e 
morre segundo leis físicas. A linguagem é vista como um organismo natural ao qual se 
aplica, portanto, o conceito de evolução, desenvolvido por Darwin [...] A orientação bio-
logizante que Schleicher imprimiu à Linguística da sua época afastou, evidentemente, 
toda consideração de ordem social e cultural no trato do fenômeno linguístico. (ALK-
MIN, 2004, p. 22).
36 • capítulo 2
No começo do século XX, como já mencionamos, os estudos linguísticos 
abandonam muitas pressuposições ultrapassadas e ganha status científico. 
Surge a Linguística Moderna.
Podemos conceituar a Linguística como a ciência que estuda a linguagem.
Silva (2005) define a Linguística como “a ciência que investiga os fenôme-
nos relacionados à linguagem e que busca determinar os princípios e as carac-
terísticas que regulam as estruturas das línguas”.
A Linguística é considerada uma ciência?
Embora seja comum caracterizar a Linguística como ciência, essa definição 
pode encontrar alguma resistência ou discordância.
Castilho (2001, p. 55 apud COSTA, 2003) procura explicar os estudos linguís-
ticos por meio da fábula dos três cegos apalpando o elefante. A analogia é inte-
ressante porque cada um que apalpava o elefante acabava definindo o animal 
a partir daquela parte do corpo em que tocava. Assim, o que tocava na perna 
tinha a percepção do elefante como "um animal com formato de cilindro e que 
é estático, [que] não se mexe [e] ocupa posição vertical no espaço”. Já o cego 
que pegava na tromba discordava dessa primeira impressão, "não só quanto à 
disposição no espaço, quanto à rigidez no tato, tanto quanto à falta de mobili-
dade". O terceiro cego que poderia ter seus movimentos no vazio, sem tocar em 
nada ou tocando em algo que não fosse o elefante, obteria apenas uma catego-
ria vazia.
Assim, não é simples chegar a uma definição ou conceito sobre o que é 
Linguística.
Bernadete Abaurre (apud XAVIER; CORTEZ, 2003, p.16-17) defende que a 
Linguística se constitui num "amplo campo de estudos sobre a linguagem", no 
qual há objetos de estudo definidos, rigor na pesquisa, sistematização e teste 
de teorias, além de outros procedimentos que caracterizam as investigações 
científicas.
Castilho (2001, p. 56 apud COSTA, 2003) argumenta que se faz ciência nos 
estudos linguísticos quando entendemos que a ciência está relacionada com a 
capacidade de "problematizar as coisas, fazer perguntas, identificar um objeto 
de preocupações, criar hipóteses prévias sobre esse objeto e verificar nos dados 
se essas suas hipóteses encontram guarida", para depois reformular as hipóte-
ses numa constante tensão entre teoria e prática, até chegar a uma estabilidade 
nas descobertas e publicá-las de alguma forma.
capítulo 2 • 37
Luiz A. Marcushi (apud XAVIER; CORTEZ, 2003, p.137) afirma que “ciência 
é todo tipo de investigação em que se produz algum tipo de conhecimento. (...) 
O próprio da ciência é investigar e não explicar. A explicação é um dos seus fei-
tos e não sua essência”. 
Sírio Possenti (apud XAVIER; CORTEZ, 2003, p.167) acrescenta que “há as-
pectos, pedaços da linguística que são científicos, são ciência”. 
De acordo com Lopes (1976, p. 24), a Linguística é uma ciência interdiscipli-
nar que apresenta interfaces ou se vale da contribuição da Estatística, da Teoria 
da Informação, da Lógica Matemática, da Psicanálise, da Teoria Literária, da 
Antropologia etc. 
A Linguística se interessaria pela linguagem, seu objeto de estudo, desde 
um enfoque particular. O enfoque da Linguística seria diferente, por exemplo, 
do enfoque da gramática ou mesmo da filologia. Os estudos linguísticos não se 
limitariam à decifração de texto escritos antigos (como na filologia) ou à descri-
ção e estabelecimento de regras da língua padrão (como na gramática).
