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A Realidade em Matrix: Ilusão e Conhecimento

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Imagem e simbolismo: a sociedade de controle em Matrix. 
Isabel Spagnolo.
					Morpheus: Você acredita em destino, Neo?
					Neo: Não.
					Morpheus: Por que não?
Neo: Porque eu não gosto da idéia de não ter controle da minha vida. 
		
	Há em Neo três sentimentos fundamentais: a curiosidade, a escolha e o poder, que dividem as cenas e diálogos em Matrix. 
	No início do filme, Neo possui duas vidas: durante o dia trabalha numa empresa de softwares e à noite é um hacker capaz não só de produzir programas como o da Matrix, mas também de invadi-la. Ele intui que alguma coisa está errada, sente que existe algo para além da realidade que lhe é mostrada. 
	Posteriormente se depara com a escolha entre permanecer na ilusão ou conhecer a verdade. Essa escolha lhe é apresentada através de duas pílulas: a azul e a vermelha. Escolhendo a primeira, permanecerá em seu mundo, no entanto, a segunda o levará à Matrix. 
	Ao conhecê-la, Neo decodifica seus códigos e funcionamento, sendo capaz de desvendá-la. 
	Nesse sentido, Matrix é comparada ao mito da Caverna, escrito por Platão no livro A República. Na metáfora supracitada, homens nasciam e cresciam prisioneiros numa Caverna, tomando a ilusão pela verdade através da projeção de sombras que acreditavam ser reais. Um dos prisioneiros consegue quebrar as correntes e, ao sair da Caverna, depara-se com a luz do sol e pessoas reais. Descobre, então, que esteve enganado por toda sua vida. Ele decide voltar e contar para os outros que as sombras não eram reais, mas projeções da realidade fora da Caverna. Sua intenção era mostrar o erro e libertá-los. Curiosamente, seus amigos rejeitaram a verdade e o consideraram louco. 
	Em Matrix, homens nasciam e viviam numa realidade gerada pelos computadores, segundo Morpheus: “mundo de sonho gerado por computador”. Eles acreditavam que aquilo que viam era o real. Como no mito da Caverna, tomavam a ilusão pela verdade. Neo se retira da realidade gerada pela Matrix (que quer dizer ventre) e identifica a construção de uma ilusão gerada pelos computadores. Essa ilusão construída por imagens escondia tanto a destruição da terra quanto a produção de energia feita por corpos humanos que funcionavam como bateria. 
	Assim como os prisioneiros da Caverna, Neo vivia na ilusão: “o interessante aqui é que os prisioneiros não sabem que são prisioneiros: pelo contrário, consideram-se livres. Não sabem que as imagens na parede não passam de imagens, acham que elas são a realidade. São ignorantes da própria ignorância”. � O mesmo se encontra nas palavras de Morpheus: “Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu na escravidão, numa prisão que você não pode cheirar, provar, nem tocar. Uma prisão para a mente. Não se pode dizer a ninguém o que é a Matrix. Você tem de vê-la por si mesmo”. 
	De que tipo de engano ou ilusão trata-se essa inversão da realidade? O erro metafísico não reverte-se através de sua indicação, e, por isso mesmo, os prisioneiros da Caverna ao ouvirem o relato do antigo companheiro, que havia fugido, desacreditaram-no, considerando-o louco. Semelhante a uma fala de Morpheus sobre o sistema: “A Matrix é um sistema, Neo. Esse sistema é nosso inimigo. Quando você está dentro, e olha ao redor, o que vê? Empresários, professores, advogados, marceneiros. As próprias mentes das pessoas que estamos tentando salvar. Mas até conseguirmos, essas pessoas ainda farão parte de um sistema”. Essas pessoas acreditam que suas vidas são reais e, por isso, elas se tornam reais. 
	Além da alegoria da Caverna, outras questões filosóficas são propostas pelo filme, como a questão da realidade e do conhecimento. 
 Construída a partir de nossos sentidos, a realidade pode ser entendida como uma resposta do nosso cérebro ao mundo externo. Recebemos estímulos das coisas que existem: o cachorro latindo, o barulho da chuva, o vizinho que abre a porta do elevador, etc. Esses estímulos são percebidos por nossos sentidos e enviados para o cérebro que configura uma determinada realidade. Portanto, a realidade é uma construção da nossa percepção. 
