Panóptico: O Olho do Poder

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POLÍTICA DA COMUNICAÇÃO
TEXTO PANÓPTICO.
MICHEL FOUCAULT. 
VIGIAR E PUNIR. 
PROFA. ISABEL SPAGNOLO. 
AULA 1. 
- O TEXTO O OLHO DO PODER REFERE-SE AO PANÓPTICO, SISTEMA DE VIGILÂNCIA, DESENVOLVIDO NA SOCIEDADE DISCIPLINAR NOS SÉCULOS XVIII E XIX. 
SOCIEDADE DISCIPLINAR 
			= 
CAPITALISMO INDUSTRIAL 	
= 
ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO
A SOCIEDADE DISCIPLINAR ERA CONSTITUÍDA POR UMA SÉRIE DE DISPOSITIVOS CUJA FUNÇÃO ORIENTAVA-SE PARA O ADESTRAMENTO DO SUJEITO. ENTRE ESSES DISPOISTIVOS ESTÁ O PANÓPTICO, MODELO ARQUITETÔNICO DESENVOLVIDO PELO JURISTA E FILÓSOFO INGLÊS JEREMY BENTHAM. 
Jeremy Bentham
O PANÓPTICO ERA UMA CONSTRUÇÃO EM FORMA DE ANEL, NO MEIO DO QUAL HAVIA UM PÁTIO COM UMA TORRE NO CENTRO, NO QUAL DIVIDIAM-SE PEQUENAS CELAS. 
IMAGEM DO PANÓPTICO.
A TORRE. 
O Sentenciado. 
AS CELAS TÊM DUAS JANELAS: UMA ABRINDO-SE PARA O INTERIOR, CORRESPONDENDO ÀS JANELAS DA TORRE; OUTRA, DANDO PARA O EXTERIOR, PERMITE QUE A LUZ ATRAVESSE A CELA DE UM LADO A OUTRO. BASTA NÃO COLOCAR UM VIGIA NA TORRE CENTRAL E EM CADA CELA TRANCAFIAR UM LOUCO, UM DOENTE, UM CONDENADO, UM OPERÁRIO OU UM ESTUDANTE. DEVIDO AO EFEITO DA CONTRALUZ, PODE-SE PERCEBER DA TORRE, RECORTANDO-SE NA LUMINOSIDADE, AS PEQUENAS SILHUETAS DOS PRISIONEIROS. EM SUMA, INVERTE-SE O PRINCÍPIO DA MASMORRA; A LUZ E O OLHAR DE UM VIGIA CAPTAM MELHOR QUE O ESCURO QUE, NO FUNDO, PROTEGIA. 
NA TORRE HAVIA UM VIGILANTE. 
COMO CADA CELA DAVA AO MESMO TEMPO PARA O INTERIOR E PARA O EXTERIOR, O OLHAR DO VIGILANTE TUDO VIA, SEM QUE NINGUÉM, AO CONTRÁRIO, PUDESSSE VÊ-LO. 
O PANOPTISMO É A OBSERVAÇÃO PLENA E TOTAL DE TUDO. 
O PODER DISCIPLINAR SE APROPRIA INTEGRALMENTE DA VIDA DO INDIVÍDUO. 
ELE É VIGIADO DURANTE TODO O TEMPO, SEM QUE VEJA SEU OBSERVADOR, NEM QUE SAIBA EM QUE MOMENTO ESTÁ SENDO VIGIADO. 
INDUZ NO DETIDO UM ESTADO CONSCIENTE E PERMANENTE DE ESTAR SENDO VIGIADO. 
É ESSA INTERNALIZAÇÃO DA VIGILÂNCIA QUE ASSEGURA O FUNCIONAMENTO DO PODER DISCIPLINAR. 
O PANÓPTICO PERMITE QUE O VIGILANTE VEJA SEM QUE SEJA VISTO. 