Para Dascal e Borges Neto (1991, p. 33 apud XAVIER; CORTEZ, 2003), no 
século XIX, “ao invés de se estudar a linguagem para ‘fazer filosofia’ ou para 
‘fazer crítica literária’, como nos séculos anteriores", a linguagem começou a 
ser estudada com o objetivo de se "fazer ciência". 
Diante dessas considerações, podemos dizer que a Linguística tem um esta-
tuto científico. Há pelo menos três aspectos ou requisitos que apontariam para 
o estatuto científico da Linguística: o estabelecimento de um objeto (de estudo) 
próprio; o uso de metodologia rigorosa ao invés de ter um caráter intuitivo ou es-
peculativo e, finalmente, seu caráter descritivo e analítico, em vez de prescritivo.
O estatuto científico da linguística deve-se, portanto, à observância de certos requisitos que 
caracterizam as ciências de um modo geral. Em primeiro lugar, a linguística tem um objeto 
de estudo próprio: a capacidade da linguagem, que é observada a partir dos enunciados 
falados e escritos. Esses enunciados são investigados e descritos à luz de princípios teó-
ricos e de acordo com uma terminologia específica e apropriada. A universalidade desses 
princípios teóricos é testada através da análise de enunciados em várias línguas.
Em segundo lugar, a linguística tende a ser empírica, e não especulativa ou intuitiva, 
ou seja, tende a basear suas descobertas em métodos rígidos de observação. Ou seja, 
a maioria dos modelos linguísticos contemporâneos trabalha com dados publicamente 
verificáveis por meio de observações e experiências.
38 • capítulo 2
Estreitamente relacionada ao caráter empírico da linguística está a atitude não pre-
conceituosa em relação aos diferentes usos da língua. Essa atitude torna a linguística, 
primordialmente, uma ciência descritiva, analítica e, sobretudo, não prescritiva. Para 
tanto, examina e analisa as línguas sem preconceitos sociais, culturais e nacionalistas, 
normalmente ligados a uma visão leiga acerca do funcionamento das línguas. A linguís-
tica considera, pois, que nenhuma língua é intrinsecamente melhor ou pior do que outra, 
uma vez que todo sistema linguístico é capaz de expressar adequadamente a cultura do 
povo que a fala (CUNHA, COSTA & MARTELLOTA, 2008, p. 20).
Sobre o uso de uma metodologia científica no estabelecimento da 
Linguística como ciência da linguagem, devemos levar em conta a importância 
de se proceder à observação dos fatos ou fenômenos linguísticos antes de se es-
tabelecer uma hipótese. Além disso, os fatos que são observados precisam ser 
examinados sistematicamente por meio de experimentação e uma teoria ade-
quada. Assim, o trabalho ou método científico nos estudos linguísticos "con-
siste em observar e descrever os fatos a partir de determinados pressupostos 
teóricos formulados pela Linguística, ou seja, o linguista aproxima-se dos fatos 
orientado por um quadro teórico específico". Desse modo, é possível que um 
mesmo fenômeno receba diferentes descrições e explicações, em função "do 
referencial teórico escolhido pelo pesquisador" (PETTER, 2003, p. 12-13).
Além de sabermos o que é a Linguística, precisamos definir também o tra-
balho do linguista.
O linguista é aquele pesquisador ou estudioso pertencente à área da 
Linguística. Seu trabalho, em linhas gerais, consiste em buscar “sistematizar 
suas observações sobre a linguagem, relacionando-as a uma teoria linguística 
construída para esse propósito. A partir dessa teoria, criam-se métodos rigorosos 
para a descrição das línguas” (CUNHA, COSTA & MARTELLOTA, 2008, p. 20).