	Existe na natureza uma imensa variação de cores, classificadas como azul, verde, vermelho, amarelo, roxo, entre outras. Essa categorização e sentido das cores existem em função da mente humana, que distingue, classifica e confere sentidos, incluindo essas cores em nossas atividades, seja no exercício de nossos papéis sociais e gênero, seja em nossos rituais. Ex: rosa é cor de menina e azul de menino, roxo é usado para o luto, pois significa a carne em estado de decomposição, o vermelho representa o sangue, e, portanto, a vida, a paixão. Caso não existíssemos, haveria uma variação da luz, mas não uma classificação de cores. 
	O que existe é percebido pelos sentidos e ligado diretamente ao corpo. O corpo não está isolado, um corpo se interrelaciona com tantos outros corpos, pois vivemos em sociedade. Sendo assim, as experiências são compartilhadas coletiva e culturalmente. 
	Realidade tem a ver com percepção. Em Matrix, fala-se de um tipo de realidade virtual recebida através de computadores. Enquanto os corpos permanecem em casulos, e, portanto, sem o uso dos sentidos, as pessoas experimentam um tipo de realidade construída apenas pelo cérebro sem o uso da percepção. 
	Com o desenvolvimento tecnológico e a criação de microchips cada vez menores, pode-se imaginar que, algum dia, esses microchips serão implantados na mente humana, provocando distorções cerebrais e fazendo com que se viva um tipo de realidade construída sem os sentidos, sem nossa humanidade.
	Na história de Neo, retoma-se a questão da liberdade vinculada ao conhecimento. Morpheus oferece a Neo a pílula azul e a vermelha. Neo pode escolher entre conhecer ou não. Ele faz uso de seu livre-arbítrio. Paralelo ao mito judaico – cristão de Adão e Eva, mito fundador da cultura ocidental, Eva tem a chance de escolher entre permanecer no paraíso ou comer o fruto da árvore do conhecimento. A maçã, vermelha como a pílula de Neo, revela o desconhecido. 
	Ao escolher a maça, Adão e Eva olham para seus corpos, reconhecendo-se nus; Neo, ao tomar a pílula vermelha, olha seu corpo dentro de um casulo assim como os corpos de tantos outros; Adão e Eva são expulsos do paraíso e Neo é levado ao navio que funciona como centro da resistência. 
	Ao escolher o conhecimento, tanto Eva quanto Neo tiveram seus olhares alterados. Essa mudança no olhar provocou também um deslocamento, uma mudança de lugar. Eles não puderam mais retornar à sua antiga realidade, uma vez que a percepção dessa realidade foi alterada. Eles conheceram a verdade. Eles re-significaram aquela realidade, e por conseqüência, criaram uma outra. A verdade é uma interpretação da realidade, o que o real num determinado sistema de valores.
	Nessa nova realidade, Neo descobriu que o homem foi transformado em bateria, em produtor de energia para o funcionamento da Matrix. Nesse sentido, há uma relação com a filosofia marxista da reificação, o homem como coisa, transformado em peça de engrenagem de produção do sistema. 
	Alienados de seus corpos e do sentido de sua realidade, homens seguem como coisas. A alienação social, em Marx, ocorre quando o homem não se reconhece como agente de construção das instituições sociais, econômicas e políticas oriundas de um processo histórico e social. 
	As instituições disciplinares são exemplos dessa alienação. “O indivíduo começava sempre do zero”. O condicionamento e docilização eram reiniciados a cada novo dia na imposição de moldes.
	As cenas finais de Matrix revelam o poder adquirido por Neo através do conhecimento de sua verdade. O oráculo de Delfos também é apresentado no filme através da frase: “Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates, diferente dos filósofos anteriores que procuravam a arké o fundamento das coisas, preocupava-se com a relação do homem com o mundo e com os outros. Nesse sentido, seria preciso uma prática não apenas do pensamento, mas da purificação e da experiência para o conhecimento da verdade. A autotranscendência,que em Michel Foucault, pode ser encontrada como o cuidado de si mesmo. 
	Neo transcende aquela realidade imediata através da escolha e da transformação de seu próprio olhar. Seu deslocamento foi um deslocamento de sentido. Ele volta à Matrix, mas de uma forma diferente e com a mesma intenção do prisioneiro da caverna de Platão, a de mostrar o erro e desvendar uma realidade para além da ilusão. 
	
	 
 
	 
 
	 
� GRISWORLD JR, Charles L. Felicidade e a Escolha de Cyper: a Ignorância é Felicidade? IN: IRWIN, William. Matrix. Bem – Vindo ao Deserto do Real. São Paulo, Madras, 2003, pg. 157.

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