MAIS IMPORTANTE DO QUE VIGIAR O PRISIONEIRO O TEMPO INTEIRO ERA QUE O MESMO SE SOUBESSE VIGIADO. 
NÃO ERA A FINALIDADE DO PANÓPTICO FAZER COM QUE AS PESSOAS FOSSEM PUNIDAS, MAS QUE NEM TIVESSEM A OPORTUNIDADE PARA COMETER O MAL, POIS SENTIRIAM-SE O TEMPO TODO MERGULHADAS NUM CAMPO DE VISIBILIDADE. 
O PANÓPTICO DESFAZ A NECESSIDADE DE COMBATER A VIOLÊNCIA FÍSICA COM OUTRA VIOLÊNCIA FÍSICA, POIS A IMPEDE COM MECANISMOS DE ORDEM PSICOLÓGICA. 
A ESSÊNCIA DO PANÓPTICO É A INTERNALIZAÇÃO DA VIGILÂNCIA. 
O PANÓPTICO TEM SEU PRINCÍPIO NÃO TANTO NUMA PESSOA, POIS POUCO IMPORTA QUEM EXERCE O PODER. 
PODE SER UM INDIVÍDUO QUALQUER, QUASE TOMADO AO ACASO, PARA FAZER FUNCIONAR A MÁQUINA: NA FALTA DO DIRETOR, PODE SER SUA FAMÍLIA, OS QUE O CERCAM, SEUS AMIGOS, SUAS VISITAS, ATÉ SEUS CRIADOS. 
O PRÓPRIO SENTENCIADO DESEMPENHA OS DOIS PAPÉIS, O DE VIGILANTE E VIGIADO. ISSO É PRÓPRIO A QUEM SE ENCONTRA SUBMETIDO A UM CAMPO DE VISIBILIDADE E SABE DISSO. 
NA PRISÃO PANÓPTICA, OCASIONALMENTE, ESCUTAVAM-SE GRITOS HORRÍVEIS – SÓ QUE NÃO DE PRISIONEIROS, MAS DE PESSOAS CONTRATADAS EXCLUSIVAMENTE PARA TAL. A PUNIÇÃO APARENTE FICTÍCIA, PRODUZIA A ORDEM E A DISCIPLINA. 
PARA JEREMY BENTHAM, CRIADOR DO PANÓPTICO, QUALQUER PUNIÇÃO DEVE SER ENCARADA ANTES DE TUDO COMO ESPETÁCULO; IMPORTA MENOS SEU EFEITO SOBRE QUEM É CASTIGADO, O QUE IMPORTA É A IMPRESSÃO QUE RECEBEM TODOS AQUELES QUE VÊEM O CASTIGO OU QUE DELE SÃO INFORMADOS. 
O INSPETOR PERFEITO É AQUELE QUE NUNCA APARECE, MAS QUE PODE APARECER A QUALQUER MOMENTO. 
TODO O PANÓPTICO É ESTRUTURADO COMO UMA FICÇÃO. É A APARENTE PRESENÇA DO INSPETOR QUE SUSTENTA A DISCIPLINA PANÓPTICA. 
O INSPETOR PERFEITO É, ENFIM, UMA VOZ, UM OLHO, UM OFÍCIO CARIMBADO, UMA SOMBRA INDISTINTA NO FUNDO DO CORREDOR. 
NAS INSTITUIÇÕES PANÓPTICAS SOMOS VISTOS OU PENSAMOS QUE SOMOS VISTOS, SEM VERMOS AQUELE QUE NOS VÊ, ESCUTAMOS A VOZ, SEM VERMOS O DONO DA VOZ. 
O PANÓPTICO DEVE SER GOVERNADO POR UM OLHAR E POR UMA VOZ DESCONECTADOS DO SEU PORTADOR. O INSPETOR TORNA-SE UMA ESPÉCIE DE FANTASMA. É UMA ENTIDADE, UMA FICÇÃO, ELE NÃO EXISTE. POR ISSO, ELE PODE PROVOCAR UM MEDO SUPERIOR AO DE UM GUARDA REAL, POR MAIS CRUEL QUE ESSE GUARDA FOSSE. 