Vale, ainda, considerar a observação que Petter (2003, p. 17) faz acerca da ta-
refa do linguista e da caracterização dos estudos linguísticos. Ele afirma que "os 
estudos linguísticos não se confundem com o aprendizado de muitas línguas: 
o linguistadeve estar apto a falar “sobre” uma ou mais línguas, conhecer seus 
princípios de funcionamento, suas semelhanças e diferenças". Desse modo, a 
Linguística não pode ser equiparada ao estudo tradicional da gramática, pois 
capítulo 2 • 39
o linguista observa a língua e "procura descrever e explicar os fatos: os padrões 
sonoros, gramaticais é lexicais que estão sendo usados, sem avaliar aquele uso 
em termos de um outro padrão: moral, estético ou crítico". 
O papel do linguista, então, se define em termos de uma busca para desco-
brir como a linguagem funciona, tendo a língua como objeto de estudo "que 
deve ser examinado empiricamente, dentro de seus próprios termos, como a 
Física, a Biologia etc.". Em relação à metodologia, "a análise linguística focali-
za, principalmente, a fala das comunidades e, em segunda instância, a escrita" 
(PETTER, 2003, p. 18).
Uma forma prática de conhecer e saber um pouco mais o que é a Linguística 
pode ser encontrada neste material. Seguindo cada unidade deste livro, você 
terá oportunidade de construir um conceito de Linguística.
Ao longo deste material, você terá oportunidade de verificar as principais 
contribuições de nomes importantes dos estudos linguísticos no século XX. 
Acompanhará a apresentação de conceitos e pesquisas importantes para o es-
tabelecimento da Linguística moderna.
De qualquer modo, vale a pena apresentarmos, por enquanto, uma lista das 
áreas da Linguística e suas aplicações.
Podemos listar como áreas da linguística: fonética (estudos dos sons da fala 
humana); fonologia (estudo das funções linguísticas dos sons da fala); gramáti-
ca descritiva (estudo descritivo dos aspectos morfológicos, sintáticos e semân-
ticos); lexicologia e lexicografia (estudo dos vocábulos de um idioma e elabora-
ção de dicionários e descrição do léxico de uma língua); estilística (estudo sobre 
aspectos estilísticos da linguagem); pragmática (estudo da língua no contexto 
de seu uso na comunicação); filologia (estudo da linguagem em textos antigos). 
Essa lista não é consensual e pode levantar muitas polêmicas, mas ela dá uma 
ideia das áreas de atuação da linguística.
Há aqueles que dividem a Linguística a partir de seu foco de análise em 
Linguística Descritiva, Linguística Histórica, Linguística Teórica, Linguística 
Aplicada e Linguística Geral.
Confira uma breve descrição de cada uma dessas subdivisões da Linguística:
40 • capítulo 2
LINGUÍSTICA 
DESCRITIVA (OU 
SINCRÔNICA): 
Fala de uma língua, descrevendo-a simultaneamente 
no tempo, analisa as relações existentes entre os fatos 
linguísticos em um estado da língua, além de fornecer 
dados que confirmam ou não as hipóteses. Moderna-
mente, ela cede lugar à Linguística Teórica, que constrói 
modelos teóricos, mais do que descreve;
LINGUÍSTICA 
HISTÓRIA (OU 
DIACRÔNICA): 
Analisa as mudanças que a língua sofre através dos 
tempos, preocupando-se, principalmente, com as trans-
formações ocorridas;
LINGUÍSTICA 
TEÓRICA: 
Procura estudar questões sobre como as pessoas, 
usando suas linguagens, conseguem comunicar-se; 
quais propriedades todas as linguagens têm em co-
mum; qual conhecimento uma pessoa deve possuir 
para ser capaz de usar uma linguagem e como a habili-
dade linguística é adquirida pelas crianças;
LINGUÍSTICA 
APLICADA: 
Utiliza conhecimentos da linguística para solucionar 
problemas, geralmente referentes ao ensino de línguas, 
à tradução ou aos distúrbios de linguagem.
LINGUÍSTICA GERAL: 
Engloba todas as áreas, sem um detalhamento profun-
do. Fornece modelos e conceitos que fundamentarão a 
análise das línguas (FIORIN, 2003).
