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De fato, os trabalhadores agrícolas confundiam-se antigamente com
os pequenos arrendatários e constituíam em geral apenas a retaguarda
dos arrendamentos médios e grandes, nos quais encontravam ocupações.
Só a partir da catástrofe de 1846 é que começaram a constituir uma
fração da classe dos assalariados puros, um estamento específico, que só
está ligado a seus empregadores por relações monetárias.
Sabe-se qual era sua situação habitacional em 1846. Desde então
ela ainda piorou. Parte dos diaristas agrícolas, cujo número diminui,
entretanto, dia após dia, ainda mora nas terras dos arrendatários em
choupanas superlotadas, cujos horrores ultrapassam de longe o pior
do que os distritos rurais ingleses nos apresentaram no gênero. E isso
vale de modo geral, com exceção de alguns trechos dos Ulster; no sul,
nos condados de Cork, Limerick, Kikenny etc.; no leste, em Wicklow,
Wexford etc.; no centro, no condado de King e Queen, Dublin etc.; no
norte, em Down, Antrim, Tyrone etc.; a oeste, em Slogo, Roscommon,
Mayo, Galway etc. “É uma vergonha” exclama um dos inspetores, “para
a religião e a civilização deste país.”666 Para tornar mais suportável aos
diaristas a moradia em suas tocas, confisca-se sistematicamente o peda-
cinho de terra que desde tempos imemoriais estava anexado a cada uma.
“A consciência dessa espécie de banimento, a que são submetidos
pelos donos das terras e seus administradores, provocou nos diaristas
rurais sentimentos correspondentes de antagonismo e ódio contra
aqueles que os tratam como uma race sem direitos.”662
O primeiro ato da revolução agrária foi varrer, na maior escala
possível e como por uma palavra-de-ordem vinda do alto, as choupanas
localizadas no campo de trabalho. Muitos trabalhadores foram, assim,
obrigados a procurar abrigo em aldeias e cidades. Lá se os lançou como
rebotalho em águas-furtadas, buracos, porões e nos covis dos piores
bairros. Milhares de famílias irlandesas que, segundo o testemunho
até mesmo de ingleses, prisioneiros de preconceitos nacionais, se des-
tacavam por seu raro apego ao lar, por sua alegria despreocupada e
por sua pureza de costumes domésticos encontraram-se, assim, subi-
tamente transplantadas para os viveiros do vício. Os homens precisam
agora procurar trabalho com os arrendatários vizinhos e só são alugados
por dia, portanto na forma salarial mais precária; com isso
“eles precisam agora percorrer longos caminhos de ida e de volta
ao arrendamento, muitas vezes molhados como ratos e sujeitos
a outras inclemências, que freqüentemente provocam fraqueza,
doença e, com isso, privações”.663
“As cidades tinham de receber, ano após ano, o que era conside-
OS ECONOMISTAS
332
662 Loc. cit., p. 12.
663 Loc. cit., p. 25.

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