ALGUNS LIVROS TEMATIZARAM O PANÓPTICO, ENTRE ELES, 1984, DE GEORGE ORWELL, EM QUE A FIGURA OMNIPRESENTE (MAS, INEXISTENTE) DO INSPETOR GERAL TOMA A FORMA DO BIG BROTHER, DE UM GRANDE OLHO QUE PODE VER TODOS E TUDO. ORWELL O ESCREVEU EM 1948. 
SOCIEDADE DISCIPLINAR = TEXTO OS CORPOS DÓCEIS – MICHEL FOUCAULT. 
O PANÓPTICO FOI UM DISPOSITIVO DE CONTROLE DESENVOLVIDO DURANTE A SOCIEDADE DISCIPLINAR.
A PRÓPRIA ESSÊNCIA DA SOCIEDADE DISCIPLINAR FOI A UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS DE CONTROLE. 
ESSES MÉTODOS DE CONTROLE REUNIDOS RECEBERAM O NOME DE DISCIPLINA E FORAM ORIENTADOS AO CORPO PARA DOMINAÇÃO E ADESTRAMENTO.
AS MUDANÇAS SOCIAIS OCORRIDAS NOS SÉCULOS XVIII E XIX PROVOCARAM ALTERAÇÕES NA CONFIGURAÇÃO DO PODER QUE PASSOU A SER CLASSIFICADO COMO PODER DISCIPLINAR, RELATIVO À SOCIEDADE DISCIPLINAR. 
A PASSAGEM PARA O PODER DISCIPLINAR OCORREU A PARTIR DO MOMENTO EM QUE SE PERCEBEU QUE ERA MAIS EFICAZ VIGIAR DO QUE PUNIR. 
FUNÇÃO DA SOCIEDADE DISCIPLINAR ERA ORGANIZAR OS MEIOS DE CONFINAMENTO. 
MEIOS DE CONFINAMENTO 
=
INSTITUIÇÕES DISCIPLINARES: FÁBRICAS, ESCOLAS, PRISÃO, HOSPITAL 
DENTRO DAS INSTITUIÇÕES DISCIPLINARES ATUAVAM AS DISCIPLINAS. ESSES MÉTODOS ERAM OS SEGUINTES :
1 - ANATOMIA DO DETALHE. “ TODO DETALHE É IMPORTANTE, POIS AOS OLHOS DE DEUS NENHUMA IMENSIDÃO É MAIOR DO QUE UM DETALHE. 
2 – VIGILÂNCIA. A POLÍTICA DO DETALHE É O PRINCÍPIO DA VIGILÂNCIA. 
3 – ESPAÇOS FECHADOS: O COLÉGIO, OS QUARTÉIS, A PRISÃO... 
A INSTITUIÇÃO DISCIPLINAR É UM ESPAÇO FECHADO, TANTO FISICAMENTE QUANTO EM RELAÇÃO ÀS REGRAS. EX: A FÁBRICA PARECE UM CONVENTO. O ESPAÇO SERÁ UM CONJUNTO FECHADO E CERCADO POR UMA MURALHA, PORTÕES. 
4 – A ARTE DAS DISTRIBUIÇÕES:
UMA VEZ NO ESPAÇO, É PRECISO COLCOCAR CADA UM NO SEU LUGAR. A ARTE DA DISTRIBUIÇÃO SEGUE O PRINCÍPIO DO QUADRICULAMENTO OU LOCALIZAÇÃO IMEDIATA NO ESPAÇO: “CADA INDIVÍDUO NO SEU LUGAR; E EM CADA LUGAR, UM INDIVÍDUO”. EVITAR AS DISTRIBUIÇÕES POR GRUPOS. DECOMPOR AS IMPLANTAÇÕES COLETIVAS. 