Borba (1998, p. 316) apresenta os postulados que contribuíram para o esta-
belecimento de um corpo teórico de conhecimentos linguísticos. São eles:
•  Crença na existência de uma estrutura subjacente não interpretada em 
que a semântica e a pragmática são acrescentadas somente para fins de inter-
pretação ou extensão.
•  Alegação de que se pode fazer distinção entre gramática e não gramática.
capítulo 2 • 41
•  Exigência de uma ordem extrínseca estrita para as regras gramaticais.
•  Pressuposição de metateorias a que somente mais tarde se dá um conteú-
do empírico (BORBA, 1998, p. 316).
Para Borba (1998, p. 316), a Linguística teria o desafio de cumprir, então, 
enormes tarefas. Entre elas, cita as seguintes:
1. Refinar e ampliar a metodologia dando atenção à linguística transfrasal.
2. Coligir e analisar dados de línguas ainda desconhecidas e intensificar 
os esforços para completar análises de línguas desconhecidas.
3. Desenvolver os métodos de pesquisa histórica, dando atenção aos es-
tudos comparativos para conhecimento mais rigoroso dos grupos linguísticos 
relacionados.
4. Desenvolver os estudos de tipologia linguística.
5. Colaborar no aperfeiçoamento e avanço de técnicas para o ensino de 
línguas estrangeiras (BORBA, 2003, p. 316-317).
Em relação aos desafios e aplicações da Linguística no contexto Brasileiro, 
são apontadas necessidades de pesquisa e estudos nas seguintes áreas:
1. Descrição da língua portuguesa em sua totalidade, visando à constru-
ção de gramáticas e dicionários para uso escolar ou não, com base sempre na 
descrição objetiva dos fatos.
2. Caracterização dos dialetos e dos vários registros vigentes nos mais di-
versos estratos sociais.
3. Reformulação da metodologia de investigação histórica.
4. Vinculação com a área pedagógica visando ao ensino de língua escrita e 
desenvolvimento dos padrões orais
5. Vinculação com a área literária visando à estimulação dos mecanismos 
de produção e recepção de textos. 
6. Estimulação do interesse pela descrição de nossas línguas indígenas 
(BORBA, 2003, p. 316-317).
42 • capítulo 2
Esses desafios ou necessidades foram elaborados dentro do contexto das 
necessidades que se vislumbravam ainda no final do século XX. Atualmente, 
novos desafios são colocados. Poderíamos citar, por exemplo, as novas perspec-
tivas de estudo que se abrem a partir do hipertexto eletrônico e da linguagem 
no mundo virtual ou na WEB.
2.3 Linguística e gramática: descrição x 
prescrição
Como já vimos, a Linguística não tem um caráter normativo ou prescritivo. Isso 
quer dizer que ela não está voltada para a imposição ou estabelecimento de re-
gras sobre o que é certo ou errado no uso da língua. Na verdade, a preocupação 
da Linguística está mais situada na descrição da língua, no estudo da estrutura, 
do funcionamento e dos usos da língua. Por isso, é comum a oposição entre 
uma visão descritiva da língua, associada à Linguística, e uma visão prescritiva 
da língua, vinculada à gramática normativa.
Vamos, então, entender melhor essa questão examinando alguns tipos de 
gramática, já que há conceitos de gramática que não se prendem a um conjun-
to de regras nem se limitam à gramática escolar.
2.3.1 Gramática prescritiva ou normativa
Começamos nossa explicação sobre tipos de gramática por aquela que é mais conhe-
cida e utilizada nas aulas de língua portuguesa na escola. Estamos nos referindo à 
gramática normativa, também denominada de gramática prescritiva, e que se dedica 
ao estudo da língua padrão, principalmente da modalidade escrita. A gramática nor-
mativa prescreve o que é considerado correto e errado de acordo com as normas da 
variante culta, a única considerada como válida. Tende a considerar apenas os fatos 
da língua escrita, tomando a variedade oral da norma culta como idêntica à escrita. 
Apresenta uma descrição do padrão culto da língua e dita normas de bem falar e es-
crever, valorizando a correção gramatical (TRAVAGLIA, 2001, p. 30-31).
A gramática é concebida “como um manual com regras de uso da língua 
a serem seguidas por aquelesque querem se expressar adequadamente” 
Assim, gramatical é tudo aquilo que obedece às normas do bom uso da língua, 
capítulo 2 • 43
configurando o falar e o escrever corretamente. A língua é considerada apenas 
na sua variedade dita padrão ou culta; todas as outras formas de uso da lín-
gua são consideradas desvios, erros, deformações ou degenerações da língua 
(TRAVAGLIA, 2001, p. 24).
Essa concepção de gramática como norma ou regra está vinculada à norma 
culta ou padrão em função de algumas razões ou argumentos. Esses argumen-
tos que estabeleceriam a norma culta e dariam base à gramática normativa se-
riam, de acordo com Travaglia (2001, p. 25-26), os seguintes:
ESTÉTICA:
 uso de critérios como elegância, colorido, beleza, 
finura, expressividade. Rejeição de vícios como a ca-
cofonia, colisão, eco, pleonasmo vicioso etc.
ELITISTA OU 
ARISTOCRÁTICA:
 opção pelo uso da língua pertencente à classe de 
prestígio em detrimento do uso das classes popu-
lares.
POLÍTICA:
 critério de purismo e vernaculidade. Rejeição de 
estrangeirismo ou qualquer aspecto que “ameace” 
a identidade ou soberania da nação ou da cultura 
nacional.
COMUNICACIONAL:
 critérios relacionados com a facilidade de comu-
nicação e compreensão. As construções e o léxico 
devem resultar na “expressão do pensamento”.
HISTÓRICA: 
recorre-se à tradição para critérios de exclusão e 
permanência de usos da língua.
44 • capítulo 2
2.3.2 Gramática descritiva
A gramática descritiva, diferentemente da gramática prescritiva, está relacionada 
com uma concepção que entende a gramática como uma atividade linguística de 
descrição da estrutura da língua e de seu funcionamento. A gramática é concebi-
da como um conjunto de regras utilizadas pelos falantes na construção real de 
enunciados, e não como regras ou normas que devem ser impostas ou adotadas 
por quem escreve e fala de modo diferente do que é observado ou descrito. Para 
essa concepção de gramática, será considerado gramatical ou aceitável “tudo o 
que atende às regras de funcionamento da língua de acordo com determinada 
variedade linguística” (TRAVAGLIA, 2001, p. 27). Note que o sentido de "regras 
de funcionamento da língua" não tem a ver com as regras da gramática escolar, 
mas está relacionado com as regularidades que são observadas no uso da língua.
Saber gramática significa, no caso, ser capaz de distinguir, nas expressões 
de uma língua, as categorias, as funções e as relações que entram em sua cons-
trução, descrevendo com elas sua estrutura interna e avaliando sua gramati-
calidade. O linguista pode fazer gramáticas de todas as variedades da língua, 
propondo de acordo com o modelo teórico quais as unidades e categorias da 
língua, bem como as relações que podem ser estabelecidas entre elas e as suas 
funções, o seu funcionamento.
São representantes dessa concepção as gramáticas feitas de acordo com as teorias estru-
turalistas que privilegiam a descrição da língua oral e as gramáticas feitas segundo a teoria 
gerativo-transformacional que trabalha com enunciados ideais, ou seja, produzidos por um 
falante-ouvinte ideal. As correntes linguísticas que dão base a esse tipo de gramática têm 
em comum o fato de proporem uma homogeneidade do sistema linguístico, abstraindo a 
língua de seu contexto, ou seja, elas trabalham com um sistema formal abstrato que regula-
riza o uso que se tem em cada variedade linguística (TRAVAGLIA, 2001, p. 27-28)
Assim, a gramática descritiva descreve e registra as unidades, categorias e 
mecanismos de uma determinada língua.Valoriza o trabalho de observação e 
descrição que se faz de uma determinada língua em um momento e local es-
pecíficos, procurando entender o seu funcionamento. A gramática descritiva é 
menos usada no ensino oficial e geralmente recebe a denominação da corrente 
linguística a que pertence.
capítulo 2 • 45
2.3.3 Gramática internalizada
A gramática compreende o conjunto de regras “dominado pelos falantes de 
um idioma e que lhes permite o uso normal da língua” (PERINI, 1976, p. 20-22, 
apud TRAVAGLIA, 2001).