O ESPAÇO DA DISCIPLINA É SEMPRE NO FUNDO CELULAR. SOLIDÃO NECESSÁRIA DO CORPO E DA ALMA. 
5 – CONTROLE DO TEMPO: O TEMPO É DIVIDIDO EM HORAS, MINUTOS PARA OCUPAÇÃO COM TAREFAS. TODO O TEMPO DEVE SER PREENCHIDO. 
6 – RELAÇÃO CORPO – OBJETO.
ADEQUAÇÃO DO MOVIMENTO DO CORPO AO MOVIMENTO DA MÁQUINA PARA A PRODUÇÃO.
O PROCEDIMENTO ERA:
CONCENTRAR E DISTRIBUIR NO ESPAÇO PARA COMPOR UMA FORÇA PRODUTIVA.
A FORÇA PRODUTIVA É EXATAMENTE O HOMEM JUNTO À MÁQUINA. 
POR ISSO, É IMPORTANTE ADESTRÁ-LO, DOCILIZÁ-LO PARA SUBMETÊ-LO À ORDEM DE PRODUÇÃO. O CORPO (O COMPORTAMENTO) É O ALVO DO PODER DISCIPLINAR. 
O CORPO ENTRA NUMA MAQUINARIA DE PODER QUE O ESQUADRINHA , O DESARTICULA E O RECOMPÕE. UMA ANATOMIA POLÍTICA QUE É TAMBÉM UMA MECÂNICA DE PODER. 
A DISCIPLINA FABRICA ASSIM CORPOS SUBMISSOS E EXERCITADOS, CORPOS DÓCEIS. ELA DISSOCIA O PODER DO CORPO. 
EX: MANUFATURA OBERKAMP.
É COMPOSTA DE UMA SÉRIE DE OFICINAS. O TÉRREO É RESERVADO À IMPRESSÃO EM BLOCO: CONTÉM 132 MESAS DISPOSTAS EM DUAS FILEIRAS AO LONGO DA SALA DE 88 JANELAS: CADA IMPRESSOR TRABALHA A UMA MESA, COM SEU “PUXADOR”, ENCARREGADO DE PREPARAR E ESPALHAR AS TINTAS. AO TODO 264 PESSOAS. 
PERCORRENDO-SE O CORREDOR CENTRAL DA OFICINA, É POSSÍVEL REALIZAR UMA VIGILÂNCIA AO MESMO TEMPO GERAL E INDIVIDUAL. ESSA VIGILÂNCIA ENVOLVE OS SEGUINTES ELEMENTOS: CONSTATAR A PRESENÇA, APLICAÇÃO DO OPERÁRIO, A QUALIDADE DO SEU TRABALHO, COMPARAR OS OPERÁRIOS ENTRE SI, CLASSIFICÁ-LOS SEGUNDO SUA HABILIDADE E RAPIDEZ, ACOMPANHAR OS ESTÁGIOS DE FABRICAÇÃO. 
NA DISCIPLINA, CADA UM SE DEFINE PELO LUGAR QUE OCUPA NA SÉRIE E PELA DISTÂNCIA QUE O SEPARA DO OUTRO. A UNIDADE É O LOCAL NA FILA, O LUGAR QUE ALGUÉM OCUPA NUMA CLASSIFICAÇÃO. 
CADA UM É O NÚMERO DA SUA MATRÍCULA. 
A DISCIPLINA DIMINUI A RESISTÊNCIA QUE O CORPOPODE OFERECER AO PODER DISCIPLINAR, TORNANDO-O ÚTIL E SUBMISSO. 
A DISCIPLINA DISSOCIA O PODER DO CORPO. 
NESSE CONTEXTO, O PANÓPTICO FUNCIONA NA DISSOCIAÇÃO DO PAR VER / SER VISTO. 
AS RELAÇÕES DE IGUALDADE BASEAM-SE NA RECIPROCIDADE DO OLHAR, DIFERENTE DAS RELAÇÕES DE SUBMISÃO.