A gramática internalizada é um conjunto de “regras que o falante de fato 
aprendeu e das quais lança mão ao falar, antes mesmo do processo de escolari-
zação” (TRAVAGLIA, 2001, p. 28).
Nesse caso, “saber gramática não depende, pois, em princípio de escolari-
zação, ou de quaisquer processos de aprendizado sistemático, mas da ativação 
e amadurecimento progressivo (ou da construção progressiva), na própria ati-
vidade linguística, de hipóteses sobre o que seja a linguagem e de seus princí-
pios e regras”. Não existem livros dessa gramática, pois ela é o objeto de des-
crição, daí porque normalmente essa gramática é chamada de internalizada 
(TRAVAGLIA, 2001, p. 28-29).
ATIVIDADES
01. Leia as afirmativas a seguir
I. A Linguística possui um estatuto científico, por isso ela pode ser considerada uma ci-
ência de todo e qualquer tipo de linguagem humana, constituindo-se fundamentalmente no 
estudo científico das linguagens não verbais e artificiais.
II. O estatuto científico da Linguística pode ser reconhecido no caráter empírico, intuitivo 
e especulativo dos estudos linguísticos.
III. O estabelecimento de um objeto de estudo próprio é uma das razões ou dos requisitos 
que apontam para o estatuto científico da Linguística.
IV. O caráter analítico e descritivo da Linguística, em vez de uma abordagem prescritiva, 
indica ou confirma o estatuto científico da Linguística.
Estão CORRETAS as afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) II e IV.
e) III e IV.
46 • capítulo 2
02. Sobre a Linguística, pode-se afirmar corretamente que:
a) corresponde aos estudos gramaticais, filológicos ou etimológicos realizados desde a 
Antiguidade Clássica e estendendo-se até a Idade Média.
b) consiste numa disciplina que trata da linguagem de uma forma normativa, procurando 
estabelecer as regras e normas do uso padrão da língua.
c) consiste numa disciplina que se detém na investigação científica da linguagem verbal 
humana.
d) corresponde aos estudos sobre a linguagem anteriores a Ferdinand Saussure.
e) consiste numa abordagem científica de todos os tipos de linguagem não verbal.
03. A partir das concepções e dos tipos de gramática, assinale a alternativa que representa 
uma caracterização adequada da diferença entre gramática normativa e gramática descritiva
a) Na gramática normativa, predomina a preocupação com a compreensão do funciona-
mento da língua, enquanto a gramática descritiva está ocupada com o estabelecimento 
das regras que devem ser seguidas.
b) A gramática descritiva, diferentemente da gramática normativa, não está preocupada 
com o trabalho de prescrição de normas gramaticais, por isso não lhe interessa explicar 
como funciona uma língua.
c) A gramática normativa, diferentemente da gramática descritiva, ocupa-se com o estabe-
lecimento das regras e normas que deverão ser seguidas pela comunidade de usuários 
da língua.
d) A gramática normativa é a gramática dos livros escolares; a gramática descritiva não 
existe em forma de livro, não é publicada e nem mesmo é abordada em algum livro 
acadêmico.
e) A gramática descritiva difere da gramática normativa porque prescreve o uso da língua, 
sendo, portanto, uma gramática que se distingue pelo trabalho de normalização.
04. Sobre a gramática normativa, é inadequado afirmar que ela seja:
a) Prescritiva.
b) Um conjunto de normas para o uso da língua.
c) Voltada para a língua padrão ou culta.
d) Uma gramática voltada para a descrição do uso e funcionamento da língua em todas as 
suas variedades.
e) Um manual de regras para o bom uso da língua.
capítulo 2 • 47
05. Podemos dizer que a Linguística

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